Os almirantes japoneses não acreditavam que um “pequeno” navio de guerra conseguiu afundar 6 submarinos em 12 dias
No vasto e turbulento teatro do Pacífico na Segunda Guerra Mundial, o valor de um navio era medido por seu tamanho e poder de fogo. Couraçados, porta-aviões, cruzadores, destróieres — eram esses gigantes que reinavam no mar. Mas, em maio de 1944, um navio discreto e quase ignorado, um simples contratorpedeiro-de-escolta com metade do tamanho de um destróier real, estava prestes a desafiar todas as certezas navais.
Esse navio era o USS England, casco DE-635. Em um período de apenas doze dias, ele alcançou um recorde que permanece até hoje: destruiu seis submarinos japoneses — praticamente um a cada dois dias — numa taxa de sucesso tão extrema que deixou a Marinha Imperial Japonesa completamente perplexa. Eles sabiam apenas que seus submarinos estavam desaparecendo sem aviso, pulverizados por explosões invisíveis que pareciam surgir do nada.
Mas essa façanha não foi fruto de sorte. Foi uma vitória fria, metódica e lógica, impulsionada não pela força bruta, mas pela matemática — e por uma arma que a maioria dos capitães da Marinha dos EUA simplesmente não confiava. Esta é a história de como um navio pequeno, usando um armamento negligenciado, mudou a guerra no mar.

Em 19 de maio de 1944, o comandante do England, Walton Pendleton, um oficial na casa dos 40 anos sem nenhum afundamento confirmado na carreira, possuía, porém, uma fé inabalável nos números. Ele sabia que a arma tradicional contra submarinos — as cargas de profundidade — era estatisticamente terrível. Para cada ataque, era necessário adivinhar a profundidade do submarino antes de lançar a carga. E, na maioria das vezes, o submarino já havia se movido quando ela finalmente chegava ao nível programado.
As estatísticas eram brutais: na guerra inteira, os britânicos registraram apenas um afundamento para cada 60 ataques com cargas de profundidade — apenas 1,65% de chance. E, quando erravam, a explosão ainda atrapalhava o sonar por longos minutos, permitindo que o submarino escapasse na confusão.
Qualquer alternativa era bem-vinda. E o England estava equipado com a arma experimental Hedgehog — um morteiro lançador de 24 projéteis disparados à frente do navio, que só explodiam ao tocar um alvo sólido. Suas vantagens eram revolucionárias: silêncio total caso errasse, manutenção do contato sonar até o impacto, e taxas de acerto de 5 a 8%, muito melhores que as cargas antigas. Pendleton valorizava fatos — e a matemática lhe dizia que a nova arma era superior.

O primeiro alvo era o submarino japonês I-16, cujo movimento havia sido decodificado pela inteligência naval. Pendleton, com dois navios-irmãos, aguardava o contato. Os primeiros ataques erraram — o I-16 manobrava com habilidade, descendo a mais de 300 pés. Mas, no quinto ataque, quatro a seis detonações destruíram o submarino. O impacto foi tão forte que levantou a popa do England para fora da água. Um submarino abatido — e apenas o começo.
Logo, uma linha inteira de submarinos tipo RO foi detectada. Eram sete, posicionados para avisar sobre qualquer aproximação americana às Marianas. Precisavam ser eliminados. E, após o sucesso inicial, a confiança na Hedgehog crescia. A tripulação agora acreditava.
Nos dias seguintes, o England rastreou e destruiu os submarinos RO-106, RO-104 e RO-116 em uma sequência impressionante. A combinação de radar, sonar preciso, disciplina matemática e o ciclo rápido de recarga da Hedgehog fazia da tripulação uma verdadeira máquina de caça submarina. Cada submarino tentava novas manobras, novas profundidades, novas táticas. Nada adiantava. O England os encontrava — e os afundava.
O desempenho chamou a atenção até em Washington. O almirante Ernest King declarou:
“Sempre haverá um England na Marinha dos Estados Unidos.”
Mas a verdade é que esse sucesso também atraía perigo. O England estava se tornando valioso demais. Alguns queriam retirá-lo da linha de frente. Porém, ainda restavam três submarinos na patrulha japonesa, e seu grupo precisava concluí-la.
Assim, o England continuou. E, em 26 de maio, afundou o RO-108 com uma salva devastadora. Agora eram cinco submarinos em oito dias.
A essa altura, os japoneses estavam em pânico. O almirante Toyoda, em Tóquio, percebeu que algo extremamente preciso e letal estava eliminando toda uma patrulha. Ele ordenou novas táticas desesperadas: profundidades mínimas de 400 pés, silêncio total, e pouca recarga de baterias. Era tarde demais.
Em 30 de maio, o England encontrou o RO-105. Esse comandante era excepcionalmente habilidoso — ficou imóvel nas profundezas, enganando o sonar por horas. Mas a lógica venceu de novo. O sonarista do England identificou um padrão oculto nas manobras do submarino. Os humanos pensam ser aleatórios, mas não são. Pendleton ajustou o disparo… e o sexto submarino foi destruído.
Seis submarinos em doze dias.
Nenhum outro navio na história alcançou esse número.
Após isso, Halsey retirou o England da caçada. A arma estava provada. A tática estava definida. O resto da Marinha começaria a aprender com ele.
O último submarino da linha, o RO-109, sobreviveu — apenas porque se escondeu profundamente e jamais foi encontrado.
O USS England recebeu a Presidential Unit Citation. Seus relatórios redefiniram o combate anti-submarino. Mesmo após sobreviver a um ataque devastador de kamikazes em 1945, foi descomissionado após a guerra e desmontado em 1946.
Seu comandante, Walton Pendleton, recebeu a Navy Cross. Sua lápide em Arlington não menciona os seis submarinos — mas sua façanha permanece viva na história naval.