“Sou jovem demais para ser esposa”, chorou a menina de 13 anos, e o fazendeiro arriscou tudo para escondê-la em seu rancho.

“Sou jovem demais para ser esposa”, chorou a menina de 13 anos, e o fazendeiro arriscou tudo para escondê-la em seu rancho.

A carroça chegou ao crepúsculo, quando a luz tingia tudo da cor de sangue velho.

Jacob Mercer estava consertando o arame da cerca quando a viu. Um único cavalo puxando uma plataforma coberta, movendo-se devagar demais para o comércio, deliberado demais para quem apenas vagava. O tipo de aproximação que significava negócios, problemas ou ambos.

Ele se endireitou, limpou as mãos nas calças e observou a carroça rolar em direção ao seu rancho com a quietude de um homem que aprendera a não presumir nada naquele território.

A condutora era uma mulher de meia-idade, magra como um trilho, usando um gorro que sombreava a maior parte de seu rosto. Ela não gritou um cumprimento, não acenou. Apenas parou a carroça perto do celeiro e ficou sentada lá, as rédeas soltas no colo, encarando-o como se decidisse se ele serviria.

Jacob esperou.

Finalmente, ela falou.

— Você é Jacob Mercer?

— Sou.

— Você é aquele que dizem que cuida da própria vida?

Ele a estudou. Havia algo quebradiço na voz dela, como vidro que já havia rachado, mas ainda não se despedaçara.

— Depende do negócio.

Ela olhou para trás, para a carroça, e depois para ele novamente. Seu maxilar trabalhava como se mastigasse palavras que não queria cuspir.

— Tenho uma menina lá atrás. Treze anos. A família dela a vendeu.

Jacob não se moveu, mas seu peito apertou.

— Vendeu ela?

— Para um homem com o dobro da idade dela. O casamento está marcado para domingo. — A voz da mulher baixou. — Ela não quer ir.

O vento aumentou, carregando poeira pelo pátio. Jacob podia ouvir o rangido fraco do eixo da carroça e o mugido distante do gado no pasto. Ele olhou para a cobertura de lona, imaginando que tipo de medo seria necessário para uma criança entrar na carroça de um estranho.

— Por que trazê-la para mim?

Os olhos da mulher eram duros, mas havia algo desesperado por baixo.

— Porque você tem terra, tem distância, e o povo diz que você não se curva fácil para o tipo errado de pressão.

Jacob virou a cabeça ligeiramente, estudando o horizonte. O sol estava afundando rápido.

— Quem é o homem?

— O nome é Vernon Kates. Opera fretes em Banning. Tem dinheiro, tem influência. — Ela pausou. — Tem um temperamento.

Jacob conhecia o nome. Todos conheciam. Vernon Kates não era o tipo de homem que você cruzava, a menos que estivesse pronto para perder mais do que uma discussão.

— E a família dela?

— O pai dela deve um empréstimo a Kates. É assim que ele está pagando. — A boca da mulher se contorceu. — Sou tia dela. Tentei impedir. Eles não me ouviram.

Jacob exalou lentamente. Ele não era um homem que procurava problemas, mas nunca fora bom em fugir deles também.

— Ela está aí agora?

A mulher assentiu.

— Deixe-me vê-la.

A mulher desceu rigidamente e foi até a parte de trás da carroça. Ela puxou a lona, e Jacob se aproximou.

A menina estava encolhida no canto, os joelhos puxados contra o peito, os braços enrolados firmemente ao redor deles. Seu cabelo era escuro, emaranhado, e o vestido estava empoeirado pela estrada. Mas foram os olhos dela que o atingiram: arregalados, escuros e cheios do tipo de terror de quem sabia exatamente o que estava esperando por ela.

Ela não falou, apenas o encarou como se ele fosse mais um homem decidindo seu destino.

Jacob agachou-se lentamente, mantendo distância.

— Qual é o seu nome?

A voz dela era apenas um sussurro.

