Meu senhor, a escrava Mariana está esperando um filho”, sussurrou a governanta tremendo. “E todos sabem que o Senhor é estéril. O silêncio cortou o ar do solar como uma lâmina afiada. Seus olhos, antes vida, agora brilhavam com uma mistura de incredulidade e algo que ele não sentia a anos. Esperança.
Era o ano de 1847, no coração do Vale do Paraíba, onde as fazendas de café se estendiam como um mar verde sob o sol implacável. A fazenda Santa Eulalha, propriedade ancestral dos Menezes, erguia-se majestosa sobre as colinas, com sua casa grande de dois pavimentos, varandas extensas e jardins que um dia foram o orgulho da região.

Mas desde que a duquesa Francisca morrera 5 anos antes, a propriedade defino. Miguel caminhava pelos salões sombrios como um fantasma de si mesmo. Aos 38 anos, carregava o peso de uma suposta maldição. Durante os 10 anos de casamento com Francisca, tentaram incansavelmente ter filhos, mas ela nunca conseguiu engravidar.
Os médicos da corte, com sua arrogância científica, declararam que o problema estava nele, que ele jamais poderia gerar filhos. Miguel acreditou piamente naquele diagnóstico cruel, carregando a culpa como um fardo pesado em sua consciência. A morte de Francisca em um acidente de carruagem não apenas destroçara sua alma, mas também parecia selar para sempre o destino da linhagem dos menezes.
Não haveria herdeiros, não haveria continuação, apenas o vazio que crescia a cada dia em seu peito, alimentado pela certeza de que era um homem incompleto, incapaz de dar continuidade ao seu nome. Paredes da Casagre, antes testemunhas de bailes suntuosos e risos cristalinos, agora guardavam apenas o eco de seus passos solitários.
Os retratos dos antepassados pareciam julgá-lo em silêncio, como se soubessem que ele seria o último de uma dinastia que remontava aos primeiros colonizadores. O peso da responsabilidade e da culpa o consumia lentamente, transformando-o num homem amargo que encontrava consolo apenas no trabalho árduo da fazenda. Foi durante uma dessas manhãs melancólicas que seus olhos pousaram sobre ela pela primeira vez.
Mariana trabalhava nos jardins próximos à Casa Grande, suas mãos delicadas, cuidando das rosezeiras que Francisca tanto amava. Havia algo de diferente naquela jovem mulher, de pele morena e olhos profundos como poços de água cristalina. Enquanto as outras escravas mantinham a cabeça baixa em sua presença, ela o fitava diretamente, não com desafio, mas com uma compaixão que ele não sabia merecer.
Mariana chegara à fazenda apenas seis meses antes, trazida do Rio de Janeiro por um comerciante de escravos, que garantiu ao duque que ela era diferenciada, sabia ler, escrever e tinha conhecimentos. De enfermagem que aprendera com as freiras de um convento onde fora criada até os 15 anos. Sua história era envolta em mistério.
Alguns sussurravam que ela era filha bastarda de um nobre português. Outros diziam que fora abandonada ainda bebê na porta da igreja. O que ninguém podia negar era sua presença marcante e a forma como parecia irradiar uma luz própria, mesmo nas circunstâncias mais sombrias. Nos primeiros meses, Miguel mal reparou nela.
estava demasiado perdido em sua própria amargura para notar qualquer coisa além da rotina mecânica que sua vida se tornara. Levantava antes do nascer do sol, percorria os cafezais com os capatazes, resolvia as questões administrativas e se recolhia aos aposentos quando a escuridão caía. Era uma existência sem propósito, sem alegria, sem esperança.
Mas Mariana tinha o dom de estar sempre no lugar certo, na hora certa. Quando ele cambaleou de cansaço, após um dia particularmente difícil na colheita, ela apareceu com um copo de água fresca e um olhar preocupado. Quando a febre o acometeu durante uma semana chuvosa de março, foram suas mãos cuidadosas que lhe trouxeram alívio com compressas de ervas que ela mesma preparava.
