O rei chamava sua esposa de gorda… até que ela fugiu com o escravo.

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Ela era chamada de rainha, mas vivia como prisioneira, humilhada pelo próprio esposo, o rei, e ignorada por todos, até que um escravo se atreveu a sussurrar: “Você não merece viver assim.” Em um instante, algo dentro dela despertou e o que começou com um olhar se transformou em fuga, paixão e revolução.

Mas, e se esse escravo escondesse um segredo que mudaria tudo? Esta não é uma história de contos de fadas, é uma história de coragem, dor e renascimento. Prepare-se para conhecer Leonor, a rainha que fugiu. Antes de começar a história, diga-me: de qual lugar do mundo você me escuta? As campanas do castelo soavam em festa, mas no coração de Leonor reinava o silêncio da vergonha.

Era meio-dia no reino de Teriion. O grande salão estava cheio, os nobres riam, as taças tilintavam e as janelas abertas deixavam entrar a luz dourada do sol. Tudo parecia perfeito, mas atrás das paredes de pedra e ouro escondia-se uma podridão que nenhum perfume conseguia disfarçar.

Leonor, a rainha, vestia um pesado vestido de brocado dourado feito especialmente para a ocasião. Era a coroação anual dos soldados celadores, um dos eventos mais sagrados do reino. Sentava-se ao lado do rei Absalón, como mandava a tradição, mas ninguém a olhava com respeito, apenas com desprezo. O rei, com seu sorriso frio e olhos famintos por poder, brindava com suas amantes disfarçadas de damas da corte, mulheres esbeltas, maquiadas como deusas, que sussurravam entre si, sempre olhando para Leonor. Riam, apontavam.

“Majestade,” disse uma delas fingindo doçura. “Esse dourado destaca tanto a sua presença.” Risadinhas abafadas. O rei não disfarçou.
“Presença? Parece mais um eclipse solar.” Ele soltou uma gargalhada estrondosa. “Cada vez que a vejo passando, penso que os pilares do castelo vão desabar.” As gargalhadas ecoaram pelo salão como flechas. E Leonor… ela sorriu.

Um sorriso pequeno, tímido, forçado. Mas os olhos… ah, os olhos eram dois mares prestes a transbordar. Ela não respondeu. Não podia. Toda mulher naquela sala já sabia o que aconteceria se ela ousasse. O rei virou-se, ergueu a taça e exclamou:
“À minha adorável esposa, que come por três, mas ama por nenhum!”
Outra explosão de risos. E desta vez até os músicos pararam por um instante. Leonor baixou o olhar.

Não era a primeira vez, e sabia que não seria a última. A humilhação pública já era parte do protocolo. Era tratada como um enfeite, um símbolo vazio da realeza. O rei nunca a tocava, nunca mostrava afeto — apenas desprezo. Naquela noite, quando todos dormiam, ela caminhou sozinha até o jardim interno. Tirou os sapatos, queria sentir a terra.

Precisava lembrar que ainda era humana, que ainda existia. O vento acariciava seu cabelo solto, um perfume de jasmim flutuava no ar. E ali, entre as sombras dos roseirais, ela chorou.

“Perdão, minha rainha.”
Uma voz surgiu baixa, tímida, como quem teme ser ouvido pelo próprio destino. Ela virou-se assustada.

Era um homem alto, de pele escura e olhos sinceros. Carregava uma cesta de lenha. Suava, estava descalço. Era um dos escravos do castelo. Chamava-se Elián.
“Eu… eu ouvi o que disseram no salão,” continuou ele. “Nenhuma mulher merece ouvir aquilo.” Leonor limpou o rosto rapidamente, como se quisesse esconder o que sentia. Estava envergonhada.

Mas ele… ele não desviou o olhar.
“A senhora é mais forte do que imagina. Eles só riem porque têm medo de quem brilha com verdade.” Ele disse isso antes de se afastar, cabisbaixo.
Leonor ficou ali, em silêncio. O coração acelerado. Nunca ninguém havia falado com ela daquele jeito — com respeito, com ternura. Um escravo que vivia nas sombras acabara de ver nela o que o rei jamais enxergou.

E naquele instante, algo dentro dela se acendeu.

No silêncio daquela madrugada, Leonor não dormia. O quarto real era um túmulo dourado — cortinas de veludo, tapeçarias bordadas à mão, almofadas de seda e nenhum alívio para a alma.

O comentário de Elián, dito no jardim, tão simples, tão proibido, girava em sua mente como um feitiço. “Você não merece viver assim.” Ninguém jamais lhe dissera isso. Não com aquela voz, não com aquele olhar. Um escravo invisível aos olhos de todos… exceto aos dela.

Agora ela se levantou da cama e caminhou até o espelho. O reflexo devolvia a imagem de uma mulher que já não reconhecia.

A maquiagem havia sido removida, mas as palavras ditas pelo rei ainda manchavam seu rosto. Gorda, inútil, peso para o trono. Eram como tatuagens invisíveis que carregava no corpo há anos. Mas o que mais doía era lembrar que um dia ela acreditou merecer tudo aquilo — por amor, por dever, por medo.

No dia seguinte, o castelo fervilhava com os preparativos para o baile de encerramento da coroação. Leonor fingia participar. Caminhava pelos corredores com o olhar distante, cumprimentava os convidados, mas dentro dela havia silêncio — um silêncio que escutava tudo.

À tarde, ela foi até os estábulos. Disse às damas que precisava de ar fresco, mas seu corpo sabia exatamente para onde a conduzia. O cheiro de palha, couro e fumaça a envolveu como um abraço antigo.

O estábulo estava quase vazio, apenas um homem curvado limpando os cascos de um cavalo castanho. Elián. Ele virou-se devagar, surpreso, mas não assustado. Seus olhos pareciam mais claros na penumbra.
“Majestade,” murmurou, baixando a cabeça.

“Não me chame assim,” respondeu ela. “Aqui eu não sou nada disso.”

Silêncio. Ela se aproximou. O som de seus passos ecoava entre as paredes de pedra. Elián se endireitou. Era mais alto do que ela lembrava. Ou talvez fosse ela quem se sentia menor por dentro.

“O que você me disse ontem…” começou ela, voz baixa. “Não sai da minha cabeça.”
Elián apenas escutava. Não interrompia. Seus olhos diziam tudo.

“Eu não sei quem você é, nem por que disse aquilo, mas foi a primeira vez que me senti viva.”
Ela riu — uma risada curta, amarga, que logo se transformou em suspiro.
“Eu já nem lembro o que é ser olhada sem desprezo. Estou tão acostumada a ouvir que sou grande demais, lenta demais, feia demais…” Ela fez uma pausa, engolindo a dor.
“E então vem um escravo, um homem que deveria baixar a cabeça diante de mim, e me diz a única verdade que eu precisava ouvir.”

Elián caminhou até uma prateleira e pegou um pano limpo. Ofereceu a ela.

Um gesto simples. Humano. Leonor enxugou o suor da testa, depois as lágrimas.
“Minha rainha,” disse ele, com o coração na voz. “Sou apenas um homem que sofre em silêncio. Mas quando a vi sendo esmagada por palavras, foi como ver alguém se afogando em terra firme… e eu não pude mais ficar calado.”

Ela sentou-se em um banco de madeira, os olhos cheios de lágrimas — mas algo diferente brilhava neles. Faíscas. Faíscas de decisão.

“Elián… você já pensou em fugir?”

A pergunta pairou no ar como um trovão.

Ele ficou imóvel. O pano caiu da mão. Por um segundo, o mundo parou.
“Fugir?” repetiu ele, incrédulo. “Senhora… se alguém ouvir isso, eu… nós…”

“Eu sei o risco,” interrompeu ela.
“Mas me diga: nunca pensou nisso?”

Elián baixou a cabeça, a mandíbula tensa.
“Todo escravo pensa, mas poucos têm coragem. Fugir não é liberdade… é guerra. E só começa se houver chance de vencer.”

Leonor levantou-se. O rosto firme. A voz segura.
“Então talvez tenha chegado a hora de preparar essa guerra.”

E antes que ele pudesse dizer qualquer coisa, ela se foi. Desapareceu entre o cheiro de feno e fumaça.

Mas naquele instante, dentro de ambos, algo havia mudado.

Ela já não era uma rainha humilhada. E ele já não era um escravo invisível.

E pela primeira vez, estavam do mesmo lado.

Leonor caminhava pelos corredores do castelo como quem carrega um segredo proibido no peito. Cada passo parecia mais pesado, mas ao mesmo tempo… mais livre. Dentro dela, o medo e a coragem dançavam como dois inimigos antigos que finalmente se encaravam.

No grande salão, os preparativos para o baile estavam quase prontos. As servas corriam, penduravam lanternas douradas, arrumavam as mesas, alinharam taças de cristal como se nada no mundo pudesse desmoronar. A música dos ensaios ecoava de longe, leve demais para o peso que Leonor carregava no coração.

O rei Absalón estava sentado em seu trono secundário, dando ordens, recusando pratos, reclamando do vinho, criticando todos. Ao vê-la entrar, ele ergueu uma sobrancelha, analisando-a de cima a baixo com arrogância.
“Ah, veja só,” disse ele. “A rainha decidiu aparecer. Pensei que estivesse se escondendo depois do espetáculo de ontem.”

Leonor ficou parada. Olhou diretamente para ele — algo que raramente fazia.
“Eu não me escondo,” respondeu ela, simplesmente.
O rei sorriu, mas havia uma sombra de irritação no olhar.
“Pois deveria. O reino ficaria mais… leve.”

As damas riram. Sempre riam. Sempre repetiam como ecos vazios.

Leonor não reagiu. Não baixou os olhos. Apenas virou-se e continuou seu caminho, deixando-o falando sozinho.

As damas ficaram em choque. O rei, por um instante minúsculo, pareceu… desconcertado. Ninguém jamais ousava virar as costas para ele assim. Ninguém. E aquilo foi o primeiro estalo, pequeno, mas real, que avisava que algo estava prestes a quebrar.

Mais tarde, já no fim da tarde, Leonor estava em seus aposentos quando a porta abriu-se sem aviso. Era sua dama de confiança, Sira — a única pessoa do castelo que, apesar do medo, ainda se permitia ter um coração.

Sira respirava rápido, como quem trazia notícias perigosas.
“Minha rainha… ele está procurando por você.”
“O rei?”
“Sim. Está furioso. Disse que sua ‘audácia’ hoje não ficará sem resposta.”

Leonor sentou-se devagar na beira da cama.
Era o que ela esperava. E mesmo assim, o corpo tremeu.

“Sira,” disse ela, “se algo acontecer comigo… continue viva. Prometa.”
Sira arregalou os olhos.
“Não diga isso, por favor! Eu imploro. A senhora não pode enfrentar ele sozinha. Ele é cruel, imprevisível… e não tem limites.”

Leonor segurou as mãos da jovem dama.
“Eu não estou mais sozinha.”

Sira pareceu confusa.
“O que quer dizer?”

Leonor hesitou. Não podia contar tudo. Não ainda. Não queria colocar mais vidas em risco.
“Nada,” respondeu com um sorriso frágil. “Só confie em mim.”

Quando Sira saiu às pressas, a porta mal se fechara e Leonor ouviu passos pesados no corredor. O coração dela bateu tão forte que parecia empurrar o ar do peito.

A porta se abriu com violência.

O rei Absalón entrou.

Seus olhos faiscavam de fúria. As veias do pescoço pulsavam. Ele a encontrou sentada, mas firme, olhando para ele sem tremer.
“Então é isso?” disse ele, aproximando-se como um predador.
“Agora você acha que pode me desafiar na frente de toda a corte?”

Leonor abriu a boca, mas ele não esperou.
“Você não passa de um peso, uma vergonha, uma sombra no meu trono!”

Ele a segurou pelo pulso com força. O suficiente para deixar marcas. Ela sufocou um grito.
“Se continuar desse jeito, vou arrancar de você tudo o que ainda resta: título, dignidade, e até o ar.”

Mas Leonor… não baixou a cabeça desta vez.

