Mire e Josianne caminhavam lado a lado no caminho de volta da escola, suas mochilas batendo levemente nas costas a cada passo. De repente, Mire diminuiu o ritmo. Seu olhar fixou-se em um canto sombreado ao pé de um muro antigo. Ali, um jovem mendigo estava sentado, as costas apoiadas nos tijolos frios. Suas roupas gastas pendiam nele como trapos, rasgadas em alguns pontos.
Seu rosto, marcado pela fome e pelo cansaço, trazia, no entanto, um brilho perturbador. Era jovem e surpreendentemente bonito. O coração de Mire apertou. Uma compaixão imediata subiu em seu peito. “Vou ajudá-lo”, murmurou ela, revistando sua mochila. Josiane parou bruscamente, franzindo o cenho. “E desde quando, Mireille? Você vê quantos mendigos vagam por essa cidade? Se você der a cada um, amanhã é você quem vai estender a mão.”

“Mas olhe para ele, parece realmente faminto”, respondeu Mire em voz baixa. Josiane suspirou, irritada. “E nós então? Você acha que nadamos em dinheiro? Esquece que ainda falta para completar o aluguel.” Mire ficou imóvel, apertando um bilhete amassado entre os dedos. Josiane tinha razão. Aquele dinheiro era importante. Mas algo dentro dela se recusava a passar adiante.
Com uma suavidade firme, ela se abaixou e deslizou o bilhete na mão do rapaz. “Toma, compra algo para comer”, disse docemente. O jovem levantou a cabeça, seus olhos escuros se abrindo em espanto. “Obrigado”, sussurrou numa voz fraca, quase quebrada, como se não acreditasse naquele gesto. Josiane balançou a cabeça, exasperada. “Você é gentil demais, Mireille! Um dia, as pessoas vão se aproveitar de você.”
Mireille esboçou um pequeno sorriso, embora seu coração batesse forte. “Vamos!” disse apenas. As duas retomaram a caminhada, mas Josiane não desistiu. “Ótimo, agora seu aluguel está incompleto. Tudo isso para brincar de Madre Teresa. E se esse cara estiver fingindo?” “Isso é entre ele e Deus”, respondeu Mire com calma. “Mas se ele realmente tinha fome, pelo menos hoje, aliviei alguém.” Josiane revirou os olhos. “Você é boa demais, e as pessoas boas, nesse mundo, são pisoteadas.” Mire não respondeu. Continuou andando tranquilamente.

Josiane continuava falando com desdém. Sempre quis parecer importante. Ela inventava constantemente que seus pais viviam no exterior, quando na realidade, como os de Mireille, moravam no vilarejo. Ela tinha vergonha de suas origens, e seu desprezo servia apenas para mascarar sua insegurança.
Naquela noite, no pequeno quarto, a tensão explodiu. Assim que entrou, Josiane exigiu secamente: “Dá a tua parte do aluguel.” Mire baixou os olhos, o coração apertado. “Eu… não tenho agora. Meus pais vão me mandar um pouco de dinheiro no próximo mês. Eu te pago depois, prometo.” Os olhos de Josiane se arregalaram, cheios de raiva. “Então você tinha como completar o aluguel e preferiu dar para um desconhecido na rua? Está tirando sarro de mim? Todas as vezes sou eu quem segura tudo, e você se faz de santa gastando como se vivêssemos num palácio!” Ela jogou a bolsa no colchão, furiosa.
“Você acha que vamos explicar o quê para o proprietário, hein? Que demos de comer aos mendigos da rua em vez de pagar o que devemos? Você tem noção da humilhação que está nos preparando?”
Mire levantou os olhos timidamente, a voz tremendo, mas firme. “Josiane, eu entendo a tua raiva, mas eu não podia ignorar. Aquele homem tinha fome. Você vê só um desconhecido. Eu vi um ser humano.” “Não quero saber”, cuspiu Josiane. “Que ele vá trabalhar. Todo mundo sofre, mas não fica sentado na poeira esperando caridade.” “Nem todos tiveram a mesma chance”, respondeu Mire com doçura e firmeza. O rosto de Josiane se endureceu ainda mais. “É a última vez que te ajudo. Dá teu jeito no mês que vem. Não espere mais nada de mim.” As palavras caíram como um golpe. Mire sentiu um aperto no coração, mas apenas respondeu: “Está bem.” Josiane bufou, pegou a toalha e bateu a porta do banheiro. Mire sentou-se na cama estreita.
Ela sabia que tinha complicado a própria vida, mas não se arrependia de ter ajudado aquele rapaz. Pensou no rosto dele, nos olhos cansados que tinham se iluminado por um instante quando ela lhe estendeu a mão. “Talvez a gente perca dinheiro ao ajudar, mas nunca perdemos em humanidade”, pensou suspirando.
Na manhã seguinte, bem cedo, Mireille preparou um pequeno saco com um pouco de arroz e feijão resgatado do fundo da cozinha. No caminho para a faculdade, mudou de rota e foi ao mesmo canto da rua. Ele estava lá. Ao vê-la, os olhos do jovem se iluminaram. “Você voltou?” perguntou surpreso.
“Sim, trouxe algo para comer”, disse Mire, entregando-lhe o saquinho. As mãos dele tremiam levemente ao recebe-lo. “Obrigado, você não imagina o que isso representa.” Mire sentou-se numa pedra próxima e o observou comer. Ele mastigava devagar, como se quisesse prolongar aquele momento. Sentia-se que há muito não comia até se saciar.
Depois de alguns minutos, ele limpou a boca e esboçou um pequeno sorriso. “Meu nome é Mathieu. Sou órfão.” O coração de Mire apertou. “Sinto muito, perdi meus pais quando era pequena.” “Cresci no orfanato. Aos dez anos, disseram que eu tinha que me virar. Procurei trabalho, mas ninguém me quer. Então… aqui estou.” “É difícil”, murmurou Mire. “Gostaria de fazer mais.” “Você já faz muito. Ontem, dinheiro. Hoje, uma refeição. Sobretudo, me tratou como ser humano. Ninguém faz mais isso.” Mire abaixou os olhos, envergonhada. “Não tenho muito, mas posso trazer comida quando puder.” Os olhos de Mathieu brilharam de gratidão. “É mais que suficiente. Obrigado, Mireille.”
Ela se levantou. “Preciso ir, senão me atraso para a aula.” “Cuide-se”, disse ele. Ao partir, Mire sentiu nascer dentro de si um vínculo com aquele rapaz que mal conhecia.