Pequenos gestos quase imperceptíveis, mas que começaram a derreter o gelo que se formara ao redor do coração do duque. Antes de continuarmos com essa história que promete tocar profundamente seu coração, quero agradecer por estar aqui comigo neste momento. Sua presença assistindo a este vídeo é verdadeiramente especial para mim. Se você está sentindo a mesma emoção que eu ao contar esta história, considere se inscrever no canal. Temos muitas outras histórias tocantes esperando por você.
E agora vamos descobrir como o destino destes dois corações começou a se entrelaçar. A transformação foi gradual, quase imperceptível no início. Miguel começou a procurar razões para passar pelos jardins onde Mariana trabalhava. inventava questões sobre as plantas, pedia relatórios sobre o estado das rozeiras, qualquer desculpa para vê-la.
E ela, com sua sabedoria silenciosa, compreendia perfeitamente o jogo que não ousavam nomear. As conversas começaram formais, presas aos limites rígidos que a sociedade impunha entre senhor e escrava. Mas aos poucos, nos momentos roubados entre as obrigações, uma intimidade diferente foi florescendo.
Miguel descobriu que Mariana não apenas sabia ler, mas possuía uma inteligência aguçada e uma sensibilidade que rivalizava com a de qualquer dama da alta sociedade que ele conhecera. Ela falava sobre os livros que lia as escondidas à luz de velas, sobre os sonhos que guardava no coração, sobre a fé inabalável que a sustentava mesmo nas adversidades.
E ele, pela primeira vez em anos, se viu falando sobre Francisca, sem que a dor fosse insuportável, sobre os medos que o assombravam, sobre o vazio que corroía sua alma. A casa grande começou a despertar de seu longo sono. Os criados notaram que o patrão sorria ocasionalmente, que sua voz já não carregava apenas amargura.
O jardim floresceu como nunca antes, sob os cuidados dedicados de Mariana, como se a própria Terra respondesse à esperança que lentamente renascia naquele lugar. Mas em uma sociedade onde as diferenças de classe eram abismos intransponíveis, onde a cor da pele determinava destinos e onde os sentimentos genuínos eram luxos que poucos podiam se permitir, a aproximação entre o duque e a escrava não passava despercebida. Olhares suspiciosos se multiplicavam.
Sussurros maliciosos ecoavam pelos corredores da casa grande e pelas cenzalas. Foi numa tarde quente de dezembro que tudo mudou para sempre. Miguel encontrou Mariana desmaiada próxima ao chafaris do jardim, áida e tremendo. Quando ela abriu os olhos e viu o desespero estampado no rosto dele, suas mãos se encontraram num gesto que atravessou todas as barreiras sociais.
Naquele momento, ambos souberam que não havia mais volta e que o segredo que ela carregava estava prestes a transformar suas vidas para sempre. Três semanas haviam se passado desde aquele momento no jardim e Miguel não conseguia tirar a imagem da fragilidade de Mariana de sua mente. Ele a fizera descansar em seus próprios aposentos naquela tarde, desafiando todas as convenções sociais enquanto mandava buscar o médico da cidade.
Mas quando o doutor chegou, ela já havia se recuperado e insistira em voltar aos seus afazeres, deixando apenas um olhar carregado de gratidão e algo mais profundo que ele não soube interpretar. Desde então, uma dança silenciosa começou entre eles. Miguel encontrava-se criando desculpas cada vez mais elaboradas para passar tempo próximo dela. Pedia-lhe para organizarem juntos a biblioteca, alegando que precisava de alguém letrada para catalogar os volumes antigos.
solicitava sua ajuda na correspondência com outros fazendeiros, fingindo que sua caligrafia delicada era necessária para certas cartas importantes. Eram mentiras inocentes que ambos aceitavam sem questionamentos. Durante essas horas roubadas, uma intimidade perigosa floresceu. Mariana revelou-se não apenas educada, mas possuidora de uma sabedoria que transcendia sua condição social.