“Então faça,” sussurrou ela, com a voz quebrada, porém firme.
“Mas saiba que sua rainha não tem mais medo.”

O rei arregalou os olhos, surpreso pela ousadia.
Por um instante, um único instante, ele recuou. Não porque tivesse piedade — mas porque jamais imaginara ouvi-la falar assim.

Leonor respirou fundo.
“E talvez,” continuou ela, “você devesse temer o que uma mulher sem medo é capaz de fazer.”

O silêncio que se seguiu foi mortal.

O rei a soltou bruscamente e saiu do aposento batendo a porta, deixando um rastro de ódio no ar.

E Leonor, sozinha, finalmente chorou. Mas não era um choro de derrota.

Era um choro de início.

De uma guerra que ela estava pronta para começar.

Naquela noite, o castelo parecia maior. Mais frio. Mais perigoso. Cada sombra lembrava a Leonor que o rei agora via nela não apenas uma esposa incômoda — mas uma ameaça.

Ela sabia que precisava agir antes que ele agisse primeiro.

Enquanto o vento zunia contra as janelas, Leonor vestiu um manto escuro, escondeu o rosto com o capuz e deixou seus aposentos em silêncio. Passou pelo corredor principal, depois pelo estreito corredor de serviço, evitando guardas, evitando olhares. Era quase meia-noite quando desceu até a ala inferior do castelo — onde ficavam as câmaras dos escravos.

O cheiro de ferro, fumaça e pele castigada a atingiu como um golpe.

Ela nunca havia estado ali. Nunca tinha permissão. Rainhas não desciam até o submundo do próprio lar. Mas naquela noite, Leonor não era apenas rainha.

Era uma mulher procurando um aliado.

Quando se aproximou da porta de madeira que levava aos alojamentos, dois guardas estavam sentados conversando.
“Se eu pegar o desgraçado que roubou aquele pedaço de pão, corto os dedos.”
“Foi o número 46, aposto.”
Eles riram.

Leonor, com o pulso ainda dolorido do aperto do rei, respirou fundo, ergueu a cabeça e caminhou até eles confiante.
“Abram a porta.”
Os guardas se levantaram assustados ao reconhecer sua voz.
“M–minha rainha, este lugar—”
“Eu disse: abram.”

Ninguém ousaria contrariá-la, mesmo que fosse estranho vê-la ali. Os guardas abriram a porta rangente. O cheiro de suor, poeira e vida sofrida escapou como um sussurro.

Leonor entrou.

As luzes eram fracas. As camas improvisadas estavam alinhadas como feridas no chão. Homens e mulheres dormiam próximos uns aos outros, exaustos demais para se mover. Mas ela procurava um rosto.

E encontrou.

Elián dormia encostado à parede, a cabeça apoiada nos braços. O corpo marcado pelo trabalho duro parecia tão frágil quanto forte.

Leonor se ajoelhou ao lado dele, tocando seu ombro com cuidado.
“Elián… acorde.”

Ele abriu os olhos devagar, confuso. Quando a viu, arregalou-os em choque.
“Leonor? O que está fazendo aqui? Isso é loucura!”

Ela olhou ao redor. Alguns escravos começavam a despertar, cochichando entre si. Era perigoso demais conversar ali.
“Preciso falar com você,” disse ela. “Agora. Antes que o rei faça algo pior.”

Elián levantou-se rápido.
“Ele te machucou?”
Ela não respondeu. Mas o silêncio disse tudo.

Os olhos dele se encheram de fogo.
“Se ele encostou um dedo em você, eu—”
“Elián!”
Ela segurou sua mão.
Foi a primeira vez que se tocaram de verdade.

Os dois congelaram.

O toque era pequeno, mas tinha o peso de um mundo.
Elián respirou fundo, tentando se recompor.
“O que você quer de mim?”

Leonor o encarou, e pela primeira vez sua voz não vacilou:
“Quero que me ajude a fugir deste castelo.”

O choque dele foi tão intenso que ele quase deu um passo para trás.
“Fugir? Leonor, você sabe o que está dizendo? O rei mataria qualquer um que tentasse ajudar você. Ele destruiria vilas inteiras para te recuperar.”

Ela aproximou-se mais.
“Então me diga: você prefere viver com medo… ou morrer tentando ser livre?”

Elián ficou imóvel.

Aquela pergunta não era só para ele. Era para todos ali. Para cada vida aprisionada naquele castelo.

Depois de um longo silêncio, ele respondeu:
“Se você realmente quer fugir… eu vou com você.”

O coração de Leonor acelerou, não de medo — mas de esperança.
“Não estou pedindo que venha por mim,” disse ela.
“Estou pedindo que venha por você.”

Elián sorriu — pequeno, mas verdadeiro.
“Então por nós,” respondeu.

A porta dos alojamentos abriu-se de repente. Um dos guardas entrou, ofegante:
“Minha rainha! O rei está procurando pela senhora! Ele está vindo para cá!”

Leonor e Elián trocaram um olhar que dizia tudo:
Agora não havia mais volta.

Os passos do rei ecoavam pelo corredor como marteladas pesadas. Cada batida aproximava um destino inevitável. Leonor sentiu o estômago revirar — não de medo, mas de urgência.

Elián se colocou à frente dela instintivamente, como se fosse seu escudo.
“Fique atrás de mim,” ele sussurrou.
“Você é louco,” respondeu Leonor. “Se ele te ver—”
“Ele vai me ver de qualquer jeito.”

O guarda que tinha alertado aproximou-se mais:
“Minha rainha, precisam sair daqui, agora. Se o rei descobrir que esteve neste nível do castelo sozinho, pode usar isso contra você.”

Leonor respirou fundo. Ela sabia. Oh, como sabia.

“Elián,” disse ela baixinho, “o que faremos?”

Ele olhou ao redor com a rapidez de quem viveu a vida inteira tentando escapar de perigos silenciosos.
“Pelas cozinhas,” murmurou.
“Há uma saída que leva aos fundos do castelo. Não é longe, mas… é estreita. Você consegue correr?”

Leonor ergueu o queixo.
“Por minha vida? Consigo voar.”

Elián segurou a mão dela. Foi rápido — mas suficiente para que um estalo de coragem surgisse entre seus dedos.

Os dois avançaram para a porta lateral quando, atrás deles, o barulho de armaduras se aproximou.
“Aí vem ele,” sussurrou o guarda em pânico.

Elián puxou Leonor para o corredor de serviço.
“Agora. Não pare.”

Eles correram. O corredor parecia mais longo do que deveria, estreito, com paredes de pedra que guardavam um ar úmido. As tochas tremulavam enquanto eles passavam. O som dos soldados ecoava logo atrás.

Quando viraram à esquerda, quase colidiram com uma cozinheira carregando um balde de água. A mulher arregalou os olhos, surpresa demais para reagir.

“Perdão,” Leonor sussurrou, mas Elián já a puxava de novo.

Chegaram às cozinhas — um caos quente e barulhento. Panelas ferviam, facas batiam em tábuas, servas gritavam instruções. Mas ninguém prestava atenção neles. Era o horário mais frenético do dia.

Elián apontou para uma porta estreita nos fundos.
“Ali.”

Leonor correu na frente agora. O cheiro de especiarias e fumaça preenchia seus pulmões, mas não a fazia parar. Ela empurrou a porta — e encontrou um corredor ainda menor, quase claustrofóbico.

Mas antes que pudessem avançar, uma voz poderosa gritou ao longe:

“LEONOR!”

O nome dela rasgou o ar.

O rei havia chegado às cozinhas.

As servas congelaram. Os cozinheiros se curvaram imediatamente. O silêncio caiu como um manto.

Elián puxou Leonor contra a parede, escondendo-a na sombra estreita do corredor.
“Não respire,” ele sussurrou.

Leonor segurou o próprio ar até sentir tontura.

O rei entrou. Seus passos pesados ressoaram pelo salão.
“Onde ela está?” ele rugiu.
Ninguém respondeu. Nem ousaria.

Ele avançou, derrubando utensílios, abrindo portas, chutando bancos.
“Minha rainha decidiu brincar de desaparecida?”
Ele sorriu — um sorriso cheio de veneno.
“Ela deve ter esquecido que tudo neste castelo me pertence. Até mesmo o ar que ela respira.”

Elián fechou os punhos. Leonor tocou seu braço em aviso:
“Não,” ela sussurrou quase sem som. “Ainda não.”

O rei aproximou-se da porta dos fundos. Cada passo era uma sentença.
E então, quando estava a dois passos de descobri-los — um dos fogões estourou.

Uma panela enorme de caldo espirrou fogo e fumaça.
As cozinheiras gritaram.
O rei xingou alto, recuando imediatamente.

No caos, Elián agarrou a mão de Leonor.
“Agora! Vai!”

Eles dispararam pelo corredor estreito e finalmente chegaram ao lado externo do castelo — um beco velho, escondido, usado apenas para descarregar barris de vinho.

A noite estava fria e silenciosa. A lua iluminava tudo com uma luz prateada.

Leonor respirou fundo pela primeira vez desde que deixara seus aposentos.
“Conseguimos…” ela murmurou, quase sem acreditar.

Elián, ainda segurando sua mão, olhou-a nos olhos.
“Isso foi só o começo.”

Mas então — um som cortou o ar.

O som de uma flecha sendo disparada.

A flecha passou tão perto que Leonor sentiu o vento cortando seu rosto. Ela se encolheu por instinto, e Elián imediatamente a puxou para trás de um barril vazio.

Outra flecha veio, acertando as pedras do beco com um estalo seco.

“Arqueiros!” Elián rosnou, puxando-a pela cintura. “Eles nos viram.”

Leonor sentiu o coração subir até a garganta.
“O que fazemos agora?”

“Corremos.”

Eles dispararam pelo beco estreito. O som de botas e armaduras ecoava às suas costas — os guardas estavam vindo em peso. O rei não brincava quando se tratava de controle. Ele não deixaria sua rainha escapar nem por um segundo sem pagar caro.

Um dos guardas gritou:
“Ali! Peguem o escravo e tragam a rainha viva!”

Elián apertou o passo.
“Siga meu ritmo, não olhe para trás!”

Mas Leonor olhou.

E viu quatro soldados, armados e furiosos, virando a esquina.
Viu seus olhos cheios de ódio.
Viu a flecha nocauteada, pronta para o próximo disparo.

Ela engoliu um grito.

O beco terminou abruptamente em uma descida íngreme que levava aos jardins inferiores.
Elián agarrou a mão dela mais forte:
“Segura firme!”

Os dois deslizaram morro abaixo, tentando se equilibrar na terra solta. Leonor tropeçou duas vezes, mas Elián não a soltou. Quando chegaram ao fim da encosta, seus pés tocaram o gramado úmido dos jardins.

As luzes do castelo brilhavam acima deles como olhos vigilantes.

Leonor arfava, ofegante.
“Eles vão nos alcançar,” disse ela, desesperada.
“Não se eu souber para onde correr.”

Elián puxou-a novamente. Eles atravessaram o bosque de ciprestes, seguindo um caminho estreito que ele conhecia de cor — afinal, escravos aprendem cada canto de um castelo, principalmente os que precisam fugir de punições.

De repente, Elián parou.

Leonor quase colidiu com ele.
“Por que paramos?”

Ele apontou para uma grade alta, enferrujada.
“Atrás dela tem um túnel antigo. Foi construído muito antes do reinado de Absalón. Ele leva até fora das muralhas.”

Leonor arregalou os olhos.
“Então existe uma saída!”

“Existe,” respondeu Elián, “mas está trancada pelo lado de dentro.”

Antes que ela perguntasse algo, ele socou uma pedra grande no chão — e a pedra cedeu, deslocando-se e revelando um buraco estreito.

“Aqui.”
Ele tirou uma chave velha, suja de poeira.

Leonor piscou, surpresa.
“Você… tinha essa chave?”

Elián hesitou.
“Eu não devia ter. Mas preferi arriscar do que morrer sem tentar.”
Ele respirou fundo.
“Nunca pensei que fosse usar isso com uma rainha.”

Leonor sorriu — um sorriso cheio de gratidão e medo.
“Nunca pensei que um escravo seria minha única chance de liberdade.”

Ele destravou a grade. O rangido ecoou pelos jardins, alto demais, perigoso demais.

E então — antes que conseguissem entrar no túnel — um brilho metálico passou diante deles.

Uma espada.

Um guarda surgira, bloqueando a passagem.
“Achei vocês,” disse ele com um sorriso cruel.

Leonor recuou, mas Elián ficou na frente.
“Não toque nela.”

O guarda riu.
“Um escravo me dando ordens? Isso é novo.”
Ele ergueu a espada.
“O rei quer você vivo, mas se me der trabalho… posso mudar de ideia.”

Elián cerrou os dentes.
Leonor sentiu o ar ficar pesado.

O guarda avançou.

Elián o enfrentou.

Os dois se chocaram com força. Elián segurou o braço armado do guarda, tentando desviar o golpe. A lâmina passou a centímetros do rosto de Leonor. Ela gritou:
“Elián!”

O guarda empurrou Elián contra a grade. A lâmina brilhou, pronta para cortar sua garganta.
“Escravos não deveriam se meter em assuntos de rei!”

Leonor, tremendo, agarrou uma pedra no chão. Era pesada. Quente do sol do dia.
Ela sentiu o peso da vida e da morte em suas mãos.

O guarda ergueu a espada.
Elián tentou desviar, mas estava preso.

Leonor deu um passo à frente.

E acertou o guarda na cabeça com toda a força que tinha.

O impacto ecoou.
O homem cambaleou, perdeu o equilíbrio, caiu de joelhos — e desabou no chão.

Leonor ficou parada, pálida, respirando como se tivesse corrido mil léguas.
“Ele… ele está morto?”

Elián se ergueu, ainda ofegando.
Ele se aproximou do corpo, verificou o pulso e respondeu:
“Não. Mas vai dormir por um tempo.”

Leonor deixou a pedra cair.
As mãos tremiam.
Os olhos se encheram de lágrimas.

“Eu… eu nunca machuquei ninguém antes.”

Elián segurou o rosto dela com as mãos, gentilmente.
“Você salvou minha vida.”

Ela soluçou.
“E agora?”

“Agora,” disse ele, “entramos no túnel e terminamos o que começamos.”

Leonor olhou a escuridão da passagem.

E pela primeira vez… a escuridão parecia liberdade.

Leonor entrou primeiro no túnel. A escuridão parecia viva, como se respirasse junto com ela. Mas era uma respiração diferente da do castelo — não era opressora. Era profunda. Antiga. Livre.

O ar ali cheirava a terra úmida e a raízes quebradas. Era estreito, tão estreito que Leonor precisou se encolher e andar com as mãos encostadas nas paredes de pedra. Elián veio logo atrás, iluminando o caminho com uma tocha pequena que havia pego do lado de fora.

“Cuidado,” disse ele. “Alguns trechos são instáveis.”

Ela assentiu, mesmo que ele não pudesse vê-la direito. O som dos dois ecoava no túnel — passos, respirações, batimentos de um medo que ardia e de uma esperança que crescia.

Depois de alguns minutos em silêncio, Leonor falou:
“Elián…”

“Sim?”

“Se não conseguirmos… se o rei nos pegar…”

Ele parou.
A tocha iluminou seu rosto tenso.

“Não fale como se já estivéssemos derrotados.”

Ela o encarou.
“Eu não tenho medo por mim. Tenho medo por você.”

Elián respirou fundo.
“Eu nasci condenado. Não tenho nada a perder. Mas você…”

Leonor balançou a cabeça.
“Eu também nasci condenada. Só que com coroas e seda.”

Ele deu um passo mais perto.
“Você ainda não percebeu?”
A voz dele estava baixa, rouca.
“Você é muito mais forte que qualquer corrente desse castelo. Sempre foi.”

Leonor sentiu o peito aquecer.
A maneira como ele a olhava… não era com submissão, nem com pena.
Era com fé.

“Obrigada,” sussurrou ela. “Por tudo.”

Antes que ele respondesse, um estalo ecoou pelo túnel.
Ambos congelaram.

“Isso veio da frente,” Elián disse, apagando parte da tocha com a mão para diminuir a luz. “Fique atrás de mim.”

Eles avançaram com cautela. O túnel descia em uma curva, e um brilho fraco surgia adiante — luz de luar filtrando por uma abertura.

“A saída…” Leonor murmurou.
Ela sentiu o coração acelerar.

Mas, quando se aproximaram, Elián parou bruscamente, levantando o braço para impedi-la de avançar.

Leonor quase chocou contra ele.
“O que houve?”

Ele apontou.

Do lado de fora do túnel, na clareira iluminada pela lua, havia quatro cavalos selados.
E três homens armados.

“Guardas,” Elián rosnou baixo. “Eles cercaram a saída.”

Leonor sentiu o corpo gelar.
“Como eles sabiam…?”

Elián fechou os olhos por um instante, raciocinando rápido.
“Aquele guarda que você atingiu. Ele deve ter sido encontrado. O rei sabe que estamos fugindo e escolheu o ponto mais óbvio para nos esperar.”

Leonor recuou um passo.
“Então estamos presos…”

“Não,” Elián respondeu.
Ele apagou completamente a tocha.
“Ainda temos opções. Mas nenhuma é segura.”

Leonor, ouvindo o som dos guardas do lado de fora conversando, respirou fundo.
O coração batia como um tambor.

“Quais são?”

Elián olhou para cima, para o teto do túnel — que era irregular, com fendas estreitas entre blocos de pedra.
“Podemos tentar causar um desabamento parcial.”

“O quê?!”
Leonor quase gritou.

“Não em cima da gente,” explicou ele. “Só atrás. Para impedir os guardas de entrarem no túnel. E depois fugimos correndo pela floresta.”

Leonor arregalou os olhos.
“Elián, isso é arriscado demais. E se cair tudo? E se ficarmos presos?”

Ele tocou o ombro dela.
“Se ficarmos… morremos juntos. Se não tentarmos… morremos pelas mãos do rei.”

Ela engoliu em seco.
A lógica era cruel — mas verdadeira.

“E a outra opção?”

Ele hesitou.
Quando finalmente respondeu, sua voz estava pesada demais:

“Eu saio sozinho primeiro. Sirvo de isca. Levo os guardas para longe. Enquanto isso, você escapa.”

Leonor sentiu o peito se rasgar.
“Não! Não vou deixar você!”

Elián se aproximou. Muito.
A respiração dele misturou-se com a dela.

“Leonor…”
O jeito como ele disse o nome dela fez o mundo inteiro tremer.
“Se eu puder escolher entre morrer por você… ou viver perdendo você… escolho morrer por você.”

Ela segurou o rosto dele com as duas mãos.
“Não diga isso.”

Elián fechou os olhos, como se o toque dela fosse uma bênção proibida.
“Eu já fiz minha escolha desde o momento em que te vi no jardim.”

Leonor sentiu as lágrimas caírem.
“Eu não vou fugir sem você.”

“Então,” disse ele, encostando a testa na dela, “a decisão é sua.”

Leonor respirou fundo.
Uma vez.
Duas vezes.

E então, com a voz mais firme que já teve na vida, ela disse:

“Vamos derrubar o túnel.”

Elián sorriu — um sorriso perigoso e esperançoso.

“Então venha. Vamos começar a nossa guerra.”

Os minutos seguintes foram silenciosos, tensos, quase sagrados.

Elián observou cuidadosamente o teto do túnel, tocando as pedras, avaliando cada fenda como quem lê o destino com as mãos. Leonor o acompanhava com a respiração presa, seguindo suas instruções sem questionar.

“Essa parte aqui,” disse ele, apontando para uma rachadura larga. “Se batermos com força e repetidamente, podemos soltar as pedras suficientes para bloquear o caminho. Mas assim que começar a ceder, temos que correr.”

Leonor engoliu em seco.
“E se o túnel desabar inteiro?”

Elián segurou a mão dela por um instante.
“Se confiar em mim, não vai.”

Ela assentiu, mesmo com o coração tremendo como vidro.

Elián pegou uma pedra grande do chão, respirou fundo e a ergueu acima da cabeça.

“Pronta?”

“Sim.”

O som da primeira pancada ecoou pelo túnel como um trovão subterrâneo.
Poeira caiu do teto, pequenas lascas rolaram pelas paredes.
Os guardas do lado de fora silenciaram.

“Você ouviu isso?!”
“Veio do túnel!”

Elián bateu de novo.
E de novo.

Leonor tremia, mas não recuou.
Ela se colocou ao lado dele, pegou outra pedra e ajudou.

Cada golpe era um grito preso.
Uma vida quebrada.
Um passado se partindo.

Rachaduras se abriram no teto.

“Mais forte,” disse Elián, a voz tensa. “Está cedendo!”

As pedras começaram a vibrar.
Poeira espessa desceu como névoa.

De repente, gritos do lado de fora:

“Eles estão tentando fugir! Entrem! Entrem!”

Passos correram na direção da entrada do túnel.

Elián arregalou os olhos.
“Leonor, agora! Corre!”

Mas ela não correu.
Ela bateu mais uma vez — com toda a força que tinha.

O teto rugiu.

Um estrondo ensurdecedor tomou o túnel.
Pedras começaram a despencar atrás deles, como uma avalanche de ossos.

“Vai!” Elián gritou, agarrando a mão dela. “Agora!”

Eles correram.
Correram como se o mundo estivesse caindo — porque estava.

O túnel vibrava sob seus pés.
A passagem atrás deles se fechava em uma chuva de pedras.
Poeira sufocante invadia os pulmões.

Leonor tropeçou.
Elián a puxou pelos braços com força desesperada.

“Não solta minha mão!” ela gritou.

“Nunca!”

Um último estrondo —
e a entrada atrás deles desmoronou completamente.

Silêncio.

Apenas o som da respiração dos dois, ofegante, viva.

Quando saíram do túnel, tropeçando para fora na clareira iluminada pela lua, Elián caiu de joelhos, tossindo poeira. Leonor também cambaleou, mas conseguiu se manter de pé.

A floresta parecia respirar com eles.

Então, ouviram ao longe:

“Eles escaparam para a floresta! Procurem!”

Elián se levantou rápido.
“Precisamos correr antes que cheguem aqui.”

Leonor olhou para a escuridão das árvores.
Uma escuridão profunda, fria, desconhecida.

“Elián…”
A voz dela falhou.
“E se nos perdermos na mata?”

Ele segurou o rosto dela com as duas mãos — com urgência, com medo, com coragem.

“Prefiro me perder com você,” disse ele, “do que ser encontrado pelo rei.”

Leonor sentiu o peito aquecer de novo — não era medo.
Era força.

Ela respirou profundamente e respondeu:
“Então venha. Vamos desaparecer.”

Eles correram para dentro da floresta.
As árvores os engoliram como sombras vivas.
E os sons de passos distantes começaram a se aproximar.

A floresta os recebeu como uma criatura viva — com galhos que pareciam dedos, sombras espessas e um silêncio tão profundo que fazia o coração bater mais alto.

Leonor corria ao lado de Elián, desviando de troncos, raízes e arbustos espinhosos que arranhavam seu vestido. O tecido rasgava em tiras, mas ela não ligava. A coroa havia caído em algum ponto durante a fuga, e isso também não importava.

O que importava era sobreviver.

Atrás deles, vozes ecoavam pela mata:

“Eles fugiram para o bosque norte!”
“Iluminem tudo! Não os deixem sair vivos!”

Elián puxou Leonor mais rápido quando viu tochas surgindo à distância.
“Por aqui!”

Eles desceram uma ribanceira e se esconderam atrás de uma enorme raiz antiga, grossa como um tronco de árvore. Leonor se encolheu, ofegante, tentando controlar a respiração.

Elián colocou a mão sobre os lábios dela, indicando silêncio.
Ela assentiu.

Dois soldados passaram tão perto que Leonor podia ouvir o ranger das armaduras. O coração dela bateu tão forte que parecia vibrar o solo.

“Tem pegadas aqui.”

