1911 Campina Grande–PB: A Verdadeira História Macabra de Dona Zulmira — O Caso Esquecido Pela Igreja

Bem-vindos a esta história por um dos casos mais perturbadores já registrado em Campina Grande, Paraíba. Antes de começarmos, convido vocês a deixarem um comentário sobre de onde estão assistindo e o horário exato em que ouviram esta história.

Estamos interessados em saber a que lugares e em que horários do dia ou da noite esses relatos documentados chegam. O outono de 1911 em Campina Grande trazia consigo ventos frios incomuns para o sertão paraibano. Uma sensação de inquietude pairava sobre as ruas de paralelepípedos do centro, especialmente ao redor da rua Maciel Pinheiro, onde se erguia o casarão de número 43.

Era uma construção imponente, com fachada azulejada e um pequeno campanário ornamental, herança da prosperidade dos tempos do algodão. O silêncio que emanava daquela residência, no entanto, não era apenas fruto da estação. Havia algo mais, algo que fazia os transeútes cruzarem para o lado oposto da rua sem perceber. A propriedade pertencia à dona Zulmira Cavalcante, viúva de 63 anos, herdeira de uma das famílias mais tradicionais da região.

Descendente direta dos primeiros colonizadores, Zulmira carregava em seu semblante austero a marca de gerações acostumadas ao poder. Sua residência, construída em 1873 pelo marido, o coronel Augusto Cavalcante, destacava-se não apenas pelo tamanho, mas por detalhes arquitetônicos incomuns para a região. Uma mistura de estilos coloniais portugueses com influências mouriscas trazidas de suas viagens à Europa.

Os registros da Câmara Municipal, preservados no Arquivo Histórico de Campina Grande descrevem a propriedade como uma das mais notáveis edificações da URB, ocupando terreno de 650 m², com dois pavimentos principais, uma torre de observação voltada ao nascente e compartimentos subterrâneos destinados à conservação de mantimentos, peculiarmente distribuídos de forma assimétrica sob o piso principal.

Este último detalhe, aparentemente banal em um documento administrativo, ganharia significado perturbador anos mais tarde. Segundo relatos da época, dona Zulmira vivia uma existência reclusa após a morte do marido, ocorrida em circunstâncias nunca completamente esclarecidas em 1903.

saía apenas para assistir à missa dominical na igreja matriz, sempre usando vestidos negros de corte severo, sempre ocupando o mesmo banco na lateral direita, sempre chegando exatamente 10 minutos antes do início da celebração e partindo imediatamente após o término, sem conversar com ninguém.

Em entrevistas conduzidas pelo historiador Josué Almeida em 1964, alguns dos poucos moradores ainda vivos que haviam conhecido dona Zulmira descreveram-la como uma figura enigmática. Francisca Dantas, que em 1911 trabalhava como modista para famílias abastadas da cidade, relembrou: “A senhora Cavalcante tinha uma presença que impunha respeito.

Não era bonita no sentido comum, mas possuía feições marcantes, olhos muito escuros e penetrantes, quase como se pudessem enxergar através das pessoas. Chamava-me para ajustes em seus vestidos sempre nas primeiras horas da manhã, nunca permitindo que eu adentrasse além da sala de costura no térrio. Havia um aroma peculiar naquela casa, não de mofo ou abandono, mas algo semelhante a ervas secas e cera de vela, mesmo nos dias mais quentes.

A história oficial sobre dona Zulmira, registrada nos arquivos municipais era simples e direta. Viúva sem filhos, dedicava-se à administração das propriedades rurais herdadas do marido e a manutenção de obras de caridade vinculadas à igreja. No entanto, documentos descobertos décadas depois pelo professor Almeida revelaram inconsistências intrigantes nessa narrativa aparentemente comum.

O primeiro detalhe perturbador surge nos registros de óbito do coronel Augusto. De acordo com o documento oficial assinado pelo Dr. Herculano Bandeira, em 16 de setembro de 1903, a causa da morte foi registrada como insuficiência cardíaca após prolongada febre. Contudo, um relatório médico preliminar encontrado entre os papéis pessoais do Dr.

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Bandeira, após seu falecimento, apresenta observações significativamente diferentes. O paciente exibe sintomas desconcertantes, alterna entre períodos de lucidez absoluta episódios de confusão mental. Durante os momentos de clareza, insiste em algo que trouxe de suas escavações no sítio arqueológico próximo a Ing. nos momentos de inquietude, sussurra repetidamente sobre impressões nas paredes e sons vindos do subsolo.

