“Eu anseio pelo toque de um homem,” – A Gigante Apache Disse ao Fazendeiro Solitário
Kahara, uma mulher Apache de corpo grande e musculoso, jazia imóvel sobre a areia escaldante. Houve um tempo em que ela liderou inúmeras incursões, mas após sua última batalha com a cavalaria, suas pernas ficaram paralisadas. E agora, com sua força não mais completa, a tribo a via como um fardo.
Seu pai colocou um pequeno saco de carne seca no chão. Seus dois irmãos estavam atrás dele, os olhos frios como pedra. Nenhum deles olhou diretamente para os olhos de Kahara, que ardiam de fúria e ressentimento.
— Pai — ela sibilou. — Não me deixe aqui.
Ele não respondeu. Simplesmente virou as costas e disse aos filhos:
— Vamos.
A poeira subiu enquanto as três figuras desapareciam lentamente no horizonte, deixando para trás Kahara, a guerreira que um dia foi seu orgulho, sob o calor causticante que fazia o ar vibrar.
Ela tentou arrastar seu corpo maciço para fora da areia, mas as pernas dormentes a traíram, fazendo-a cair de volta. O suor misturou-se à areia e ardeu em seus olhos.
Pessoas da cidade vizinha passavam algumas vezes. Alguém murmurou: “Aquela gigante Apache, fiquem longe.” E então todos seguiam em frente, como se ajudar uma pessoa paralisada fosse uma maldição prestes a acontecer.
Quando o sol se inclinou para o oeste, uma carroça de feno parou. Um homem com roupas de tecido áspero e braços bronzeados desceu. Era Thomas Ror, um fazendeiro recluso que vivia nos limites da cidade.
Kahara ofegou.
— Você não tem medo de mim?

Thomas se ajoelhou e gentilmente levantou os ombros dela, como se estivesse erguendo um tronco pesado.
— Você precisa de ajuda. Isso basta.
Sem dizer mais nada, ele começou a montar uma maca improvisada com as tábuas de madeira de sua carroça, e então levou Kahara para longe do lugar onde até sua própria tribo a havia abandonado.
A fazenda de Thomas Ror ficava a mais de um quilômetro da cidade, marcada apenas por uma cerca de madeira caindo, um pequeno estábulo de cavalos e uma casa com o telhado desbotado pelo sol.
Quando ele puxou a maca para o quintal, Thomas respirava pesadamente de exaustão. No entanto, ele ainda levantou Kahara com delicadeza, como se temesse causar-lhe mais dor.
A grande mulher Apache estava deitada em uma cama rústica que Thomas havia coberto com um velho cobertor. O ar carregava o aroma de pinho, serragem e fumaça da lareira. Kahara olhou ao redor, seus olhos escuros como a noite do deserto, inquietos, mas silenciosos.
— Você me trouxe para sua casa? — ela perguntou.
Thomas apenas assentiu, tirando suas luvas rachadas.
— Não havia outro lugar. Aqui. Você está mais segura do que lá fora.
Kahara quis rir, mas sua garganta estava seca. Uma guerreira Apache que uma vez liderou um esquadrão em batalha, agora deitada como um tronco descartado. Suas pernas paralisadas fizeram seu orgulho sentir-se despedaçado mais uma vez.
Pouco depois, Thomas trouxe uma tigela de mingau quente e a colocou na mesa.
— Coma — ele disse.
Kahara tentou levantar a mão. Seu braço, sólido e musculoso, tão grosso quanto o antebraço de um homem, ainda tinha força, mas tremia. A colher caiu no chão com um barulho. Ela cerrou o maxilar, sua respiração curta e irritada.
— Eu sou desse tamanho e não consigo nem me alimentar. Que patético.
Sua voz era baixa e tensa, cheia de amargura.
Thomas se curvou, pegou a colher, colocou-a de volta na mão dela e balançou a cabeça suavemente.
— Sobreviver nunca foi algo para se envergonhar.
Kahara baixou o olhar pela primeira vez, sentindo-se observada por alguém que não a olhava com medo, pena ou desprezo. Apenas a via como uma pessoa.
