A filha rica zombou do garçom até que ele lhe mostrou uma foto do passado.
Garçom, bom dia. Você é surda ou apenas lenta? A voz cortou através do jazz suave e do tilintar dos copos como uma lâmina. As cabeças se viraram, as conversas pararam. Alana Pierce estava sentada à mesa central, sua pulseira de diamantes brilhando, o telefone na mão, a impaciência gravada em seu rosto.
O garçom correu até ela, respirando levemente. Ele se manteve ereto. Sinto muito, senhora. Alguma coisa está errada. Esta sopa, disse ela, empurrando a tigela com um suspiro de desgosto. Está fria e era para ser uma sopa de lagosta. Não isso, não importa o que seja. O jovem garçom piscou e rapidamente assentiu com a cabeça. Eu entendo.
Vou trazer uma nova imediatamente. Ela resmungou para seus amigos, revirando os olhos. Incrível. Restaurante cinco estrelas, serviço duas estrelas. Ela riu, mas não era realmente engraçado. Em algumas mesas próximas, as pessoas trocaram olhares. O garçom não disse uma palavra. Ele apenas se virou e seguiu em direção à cozinha.
Seu crachá dizia Dreck. Lá dentro, ele respirou fundo e se recompôs. Já tinha ouvido pior e ela tinha vivido pior. Mas algo em seu rosto, em sua voz, despertou uma lembrança esquecida. Quando DK voltou com uma nova tigela, Alana rolava o dedo no telefone, rindo de algo nas redes sociais.
Ela nem levantou os olhos. Aqui está, senhora, disse ele suavemente. Finalmente, murmurou, ainda com os olhos fixos na tela, e colocou a tigela com cuidado. Mas antes de se afastar, ele hesitou por um segundo. Então olhou-a nos olhos. Isso a fez levantar a cabeça. “O quê?” ela lançou. “Você me parece familiar”, disse ele calmamente.
“Não pensei que a veria de novo.” Ela franziu a testa, perplexa. “Desculpe!” DK mergulhou a mão no bolso do avental e tirou algo dobrado e gasto, uma pequena foto com cantos desgastados. “Guardei por anos”, disse ele, com a voz calma, mas carregada. “Pensei que talvez um dia eu pudesse devolvê-la a você.”
Alana ergueu uma sobrancelha, divertida e irritada. “Do que você está falando?” Ele colocou a foto na mesa. O riso dela desapareceu instantaneamente. Na foto, uma menina descalça e um menino magro estavam em frente a uma lavanderia deteriorada, sorrindo como se a vida ainda fosse gentil. Sua boca se abriu, ela tocou a foto como se pudesse queimá-la.
Não pode ser, disse DK suavemente. Você e eu. Mapple Street era 2010. Seus amigos se entreolharam, sussurrando. O rosto de Alana ficou pálido. Ele não levantou a voz. Não precisava. Ele apenas olhou para ela e disse: “O dinheiro muda muitas coisas, mas não pensei que mudaria você.” E nessa única frase tranquila, a sala ficou em silêncio.

O riso, a música, o barulho, tudo desapareceu. Apenas a verdade permaneceu. Alana ficou paralisada. A foto ainda tremia entre seus dedos. O som dos copos e o jazz suave desapareceram no nada. Era como se o mundo tivesse parado. Apenas ela, a foto e o homem que ela conheceu, mas esqueceu. Sua garganta se apertou.
Isso não pode ser real, murmurou ela. Foi há anos. Sim, terminou DK suavemente. Há muito tempo, mas nunca esqueci. Seus olhos se fixaram no rosto dela. Ele não estava com raiva. Era pior. Sua voz era calma, estável, do tipo que carrega uma verdade mais pesada que qualquer grito.
“Eu morava bem ao lado dessa lavanderia”, disse ele. “Seu pai era o dono. Minha mãe trabalhava lá, dobrando roupas, limpando manchas, garantindo que seus uniformes estivessem prontos toda segunda-feira.” As lembranças passaram pela mente dela como um velho filme. Uma pequena loja, cheiro de sabão, um menino magro sorrindo sempre para ela.
