O aroma cortante de desinfetante invadiu as narinas de Emily Barnes enquanto ela adentrava o silêncio gelado do necrotério do condado de Riverside. Seu fôlego se condensava no ar frio, misturando-se com a quietude estéril da sala. Para uma jovem que sonhara desde a infância em ser patologista forense, aquele era para ser o momento, o primeiro caso real. Mas nada na escola de medicina a preparara para o que estava prestes a acontecer.
Sobre a mesa de metal, duas pequenas figuras deitavam-se lado a lado, cobertas com lençóis brancos, imóveis. Liam e Logan Parker, gêmeos de 10 anos. A causa da morte ainda era indeterminada. O tempo de falecimento: 8 horas atrás. À sua frente estava o Dr. Richard Hail, o chefe do departamento de legistas, um homem alto, com cabelos grisalhos e uma compostura inabalável, como uma parede de pedra em meio à tempestade.
“Está pronta?” ele perguntou, folheando os papéis da autópsia. Emily assentiu, mas algo dentro dela a fez se sentir observada, como se a sala não estivesse completamente vazia.
Então, o impensável aconteceu. Um som fraco, quase brincalhão, ecoou pelo corredor. Risadas infantis. Emily olhou rapidamente para o hall. “Você ouviu isso?”
O Dr. Hail nem sequer levantou os olhos. “O que, Emily?”
“Risos… Crianças.”
Ele finalmente olhou para ela, levantando uma sobrancelha. “Aqui não tem crianças, Emily. Pelo menos, não vivas.” Emily tentou rir, mas seus dedos já estavam gelados. “Claro, é claro.”
Eles se aproximaram das mesas. Emily se posicionou ao lado de Liam, suas mãos tremendo ao tentar puxar o canto do lençol. Quando revelou o rosto do menino, uma onda de náusea a invadiu. Pele pálida, cílios escuros, e um semblante sereno demais. Parecia que ele poderia abrir os olhos a qualquer momento. “É só uma morte química,” disse Dr. Hail com calma, como se sentisse o medo dela. “Alguns venenos fazem os mortos parecerem adormecidos.” Emily alcançou o pulso do menino, mas, assim que o tocou, os dedos de Liam se mexeram.
Seu coração deu um salto. Ela recuou rapidamente com um sobressalto, quase derrubando um dos instrumentos na mesa. “O que diabos?” ela sussurrou, os olhos arregalados. Dr. Hail correu até ela. “O que aconteceu?”
“Ele… Ele mexeu a mão. Eu juro, ele me tocou!”
Dr. Hail estudou seu rosto, procurando por falhas em sua confiança. “Movimentos involuntários, reflexos cadavéricos, descargas neurais, espasmos post-mortem. Isso é perfeitamente normal.”
“Não,” ela insistiu. “Isso foi diferente. Ele se moveu.”
“Emily, eu estou há 20 anos aqui. Sei reconhecer a diferença entre morte e delírios. Esses meninos estão mortos.” Ela mordeu o lábio, as lágrimas formando uma linha fina em seus olhos, mas algo dentro dela insistia que havia mais. “Por favor, posso verificar o pulso dele?”
“Mais uma vez”, ele suspirou, acenando com a cabeça em consentimento. “Vai em frente.”
Ela tocou novamente o pulso de Liam. Nada. Então, foi para o pescoço dele. Também nada. Mas algo dentro dela a fez pressionar o ouvido contra o peito do menino. Silêncio. E depois, um baque. Suave, depois outro. Seus olhos se abriram de espanto. “Dr. Hail… Ele… Ele está vivo.”
O médico olhou para ela com incredulidade. Ele não acreditava ainda, então Emily agarrou seu pulso e o forçou a ouvir.
“Escute, por favor.”
Impelido pela pressão, Dr. Hail colocou o estetoscópio sobre o peito de Liam. O silêncio que se seguiu parecia interminável até que, finalmente, ele escutou. O som de um coração, fraco, irregular, mas real. “Jesus Cristo,” ele sussurrou.
Ele retirou rapidamente o estetoscópio e se inclinou para ouvir diretamente. A confirmação veio com a verdade inesperada. “Este menino está vivo.”
E então, o som de uma risada, mais forte agora, mais clara, ecoou pela sala. Emily se virou, alarmada. Não vinha do corredor. Vinha da segunda mesa. De Logan.
Dr. Hail rasgou o lençol, apavorado. Logan estava ali, com os lábios entreabertos, e dele saiu uma risada suave e ofegante. Os olhos de Logan começaram a piscar.
“Ele também está vivo!” Emily sussurrou em estado de espanto. Dr. Hail deu um passo para trás, como se o chão estivesse rachando sob seus pés. “Isso… Isso não pode ser.”
A sala ficou em completo silêncio, enquanto a evidência falava mais alto do que qualquer palavra. Ambos estavam vivos. Respirando. Movendo-se. “Eu preciso de reforços, agora!” Dr. Hail murmurou, pegando o telefone com mãos trêmulas. “Chame a polícia. Chame todos.”
Enquanto ele fazia a ligação, Emily se ajoelhou entre os dois irmãos, os olhos arregalados com uma mistura de espanto, medo e um milhão de perguntas. Como dois meninos puderam ser declarados mortos, apenas para acordar horas depois? O que aconteceu naquela casa? Quem fez isso com eles? E, o mais aterrador de tudo: por que estavam rindo?
A verdade estava prestes a ser revelada, e ela seria mais aterradora do que qualquer um poderia imaginar.
A Revelação
Duas semanas antes, em Wood Haven, Oregon, os gêmeos Liam e Logan Parker estavam brincando felizes no jardim. Bolas d’água voavam pelo ar quente de verão enquanto suas risadas ecoavam, imunes às tensões que se escondiam dentro de sua casa. A mãe, Vanessa, se irritava com as brincadeiras, escondendo seu desdém por trás de um sorriso forçado. Mas o que ninguém sabia era que, por trás desse sorriso, ela e sua mãe, Margot, estavam prestes a orquestrar uma das mais cruéis traições que qualquer criança poderia imaginar.
Vanessa e Margot estavam planejando algo ainda mais sinistro do que qualquer veneno: elas iriam matar as crianças de forma sorrateira, sem deixar rastros, para assumir o controle total da riqueza da família. No entanto, o que elas não previam era que Liam e Logan estavam mais unidos e mais espertos do que imaginavam.
Aos poucos, com muito risco, eles conseguiram provar a verdade, desmascarando a horrível conspiração. A mentira e a maldade se desfizeram diante da coragem desses dois meninos.