Mais preocupantes são as marcas incomuns em seu torso, padrões circulares formando uma configuração geométrica precisa, não apresentam características de ferimentos causados por instrumentos conhecidos. A pele ao redor das marcas exibe coloração anormalmente pálida.

Considero prudente realizar investigação mais aprofundada antes de emitir diagnóstico definitivo. Este relatório nunca foi incorporado aos registros oficiais. Em vez disso, um atestado simplificado foi emitido três dias depois e o corpo do coronel Augusto foi sepultado com notável rapidez no cemitério particular da família, localizado em sua fazenda, a 15 km da cidade.

Em 21 de junho de 1911, dona Zulmira não compareceu à missa dominical. O fato, por si só, não causou estranhamento imediato. Porém, quando sua ausência persistiu por três domingos consecutivos, o vigário padre Tertuliano Soares decidiu enviar seu sacristão, Joaquim Pereira, para verificar o bem-estar da senhora. O padre Tertuliano não era conhecido por demonstrar preocupação excessiva com seus paroquianos, especialmente aqueles de posses, de personalidade reservada e pragmática.

mantinha distanciamento respeitoso das questões mundanas. No entanto, suas anotações pessoais descobertas em 1967 durante a reforma da casa paroquial revelam uma inquietação particular relacionada à dona Zulmira. Em uma entrada datada de maio de 1911, ele escreveu: “A senora C veio à confissão hoje. Como sempre, suas palavras são medidas e seus pecados triviais.

Uma impaciência com os empregados, pensamentos críticos sobre vizinhos, pequenas vaidades. Contudo, hoje percebi algo perturbador em seu semblante. Há uma intensidade febril em seu olhar que contradiz a serenidade de sua voz. Ao final, perguntou-me algo que confesso ter me deixado desconcertado.

Queria saber se a igreja reconhece a possibilidade de que conhecimentos antigos anteriores à palavra de Cristo possam conter verdades além da nossa compreensão atual. Respondi conforme a doutrina, naturalmente, mas há algo nessa indagação que me desassossega. Pergunto-me se essa senhora não estaria envolvida com leituras impróprias.

O relatório do sacristão Joaquim sobre sua visita à casa de dona Zulmira, datado de 12 de julho de 1911 e preservado nos arquivos diocesanos, descreve uma cena inquietante. Bati a porta principal por longos minutos, sem obter resposta. Contornei então a propriedade, verificando janelas e portas laterais. Todas estavam devidamente trancadas.

Notei, porém, que a pequena porta dos fundos, que dá acesso à área de serviço, encontrava-se ligeiramente entreaberta. Chamei pela senhora cavalcante várias vezes antes de decidir entrar. O interior da casa estava em perfeita ordem, como se tivesse sido recentemente limpo e organizado. Não havia sinais de perturbação ou violência.

Na mesa da sala de jantar, encontrei um prato com restos de refeição e um cálice com vinho pela metade, como se a proprietária tivesse sido interrompida durante sua ceia. Mais perturbador, porém, foi a descoberta de que todos os relógios da casa, o relógio de parede na sala, o relógio de mesa no escritório e o relógio de bolso deixado sobre o piano estavam parados exatamente às 23:44.

Percorri todos os aposentos do pavimento térrio e do andar superior, sem encontrar qualquer sinal da senhora cavalcante. Foi ao descer as áreas subterrâneas que notei algo verdadeiramente incomum. A porta que dava acesso à adega principal estava aberta, revelando uma segunda porta ao fundo, menor e de madeira mais antiga que eu nunca havia visto em minhas visitas anteriores à residência. Esta porta encontrava-se entreaberta.

E dela emanava um odor peculiar, algo como terra úmida misturada com um aroma metálico que não consegui identificar. Não me atrevia a atravessar aquela porta, sentindo uma aversão instintiva que não posso explicar racionalmente. Em vez disso, retornei ao piso superior e continuei minhas buscas.

No quarto principal, sobre a penteadeira, encontrei uma carta selada endereçada ao padre Tertuliano, a qual entreguei intacta, conforme instruções de vossa reverência. A carta mencionada pelo sacristão se tornaria um dos elementos mais enigmáticos do caso. O conteúdo deste documento permaneceu desconhecido publicamente por décadas, guardado nos arquivos pessoais do padre Tertuliano até sua morte em 1938.

Foi apenas em 1965, durante a catalogação de seus pertences doados à biblioteca diocesana, que o envelope lacrado foi descoberto, escondido entre as páginas de um antigo missal. A carta escrita com a caligrafia elegante e controlada de dona Zulmira dizia o seguinte: “Reverendo padre Tertuliano, quando esta carta chegar às suas mãos, é provável que eu já tenha partido.