— Lily.

— Lily? — Ele repetiu, deixando o nome assentar entre eles. — Sua tia diz que você não quer se casar com esse homem.

O maxilar dela se contraiu.

— Sou jovem demais para ser esposa.

As palavras o atingiram com mais força do que ele esperava. Simples, verdadeiras, desesperadas. Jacob endireitou-se e voltou-se para a tia.

— Se eu a aceitar, Kates virá procurá-la. Eu sei que ele trará a lei. Ou pior.

— Eu sei disso também — a voz da mulher falhou. — Mas ela morrerá se for com ele. Talvez não imediatamente, mas devagar, pedaço por pedaço.

Jacob olhou de volta para a menina. Ela não se movera, não desviara o olhar dele. Ele pensou em sua própria filha, morta há cinco anos pela febre. Ela tinha dez anos quando morreu. Ele pensou no que gostaria que alguém fizesse se fosse ela naquela carroça.

Ele assentiu uma vez.

— Tudo bem.

Os ombros da tia caíram de alívio.

— Obrigada.

— Não me agradeça ainda — disse Jacob calmamente. — Isso é apenas o começo.

Ele ajudou Lily a descer da carroça. Ela se movia como um cervo, pronta para fugir, cada músculo tenso, os olhos correndo para a estrada. A tia lhe entregou uma pequena trouxa de pano. Roupas, ele imaginou.

— Há um porão — disse Jacob. — Embaixo do celeiro. É seco. Tem cobertores. Ela estará segura lá até eu descobrir o que vem a seguir.

A tia segurou o braço dele.

— Você é um bom homem.

Jacob não respondeu. Homens bons geralmente não acabavam em situações como aquela.

A tia subiu de volta na carroça, deu a Lily um último longo olhar, e estalou as rédeas. A carroça rolou de volta para a estrada, desaparecendo na escuridão crescente.

Jacob ficou ali com a menina ao seu lado, o peso do momento assentando em seus ombros.

— Venha — disse ele calmamente.

Lily o seguiu até o celeiro. Dentro, o ar cheirava a feno e couro. Jacob acendeu uma lanterna e a levou para os fundos, onde um alçapão estava escondido sob uma pilha de sacos de ração velhos. Ele o abriu, revelando uma escada estreita que descia para a escuridão.

— Não é muito — disse ele —, mas ninguém sabe que está aqui, exceto eu.

Lily espiou as sombras e olhou para ele.

— Por que você está me ajudando?

Jacob encontrou os olhos dela.

— Porque você está certa. Você é jovem demais para ser esposa.

Ela assentiu lentamente e desceu para o porão. Jacob fechou o alçapão, espalhou os sacos de ração de volta sobre ele e ficou ali na luz da lanterna, ouvindo o silêncio.

Em algum lugar lá fora, Vernon Kates estava esperando por uma noiva. E Jacob Mercer acabara de garantir que ele não teria uma.


A manhã veio fria e pálida. Jacob acordou antes do amanhecer, vestiu-se silenciosamente e foi para o celeiro. Ele levava um prato de lata com biscoitos, carne seca e um cantil de água.

Quando abriu o alçapão, Lily estava acordada, sentada contra a parede de pedra.

— Você dormiu? — perguntou ele.

Ela balançou a cabeça.

Ele desceu e colocou a comida ao lado dela.

— Coma o que puder. Conversaremos depois.

Lentamente, ela pegou um biscoito. Jacob sentou-se no degrau inferior.

— Quanto tempo posso ficar aqui? — perguntou Lily.

— Não sei ainda. Depende de quão rápido a notícia se espalha.

— Meu pai vai dizer a eles que eu fugi.

— Provavelmente. Eles virão procurar.

Ela olhou para o biscoito em suas mãos.

— Você poderia simplesmente me mandar de volta. Dizer que não sabia.

Jacob a estudou. Não havia autopiedade na voz dela. Apenas exaustão.

— É isso que você quer?

— Não. — A voz dela falhou. — Mas não quero que você se machuque por minha causa.

Jacob inclinou-se para frente.

— Já fui machucado antes. Eu me viro.

Lily piscou para conter as lágrimas.

— Sou jovem demais para ser esposa — sussurrou ela novamente.

— Eu sei — disse Jacob simplesmente.

Ele a deixou lá e voltou para a casa. Pelo meio da manhã, seu vizinho apareceu a cavalo. Cal Brennan, um homem magro e curtido, com olhos afiados.

— Dia, Jacob. Ouvi algo interessante na cidade ontem. Vernon Kates está procurando uma menina de treze anos. Diz que a tia a ajudou a fugir.

Jacob manteve o rosto imóvel.

— Kates está oferecendo uma recompensa — continuou Cal. — Cem dólares. E diz que enforcará quem a esconder.

Jacob pousou a xícara de café.

— Vernon Kates diz muitas coisas.

Cal o estudou por um longo momento.

— Você sabe onde ela está, Jacob?

— Se eu soubesse, acha que te contaria?

Cal quase sorriu.

— Não, suponho que não. Só achei que você deveria saber o que está vindo.

Cal inclinou o chapéu e partiu.

O peso moral da decisão pressionava Jacob como uma pedra. Ele pensou em sua esposa, morta há seis anos. Ela teria escondido Lily sem pensar duas vezes.

Ao anoitecer, cinco cavaleiros chegaram rápido. Vernon Kates na frente, flanqueado por capangas, um delegado e o pai de Lily, que parecia derrotado na sela.

Jacob saiu para a varanda, rifle na mão.

— Jacob Mercer — disse Kates, desmontando. — Estou procurando uma menina. Treze anos. A tia a trouxe para cá. Você a viu?

— Vejo muita gente passar.

— Não é uma resposta.

— É a única que tenho.

O delegado deu um passo à frente.

— Sr. Mercer, abrigar uma fugitiva é crime.

— Fugitiva de quê? — perguntou Jacob. — De um casamento com o qual ela não concordou?

— O casamento é legal — retrucou Kates. — O pai assinou o contrato.

Jacob olhou para o pai de Lily.

— E a menina? Ela teve voz?

— Ela tem treze anos — disse Kates. — Não precisa ter voz.

Jacob apertou o rifle.

— É onde estamos agora? Vendendo crianças?

O silêncio esticou-se perigoso.

— Vou perguntar mais uma vez — disse Kates. — A garota está aqui?

— Se estivesse — disse Jacob —, acha que eu a entregaria a um homem com o triplo da idade dela?

O rosto de Kates escureceu.

— Você não decide o que é certo, Mercer. A lei está do meu lado.

— Legal não significa certo.

Kates sorriu sem calor.

— Você pode entregá-la pacificamente ou podemos destruir este lugar.

Jacob ergueu o rifle ligeiramente.

— Você não vai atirar em mim — disse Kates, embora houvesse dúvida em seus olhos.

— Não — concordou Jacob. — Mas farei você sangrar antes de passar desta varanda.

De repente, uma voz cortou a tensão.

— Já chega, todos.

Cal Brennan estava na orla do pátio, rifle no colo. Atrás dele, mais três rancheiros vizinhos.

— Vernon, recue — disse Cal. — Jacob tem o direito de defender sua terra.

— Ele está escondendo minha propriedade! — gritou Kates.

— Ela é uma criança, não propriedade — disse Cal secamente.

Kates olhou ao redor, calculando as chances. Finalmente, recuou.

— Isso não acabou — cuspiu ele, montando no cavalo. — Ela é minha, Mercer. De um jeito ou de outro.

Eles partiram.

Jacob ficou sozinho na luz fraca. Ele foi até o celeiro e abriu o alçapão. Lily estava encolhida contra a parede.

— Eles se foram — sussurrou ele. — Por enquanto.

— Eu devia ir embora — disse ela chorando.

— Não. Você fica. Vamos dar um jeito.

— Como? Como lutar contra um homem assim?

— Não sei — admitiu Jacob. — Mas temos que tentar.

Naquela noite, a chuva veio forte. Jacob levou Lily para dentro de casa. Eles comeram em silêncio.

— Você teve uma filha — disse Lily suavemente, olhando ao redor.

— A febre a levou. E minha esposa um ano depois.

— É por isso que está me ajudando?

— Principalmente porque você está certa. Você é jovem demais para isso.

Lily olhou para ele.

— Por que você é tão gentil?

Jacob pensou em sua esposa.

— Porque alguém precisa ser.

Perto da meia-noite, Cal Brennan apareceu novamente, encharcado pela chuva.

— Kates foi ao marechal. Conseguiu um mandado. Eles vêm amanhã ao amanhecer com seis homens. Você precisa de um plano.

Jacob olhou para a casa onde Lily dormia.

— Vou pensar em algo.

O amanhecer veio pálido e limpo. Jacob acordou Lily.

— Eles estão vindo. Fique no porão até eu chamar.

O marechal chegou com Kates, o delegado e o pai de Lily. Cal e os rancheiros já estavam na varanda com Jacob.

— Tenho um mandado — disse o marechal. — Entregue a garota, Mercer.

— Ela veio por vontade própria — disse Jacob. — O pai a vendeu. Isso é tráfico.

— Isso é para um juiz decidir — disse o marechal.

— Então traga um juiz aqui — desafiou Jacob. — Deixe Lily falar.

— Ela não tem voz! — gritou Kates.

— Por que não? — perguntou Cal. — Ela é quem está sendo vendida.

O marechal hesitou. Nesse momento, uma nova voz falou.

— Marechal Hayes.

Todos se viraram. Uma mulher mais velha, vestida de preto, entrou no pátio a cavalo.

— Sra. Callaway — disse o marechal surpreso. — O que faz aqui?

— Estou aqui porque ouvi sobre essa farsa. — Ela olhou para Kates com frieza. — Sou esposa de um juiz de circuito, marechal. Se você cumprir esse mandado, será cúmplice de tráfico.

O rosto de Kates empalideceu.

— Traga a menina — ordenou a Sra. Callaway.

Jacob chamou Lily. Ela emergiu do celeiro, piscando na luz do sol.

A Sra. Callaway ajoelhou-se diante dela.

— Criança, você quer se casar com o Sr. Kates?

— Não, senhora — disse Lily com voz clara.

— Alguém perguntou o que você queria?

Lily balançou a cabeça, chorando.

— Sou jovem demais para ser esposa.

A Sra. Callaway levantou-se.

— Aí está sua resposta. O contrato é nulo. Você não pode comprar um ser humano.

O marechal olhou para o mandado e o rasgou ao meio.

— Vou acompanhá-los de volta à cidade. Sr. Kates, leve sua queixa ao juiz.

Kates praguejou e partiu. O pai de Lily olhou para a filha com vergonha, mas ela não disse nada. Ele foi embora.

— Você fez uma coisa boa — disse a Sra. Callaway a Jacob. — Eu levarei a menina. Cuidarei dela.

Lily abraçou Jacob com força.

— Obrigada — sussurrou ela.

Três anos depois, Jacob estava consertando cercas quando viu uma amazona se aproximar. Uma jovem mulher de dezesseis anos, confiante.

— Olá, Jacob.

Ele se endireitou.

— Lily.

— Vim agradecer. Sou professora agora.

Eles sorriram um para o outro sob o sol.

— Sou jovem demais para ser esposa — disse ela baixinho, ecoando as palavras do passado.

Jacob sorriu.

— Mas velha o suficiente para ser você mesma.

E quando ela partiu ao crepúsculo, Jacob ficou na varanda, sentindo não tristeza, mas a satisfação tranquila de um homem que fez o que era certo.

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