Leonor prendeu o ar.

“Mas estão indo para o sul. Vamos!”

Os guardas correram na direção oposta.

Leonor soltou o ar lentamente, quase desabando no chão.

“Isso foi… por pouco demais,” ela sussurrou.

Elián tocou seu ombro.
“Ainda não acabou. Temos que continuar andando até o amanhecer.”

Ela assentiu, mesmo que suas pernas tremessem.
O medo estava ali — mas também estava a determinação.

Os dois seguiram por uma trilha estreita, guiados apenas por vaga-lumes e pela luz da lua filtrada entre as copas das árvores.

Depois de algum tempo, quando o silêncio voltou e a adrenalina começou a ceder, Leonor falou:

“Elián… você acha que o rei vai…”
Ela hesitou.
“…matar todos que ele acha que me ajudaram?”

Elián parou.
Ela também.

Ele respirou fundo antes de responder:
“Sim.”

Leonor sentiu um peso esmagador cair sobre seus ombros.
“Então tudo isso é minha culpa.”

“Não,” Elián replicou rapidamente. “Tudo isso é culpa dele.”

Ela ergueu os olhos para ele.
“Você não entende. Eu devia ter fugido antes… eu devia ter me defendido… eu devia—”

Elián aproximou-se dela e segurou suas mãos.

“Leonor, escute. Você não é culpada por sobreviver. Não é culpada por querer ser livre. Não é culpada por não querer morrer nas mãos de um homem que nunca viu você como humana.”

Ela sentiu os olhos encherem de lágrimas.
“Eu só queria existir.”

Ele sorriu com tristeza.
“E agora está existindo. Pela primeira vez.”

Silêncio.

Um silêncio tão profundo que até o vento pareceu parar.

Então, ao longe, um uivo rasgou o ar.
Não era humano.
Nem de lobo.

Elián franziu o cenho.
“Isso não é um animal comum.”

Leonor segurou o braço dele.
“O que significa?”

Ele olhou para as árvores, atento.
“Essas terras têm criaturas que o rei nunca fala. Ele finge que não existem. Mas escravos que trabalham nas fronteiras… sabem da verdade.”

Leonor sentiu a pele arrepiar.
“Criaturas?”

Elián assentiu lentamente.
“Não estamos sozinhos nessa floresta.”

Antes que Leonor pudesse perguntar algo, passos pesados começaram a ecoar pela mata — mas não eram passos humanos.

O chão tremeu levemente.

Leonor agarrou a mão de Elián.
“O que é isso…?”

Elián puxou-a para trás de um tronco caído.
Sua voz era um sussurro tenso:
“Seja o que for… não nos viu ainda. Fique abaixada.”

A floresta, que antes parecia viva, agora parecia observadora.
Atenta.

Um segundo uivo — mais perto.

Leonor fechou os olhos por um instante.
O coração dela batia como um tambor desesperado.

“Elián…”
“Sim?”
“Eu tenho medo.”

Ele apertou a mão dela.
“Eu também. Mas enquanto estivermos juntos… não vamos parar.”

E então, pela sombra entre as árvores, algo enorme se moveu.

O monstro era colossal.

Seus olhos brilhavam como brasas entre a escuridão da floresta, e uma pelagem negra refletia a luz da lua em manchas argentadas. Cada passo fazia o chão tremer, e o ar parecia vibrar com o rugido que escapava de sua garganta.

Leonor engoliu em seco, apertando a mão de Elián como se pudesse fundi-los em um só ser.

“Isso… isso não é real,” ela murmurou.

“É real,” Elián respondeu, a voz baixa e firme. “E está nos caçando.”

O monstro avançava lentamente, farejando o ar. Não parecia agressivo ainda, mas havia uma intenção inteligente em cada movimento.

“Para onde vamos?” Leonor sussurrou, a voz quase um fio.

Elián olhou em volta, procurando desesperadamente uma saída.

“Tem uma clareira à frente… talvez possamos nos esconder lá.”

Eles começaram a se mover, rastejando entre raízes e arbustos baixos, tentando não fazer barulho. Cada folha que se quebrava parecia um trovão, cada galho caído um sinal de alerta.

O monstro parou, farejando novamente.
Um uivo baixo, quase um rosnado, reverberou entre as árvores.

“Está nos cheirando,” Leonor sussurrou, tremendo.

Elián colocou o dedo sobre os lábios dela.
“Silêncio absoluto.”

Por alguns instantes, nada se moveu além do vento nas copas das árvores. O coração de Leonor parecia prestes a explodir.

Então, o monstro avançou novamente, dessa vez em direção ao norte, ignorando-os por pouco.

“Ele nos perdeu… por enquanto,” Elián disse, ofegante, mas ainda tenso.

Leonor suspirou, aliviada e assustada ao mesmo tempo.
“Por que ele não nos atacou?”

Elián deu de ombros.
“Algumas dessas criaturas não matam por matar. Elas sentem. Elas… julgam.”

Leonor olhou para o monstro desaparecendo entre as árvores.
“Julgam? Mas como podemos merecer… a misericórdia de um monstro?”

Elián a puxou para frente, apertando a mão dela.
“Não pense nisso agora. Apenas caminhe. Cada segundo conta.”

Eles chegaram à clareira.
A luz da lua banhava o local, revelando uma pequena lagoa. A água era clara como cristal, refletindo o céu estrelado.

“Podemos descansar aqui por alguns minutos,” Elián disse, exausto.
“Mas fique alerta. Não sabemos o que mais existe nesta floresta.”

Leonor sentou-se na borda da água, tocando a superfície com os dedos.
“Nunca imaginei que fugir pudesse ser assim… tão… aterrorizante.”

Elián sentou-se ao lado dela.
“Às vezes, a liberdade exige isso,” ele respondeu, olhando para o horizonte escuro.
“Mas lembre-se: estamos vivos. E enquanto estivermos juntos… podemos enfrentar qualquer coisa.”

Leonor suspirou, finalmente deixando-se sentir um pouco de esperança.

Porém, algo se moveu nas sombras atrás deles.

Um som sutil, quase imperceptível.
Mas Elián percebeu.
Ele agarrou a mão de Leonor.
“Levante-se. Agora.”

Antes que pudessem reagir, uma silhueta enorme surgiu na beira da clareira — não o monstro negro, mas algo igualmente ameaçador.

Seus olhos brilharam em vermelho intenso.
E Leonor sentiu um frio percorrer a espinha.

“Isso… isso é pior do que antes,” sussurrou ela.

Elián assentiu, tenso.
“Prepare-se. Não podemos errar.”

A floresta, novamente, parecia respirar em torno deles.
E a sensação era clara: eles ainda não estavam fora de perigo.

A silhueta avançava lentamente, quase flutuando sobre o chão da clareira.

Era uma criatura esguia, alta demais para ser humana, com braços longos que arrastavam pelo chão como sombras vivas. Sua pele tinha um tom acinzentado, áspero e manchado, e cada movimento seu fazia a luz da lua refletir de forma estranha, como se a própria noite se contorcesse.

Os olhos vermelhos queimavam no escuro, fixos em Leonor e Elián.

“O que é isso?” Leonor sussurrou, sem coragem de respirar alto.

“Não sei,” respondeu Elián, a voz firme apesar do medo.
“Mas não é amigo.”

A criatura se aproximou, o som de seus passos ecoando como um tambor na floresta silenciosa.

Leonor sentiu seu coração disparar.
“Para onde vamos? Não podemos lutar contra isso!”

Elián olhou ao redor da clareira, procurando qualquer cobertura.
“A lagoa… talvez possamos usar a água.”

Antes que pudessem se mover, a criatura ergueu os braços.
De suas mãos, uma névoa negra começou a se formar, subindo pelo ar como se a própria escuridão estivesse viva.

“Corram!” gritou Elián.

Eles se levantaram, correndo na direção oposta, mas o chão estava irregular e encharcado, tornando cada passo perigoso. A névoa negra se espalhava rapidamente, engolindo a clareira.

Leonor tropeçou, e Elián a segurou antes que caísse.
“Segure-se! Não olhe para trás!”

O cheiro da névoa era acre, queimando a garganta.
Eles chegaram à borda da floresta densa, ofegantes e cobertos de lama.

“Conseguimos sair…” Leonor disse, tentando recuperar o fôlego.

Mas a criatura não desistiu.
Ela surgiu entre as árvores, silenciosa, observando cada movimento deles.
E, com um gesto rápido, desapareceu entre os troncos, como se nunca tivesse estado ali.

Leonor se jogou no chão, exausta, enquanto Elián se ajoelhava ao lado dela.

“O que era isso?” ela perguntou, a voz trêmula.

Elián olhou para o horizonte escuro, ainda tenso.
“Algo que não quer apenas nos caçar… quer nos estudar, nos entender… talvez decidir nosso destino.”

Leonor olhou para a floresta, que parecia respirar à noite.
“Então… o que fazemos agora?”

Elián apertou a mão dela, firme.
“Andamos. E nunca paramos. Não importa o que aconteça, não podemos parar.”

O silêncio caiu sobre eles, pesado, interrompido apenas pelo som distante da água da lagoa e o sussurro do vento entre as árvores.

A sensação era clara: a floresta não havia terminado com eles ainda.

O vento frio da noite cortava a pele de Leonor, mas ela mal sentia. Seus pensamentos estavam presos àquilo que acabara de acontecer.

“Temos que chegar à vila antes do amanhecer,” disse Elián, quebrando o silêncio.
“Se ficarmos na floresta, aquela coisa vai nos encontrar de novo.”

Leonor assentiu, embora o medo apertasse seu peito como uma mão invisível. Cada sombra parecia se mover, cada som da floresta parecia carregado de intenções.

Enquanto caminhavam, Leonor notou algo estranho: marcas no chão, profundas e irregulares, como se a própria terra tivesse sido arrastada.
“Você viu isso?” ela perguntou, apontando.

Elián se aproximou, examinando as marcas.
“Sim… não são de animais. Nem de humanos… algo mais forte que nós passou por aqui.”

A lua cheia iluminava a trilha, mas mesmo assim a escuridão parecia viva, respirando entre as árvores.
De repente, um estalo seco soou atrás deles.
Leonor congelou.
“Não… por favor, não…”

Elián virou-se rapidamente, mas não havia ninguém. Apenas a floresta, imensa e silenciosa, guardando seus segredos.

“Temos que continuar,” disse ele, puxando-a pela mão.
“Se pararmos, isso nos alcançará.”

Eles chegaram à beira de um riacho, a água refletindo a luz da lua. Elián fez sinal para que se aproximassem da margem.
“A água pode nos proteger,” disse, lembrando-se de histórias antigas.
“Criaturas assim… muitas vezes não atravessam água corrente.”

Leonor olhou para a superfície cintilante e sentiu uma esperança tênue.
Enquanto atravessavam o riacho, o som da água parecia lavar parte do medo, mesmo que apenas por um instante.

No outro lado, eles pararam para recuperar o fôlego.
“Estamos bem… por enquanto,” disse Elián, mas a tensão em sua voz denunciava que sabia que aquilo não tinha acabado.

E, na distância, entre as árvores, algo os observava.
Uma presença silenciosa, imóvel, como se a própria floresta tivesse olhos.

E então, uma voz sussurrou no vento:
“Vocês acham que podem escapar…?”

Leonor e Elián se entreolharam, congelados.
O medo voltou, mais profundo que antes, mas agora havia algo ainda mais perigoso: o conhecimento de que eles estavam sendo caçados por algo que os entendia.

A noite estava longe de terminar, e o verdadeiro jogo só havia começado.

A floresta parecia mais densa a cada passo. Leonor sentia os galhos arranhando seus braços, mas o medo tornava tudo quase insensível. Elián permanecia à frente, atento a cada som.

“A vila não está muito longe,” disse ele, tentando soar confiante.
“Só mais alguns quilômetros…”

Mas Leonor podia sentir que havia algo errado. O silêncio não era natural. O ar estava pesado, carregado de uma energia que ela não conseguia nomear.

De repente, algo se moveu entre as árvores, rápido demais para ser um animal. Um sussurro baixo percorreu a trilha, e a sensação de estar sendo observada aumentou.

“Ali!” Elián apontou, mas antes que Leonor pudesse ver, a sombra desapareceu.

Eles continuaram, mas Leonor notava que cada passo parecia mais difícil. A floresta parecia brincar com eles, mudando de forma, desviando-os do caminho.

Então, uma risada ecoou, curta e cruel, de algum lugar à frente.
Leonor engoliu em seco.
“Não é humana…” sussurrou ela.
Elián assentiu, sem tirar os olhos da escuridão.

A trilha os levou até uma clareira. No centro, uma pedra antiga, coberta de musgo, com símbolos que pareciam se mover sob a luz da lua.
“O que é isso?” perguntou Leonor, fascinada e aterrorizada ao mesmo tempo.

Elián se aproximou com cautela.
“É um marcador… talvez um aviso. Mas de quem?”

Antes que pudessem investigar mais, um grito rasgou o ar. Não humano, não completamente — era uma mistura de dor e raiva, reverberando na floresta como um trovão.

Leonor sentiu um arrepio percorrer sua espinha.
“Precisamos correr,” disse Elián, segurando sua mão.
“Eles… ou aquilo… nos encontrou.”

Enquanto corriam, a clareira parecia se expandir e se contrair, e os galhos se entrelaçavam como mãos tentando agarrá-los. Cada passo era uma luta contra a própria floresta, que parecia viva e consciente.

E então, de repente, eles chegaram à borda de um penhasco. A vila estava lá embaixo, iluminada por pequenas luzes, mas entre eles e a segurança, nada além da escuridão e de sombras que se moviam rapidamente.

Leonor olhou para Elián, respirando com dificuldade.
“Nós… vamos conseguir?”
“Temos que conseguir,” respondeu ele, firme, mas com os olhos cheios de preocupação.

E de dentro das sombras, algo observava, calculava… e esperava o momento certo para atacar.

A noite ainda não havia terminado, e a verdadeira prova de sobrevivência estava prestes a começar.

Leonor e Elián desceram com cuidado pelo penhasco, agarrando raízes e pedras para não escorregar. Cada passo parecia interminável, o coração batendo no ritmo da própria adrenalina.

Quando finalmente tocaram o solo da vila, a sensação de segurança era ilusória. As casas eram antigas, feitas de pedra e madeira, algumas parcialmente desmoronadas. Luzes fracas tremeluziam pelas janelas, mas não havia sinais de vida.

“Onde estão todos?” perguntou Leonor, em um sussurro.
“Não sei… mas algo me diz que não estamos sozinhos,” respondeu Elián, olhando em volta com atenção.

Eles avançaram pela rua principal. Cada som ecoava como se a vila estivesse viva, respirando em silêncio. Portas rangiam com o vento, mas, de vez em quando, parecia ouvir passos rápidos que desapareciam antes que pudessem identificar a fonte.

Então, um vulto surgiu à frente — uma figura encapuzada, parada imóvel.
“Quem é você?” perguntou Elián, tentando manter a voz firme.
O vulto não respondeu. Apenas levantou a mão, apontando para a antiga praça no centro da vila.

Relutantes, eles seguiram o gesto. A praça estava cercada por construções mais altas, e no centro, uma fonte seca coberta de musgo. Mas o que mais chamou atenção foram os símbolos gravados nas pedras ao redor — os mesmos que haviam visto na clareira.

De repente, uma rajada de vento levantou folhas secas, e as sombras das casas pareceram se mover, formando figuras humanas deformadas. Leonor deu um passo para trás.
“Elián… aquilo não é natural…”

Antes que pudessem reagir, a figura encapuzada começou a falar, sua voz ecoando como um sussurro antigo:
“Vocês chegaram até aqui… mas não entenderam o aviso. A vila… pertence a eles agora.”

As sombras se agitaram violentamente, avançando em direção aos dois. Elián segurou Leonor, tentando protegê-la, mas não havia para onde fugir.

Um estalo de madeira, um grito distante, e a sensação de serem observados intensificou-se. Leonor percebeu que a vila, com toda a sua aparência abandonada, era na verdade uma armadilha — viva e faminta por intrusos.

“Temos que encontrar a saída, rápido!” gritou Elián, puxando Leonor para correr entre as sombras que avançavam.
Eles correram, desviando de figuras que surgiam e desapareciam, até que alcançaram uma viela estreita. A respiração de Leonor estava pesada, o medo quase paralisando seus músculos.

Mas, no fim da viela, uma porta de madeira entreaberta revelou uma luz quente e constante — a primeira sensação de segurança desde que haviam entrado na floresta.

“Será que é… alguém?” Leonor murmurou, hesitando.
“Só há uma maneira de descobrir,” respondeu Elián, e juntos, empurraram a porta para entrar, sem saber que dentro, um segredo antigo os esperava.

A verdadeira história da vila estava prestes a se revelar — e com ela, a ameaça que eles pensavam ter deixado para trás.

A porta rangiu ao ser aberta, revelando uma sala pequena, iluminada por velas que queimavam sem fumaça. O ar estava denso, impregnado de um cheiro de ervas secas e algo mais… metálico, como ferro antigo.

No centro, uma mesa de madeira maciça estava coberta de pergaminhos e livros empoeirados. Mapas da vila e da floresta circundante estavam espalhados, com anotações em uma língua antiga que Leonor não conseguiu decifrar.

E, no canto da sala, uma figura idosa, encapuzada, observava-os. Quando ergueu o capuz, revelando um rosto enrugado e olhos penetrantes, Elián engoliu em seco.

“Finalmente chegaram…” disse a figura, com uma voz rouca mas firme. “Sabia que vocês viriam. Vocês têm o toque da curiosidade… mas também da imprudência.”

“Quem é você?” perguntou Leonor, tentando conter o tremor da voz.
“Eu… sou o guardião desta vila,” respondeu o velho, “ou pelo menos, aquele que resta para proteger seu segredo. Esta vila não é apenas um lugar abandonado. É um portal… entre o nosso mundo e outro, mais antigo e sombrio.”

Elián franziu a testa. “Outro mundo? Você está falando sério?”
O velho assentiu. “Sim. E as sombras que vocês viram… não são meras ilusões. Elas são… sentinelas. Elas existem para manter intrusos afastados e proteger algo que não deve ser perturbado.”

Leonor olhou ao redor, vendo os símbolos que já haviam encontrado na clareira e na praça. “Então tudo isso… os sinais, as figuras, a floresta… é para nos manter longe desse ‘outro mundo’?”

“Exato,” disse o guardião. “Mas vocês vieram, e agora precisam decidir: fugir ou enfrentar. A escolha determinará o destino de vocês… e talvez da vila inteira.”

Antes que pudessem responder, o chão tremeu levemente. Uma luz fraca começou a emanar de uma passagem oculta atrás da estante de livros. O ar ficou mais frio, carregado de uma energia que parecia viva.

“Isso… é a entrada,” sussurrou o guardião. “Para entrar é preciso coragem… e um coração puro, pois o que está lá dentro revela a verdade sobre o que somos… e o que tememos.”

Leonor e Elián se entreolharam, sentindo o peso da decisão. Correr seria seguro, mas a curiosidade e o senso de dever os impulsionavam a avançar.

Elián respirou fundo. “Se for para descobrir a verdade… então devemos entrar. Mas juntos.”
Leonor assentiu, segurando firme a mão dele. “Juntos.”

O velho guardião sorriu levemente, como se tivesse esperado por isso o tempo todo. “Então sigam, e lembrem-se: nem tudo que vocês veem é real… e nem tudo que parece inimigo é de fato cruel. A verdade é sempre mais complexa.”

Com essas palavras, ele se retirou silenciosamente para as sombras da sala, deixando-os sozinhos diante da passagem que conduzia ao desconhecido.

O que eles encontrariam do outro lado seria algo que mudaria suas vidas para sempre… e a vila, silenciosa e viva, os observava atentamente.

Leonor e Elián avançaram lentamente pela passagem iluminada por uma luz fria, quase prateada, que parecia emanar das próprias paredes. Cada passo ecoava como se a câmara inteira respirasse com eles. O ar estava pesado, e um leve zumbido vibrava nos ossos, como se a própria estrutura do lugar estivesse viva.

À medida que avançavam, as paredes começaram a se transformar. Pedras antigas deram lugar a algo mais fluido, quase líquido, refletindo imagens distorcidas de seus próprios rostos. Cada reflexo parecia mostrar não apenas quem eram, mas quem temiam se tornar.

“Você está vendo isso?” sussurrou Leonor, com os olhos arregalados.
“Sim… e não gosto nada,” respondeu Elián, tentando manter a voz firme.

No centro do corredor, a luz se intensificou, revelando uma sala oval, onde símbolos antigos estavam gravados no chão em um círculo perfeito. No centro do círculo, uma esfera de cristal flutuava, pulsando com uma energia interna que parecia chamar por eles.

Quando se aproximaram, as paredes começaram a sussurrar palavras inaudíveis, reverberando diretamente em suas mentes. Cada palavra carregava imagens de memórias antigas e desejos ocultos, misturando o real e o imaginário.

Leonor sentiu uma pontada de medo, mas também uma estranha sensação de compreensão. “Elián… parece que está… nos mostrando algo,” disse ela.
Elián olhou para a esfera. “É como se estivesse… nos testando. Nossos medos, nossas escolhas… tudo aqui é reflexo de nós mesmos.”

De repente, a esfera brilhou intensamente, e eles foram envolvidos por uma luz cegante. Quando a visão voltou ao normal, estavam em um espaço completamente diferente: uma floresta noturna, mas não como qualquer floresta que conheciam. As árvores eram altas, quase infinitas, com folhas que cintilavam como estrelas. Criaturas estranhas observavam de longe, mas sem hostilidade.

No centro da clareira, uma figura familiar os aguardava: o velho guardião, agora parecendo mais jovem, com uma aura de poder sereno.
“Bem-vindos ao Outro Limiar,” disse ele. “Aqui, a verdade não se esconde… ela se revela. Cada escolha que fizerem aqui mudará não apenas vocês, mas o mundo que deixaram para trás.”

Leonor sentiu o peso da responsabilidade, mas também uma clareza que jamais experimentara. Elián apertou sua mão. “Estamos prontos. Vamos descobrir a verdade… juntos.”

E assim, deram o primeiro passo na floresta encantada, sabendo que cada sombra, cada sussurro, seria um teste à coragem, à amizade e ao próprio coração.

A floresta parecia viva, respirando com eles a cada passo. As árvores altas formavam um teto natural que filtrava a luz das estrelas, criando padrões dançantes no chão. O ar estava impregnado de um perfume doce e desconhecido, que ao mesmo tempo acalmava e despertava inquietação.

De repente, a clareira se abriu para revelar um lago negro, cuja superfície refletia o céu estrelado como um espelho perfeito. Mas algo estava errado: no reflexo, nem Leonor nem Elián pareciam humanos; suas imagens eram distorcidas, quase grotescas.

“Isso é… algum tipo de ilusão?” murmurou Leonor, seu coração batendo rápido.
“Parece… uma prova,” respondeu Elián, franzindo a testa. “O lago mostra quem tememos nos tornar.”

Antes que pudessem reagir, a água do lago começou a se agitar, formando figuras que emergiam lentamente: versões distorcidas de si mesmos, com expressões de raiva, medo e dúvida. Cada reflexo falou com vozes que não eram totalmente deles, ecoando pensamentos e culpas que carregavam secretamente.

“Você falhou… você não é forte o suficiente… você vai se perder,” sussurrava a figura de Elián.
“Não mereço… não sou suficiente… nada do que faço importa,” repetia a figura de Leonor.

Leonor respirou fundo e fechou os olhos. Tentou se concentrar não no reflexo, mas na sensação de quem realmente era. Lembrou-se das pequenas vitórias, da coragem que os trouxe até ali.
“Isso não é real,” disse com firmeza. “Nós somos nós. Não nossos medos.”

Elián fez o mesmo, enfrentando sua própria distorção. Lentamente, as figuras começaram a se dissipar, como neblina ao amanhecer, até que o lago voltou a ser um espelho tranquilo.

No centro da clareira, o velho guardião reapareceu, sorrindo serenamente.
“Muito bem,” disse ele. “Vocês enfrentaram o primeiro teste do Outro Limiar: a ilusão do medo. Lembrem-se, sempre que encontrarem reflexos de dúvida, eles não podem existir sem que vocês os alimentem.”

Leonor e Elián trocaram um olhar de alívio e compreensão. Eles sabiam que os desafios à frente seriam ainda maiores, mas a primeira prova mostrou que juntos, e confiando em si mesmos, poderiam enfrentar o que quer que estivesse por vir.

Enquanto se afastavam do lago, a floresta parecia abrir novos caminhos, iluminados por uma luz suave e acolhedora. Um vento leve trouxe o sussurro do guardião:
“Sigam com coragem… o verdadeiro desafio está apenas começando.”

Conforme Leonor e Elián avançavam pela floresta, a sensação de estar sendo observados crescia. Cada árvore parecia murmurar, cada sombra se movia com vida própria. Mas havia uma estranha beleza em tudo: flores que brilhavam com cores impossíveis, riachos cujas águas cantavam melodias suaves.

De repente, um som estranho cortou o ar — um sussurro que se misturava ao vento. Eles pararam e olharam ao redor, mas nada parecia fora do comum. Então, do tronco de uma árvore próxima, uma luz se formou, tomando forma de um animal translúcido, com olhos que pareciam conter todo o universo.

“O primeiro guardião,” murmurou Elián, com uma mistura de fascínio e apreensão.
A criatura emitiu um som musical, quase como um riso, e começou a se mover ao redor deles, dançando no ar. Cada movimento criava pequenos fragmentos de luz que flutuavam como estrelas caindo suavemente.

Leonor deu um passo à frente, tentando transmitir confiança.
“Estamos aqui para aprender,” disse, sua voz firme. “Não queremos machucar ninguém.”

A criatura parou, olhando atentamente para ela. Então, lentamente, aproximou-se de Elián, tocando levemente seu ombro. Uma onda de memórias e emoções percorreu o corpo de Elián: lembranças esquecidas, sentimentos antigos, sonhos que ele não se permitira ter.

“Cada guardião,” explicou Leonor, percebendo a natureza do teste, “nos mostra algo sobre nós mesmos… algo que precisamos enfrentar para seguir adiante.”

Elián assentiu. Ao aceitar essas memórias e emoções, a criatura começou a mudar: sua forma se tornou mais sólida, mas ainda luminosa, irradiando uma sensação de paz. Ela os conduziu por um pequeno caminho secreto que se abria entre as árvores, revelando uma clareira ainda mais impressionante do que a anterior.

No centro, uma árvore enorme se erguia, com folhas que refletiam todas as cores do arco-íris.
“Chegamos ao coração da floresta,” disse Elián, maravilhado.
A criatura se sentou aos pés da árvore e desapareceu em um brilho suave, como se sua missão estivesse cumprida.

Leonor olhou para o céu estrelado que se refletia nas folhas da árvore e sorriu.
“Cada passo nos ensina algo,” disse ela. “E este lugar… é apenas o começo do que ainda temos que descobrir.”

Eles se sentaram juntos por um momento, absorvendo a magia do lugar, sabendo que desafios ainda maiores os aguardavam, mas também sentindo que, enquanto permanecessem unidos, poderiam enfrentar qualquer coisa que o Outro Limiar colocasse em seu caminho.

A clareira parecia um lugar fora do tempo, mas Leonor sabia que não podiam permanecer ali por muito tempo. O brilho da árvore central começava a pulsar suavemente, como se respirasse.

“Precisamos continuar,” disse ela, levantando-se. Elián fez o mesmo, sentindo que cada passo na floresta os aproximava de algo maior do que eles mesmos.

Eles seguiram por um caminho estreito que serpenteava entre árvores que pareciam crescer em direção ao céu. Quanto mais avançavam, mais estranhas se tornavam as formas ao redor: raízes que se retorciam como serpentes, flores que se abriam apenas para se fechar novamente, como se estivessem observando os visitantes.

De repente, um vento frio percorreu a clareira, trazendo consigo uma risada que ecoava entre as árvores.

“O segundo guardião,” sussurrou Elián, sua voz quase se perdendo no vento.

Antes que pudessem reagir, uma figura se materializou diante deles. Era alta, com braços longos e finos, quase como galhos de árvore, e olhos que refletiam uma noite sem estrelas. Sua voz era profunda, ressoando dentro de suas mentes:
“A coragem de um coração não se prova pela força, mas pelo temor que se enfrenta.”

Leonor respirou fundo. Ela sabia que este teste seria diferente do primeiro. Não era apenas sobre aceitar memórias, mas sobre enfrentar medos concretos, aqueles que se escondiam na escuridão de sua própria mente.

O guardião começou a girar lentamente, e o chão sob seus pés se transformou. Surgiram sombras, cada uma representando um medo, uma dúvida, uma insegurança. Eles não podiam ignorá-las: cada sombra avançava, lembrando-os de fracassos passados e incertezas futuras.

“Devemos encarar cada uma,” disse Leonor a Elián, “sem fugir, sem negar.”

Elián assentiu, respirando profundamente. Juntos, começaram a caminhar entre as sombras, cada passo carregado de tensão e coragem. A cada medo enfrentado, uma luz surgia em suas mãos, dissipando a escuridão à sua volta.

O guardião os observava em silêncio, e conforme avançavam, sua figura começou a se desfazer em partículas de luz.
“Vocês aprenderam a coragem,” disse ele, agora apenas em sua mente. “Mas lembrem-se: enfrentar o medo é um caminho contínuo.”

Quando a última sombra desapareceu, o caminho à frente se abriu em um vale iluminado por uma luz dourada. Era um lugar que irradiava esperança, mas também lembrava que novas provações os aguardavam.

Leonor olhou para Elián e sorriu.
“Estamos prontos para o próximo passo,” disse ela.
E juntos, atravessaram o vale, sentindo que cada desafio os aproximava não apenas da floresta, mas de uma verdade maior sobre si mesmos.

O vale iluminado se estendia à frente deles, banhado por uma luz dourada que parecia pulsar com vida própria. Cada passo que davam ecoava suavemente, como se a própria terra os reconhecesse.

“Sinta,” disse Leonor, estendendo a mão. “Sinta a energia do lugar.”

Elián fechou os olhos por um instante e permitiu que o calor da luz envolvesse seu corpo. Era uma sensação estranha, ao mesmo tempo reconfortante e inquietante, como se cada fibra de seu ser estivesse sendo avaliada.

À medida que avançavam, começaram a notar inscrições nas pedras ao longo do caminho. Não eram apenas símbolos, mas fragmentos de histórias antigas, histórias de coragem, sacrifício e transformação. Cada pedra parecia sussurrar uma lembrança perdida, quase implorando para que fossem compreendidas.

De repente, ouviram um som suave, quase musical, vindo de uma clareira adiante. Ao se aproximarem, viram um lago cristalino refletindo o céu de uma maneira impossível. Nas águas, imagens de suas próprias jornadas surgiam e desapareciam: momentos de medo, amizade, descobertas e escolhas difíceis.

“O lago da verdade,” disse Leonor, com reverência. “Ele mostra não apenas o que somos, mas o que poderíamos nos tornar.”

Elián olhou para seu reflexo e viu não apenas a si mesmo, mas também todas as suas dúvidas e medos transformados em figuras que conversavam e se reconciliavam com ele. Um sentimento profundo de compreensão e aceitação começou a se formar em seu coração.

Uma voz suave surgiu do nada, quase como um vento gentil:
“Para prosseguir, devem não apenas compreender o que viram, mas abraçar a responsabilidade do que aprenderam.”

Leonor apertou a mão de Elián, sentindo a força silenciosa que compartilhavam. Eles não eram mais apenas viajantes; eram guardiões de algo maior, algo que exigia coragem, compaixão e sabedoria.

Ao tocar a superfície do lago, uma onda de luz os envolveu, e por um breve momento, sentiram que podiam enxergar além do tempo e do espaço. O caminho adiante se iluminou, revelando uma trilha que subia em direção às montanhas distantes, onde os segredos mais profundos da floresta os aguardavam.

“Estamos prontos,” disse Leonor, com determinação nos olhos.
“Então vamos,” respondeu Elián.

E juntos, começaram a subir a trilha, sabendo que cada passo os aproximava de uma verdade que mudaria tudo o que acreditavam sobre o mundo — e sobre si mesmos.

A trilha subia cada vez mais, serpenteando entre penhascos e árvores antigas. O ar ficava mais rarefeito, mas também mais vibrante, carregado de uma energia quase elétrica. Cada passo parecia ecoar nos corações de Elián e Leonor.

“Sinta o ritmo da montanha,” disse Leonor, parando para tocar o tronco de uma árvore gigantesca. “Ela observa tudo. Ela testa os que ousam subir.”

Elián olhou para a trilha à frente. Rochas irregulares bloqueavam partes do caminho, e sombras se moviam de maneira estranha entre os galhos. Mas havia também flores luminescentes, que pareciam guiar seus passos com luz própria.

De repente, um som baixo e gutural fez-os parar. Entre as rochas, uma criatura emergiu: alta, coberta de escamas iridescentes, com olhos que refletiam as próprias emoções de quem os encarava. Não era hostil, mas sua presença era imponente, quase sagrada.

“Guardião da Montanha,” sussurrou Leonor, em tom de respeito.
A criatura inclinou a cabeça, como se os estudasse, depois recuou lentamente, abrindo espaço para que continuassem.

Enquanto avançavam, perceberam que a trilha não era apenas física, mas também simbólica. Cada obstáculo representava um desafio interno: medo, dúvida, orgulho e perda. E a única maneira de prosseguir era enfrentá-los de frente, sem fugir.

Elián sentiu seu próprio coração tremer. As memórias de suas falhas e arrependimentos surgiam, misturando-se com flashes de coragem que ele não sabia possuir. Leonor notou e segurou sua mão, transmitindo uma força silenciosa que dizia: Você não está sozinho.

Mais adiante, encontraram um antigo portão de pedra, coberto de musgo e inscrições desgastadas. Leonor colocou a mão sobre ele e murmurou palavras antigas. Uma luz suave emanou do portão, revelando um caminho oculto que levava a uma clareira iluminada, onde as árvores formavam um círculo perfeito.

No centro, uma pedra pulsava com uma luz azul intensa, e ao redor dela, símbolos flutuavam no ar como pequenas constelações.

“A Pedra da Visão,” disse Leonor, com reverência. “Ela mostrará o próximo passo de nossa jornada, mas somente se estivermos preparados para o que veremos.”

Elián respirou fundo, sentindo o peso e a responsabilidade do momento. Ele se aproximou da pedra e, ao tocá-la, uma onda de imagens e sensações o envolveu: vislumbres de lugares distantes, encontros inesperados e escolhas que moldariam não apenas seu destino, mas o de todos ao redor.

Quando a luz finalmente diminuiu, ambos sabiam que nada na floresta seria mais o mesmo. Cada passo adiante exigiria coragem, sabedoria e confiança — não apenas em si mesmos, mas no vínculo que os unia.

“Estamos prontos para continuar,” disse Elián.
“Então sigamos,” respondeu Leonor, e juntos eles avançaram, prontos para os mistérios que aguardavam nas montanhas.

O caminho após a Pedra da Visão era mais estreito e traiçoeiro. Rochas afiadas surgiam como dentes, e a névoa parecia engolir tudo ao redor. A cada passo, Elián sentia o chão tremendo levemente, como se a própria montanha respirasse.

“Este é o teste da determinação,” disse Leonor, observando cada movimento do amigo. “A montanha sente hesitação.”

De repente, uma ponte de corda apareceu, oscilando sobre um abismo profundo. Um vento gelado soprava de baixo, trazendo sussurros que pareciam imitar suas próprias vozes, questionando suas intenções, seus medos e segredos mais íntimos.