Não se trata de uma partida comum, nem de uma morte natural, embora possa parecer assim aos olhos do mundo. Trata-se do cumprimento de um acordo feito há muito tempo, não por mim, mas pelo homem que foi meu marido. Durante as escavações que Augusto conduziu próximo às inscrições de Ingá em 1902, ele encontrou algo que não deveria ter sido perturbado.

Um artefato antigo, anterior à chegada dos portugueses, anterior mesmo aos povos indígenas que conhecemos. Augusto acreditava ter feito uma descoberta arqueológica de valor inestimável, um cilindro de pedra negra coberto com inscrições em uma linguagem desconhecida. trouxe-o para nossa casa, instalando-o no compartimento secreto que mandou construir sob a adega.

O que meu marido não compreendeu imediatamente foi que aquele objeto não era apenas uma relíquia histórica, era um recipiente, um invólucro para algo que não possui forma física constante, algo que esperou pacientemente durante séculos para ser libertado. Nos meses seguintes, Augusto mudou. Passou a trancar-se naquele compartimento por horas, murmurando sozinho.

À noite, eu o ouvia caminhar pela casa. parando ocasionalmente para pressionar o ouvido contra as paredes, como se escutasse algo que se movia dentro delas. Quando questionado, dizia estar conduzindo pesquisas importantes. Sua morte não foi causada por febre ou problema cardíaco, como consta no registro oficial. Encontrei-o naquela manhã de setembro, deitado no chão do compartimento subterrâneo.

Seu corpo estava intacto, mas apresentava marcas incomuns que correspondiam exatamente às inscrições no cilindro de pedra. Seus olhos tinham uma aparência perturbadora, como se houvessem contemplado algo além da compreensão humana. Dr. Bandeira era amigo de longa data da família. Ele entendeu que certas descobertas trazem mais mal do que bem ao conhecimento público.

Concordou em simplificar o atestado de óbito e o corpo foi sepultado em terreno consagrado com todos os ritos necessários. O que não compreendi na época e só agora percebo claramente é que ao remover o artefato de seu local original, Augusto estabeleceu uma conexão que não poderia ser simplesmente rompida com sua morte. Durante ito anos, mantive aquele compartimento trancado, ignorando os sons que ocasionalmente vinham dele, fingindo não notar as mudanças sutis na casa, o aroma persistente de terra úmida, as sombras que pareciam mover-se independentemente da luz, os sussurros

nas paredes que aumentavam à medida que a noite avançava. Há três noites acordei precisamente às 23:44 com a absoluta certeza de que havia alguém no quarto comigo. Não era uma presença humana, era algo mais antigo, algo que respirava de forma diferente. Acendi a lamparina e não vi nada, mas o ar estava denso, quase viscoso ao respirar.

Foi então que percebi a chave do compartimento subterrâneo que sempre mantive em meu porta-joias trancado estava sobre minha mesa de cabeceira. Desci até lá, movida por uma compulsão que não consigo explicar. A porta do compartimento estava aberta. O cilindro de pedra, que durante 8 anos permanecer inerte sobre o pedestal que Augusto construíra para ele, agora exibia uma mudança sutil.

As inscrições pareciam terse movido, reorganizando-se em um novo padrão. E havia algo mais. Um líquido escuro escorria das extremidades do cilindro, formando no chão desenho inquietante. Compreendi então a natureza do acordo que meu marido havia feito, conscientemente ou não. Compreendi também que chegara a minha vez de cumprir minha parte.

Não escrevo esta carta buscando salvação ou intervenção. É tarde demais para isso. Escrevo apenas para que exista um registro da verdade, mesmo que incompleto. Peço apenas que caso alguém questione meu desaparecimento, a explicação oficial seja que parti voluntariamente para tratar de assuntos familiares em outra localidade.

casa e todos os bens devem ser doados à diocese, com a condição expressa de que o compartimento subterrâneo jamais seja aberto. Se possível, deve ser completamente selado com concreto. Quanto ao que acontecerá comigo, não tenho ilusões. Há conhecimentos antigos que exigem um preço quando despertados. Augusto pagou dele. Agora chegou minha vez.

Que Deus tenha misericórdia, se é que sua jurisdição se estende a coisas tão antigas quanto esta. Zulmira Cavalcante, 18 de junho de 1911. O padre Tertuliano, após receber esta carta, não registrou oficialmente o desaparecimento de dona Zulmira. