Aos 59 anos, Éric Cantona revela as cinco pessoas que mais detesta
Aos 59 anos, Eric Cantona finalmente aceita abrir a porta para uma das partes mais obscuras de sua lenda. O homem que a Inglaterra chamou de The King, o poeta revoltado, o guerreiro imprevisível, revela hoje as cinco pessoas que marcaram sua vida de forma brutal. Cinco nomes que ele nunca realmente revelou, cinco feridas que sempre deixou escondidas atrás de sua arrogância assumida e de seu olhar desafiador.
Por que agora? Por que este homem que nunca explicou nada, que sempre preferiu o silêncio às desculpas, decide finalmente contar esses confrontos que moldaram sua raiva e sua liberdade? Segundo alguns próximos, Cantona quer agora revisitar suas cicatrizes — não para se justificar, mas para se libertar.

E assim, chegamos à sua lista. Cinco nomes, cinco confrontos mais profundos do que se imagina.
Didier Deschamps.
Para Éric Cantona, Didier Deschamps nunca foi apenas um companheiro de equipe. Ele era o símbolo de um futebol que Cantona rejeitava: disciplinado, dócil, sem brilho. Cantona, artista rebelde, não compreendia como Deschamps podia se tornar capitão da seleção francesa se, segundo ele, não representava nem a criatividade nem a liberdade que defendia.
A tensão explode quando Cantona o chama publicamente de porteur d’eau — carregador de água. Uma frase que ficou para a história. Não era um insulto gratuito, mas a prova de um desprezo profundo, quase ideológico. Para Cantona, Deschamps encarnava o sistema. Para Deschamps, Cantona representava o caos. O ponto de ruptura chega quando Cantona é afastado da seleção após sua suspensão, enquanto Deschamps permanece capitão, símbolo de ordem. Cantona sente-se abandonado.
Para ele, Deschamps será sempre o oposto absoluto: o homem da prudência contra o homem da revolta.
Glenn Hoddle.
Para Cantona, Glenn Hoddle simboliza uma incompreensão total entre duas visões do futebol. Quando Hoddle se torna treinador da Inglaterra, critica publicamente a influência de Cantona no futebol inglês, afirmando que ele não representava o estilo que o país deveria seguir.
Cantona vive essas palavras como um desprezo, uma tentativa de reduzir sua arte a uma ameaça cultural. Para ele, Hoddle era um homem preso a uma visão rígida do jogo, incapaz de entender criatividade, liberdade e ousadia. Hoddle via Cantona como uma figura dominante demais, perigosa para o equilíbrio dos jovens jogadores ingleses.
O auge ocorre quando Hoddle insinua que um jogador como Cantona nunca teria lugar em uma equipe dirigida por ele. Para Cantona, uma provocação direta — a recusa em admitir que um estrangeiro pudesse se tornar rei na Inglaterra.
Para Cantona, Hoddle sempre será o homem que quis reduzir seu legado a um capricho de ego.

Sir Alex Ferguson.
Para Cantona, Sir Alex Ferguson nunca foi apenas um treinador. Ele foi ao mesmo tempo seu protetor, seu guia e seu ponto de ruptura mais doloroso.
A relação começa com admiração mútua: Ferguson vê em Cantona a faísca que falta ao Manchester United; Cantona vê nele a autoridade capaz de canalizar seu fogo interior. Mas por trás da aliança, tensões crescem. Ferguson exige disciplina total. Cantona funciona por instinto, emoção, provocação.
Após a suspensão de 1995, Ferguson o apoia publicamente, mas endurece em privado. Coloca limites. Cantona sente-se controlado, às vezes sufocado.
O clímax vem quando Cantona decide se aposentar abruptamente em 1997 sem consultar Ferguson. Para o treinador, é uma traição silenciosa. Para Cantona, o único modo de retomar a posse de sua vida.
Para ele, Ferguson será sempre o homem que o revelou — mas também aquele de quem precisou se afastar para não perder a alma.
Alan Shearer.
Para Cantona, Alan Shearer nunca foi apenas um rival. Ele foi o adversário que o levou ao limite, às vezes até a explosão. Dois líderes, dois egos gigantes, dois símbolos opostos da Premier League.
Shearer: o artilheiro inglês, puro, poderoso, disciplinado.
Cantona: o rebelde criativo, imprevisível, subversivo.
A tensão entre eles é imediata. Cada confronto United–Newcastle vira um duelo de autoridade. Shearer nunca aceitou que um estrangeiro se tornasse rei do futebol inglês, e Cantona sentia isso.
O auge ocorre quando Shearer provoca abertamente Cantona, levando a uma altercação violenta que quase resulta em suspensão definitiva. Essa cena sela a ruptura.
Mais que rivalidade esportiva, era um choque de identidades. Dois reis para um único território.
Piers Morgan.
Para Cantona, Piers Morgan nunca foi um jornalista — foi um perseguidor mediático. Desde os anos 90, Morgan o atacava, chamando-o de perigoso, arrogante, tóxico para o futebol inglês. Cantona lia tudo, fervia em silêncio.
O ponto de ruptura chega após a suspensão de 1995, quando Morgan publica artigos descrevendo-o como vergonha nacional. Para Cantona, era uma traição moral.
Mesmo depois da aposentadoria, Morgan continua com provocações, piadas, ataques venenosas. Cantona às vezes responde com humor, às vezes com desprezo glacial, transformando o duelo em um teatro permanente.
Para Cantona, Morgan é o rosto de uma imprensa que não quer entender, que simplifica, que o reduz a caricatura — o adversário mais persistente, talvez o único que ele nunca quis perdoar.
Revisitando sua história, Cantona entende que os adversários que mais o marcaram não foram os que o feriram fisicamente, mas os que tentaram aprisionar seu espírito.
Um antigo companheiro conta que, após um jogo tenso, Cantona lhe disse:
“Eles querem que eu entre nas regras deles. Então eu crio as minhas.”
Essa frase resume sua vida inteira. Cantona nunca quis ser compreendido — quis ser livre.
E essa liberdade, ele a construiu contra os olhares, contra as autoridades, contra todos que tentaram silenciá-lo.
Hoje, Cantona olha seu percurso com orgulho. Seu gênio é inseparável de suas lutas, seus inimigos, suas renascidas. No fundo, ele nunca jogou contra os outros — jogou contra um mundo que se recusava a ver a beleza em sua revolta.