Elián olhou para o abismo e sentiu a vertigem. Cada sombra parecia dançar com suas dúvidas. Leonor, calmamente, colocou a mão sobre seu ombro:

“Não há atalho aqui. Apenas confiança. Em você, em mim, no que aprendemos até agora.”

Respirando fundo, Elián deu o primeiro passo. A corda estalou sob seus pés, mas não cedeu. Com cada passo, a coragem crescia, e o medo diminuía. Ao atravessar, sentiu uma onda de alívio, mas também a certeza de que aquilo era apenas o início de desafios ainda maiores.

Do outro lado, a floresta mudou novamente. Árvores antigas, maiores que qualquer catedral, formavam corredores de sombras e luz. Pequenas criaturas, como sombras luminosas, observavam de longe, algumas curiosas, outras desconfiadas.

No centro desse novo caminho, encontraram um lago cristalino, completamente imóvel, refletindo o céu estrelado mesmo durante o dia. Leonor se aproximou e disse:

“O Lago da Verdade. Ele mostra o que cada viajante carrega dentro de si. Você está pronto para encarar o seu?”

Elián olhou para seu próprio reflexo. Primeiramente, viu sua aparência, depois seus medos, seus fracassos e perdas, e finalmente, uma versão dele mais forte, mais corajosa, mais verdadeira.

“Não é fácil encarar a si mesmo,” disse ele, com voz firme. “Mas agora sei que preciso continuar.”

Leonor sorriu levemente e assentiu. “O caminho à frente exigirá mais do que força. Exigirá sabedoria, empatia e fé naquilo que não podemos ver.”

De repente, uma brisa trouxe o som de passos distantes, mas não humanos. Um murmúrio profundo percorreu o ar, como se a montanha estivesse alertando sobre a próxima fase da jornada. Elián e Leonor trocaram um olhar silencioso: sabiam que os desafios maiores ainda estavam por vir, e que cada decisão poderia alterar o destino de todos que conheciam.

O lago refletia a luz da Pedra da Visão que carregavam em suas memórias, lembrando-os de que o futuro ainda não estava escrito, mas que cada escolha faria a diferença.

“Então sigamos,” disse Elián, firme.
“Sigamos,” confirmou Leonor, enquanto a floresta os envolvia novamente, desta vez com um mistério ainda mais profundo.

Após deixarem o Lago da Verdade, Elián e Leonor entraram em um corredor de árvores tão antigas que seus troncos pareciam esculpidos pelo tempo. A luz do sol mal tocava o chão, filtrada por folhas que cintilavam com tons dourados e prateados.

Enquanto caminhavam, perceberam que os sussurros da montanha se tornavam mais claros. Não eram apenas sons aleatórios, mas palavras, instruções veladas e enigmas em línguas esquecidas. Leonor pegou um pequeno amuleto e murmurou:

“Este objeto nos permitirá compreender os murmúrios, mas apenas se estivermos atentos ao que não é dito.”

De repente, uma figura surgiu à frente. Não tinha forma completamente humana, mas possuía olhos brilhantes e uma presença que parecia examinar suas almas.

“Quem ousa trilhar os caminhos da montanha antiga?”
A voz reverberava, não apenas no ar, mas dentro de suas mentes. Elián respirou fundo e respondeu:

“Somos viajantes em busca de respostas. Queremos aprender, não destruir.”

A figura inclinou a cabeça, estudando-os com cuidado. “Muitos chegam com intenções nobres, mas poucos resistem aos testes que guardo. A montanha revela, mas também exige. Estão prontos para enfrentar aquilo que se esconde dentro de vocês?”

Elián trocou um olhar com Leonor, que assentiu levemente. Sem palavras, ambos aceitaram o desafio.

Então, o solo tremeu e uma névoa densa subiu do chão, envolvendo-os completamente. Em questão de segundos, o ambiente mudou: não estavam mais na floresta, mas em um espaço etéreo onde o passado, presente e futuro se entrelaçavam.

Figuras de pessoas queridas, inimigos e até estranhos passavam diante deles, representando lembranças, escolhas e consequências. Elián percebeu que cada ação, cada medo enfrentado ou ignorado, estava sendo refletida de maneira vívida.

Leonor segurou sua mão: “Não se perca nas sombras do passado. Use a visão, mas mantenha o coração firme.”

Com esforço, Elián focou em sua verdade interior. Cada memória dolorosa que aparecia era aceita, compreendida e integrada. Aos poucos, a névoa se dissipou, revelando novamente a floresta, agora com cores mais vivas e uma sensação de que o próprio ar estava carregado de energia antiga.

“Muito poucos chegam até aqui com a mente e o coração alinhados,” disse a figura, agora visível como uma entidade luminosa. “Vocês mostraram coragem, paciência e honestidade. O próximo passo exigirá não apenas saber, mas também escolher. Escolher entre caminhos que definirão não apenas suas vidas, mas também o destino de tudo ao redor.”

Elián e Leonor se prepararam, sentindo que cada decisão futura carregaria um peso jamais imaginado. A montanha sussurrava, o vento murmurava e a Pedra da Visão, dentro de suas memórias, lembrava-os de que cada passo era decisivo.

“Então sigamos,” disse Elián, firme.
“Sigamos,” confirmou Leonor, sabendo que o verdadeiro teste ainda estava por vir.

Depois da prova no espaço etéreo, Elián e Leonor continuaram pela floresta antiga. Cada passo parecia carregado de significado; o chão sob seus pés vibrava com energia antiga, e árvores gigantes sussurravam palavras que apenas os atentos conseguiam compreender.

Logo, chegaram a um encruzilhada incomum. Três caminhos se abriam à sua frente:

    Um caminho de pedras negras, onde sombras se contorciam e gemidos suaves surgiam do nada.

    Um corredor de flores luminescentes que exalavam um aroma doce, quase intoxicante.

    Um túnel estreito coberto por névoa espessa, onde ecos de risos e choros se misturavam, confundindo a percepção.

A entidade luminosa que os acompanhava desde a última prova apareceu novamente. “Escolham com cuidado. Cada caminho revelará uma parte de vocês mesmos, e cada decisão deixará marcas indeléveis.”

Elián olhou para Leonor. “Como saber qual é o certo?”
Ela suspirou: “Não existe certo ou errado aqui. Apenas caminhos que testarão nossas forças, medos e desejos. Devemos confiar naquilo que sentimos mais profundo.”

Após um momento de silêncio, decidiram seguir o túnel de névoa, sentindo que os desafios que se escondiam ali exigiriam não apenas coragem, mas compreensão e empatia.

Enquanto avançavam, vozes ecoavam ao redor: algumas pediam ajuda, outras ameaçavam, outras simplesmente narravam memórias de vidas passadas. Cada eco parecia puxar Elián e Leonor para dentro de suas próprias emoções.

“Devemos distinguir o real do ilusório,” disse Leonor, apertando a mão de Elián.
“E lembrar que o que sentimos não é sempre o que devemos seguir,” respondeu ele, tentando manter a mente clara.

No centro do túnel, encontraram uma câmara circular iluminada por cristais flutuantes. No centro, uma grande esfera de luz pulsava lentamente, como se respirasse. A entidade luminosa falou:

“Este é o Núcleo da Verdade. Aqui, terão que confrontar não apenas suas escolhas, mas aquilo que tentaram esconder até de si mesmos. O que emergir da escuridão interior determinará a força com que poderão prosseguir.”

Leonor se aproximou da esfera, sentindo que cada batida de luz refletia sua própria essência. Elián hesitou por um instante, mas então deu um passo à frente. Juntos, colocaram as mãos sobre a esfera.

Uma onda de visões tomou seus sentidos: medos, desejos, memórias, arrependimentos. Tudo o que tinham escondido, ignorado ou temido agora estava exposto, exigindo que aceitassem e compreendessem cada fragmento.

Ao final do teste, a luz da esfera se estabilizou, tornando-se clara e serena. A entidade luminosa sorriu: “Vocês aprenderam a olhar dentro de si sem medo. O próximo caminho exigirá ação, e não apenas reflexão. Preparem-se, pois aquilo que vem a seguir pode mudar não apenas vocês, mas o mundo inteiro.”

Elián respirou fundo: “Estamos prontos.”
“Sim,” disse Leonor, sentindo que cada escolha até agora os preparou para algo muito maior.

Ao saírem do túnel de névoa, Elián e Leonor sentiram o ar mais denso e carregado de energia. À frente, uma montanha colossal se erguia, coberta por penumbra e luzes cintilantes que pareciam pulsar como se a própria rocha tivesse vida.

A entidade luminosa falou: “Este é o Monte dos Ecos. Aqui, cada passo será tanto físico quanto espiritual. O terreno reagirá aos medos e desejos de vocês.”

O caminho começou estreito e íngreme. Rochas se moviam levemente, como se sentissem os pés de quem caminhava. Sons de passos não correspondentes ecoavam atrás deles, e por vezes figuras fugidias surgiam entre a neblina.

Leonor respirou fundo: “Tudo aqui parece nos testar novamente… mas de uma forma diferente. Não apenas nossas mentes, mas nossos corpos também.”
Elián assentiu: “Vamos devagar e com atenção. Não sabemos o que pode nos atingir.”

Enquanto subiam, encontraram uma ponte de cristal suspensa sobre um abismo profundo. A superfície refletia não apenas o céu, mas cenas de suas vidas passadas — momentos de alegria e dor entrelaçados, como se a ponte mesma julgasse sua coragem.

A entidade luminosa os advertiu: “Para atravessar, devem aceitar tanto o que amaram quanto o que temeram. Não há fugas, não há ilusões aqui.”

Eles deram o primeiro passo, sentindo o cristal vibrar sob seus pés. Cada passo parecia exigir uma escolha interna: enfrentar uma memória dolorosa ou tentar ignorá-la. Quando hesitavam, o cristal tremia e sombras surgiam, testando sua determinação.

No centro da ponte, uma figura de luz se formou: uma mistura de todos os mentores e amigos que já encontraram na jornada. Sua voz era múltipla, ecoando em harmonia e dissonância ao mesmo tempo:

“Vocês desejam continuar, mas devem provar que compreenderam a interconexão entre ação e consequência. O próximo teste exigirá coragem física e emocional — e saberem quando agir e quando esperar.”

Leonor segurou firme a mão de Elián: “Chegamos tão longe… não podemos recuar agora.”
Elián concordou: “Cada passo nos moldou. Cada escolha nos trouxe aqui. Vamos enfrentar o que vier.”

Ao atravessarem a ponte, a montanha pareceu se curvar levemente, abrindo caminho para um caminho oculto que conduzia ao cume. Lá, uma aura dourada indicava que uma nova etapa se iniciaria: não apenas provar força ou coragem, mas também sabedoria e liderança.

“Preparem-se,” disse a entidade luminosa, “pois o próximo desafio não testará apenas vocês, mas também aqueles que confiarão em vocês para guiar o mundo que desejam proteger.”

Ao atingirem o cume, Elián e Leonor encontraram um vasto salão de pedra iluminado por cristais flutuantes. O ar parecia carregado de possibilidades, e cada cristal refletia fragmentos de futuros possíveis — alguns brilhantes, outros sombrios.

A entidade luminosa falou: “Aqui começa o teste de liderança. Vocês não apenas enfrentarão desafios, mas também terão que tomar decisões que afetarão aqueles que caminham ao seu lado. Um líder é definido não apenas pela coragem, mas pela clareza de visão e pela empatia.”

No centro do salão, surgiram três portas, cada uma com símbolos diferentes:

    Uma porta marcada por chamas dançantes, representando coragem e ação.

    Uma porta marcada por ondas cristalinas, simbolizando adaptação e paciência.

    Uma porta marcada por raízes entrelaçadas, indicando sabedoria e conexão com os outros.

A entidade explicou: “Cada porta leva a um desafio distinto. Escolham com cuidado — a porta escolhida refletirá a abordagem que vocês usarão como líderes.”

Leonor olhou para Elián: “Não é só sobre nós. Nossas escolhas podem moldar o destino de muitos.”
Elián assentiu: “Então precisamos considerar não só o que queremos, mas o que é melhor para todos que dependem de nós.”