Mesmo varrendo o chão. Ela engoliu em seco. Você é o DK? Ele assentiu. Sou eu. Seus amigos se mexeram, desconfortáveis, sentindo a mudança. Uma amiga sussurrou: Alana, o que está acontecendo? Ela os ignorou. Mas você foi embora. Sua família desapareceu. DK sorriu. Não desaparecemos. Fomos expulsos depois que seu pai vendeu o prédio. O estômago de Alana se afundou.
Eu não sabia. Não, disse ele suavemente. Você não perguntou. Essas palavras atingiram mais forte que a raiva. Ele abaixou os olhos para a foto em sua mão. Você se lembra do que me disse naquele dia? Você disse: “Quando eu crescer, voltarei para ajudar. Eu farei as coisas certas.” Ele fez uma pausa, os olhos encontrando os dela.

Você prometeu que não esqueceria. Seus lábios se entreabriram, mas nada saiu. Ela se lembrava agora da promessa inocente de uma menina cheia de boas intenções e sem entender o que a vida poderia fazer às pessoas. Ela tinha esquecido. DK deu um passo para trás, limpando as mãos no avental.
Não te mostrei essa foto para te envergonhar. Eu só queria que você lembrasse de quem você era antes que o dinheiro falasse por você. Os olhos de Alana se encheram de lágrimas que ela não esperava. Derek, estou bem? Ele disse calmamente, balançando a cabeça. Você não me deve nada. Alguns esquecem mais rápido que outros. Ele se virou para sair, mas sua voz quebrou. Espere.
Todo o restaurante agora os observava, fingindo não olhar. Ela não se importava. “Eu não queria te tratar assim”, disse ela, a voz trêmula. “Eu não sabia.” DK parou. “Você ainda não sabe.” Então se afastou, calmo, gracioso, digno, enquanto ela permanecia ali, cercada de luxo e silêncio, segurando uma foto que de repente pesava mais que ouro.
Alana ficou por muito tempo depois que Derek se foi. O riso à sua mesa havia cessado. Seus amigos murmuraram desculpas e saíram discretamente. Ela ficou olhando a porta, apertando a foto como prova de que ainda tinha um coração. Uma lembrança surgiu. O calor do verão, o asfalto rachado, o zumbido das máquinas de lavar, um menino magro estendendo uma lata de refrigerante comprada com sua última moeda.
Um dia, eu teria um lugar como este, ele disse. Ela sorriu, prometendo: “Quando eu for rica, te levarei comigo.” Ela acreditava nisso, mas a vida e o dinheiro tinham uma maneira de apagar promessas que não cabiam em suas caixas. Na manhã seguinte, a culpa ainda pesava em seu peito.
Ela o procurou online. Nada, sem redes sociais, nenhum rastro. Finalmente, ela ligou para o restaurante e pediu para falar com ele. Aqui é Alana Pierce, disse ela suavemente. Pode dizer ao DK que eu gostaria de falar com ele? O gerente hesitou. Senhora, ele não está aqui hoje. Ele tirou a manhã para visitar sua mãe.
Ela está no hospital da cidade. Seu estômago revirou. Sem pensar, ela pegou as chaves e dirigiu até lá. A enfermeira apontou para um pequeno quarto no final do corredor. Através do vidro, ela o viu. Sentado ao lado de uma mulher frágil ligada a tubos, segurando sua mão, sorrindo como antes.
Por um instante, ela não conseguiu se mover. Essa imagem a atingiu mais forte que qualquer insulto que ela já havia lançado. Ele parecia cansado, desgastado, mas em paz, como se o mundo ainda não o tivesse quebrado. Quando percebeu seu reflexo no vidro, levantou-se. Você me seguiu? Ela entrou lentamente.