Ela falava sobre filosofia com a naturalidade de quem crescera cercada de livros. Discutia política com uma perspicácia que surpreendia Miguel e demonstrava um conhecimento sobre medicina natural que rivalizava com os doutores formados em Coimbra. “Como uma mulher na sua posição conseguiu aprender tanto?” perguntou Miguel numa tarde chuvosa, enquanto organizavam manuscritos na biblioteca.
Mariana sorriu com melancolia, seus dedos acariciando a lombada de um livro de poesias. As freiras do convento de Santa Clara me criaram até os 15 anos, meu senhor. Irmã Benedita dizia que Deus não faz distinção entre suas criaturas quando distribui a inteligência. Ela me ensinou a ler não apenas palavras, mas também corações. Miguel sentiu seu peito se apertar.
Havia tanto mistério na história dela, tanta dor silenciosa em seus olhos quando falava sobre o passado. Ele descobriu que ela fora vendida para saldar dívidas do convento com comerciantes inescrupulosos, arrancada brutalmente do único lar que conhecera. No entanto, em vez de amargura, ela carregava uma fé inabalável e uma compaixão que iluminava todos ao seu redor.
E o que mais a irmã Benedita lhe ensinou? Miguel se viu perguntando genuinamente interessado: “Que Deus tem planos misteriosos para todos nós, meu Senhor? que às vezes aquilo que julgamos ser nossa maior desgraça pode ser, na verdade, o caminho para nossa maior bênção. As palavras de Mariana ecoaram na mente de Miguel por dias.
Ele começou a questionar as certezas que carregara por tanto tempo. Será que os médicos da corte realmente estavam certos sobre sua suposta infertilidade? Será que Deus havia o abandonado ou simplesmente não era o momento certo para suas bênçãos? se manifestarem. A transformação de Miguel não passou despercebida pelos habitantes da fazenda.
Dona Eulália, a governanta que servia a família há 40 anos, observava com preocupação crescente a proximidade entre o patrão e a escrava. Durante as refeições solitárias de Miguel, ela fazia comentários aparentemente inocentes sobre certas situações inadequadas que poderiam manchar a reputação da família. Meu senhor sabe que os vizinhos falam”, disse ela numa manhã, servindo café numa xícara de porcelana fina.
Dizem que o senhor tem mostrado e favorecimento excessivo a uma das escravas. Miguel levantou os olhos do jornal, seu maxilar se contraindo. E desde quando me importo com mexericos de pessoas ociosas, eu lá, desde que representa um risco para sua honra, meu senhor. Memória da saudosa duquesa Francisca merece ser preservada. A menção à esposa falecida atingiu Miguel como um soco no estômago.
Por um momento, a culpa antiga voltou a assombrá-lo, mas então lembrou-se do sorriso de Mariana, da luz que ela trouxera de volta aos seus dias, da forma como ela falava sobre propósito divino e planos misteriosos. Naquela mesma tarde, Miguel a encontrou no jardim, cuidando das rosezeiras que agora floresciam como nunca antes.
O perfume doce das flores misturava-se com o aroma de jasmim que sempre a acompanhava, criando uma atmosfera quase mágica. “Mariana”, disse ele, aproximando-se com passos hesitantes. “Posso falar contigo?” Ela se virou e Miguel viu algo diferente em seus olhos, uma vulnerabilidade nova. misturada com uma determinação que ele nunca notara antes. “Claro, meu senhor.
Chame-me de Miguel”, disse ele impulsivamente. “Quando estamos sozinhos, me chame pelo nome. O pedido pendia no arreada.” Mariana o fitou por um longo momento, seus olhos buscandoos dele, como se tentasse ler sua alma. Miguel, ela sussurrou, e o nome soou diferente em seus lábios, carregado de uma intimidade que fez o coração dele disparar.