Como ela ainda não conseguia se alimentar, Thomas soltou um suspiro suave e depois virou-se de costas para ela, segurando a colher sobre o ombro para que ela pudesse inclinar-se para a frente e comer, preservando tanto seu orgulho quanto suas forças.
— Por que você está fazendo isso? — ela perguntou.
Thomas respondeu, sua voz calma, como se estivesse apenas afirmando um fato simples:
— Estou acostumado a fazer as coisas sozinho. Ajudar mais uma pessoa não é difícil.
Pela pequena janela, as pessoas da cidade continuavam a olhar nervosamente para a fazenda. Uma mulher sussurrou para a pessoa ao seu lado: “Veja só. Thomas trouxe uma guerreira Apache gigante para dentro de casa. Ele está pedindo por problemas.” Thomas os ouviu, mas não se deu ao trabalho de se virar.
A noite caiu.
Kahara deitou-se na cama, ouvindo o som de Thomas atiçando o fogo, o ritmo suave de uma faca na madeira, o arranhar das tábuas enquanto ele reforçava a porta. Cada som carregava um peso estranho, como se alguém estivesse silenciosamente remontando os pedaços de sua vida quebrada. Pela primeira vez em dias, Kahara dormiu sem o medo de ser deixada para trás novamente.
Na manhã seguinte, quando Kahara acordou, o cheiro de madeira fresca e o ritmo constante de marteladas ecoavam do lado de fora. Ela virou o corpo, as pernas pesadas como lajes de pedra, e lutou para se erguer o suficiente para espiar pela janela.
Thomas Ror estava curvado sobre uma pilha de rodas velhas, armações de madeira grossas e barras de metal enferrujadas espalhadas ao redor dele. Ela franziu a testa.
— O que você está fazendo?
Thomas não olhou para cima, continuando a serrar tábuas como se fosse sua segunda natureza.
— Algo que precisa ser feito — ele disse.
Kahara mordeu o lábio. O homem falava tão pouco que a irritava. No entanto, em cada golpe do martelo, ela sentia um tipo de paciência que raramente tinha visto, um tipo de paciência que o campo de batalha nunca permitiu.
Ao meio-dia, Thomas carregou uma grande tábua de madeira para o quarto. Kahara olhou para ela atentamente, e seu coração apertou um pouco. Era a estrutura de uma cadeira de rodas, duas vezes maior do que uma normal, grande o suficiente para suportar seu corpo musculoso e pesado.
— Para mim? — Kahara perguntou, sua voz embargada.
Thomas limpou o suor da testa, falando como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.
— Para quem mais seria?
Nos dias que se seguiram, o som de marteladas e serragem encheu o ar. Kahara sentou-se na cama observando, suas mãos fortes apoiadas nos joelhos, presa em um espaço estranho entre gratidão e desconforto.
No campo de batalha, ela sempre foi a mais forte. Agora, um fazendeiro magro estava construindo algo que sua própria tribo nunca havia sequer considerado.
Certa noite, enquanto Thomas apertava um parafuso no eixo da roda, Kahara falou suavemente:
— Eu costumava ter muitos companheiros, mas quando minhas pernas se foram, eles me deixaram.
Ela olhou para as mãos, dedos grandes e fortes marcados com cicatrizes.
— Você não tem medo de que ajudar alguém como eu lhe traga problemas?
Thomas fez uma pausa e então olhou para ela através do brilho quente da lamparina.
— Claro que tenho. Mas deixar você morrer lá fora, isso me assustou mais.
O dia em que a cadeira de rodas foi concluída, o vento do deserto varreu, trazendo consigo o cheiro de feno e sol escaldante. Thomas levantou Kahara, seu corpo pesado, mas ele não reclamou uma vez sequer. Ele a colocou gentilmente na cadeira e deu um giro na roda.
— Firme — ele disse. — Tente.
Kahara colocou as mãos nos aros e deu um leve empurrão. A cadeira de rodas rolou suavemente pelo chão de madeira. Seu coração batia como um tambor de guerra.
— Você realmente me deu liberdade — ela sussurrou.
Thomas estava por perto, uma mão apoiada na ombreira da porta, sua voz quieta e profunda.
— Você não está mais presa a um lugar. Para onde você quiser ir, vá.
Kahara virou-se para ele, os olhos brilhando como a luz do sol poente.
— Mesmo que eu escolha deixar este lugar?
Thomas assentiu lenta e sutilmente.
— Se é isso que você deseja.
Kahara balançou a cabeça, a voz firme.
— Não, eu não quero isso.
Desde o dia em que aquela cadeira de rodas maciça se tornou dela, Kahara começou a participar do trabalho na fazenda. Suas mãos musculosas agarravam o martelo como se conhecessem seu peso desde a infância. Embora suas pernas imóveis permanecessem paradas sob o cobertor, Thomas não disse nada. Ele simplesmente a deixava fazer o que quisesse.
Pelas manhãs, Kahara sentava em sua cadeira de rodas, segurando a tábua de madeira firme enquanto Thomas serrava. À tarde, ela carregava baldes de água com seus braços poderosos, cada músculo definido e tenso. À noite, os dois consertavam a porta apodrecida do estábulo de cavalos. Eles trabalhavam como pessoas que se conheciam há anos, sem precisar de muitas palavras.
Certa noite, enquanto o sol se punha atrás das colinas vermelhas e um brilho laranja e ardente iluminava os traços marcantes de Kahara, ela rolou até a varanda, parando ao lado de Thomas, que estava aplainando uma longa tábua de madeira.
— Você me deixa fazer tudo isso — Kahara disse — como se eu ainda fosse uma guerreira.
Thomas não parou seu trabalho.
— Eu não me importo com o que você costumava ser. Você está trabalhando agora, isso é o suficiente.
Kahara soltou uma risada silenciosa, uma das raras desde que suas pernas ficaram dormentes. O vento do deserto corria por seus cabelos pretos, trazendo o cheiro de capim seco e serragem da camisa de Thomas.
Depois de um tempo, Kahara olhou para as mãos, grandes, fortes e cicatrizadas. Sua voz baixou, incomumente hesitante para uma guerreira Apache.
— Thomas. Eu nunca estive perto de um homem antes. Estou curiosa, e anseio saber como isso é.
Thomas congelou. O pedaço de madeira escorregou suavemente de sua mão para o chão. Ele se virou para ela. Seu olhar não estava cheio de desejo, mas de profundo respeito.
— Kahara — ele disse lentamente. — Eu nunca farei nada para deixá-la desconfortável. Mas não vou fingir que não sinto nada.
Kahara corou. Uma guerreira endurecida como ela. No entanto, uma resposta calma e sincera foi suficiente para fazê-la evitar o olhar dele. Seus ombros largos se encolheram ligeiramente, como se estivesse envergonhada pela primeira vez.
Thomas continuou, sua voz tão gentil quanto a brisa noturna.
— Não há nada de errado em desejar. Mas isso deve vir com prontidão. E confiança.
Kahara respirou fundo. O olhar feroz que a definia agora se suavizou de uma maneira que nem ela esperava.
— Não sei se estou pronta — ela sussurrou. — Mas não tenho medo quando estou com você.
Naquela noite, eles ficaram sentados em silêncio por um longo tempo na varanda de madeira. Apenas os sons de insetos e o vento preenchiam o espaço, mas o silêncio não era distante. Era quente, cheio, e tocava algo profundo dentro de duas pessoas que haviam sido abandonadas. Nenhum dos dois disse mais uma palavra, mas de alguma forma a pequena distância entre eles havia silenciosamente desaparecido.
Depois daquela noite cheia de confissões, algo mudou entre Thomas e Kahara. Não era tenso, nem apressado. Era simplesmente mais quente, mais próximo e tão estranho que ambos sentiram isso profundamente.
Nos dias que se seguiram, Kahara ajudou Thomas a reconstruir a cerca. Seus braços musculosos levantavam postes de madeira pesados como se não pesassem nada. Thomas ficava por perto, observando com uma mistura de admiração e um coração que batia mais rápido do que o normal.