Após um breve momento de reflexão, decidiram que abordariam a porta das raízes entrelaçadas, acreditando que a verdadeira liderança nasce da compreensão e união.

Ao atravessarem a porta, foram transportados para uma floresta viva e consciente, onde cada árvore parecia sussurrar segredos, e os caminhos se transformavam de acordo com suas decisões.

A entidade luminosa explicou: “Aqui, a liderança será testada na prática. Vocês encontrarão indivíduos e grupos que precisam de orientação. Suas escolhas determinarão se a harmonia prevalecerá ou se o caos tomará conta.”

O primeiro grupo que encontraram eram criaturas feridas, assustadas e confusas, incapazes de se mover. Elián e Leonor precisavam decidir: guiá-las por um caminho seguro, arriscando desviar de seu próprio objetivo, ou seguir adiante, garantindo segurança pessoal mas deixando os outros à mercê do perigo.

Leonor respirou fundo: “Não podemos simplesmente seguir sem ajudar. Liderança significa responsabilidade.”
Elián concordou: “Então vamos ajudá-los. Nosso caminho será mais difícil, mas não podemos ignorar quem precisa de nós.”

Enquanto guiavam as criaturas, perceberam que a floresta reagia às suas ações: árvores se moviam para abrir passagem, caminhos se iluminavam e obstáculos desapareciam, como se a própria terra reconhecesse sua liderança.

No fim do percurso, a entidade luminosa apareceu novamente: “Vocês demonstraram não apenas coragem, mas sabedoria e compaixão. Esta é a essência da liderança verdadeira. Mas lembrem-se, cada decisão futura terá consequências ainda maiores. O próximo teste desafiará a visão de vocês sobre sacrifício e confiança.”

Após ajudarem as criaturas da floresta, Elián e Leonor avançaram para uma clareira onde o chão parecia feito de vidro líquido, refletindo não apenas seus rostos, mas possíveis versões de si mesmos — algumas confiantes, outras temerosas, algumas sábias, outras impulsivas.

A entidade luminosa falou novamente: “Agora vocês enfrentarão o teste do sacrifício e da confiança. Cada um de vocês verá visões do futuro. Algumas serão tentadoras, oferecendo poder, glória ou segurança. Mas essas ofertas vêm ao custo de quem vocês são ou de quem vocês amam.”

Leonor se aproximou do reflexo de si mesma, que sorria com confiança: “Não posso ser tentada por isso. Nossas escolhas devem proteger aqueles que dependem de nós, não apenas satisfazer nossos desejos.”

Elián olhou para o próprio reflexo que se oferecia em poder absoluto: “O desafio não é o poder, mas a decisão de usar ou recusar. Confiança significa acreditar que o outro fará o que é certo, mesmo quando é difícil.”

De repente, o vidro líquido se agitou e formou três caminhos distintos, cada um mostrando diferentes consequências de suas escolhas:

    Um caminho de poder imediato, onde poderiam superar todos os desafios, mas às custas de deixar vulneráveis aqueles que ajudaram.

    Um caminho de segurança pessoal, garantindo proteção para si mesmos, mas abandonando o mundo lá fora à própria sorte.

    Um caminho de sacrifício compartilhado, onde poderiam enfrentar dificuldades extremas juntos, ajudando todos, mas sem garantias de sucesso.

Leonor apertou a mão de Elián: “Precisamos escolher juntos, mesmo que seja o mais difícil. A confiança que temos um no outro será testada.”
Elián assentiu, com o coração pesado: “Então seguimos pelo caminho do sacrifício compartilhado. Não é fácil, mas é o certo.”

Ao escolherem esse caminho, o vidro líquido se partiu em milhares de fragmentos que voaram como estrelas, e uma ponte de luz surgiu diante deles. Cada passo exigia coragem, pois qualquer hesitação podia fazê-los cair.

Durante a travessia, enfrentaram tentativas de desânimo e ilusões, projetadas para testar sua confiança mútua. Mas a cada passo, apoiando-se um no outro, conseguiram avançar, sentindo que a própria floresta estava reconhecendo a pureza de suas escolhas.

No final da ponte, a entidade luminosa apareceu mais uma vez: “Vocês provaram que liderança verdadeira não é sobre poder ou segurança pessoal, mas sobre coragem, empatia e confiança compartilhada. O próximo teste exigirá que vocês apliquem tudo o que aprenderam em uma situação de risco real.”

Elián e Leonor avançaram além da ponte de luz e se depararam com uma clara clareira dominada por sombras vivas, criaturas que se moviam como fumaça negra e pareciam absorver a luz ao redor. Cada sombra tinha olhos vermelhos que brilhavam com malícia, e a floresta ao redor parecia segurar a respiração.

A entidade luminosa falou:
“Este é o teste final. As sombras representam não apenas ameaças externas, mas os medos internos de cada um. Vocês terão que enfrentá-las juntos, aplicando coragem, empatia e estratégia.”

Leonor respirou fundo: “Não podemos enfrentá-las de frente sozinhos. Precisamos pensar, observar e agir em sincronia.”

Elián concordou: “Certo. Cada sombra reflete algo que tememos ou duvidamos sobre nós mesmos. Se perdermos a confiança ou o foco, elas se alimentam do medo.”

Eles elaboraram um plano:

    Leonor usaria sua percepção para identificar padrões de ataque e pontos fracos das sombras.

    Elián coordenaria movimentos e criaria distrações para proteger ambos enquanto avançavam.

    Juntos, comunicariam silenciosamente sinais para manter a sincronia e evitar erros.

À medida que se moviam, perceberam que as sombras reagiam não apenas aos movimentos físicos, mas às emoções. Cada dúvida, cada hesitação fortalecia as criaturas. Por isso, mantiveram o olhar firme e respiraram fundo, transmitindo confiança um ao outro.

Em um momento crítico, uma sombra enorme avançou rapidamente em direção a Elián. Leonor agarrou sua mão, puxando-o para o lado enquanto a sombra passava, quase os engolindo.
“Confiamos um no outro!”, gritou Leonor. Elián assentiu, sentindo a coragem e a determinação se multiplicarem.

Combinando estratégia e confiança, eles conseguiram reduzir as sombras a pequenas faíscas de luz, que se dispersaram no ar, dissipando o medo que carregavam.

A floresta finalmente suspirou, e a entidade luminosa reapareceu:
“Vocês demonstraram liderança verdadeira: coragem, empatia, estratégia e confiança. Cada desafio que enfrentaram fortaleceu não apenas vocês, mas também o mundo ao redor. Agora, o caminho final se revela.”

Diante deles, surgiu uma porta luminosa, pulsando com energia cálida e convidativa, sinalizando que a última etapa da jornada estava prestes a começar, uma etapa que revelaria o verdadeiro propósito de sua aventura.

Elián e Leonor atravessaram a porta luminosa, e imediatamente foram envolvidos por uma paisagem etérea, onde o céu parecia fundir-se ao chão em tons de dourado e azul. O ar estava carregado de energia vibrante, e cada passo ecoava como se o próprio universo observasse sua chegada.

A entidade luminosa apareceu novamente, desta vez com uma voz serena e profunda:
“Bem-vindos à última etapa. Aqui, todos os desafios anteriores convergem. Cada decisão tomada, cada medo enfrentado e cada ato de coragem será testado. A verdadeira liderança não é sobre controlar, mas sobre compreender, unir e inspirar.”

Diante deles, surgiram três portais, cada um representando um aspecto essencial da liderança:

    Portal da Coragem: iluminado por chamas suaves, desafiaria suas inseguranças mais profundas.

    Portal da Sabedoria: coberto por névoa azul, testaria sua percepção, estratégia e discernimento.

    Portal da Empatia: envolto em luz verde, revelaria as emoções de todos ao redor, exigindo compreensão e conexão.

Leonor olhou para Elián:
“Precisamos decidir qual portal enfrentar primeiro. Cada escolha moldará nossa jornada final.”

Elián ponderou:
“Se enfrentarmos a coragem primeiro, talvez ganhemos confiança suficiente para a sabedoria. Mas se a empatia vier antes, poderemos compreender melhor nossos próprios medos. Acho que a chave é o equilíbrio.”

Decidiram iniciar pelo Portal da Coragem, lembrando de todas as sombras que enfrentaram. Ao atravessá-lo, confrontaram imagens de seus maiores medos: Elián viu a possibilidade de falhar e decepcionar, Leonor se viu incapaz de proteger aqueles que ama.

Respirando fundo e apoiando-se mutuamente, disseram em uníssono:
“Temos coragem, não porque não sentimos medo, mas porque escolhemos avançar apesar dele.”

O portal se dissolveu, revelando o Portal da Sabedoria. Aqui, enigmas e desafios complexos exigiam pensamento rápido, colaboração e visão estratégica. Cada resposta certa fortalecia o caminho à frente, enquanto cada hesitação o tornava mais tortuoso. Trabalhando juntos, combinando percepção e lógica, superaram os testes e sentiram uma clareza crescente.

Por fim, enfrentaram o Portal da Empatia, onde sentiram as emoções de outros mundos — tristeza, esperança, medo e alegria. Não apenas compreenderam, mas sentiram profundamente. Aprenderam que liderança verdadeira envolve respeitar, apoiar e inspirar os outros, mesmo quando não há recompensa imediata.

Quando atravessaram o último portal, a paisagem se transformou em um espaço aberto e luminoso, onde a entidade luminosa sorriu:
“Vocês completaram a última etapa. Com coragem, sabedoria e empatia, demonstraram ser líderes completos. Mas lembrem-se: a verdadeira jornada de liderança nunca termina. Cada desafio futuro será moldado pelas escolhas que vocês fizeram aqui.”

À frente, uma luz intensa começou a se formar, não apenas como um portal, mas como uma ponte para o futuro, sinalizando novas aventuras, oportunidades e responsabilidades, agora plenamente preparadas para Elián e Leonor.

Ao atravessar a ponte de luz, Elián e Leonor sentiram uma conexão profunda com o mundo ao redor. Cada lição aprendida — coragem, sabedoria e empatia — não era apenas uma lembrança, mas uma força viva que moldava suas ações.

De volta ao seu mundo, perceberam que nada parecia exatamente como antes. Pequenos detalhes brilhavam com possibilidades: uma criança ajudando outra sem esperar nada em troca, uma flor crescendo em um lugar improvável, pessoas unindo forças para superar dificuldades. Tudo parecia conectado por um fio invisível de esperança e colaboração.

Elián refletiu:
“Cada desafio que enfrentamos não foi apenas para nós. Foi para nos preparar para contribuir com o mundo.”

Leonor sorriu:
“A liderança não é sobre títulos ou poder. É sobre inspirar outros a encontrar coragem, clareza e compaixão dentro de si mesmos.”

Os dois começaram a aplicar suas lições: lideraram projetos comunitários, resolveram conflitos com empatia e tomaram decisões difíceis com coragem e sabedoria. Em cada passo, inspiravam outros a crescer e a enfrentar seus próprios desafios.

Com o tempo, a influência deles se espalhou, não por autoridade, mas por exemplo. As pessoas aprenderam que o verdadeiro poder reside em apoiar e elevar aqueles ao seu redor, e que a coragem combinada à sabedoria e à empatia cria uma liderança duradoura.

A entidade luminosa apareceu uma última vez, desta vez apenas como uma brisa suave de luz:
“Vocês compreenderam. Cada ato de liderança é um reflexo daquilo que carregam dentro. Continuem avançando, e o mundo seguirá o mesmo caminho.”

Elián e Leonor se entreolharam, sentindo a paz e a certeza de que a jornada nunca termina — mas agora estavam prontos. Prontos para enfrentar novos desafios, transformar vidas e inspirar gerações.

A história deles não terminou ali. Ela continuou em cada decisão consciente, em cada ato de coragem, em cada gesto de empatia — e, assim, o mundo mudou, pouco a pouco, guiado pelo poder de líderes que compreendem que a verdadeira força nasce do coração, da mente e da conexão com os outros.

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