Naquele momento, a distância social que o separava pareceu diminuir. Miguel se viu contando a ela sobre os anos sombrios após a morte de Francisca, sobre a solidão que o consumia, sobre os diagnósticos médicos que o condenaram a uma vida sem descendentes. E Mariana, com sua sabedoria silenciosa, apenas ouvia, oferecendo um conforto que ele não sabia que precisava.
Às vezes, disse Miguel, olhando para o horizonte dourado do fim de tarde. Sinto que vivi todos esses anos esperando algo que não sabia definir. Mariana colocou a mão sobre a dele num gesto ousado que os fez estremecer. Talvez você estivesse esperando o momento certo para viver de verdade”, disse ela suavemente. Naquela noite, Miguel não conseguiu dormir.
Caminhava pelos corredores da Casa Grande quando ouviu um som estranho vindo dos aposentos das criadas. Aproximou-se silenciosamente e viu Mariana ajoelhada no pequeno oratório que ela construíra. Suas mãos entrelaçadas em oração fervorosa, lágrimas escorrendo por seu rosto. Mas o que o deixou sem fôlego foram as palavras que ela murmurava: “Senhor, proteja esta criança que carrego em meu ventre e mostre-me como contar a verdade à aquele que amo.
” Miguel sentiu o mundo girar ao seu redor. Palavras de Mariana ecoavam em sua mente como um trovão distante, carregadas de uma verdade que desafiava tudo o que ele acreditava sobre si mesmo. Uma criança. Ela estava esperando uma criança e pelas palavras dela, aquela criança era sua.
Ele recuou silenciosamente, o coração batendo tão forte que temia que ela pudesse ouvi-lo. Como era possível? Os médicos da corte foram categóricos. Ele jamais poderia gerar filhos. Durante 10 anos de casamento com Francisca, tentaram incansavelmente, visitaram os melhores especialistas, rezaram em todos os altares, mas nada aconteceu. E agora Miguel se trancou em seu gabinete, a mente fervilhando com memórias e questionamentos.
quando havia acontecido, como eles nunca, ou talvez sim, havia acontecido. Uma noite há quase três meses, quando ela cuidara dele durante uma febre alta, entre a delírio e a consciência, entre a necessidade de conforto e a solidão que os consumia, eles se entregaram um ao outro numa união que transcendeu todas as barreiras sociais.
Miguel havia acordado na manhã seguinte, achando que fora apenas um sonho febril e Mariana nunca mencionara o ocorrido, mas não havia sido sonho. E agora ela carregava a prova viva de que os médicos estavam errados, de que Deus não o havia abandonado, de que o momento certo para sua paternidade finalmente chegara. As semanas seguintes foram de uma agonia silenciosa.
Miguel observava Mariana de longe, notando detalhes que antes lhe escaparam. A palidez matinal, a forma como ela apoiava discretamente a mão no ventre ainda plano, os momentos em que ela parava suas atividades como se ouvisse algo que só ela podia escutar. Ela estava grávida e o filho que carregava era dele. A primeira pessoa a suspeitar foi dona Eulália.
Com seus olhos experientes de mulher que criara sete filhos próprios, ela notou as mudanças em Mariana antes mesmo que a própria jovem tivesse certeza de sua condição. “Meu senhor”, disse ela numa manhã entrando no gabinete com o rosto grave. A preciso falar sobre um assunto delicado.
Miguel levantou os olhos dos papéis que fingia ler, seu estômago se contraindo. Fale, Euulia. É sobre a escrava Mariana, meu senhor. Tenho observado sinais que, bem, que sugerem uma condição que pode trazer grande escândalo para esta casa. Que condição? Miguel perguntou fingindo ignorância. Ela está esperando um filho, meu senhor. Tenho certeza disso. O silêncio que se seguiu foi ensurdecedor.
Miguel lutou para manter a compostura, mas seus olhos traíram a tempestade de emoções que travava em seu interior. “E quem seria o pai?”, perguntou ele, surpreendendo-se com a firmeza de sua própria voz. Dona Eulália hesitou, claramente desconfortável. Bem, meu senhor, ela chegou aqui há meses.
Pode ter sido algum dos capatazes ou mesmo ela parou abruptamente, percebendo que estava pisando em terreno perigoso. Ou mesmo o que, eulha. Nada, meu senhor, apenas o que o senhor pretende fazer a respeito. Miguel se levantou lentamente, caminhando até a janela que dava para o jardim onde Mariana trabalhava naquele momento.
Ela estava ajoelhada entre as rosezeiras, suas mãos cuidadosas, podando os galhos secos para dar lugar a novos brutos. A metáfora não passou despercebida a ele. “Vou falar com ela”, disse finalmente. Naquela tarde, Miguel pediu que Mariana viesse ao seu gabinete. Quando ela entrou, pálida, mas digna, ele viu em seus olhos a confirmação de tudo o que já eu sabia.
Ela sabia que ele sabia. “Mariana”, começou ele, a voz mais suave do que ela esperava. “É verdade. Ela não precisou perguntar sobre o que ele se referia. Suas mãos instintivamente se moveram para o ventre num gesto protetor que falou mais que mil palavras. “Sim”, sussurrou ela.
“É verdade, é meu?”, a pergunta pendia no ar, como uma oração não pronunciada. Mariana o fitou diretamente, seus olhos brilhando com lágrimas não derramadas. “Você é o único homem que já toquei, Miguel, o único que já amei.” A confissão atingiu Miguel como um raio. Ela o amava. Apesar de tudo, apesar da diferença social, apesar do risco que isso representava para ambos, ela o amava. E ele, Deus, como ele a amava também.
“Os médicos disseram que eu era estéril”, disse ele, aproximando-se dela. Disseram que jamais poderia ter filhos. “Os médicos podem estar errados”, respondeu Mariana suavemente. “Talvez não fosse o momento certo antes. Talvez Deus estivesse esperando para nos unir antes de nos abençoar. Com esta criança, Miguel estendeu a mão tocando o rosto dela com uma ternura que fez seu coração disparar.
“Você tem certeza de que me ama?”, perguntou ele. “Mesmo sabendo o que isso pode significar para nós?” “Tenho certeza.” Ela respondeu sem hesitar. “E você, em vez de responder com palavras, Miguel a beijou. Foi um beijo suave, cheio de promessas não ditas, e de um amor que desafiava todas as convenções. Quando se separaram, ambos sabiam que não havia mais volta.
“Vamos nos casar”, disse Miguel impulsivamente. Mariana recuou, assustada. “Miguel, isso é impossível. A sociedade jamais aceitaria. Sua família, seus amigos, a igreja. Não me importo com a sociedade”, declarou ele. “Importo-me com você e com nosso filho. Estou curiosa para saber de que cidade ou estado vocês estão acompanhando essa história. Me conta nos comentários.
É incrível imaginar como nossas histórias viajam e alcançam cantos tão diferentes do mundo. Mal posso esperar para descobrir até onde chegaremos juntos. Agora, prepare-se, porque o que Miguel está prestes a descobrir vai testar não apenas seu amor, mas sua própria identidade. Mas o mundo exterior não compartilhava da determinação de Miguel. Naquela mesma noite, um visitante inesperado chegou à fazenda Santa Eulália.
Dom Francisco de Albuquerque, primo de Miguel e juiz da comarca, havia sido informado por amigos preocupados sobre os rumores que circulavam na região. “Miguel”, disse ele entrando no salão principal, sem cerimônia. “Precisamos conversar sobre essa situação inaceitável. Que situação, Francisco? Não se faça de desentendido. A escrava grávida. Os mexericos já chegaram até a capital.
Dizem que ele pausou claramente desconfortável. Dizem que você é o pai. Miguel o encarou firmemente. E se eu for? O rosto de Francisco empalideceu. Você perdeu a razão. Isso é um escândalo. Um homem de sua posição, um duque envolvido com uma escrava. Isso destruirá não apenas sua reputação, mas a de toda a nossa família.
Antes que Miguel pudesse responder, gritos desesperados ecoaram do jardim. Ambos correram para fora e encontraram uma cena aterrorizante. Mariana estava no chão, cercada por um grupo de homens encapuzados que brandiam tochas. Um deles segurava uma corda e outro gritava palavras que gelaram o sangue de Miguel. Mulher do demônio, você enfeitiçou nosso Senhor. Vai pagar por essa blasfêmia.
O líder do grupo se virou para Miguel com olhos flamejantes e declarou: “Duque, ou você resolve essa situação agora, ou nós resolveremos para sempre”. O tempo parou. Miguel viu o terror nos olhos de Mariana. Viu suas mãos protetoras sobre o ventre onde seu filho crescia. viu a fúria cega daqueles homens que se escondiam atrás de capuzes como covardes.
Uma raiva primitiva tomou conta dele, uma força que não sabia possuir. “Saiam da minha propriedade”, rugiu Miguel, sua voz ecuando pela noite como um trovão. Agora o líder do grupo riu amargamente. Do que Miguel? O senhor perdeu a razão por causa dessa dessa criatura. Nós somos seus vizinhos, seus iguais.
Viemos aqui para salvá-lo da vergonha que essa escrava trouxe para seu nome, Coronel Mendonça. Miguel reconheceu a voz por trás do capuz. Você tem 10 segundos para sair da minha terra antes que eu o trate como o invasor que é. Essa mulher o enfeitiçou”, gritou outro homem, um duque descendente dos primeiros colonizadores, rebaixando-se a isso. É uma abominação.
Miguel avançou com passos firmes, seus olhos flamejando de uma determinação que fez alguns dos homens recuarem. Francisco tentou segurá-lo pelo braço. “Miguel, seja sensato. Eles têm razão. Você pode resolver isso discretamente. Venda a escrava. Mande-a embora. Tire suas mãos de mim”, Miguel disse com uma frieza que fez Francisco estremecer.
“E se algum de vocês encostar um dedo nela, juro por Deus que o que você vai fazer?” Desafiou Mendonça, “nos matar por causa de uma escrava? Você realmente perdeu a razão. Foi então que Miguel tomou a decisão que mudaria sua vida para sempre. caminhou até Mariana, que ainda estava no chão, tremendo, e a ajudou a se levantar com uma delicadeza que contrastava brutalmente com a atenção do momento.
Ela se apoiou nele e Miguel sentiu a vida que crescia dentro dela como uma chama sagrada que precisava proteger. “Esta mulher”, disse Miguel, sua voz clara cortando a noite, “Não é apenas uma escrava. Ela é a mãe do meu filho e eu a amo. O silêncio que se seguiu foi absoluto. Até mesmo os grilos pareceram parar de cantar.
Francisco empalideceu como se tivesse visto um fantasma e os homens encapuzados se entreolharam aturdidos pela confissão pública. “Você você não pode estar falando sério”, sussurrou Francisco. “Miguel, pense no que está dizendo. “Sua linhagem, sua honra, minha honra”, respondeu Miguel, abraçando Mariana protetivamente. Está em assumir minhas responsabilidades e proteger aqueles que amo.
Durante anos acreditei que era estéril, que Deus me havia negado o dom de ser pai. Agora descobri que ele apenas estava esperando o momento certo, a pessoa certa. Coronel Mendonça cuspiu no chão. Isso é nojento. Uma aberração. A igreja jamais permitirá. A sociedade jamais aceitará.
A sociedade, disse Miguel, sua voz crescendo em intensidade, pode ir para o inferno. E quanto à igreja, eu falarei pessoalmente com o bispo a precedentes históricos de nobres que se casaram com mulheres de origem humilde. Mas não escravas, gritou outro homem. Jamais escravas. Então eu a libertarei declarou Miguel.
aqui agora diante de todos vocês. Mariana, você está livre e quando amanhecer, se você aceitar, será minha esposa. A declaração foi como uma bomba explodindo na noite. Mariana olhou para Miguel com lágrimas escorrendo pelo rosto, mal conseguindo acreditar no que ouvia. Francisco cambaleou como se tivesse levado um soco.