Todas as noites, eles jantavam juntos na mesa de madeira que haviam consertado. O que quer que Thomas cozinhasse, Kahara comia. Mesmo quando o mingau estava muito ralo ou a carne levemente queimada. Ela contava histórias do campo de batalha. Thomas compartilhava memórias de crescer sem pais, trabalhando na terra sozinho desde os 15 anos. Naquelas histórias silenciosas, eles se encontraram.
Uma noite, o vento do deserto soprava suavemente sobre a terra, e a lua pairava no céu como um pedaço liso de madeira branca recém-cortada. Thomas saiu para a varanda, onde Kahara estava sentada em sua cadeira de rodas, os olhos fixos no horizonte escurecido. O luar deslizava sobre seus ombros largos e seu corpo poderoso, projetando uma figura que parecia forte e dolorosamente solitária.
Thomas sabia que se não falasse naquela noite, talvez nunca mais tivesse coragem. Ele avançou e se ajoelhou diante dela.
Kahara se assustou.
— Thomas, o que você está fazendo?
Thomas apertou as mãos com força, sua voz levemente trêmula, mas firme.
— Eu não tenho um anel. Não há pastor aqui. Eu não tenho nada além desta terra, destas mãos e da minha promessa.
Os olhos de Kahara se arregalaram, seu coração, tão acostumado à guerra, agora batia como um tambor cerimonial. Thomas continuou:
— Kahara, eu quero me casar com você, se você me aceitar como seu marido. Quer suas pernas voltem a andar ou não, não importa quão pesado seja seu passado.
Kahara levou a mão lentamente à boca. Ela, uma guerreira Apache gigante, outrora inabalável por balas, agora sentia os olhos arderem por algo muito mais poderoso.
— Thomas — ela sussurrou. — Ninguém nunca me escolheu. Ninguém nunca olhou para mim como alguém digna de amor.
Thomas olhou para cima, seus olhos firmes.
— Eu escolhi você. Desde o primeiro dia em que a conheci.
Kahara respirou fundo. Seus ombros fortes tremeram um pouco. Finalmente, ela colocou sua mão grande no ombro dele, a voz baixa, mas cheia de calor.
— Eu digo sim. Você é tudo o que eu desejei por muito tempo.
Thomas inclinou-se lentamente para ela, e eles começaram a compartilhar um beijo, feroz, honesto e cheio do fogo que haviam mantido escondido. Naquela noite, sob o vento do deserto e o suave ranger da madeira velha, duas almas, outrora abandonadas, encontraram o caminho uma para a outra. Eles não precisavam de anéis de prata. Tudo o que precisavam era de um coração verdadeiro.
Os rumores sobre a gigante Apache vivendo com um fazendeiro branco se espalharam mais rápido que o vento do deserto. E como tudo no oeste, os rumores sempre encontram o caminho de volta para onde pertencem.
Certa tarde, enquanto o céu queimava em um vermelho profundo, Kahara estava ajudando Thomas a empilhar madeira quando o trovão de cascos ecoou de longe. Ambos se viraram.
Três cavaleiros se aproximavam da fazenda. Homens Apaches de peito nu com pintura de guerra na pele. Kahara os reconheceu imediatamente: seu pai, seus dois irmãos, e o ódio em seus rostos era algo que ela jamais poderia esquecer.
Thomas se colocou na frente da varanda, segurando seu machado de madeira firmemente.
— Kahara, entre — ele disse suavemente, mas ela balançou a cabeça, os olhos frios como pedra da montanha.
— Não, eu preciso encará-los.
Os três Apaches desmontaram. O mais velho avançou, sua voz profunda e áspera.
— Kahara, você fugiu da tribo. E agora deixa um homem branco entrar em sua vida.
O irmão mais velho cuspiu no chão.
— Que vergonha. Uma guerreira como você. Arrastada como um animal quebrado.
O irmão mais novo segurou seu arco firmemente.
— Você voltará conosco agora mesmo.
Thomas segurou o machado com mais firmeza, mas Kahara levantou a mão gentilmente.
— Deixe-me — ela disse.
Ela rolou sua cadeira de rodas para a frente, suas mãos grandes segurando as rodas, seus olhos queimando como brasas quentes.
— Vocês me deixaram — Kahara disse lentamente. — No deserto, sem uma palavra, sem uma gota de água.
Seu pai respondeu:
— Porque você não podia mais andar. A tribo não carrega o inútil.
As palavras atingiram Kahara como flechas. Ela curvou a cabeça brevemente, depois a levantou novamente. Sua voz afiada como aço forjado.
— Mas aqui, eu sobrevivi. Eu construí aquela prateleira. Eu consertei aquela janela. Eu trabalho. Eu luto. Eu vivo.
Ela ergueu o machado de madeira que Thomas lhe havia dado, seus braços musculosos tensos, veias salientes sob a pele bronzeada.
— E se alguém tentar me arrastar para longe, eu lhes mostrarei exatamente do que eu ainda sou capaz.
O vento do deserto soprou, carregando um silêncio pesado. Seu pai olhou para o machado. Para as mãos maciças de sua filha, depois para Thomas parado perto, pronto para defendê-la. Pela primeira vez, a hesitação brilhou em seu rosto. Ele não viu um fardo, mas uma força que ele nunca havia criado.
Por fim, ele inclinou o queixo para os filhos.
— Vamos. Ela fez sua escolha.
Os três cavalos galoparam, levantando uma trilha de poeira atrás deles. Kahara respirou pesadamente, não de medo, mas porque seu coração batia como um tambor de guerra. Thomas se aproximou e colocou a mão no ombro dela. Ela olhou para cima. Seus olhos ainda ardiam, mas não vacilavam mais.
— Eles não têm mais o direito de decidir minha vida — ela disse.
Thomas assentiu gentilmente.
— É isso mesmo. Você está aqui porque escolhe estar.
Naquela noite, Kahara pertencia a si mesma novamente, e àquele que a havia escolhido.
Depois do dia em que ela confrontou sua antiga família, era como se uma pedra pesada tivesse sido finalmente retirada do peito de Kahara.
Na manhã seguinte, ela acordou mais cedo do que o habitual e se dirigiu ao quintal justamente quando o sol nascia sobre o deserto em uma fina linha de luz. Thomas estava verificando a cerca nova. Ele se virou quando ouviu o som das rodas na terra.
— Você acordou cedo — ele disse.
Kahara encolheu os ombros.
— Trabalhar ajuda a clarear a mente.
Ela levantou um poste de madeira com uma mão, os músculos salientes sob a pele escura. Thomas observava, incapaz de esconder sua admiração. Mesmo com as pernas paralisadas, a força em sua parte superior do corpo era tão poderosa que muitas vezes o fazia parar apenas para olhar para ela.
No calor do meio-dia, eles trabalhavam lado a lado, regando o milharal, consertando o telhado do estábulo, varrendo restos de madeira. Kahara se jogava no trabalho com tanta energia que Thomas finalmente estendeu a mão e tocou seu ombro suavemente.
— Kahara, faça uma pausa. Você não precisa provar nada.
Ela olhou para cima, suor escorrendo pela têmpora, os olhos mais suaves do que o normal.
— Não estou fazendo isso para provar nada. Estou fazendo isso porque eu pertenço aqui.
Essas palavras fizeram Thomas parar por um longo momento, como se o vento do deserto tivesse soprado diretamente em seu coração.
Naquela tarde, eles comeram juntos sob a varanda. Kahara olhou para a terra. O estábulo recém-consertado, a cerca nova, a porta com sua nova camada de tinta. Tudo ostentava sua marca. Ela falou sem pensar.
— Eu costumava acreditar que só tinha valor quando segurava uma lança. Quando podia cavalgar. Quando minhas pernas falharam, pensei que tinha perdido tudo.
Thomas apoiou o braço na mesa, a voz tão firme como sempre.
— Você ainda tem muito mais. Força, vontade e um coração.
Kahara soltou uma risada silenciosa.
— Um coração. Uma guerreira como eu. Com um coração.
Thomas olhou diretamente para ela, olhos inabaláveis.
— Você tem mais coração do que qualquer pessoa que eu já conheci.
Enquanto a noite se instalava, a luz vermelha do sol se misturando com a poeira dourada, Kahara encostou a cabeça na ombreira da porta. Sua voz era baixa, mas mais suave do que ele jamais a ouvira.
— Thomas, quando estou com você, não me sinto como alguém que foi deixado para trás. Eu me sinto viva.
Thomas se aproximou e colocou a mão no ombro dela suavemente, como se estivesse tocando algo precioso.
— Você não caiu na minha vida. Você entrou nela com sua própria força — ele disse.
Kahara fechou os olhos, deixando essas palavras afundarem profundamente em seu coração. Este lugar, a varanda de madeira, o milharal, o cheiro de serragem, o som de serrar madeira todas as manhãs, não era mais apenas uma fazenda. Era o lar. E pela primeira vez desde a guerra, Kahara soube que era digna de amor, de permanecer e de viver uma vida que ninguém mais poderia definir por ela.
Não houve sinos de igreja no dia do casamento de Thomas e Kahara. Nenhum pastor, apenas uma manhã tranquila no deserto, o vento roçando a grama dourada e duas almas outrora abandonadas. Agora estavam lado a lado em uma varanda de madeira.
Thomas acordou cedo. Ele trouxe uma pequena caixa feita de pinho, sua superfície ainda marcada pelas ferramentas de entalhe. Quando a abriu, Kahara viu um anel de prata áspero e largo, claramente forjado para caber em seus dedos fortes e poderosos. Sua garganta apertou.
— Thomas, você fez isso para mim?
Ele assentiu gentilmente.
— Eu queria dar a você há muito tempo. Eu estava apenas esperando o dia certo.
Thomas pegou a mão de Kahara, uma mão grande, cicatrizada e cheia de força de incontáveis batalhas. Ele deslizou o anel. Ele encaixou perfeitamente, como se tivesse sido feito para ela e para mais ninguém.
— Kahara — Thomas disse, sua voz baixa, mas firme. — Você não foi abandonada nesta vida. Você foi escolhida, e você conquistou seu lugar aqui.
Kahara mordeu o lábio. No campo de batalha, em todos aqueles anos, ela não havia derramado uma única lágrima. Mas agora, parada na frente daquele homem, as lágrimas vieram quentes e rápidas.
— Por toda a minha vida — ela disse — eu só soube lutar e como era ser deixada para trás. Mas você, você nunca teve medo de mim. Você nunca se afastou. Você me viu, Thomas. Você viu quem eu realmente sou.
Thomas sorriu e gentilmente pressionou a testa na mão dela, como um voto silencioso proferido sem palavras.
— E eu continuarei a ver você dessa forma pelo resto da minha vida.
O vento do deserto varreu a varanda, levantando mechas do longo cabelo preto de Kahara. Ela estendeu a mão, tocou o anel de prata, e pela primeira vez, seu peito largo se sentiu leve, livre do peso do passado. Ela falou suavemente, mas com certeza inabalável.
— Duas pessoas que foram rejeitadas agora construíram um lar.
Depois daquela manhã, a pequena fazenda começou a mudar. Kahara construiu um novo galpão, consertou o estábulo e entalhou cada tábua de madeira com suas mãos poderosas. Thomas expandiu o milharal, plantou mais feno, ensinou-a a ler o solo, a ler o céu e a rastrear as estações.
E todas as noites, quando o sol se derretia atrás das colinas vermelhas, eles se sentavam lado a lado na varanda de madeira, observando a última luz se esvair. Sem guerra, sem abandono, apenas calor, passando silenciosamente de um ombro para o outro na terra mais dura e seca do Oeste.
Uma família foi construída não com riquezas, nem com grandes palavras, mas com resiliência, bondade e um amor que ninguém acreditava que eles merecessem, exceto por eles mesmos.