“Miguel, pelo amor de Deus, pense nas consequências”, implorou o primo. “Você será ostracizado pela sociedade, expulso dos círculos nobres. Suas terras podem ser confiscadas pela coroa que confisquem”, respondeu Miguel serenamente. “Dinheiro e títulos podem ser perdidos e recuperados, mas o amor verdadeiro e a chance de ser pai, isso é um presente que não vou desperdiçar”.
Coronel Mendonça avançou, o rosto contorcido de raiva. “Você é um traidor da sua própria classe, um nobre que se mistura com escravos. Isso não ficará assim. está ameaçando um duque em sua própria propriedade?”, Miguel perguntou, sua mão se movendo instintivamente para a espada que trazia na cintura. “Não preciso ameaçar”, respondeu Mendonça com um sorriso cruel.
Amanhã mesmo mandarei uma carta para a corte, para o bispo, para todos os fazendeiros da região. Vamos ver se sua paixão resiste quando você perder tudo. Eu já perdi tudo uma vez, disse Miguel pensando em Francisca nos anos de solidão, na dor de se acreditar estéril. E aprendi que sem amor, sem propósito, sem família, todas as riquezas do mundo não passam de pó. Agora encontrei tudo isso novamente.
Vocês podem tentar me tirar meus bens, meus títulos, minha posição social, mas não podem me tirar a paternidade que me foi devolvida, nem o amor que encontrei. Os homens começaram a se dispersar, murmurando ameaças e maldições. Francisco foi o último a partir, olhando para o primo com uma mistura de desespero e nojo.
“Você está morto para a família”, disse ele. morto para a sociedade. Espero que sua paixão valha toda a destruição que está prestes a causar. Quando finalmente ficaram sozinhos, Miguel se virou para Mariana. Ela estava em pé, tremendo, suas mãos ainda protetoras sobre o ventre. “Você tem certeza?”, perguntou ela, sua voz frágil como cristal.
“Você sabe o que acabou de fazer? O que isso significa para você?” Miguel tomou o rosto dela entre as mãos, limpando suas lágrimas com o polegar. Significa que pela primeira vez em anos sinto que estou vivendo de verdade. Significa que nosso filho crescerá sabendo que foi desejado, amado, defendido. Significa que encontrei meu propósito, mas sua fortuna, sua posição.
Podem ir embora, disse Miguel, beijando a testa dela. Nós reconstruiremos juntos com nosso filho. Mas na manhã seguinte, quando Miguel acordou determinado a formalizar a libertação de Mariana e preparar o casamento, ele encontrou a casa grande em alvoro dona Eulália correu até ele, o rosto transtornado de desespero. Meu senhor, ela desapareceu.
Mariana desapareceu durante a madrugada e deixou apenas isto. Ela estendeu um bilhete escrito com a delicada caligrafia de Mariana. Meu amor, não posso permitir que você destrua sua vida por minha causa. Parto para proteger você e nosso filho.
Se Deus quiser, nos encontraremos novamente quando o mundo estiver pronto para nosso amor, para sempre sua. Miguel sentiu o mundo desabar ao seu redor. O bilhete tremeu em suas mãos enquanto ele lia e relia aquelas palavras que soavam como uma despedida para sempre. Mariana havia partido. Levara consigo não apenas o amor que ele acabara de descobrir, mas também seu filho, a prova viva de que Deus não o havia abandonado.
“Ela não pode ter ido longe”, disse Miguel, vestindo-se apressadamente. “Está grávida, a pé, sem recursos. Meu senhor”, dona Eulália hesitou antes de continuar. Um dos coxeiros disse que viu ela entrando numa carruagem antes do amanhecer, uma carruagem com brasões da igreja. Miguel parou abruptamente. A igreja? Claro.
Mariana havia sido criada pelas freiras do convento de Santa Clara. Em sua aflição, ela provavelmente buscara refúgio no único lugar que considerava seguro. Sem perder tempo, Miguel selou seu melhor cavalo e partiu em disparada pra cidade. O convento de Santa Clara ficava nos arredores. Uma construção simples, mas imponente, que abrigava freiras dedicadas ao cuidado de órfã e mulheres em situação vulnerável.
Quando chegou ao portão, uma freira idosa o recebeu com cerimônia. Irmã, procura uma mulher chamada Mariana. Ela pode ter chegado aqui hoje de manhã. A freira o estudou com olhos penetrantes. E o senhor seria Miguel de Menezes, duque de Santa Eulália. É urgente que eu fale com ela. Entre meu filho. A madre superiora gostaria de conversar.
Consigo. Miguel foi conduzido até uma sala simples, onde uma mulher de meia idade, com olhos bondosos, mas firmes, o aguardava. Era a Madre Benedita, a mesma que havia criado Mariana. Duque, Miguel, disse ela. Mariana me contou tudo. Onde ela está? Perguntou Miguel diretamente.
Ela está sob nossa proteção agora e não deseja vê-lo. Madre, a senhora não compreende. Eu amo essa mulher. Quero me casar com ela, dar meu nome ao nosso filho. Compreendo perfeitamente, interrompeu a Madre Benedita. E é exatamente por isso que ela não quer vê-lo. Mariana me disse que o Senhor estava disposto a sacrificar tudo por ela. Ela não pode permitir isso.
Miguel se aproximou da mesa, seus olhos ardendo de determinação. Mas essa escolha não é só dela, é minha também. Durante anos vivi morto por dentro, acreditando que era incompleto. Agora descobri que estava errado, que o momento certo finalmente chegou. Vou deixar que ela tire isso de mim também? Qual parte mais te emocionou até aqui? Me conte antes do desfecho, porque o que está prestes a acontecer vai tocar seu coração de uma forma que você jamais imaginou.
Foi então que uma voz suave ecoou pela sala. Miguel, ele se virou e viu Mariana parada na porta, pálida, mas radiante. Os olhos de ambos se encheram de lágrimas. “Eu ouvi sua conversa com a madre”, disse ela, a voz quebrando. “Você realmente está disposto a enfrentar tudo?” “Tudo”, confirmou Miguel, tomando as mãos dela. “Não posso perder você.
Não posso perder nosso filho. “Case comigo”, disse Miguel, ajoelhando-se diante dela. “Aqui agora, diante de Deus e da Madre Benedita. Sim. sussurrou ela finalmente. Sim, eu aceito. A cerimônia foi simples, apenas eles três numa pequena capela do convento. Seis meses depois, Miguel e Mariana tiveram um filho, Gabriel. Como Miguel havia previsto, perderam muito. Foram rejeitados pela sociedade.
Muitos bens foram confiscados, mas ganharam muito mais. Anos mais tarde, quando Gabriel já era um jovem respeitado, Miguel costumava contar sobre os médicos que disseram que nunca teria filhos, sobre os anos em que se acreditou maldito. Pai, Gabriel perguntava sempre: “O Senhor se arrepende de alguma coisa?” E Miguel, olhando para Mariana, sempre respondia: “Apenas de uma coisa, meu filho, de ter demorado tanto para compreender que Deus não nos dá bênçãos quando achamos que merecemos, mas quando estamos prontos para recebê-las”. Sua mãe me ensinou que o amor verdadeiro não
conhece barreiras sociais, que a coragem vale mais a que riquezas e que às vezes precisamos perder tudo para descobrir o que realmente importa. E assim o duque, que pensava ser estéril, descobriu que não era sua capacidade de gerar filhos que estava em questão, mas sua capacidade de amar sem condições.
Porque no final o que permanece não são os títulos que carregamos, mas o amor que plantamos ao longo de nossa jornada. M.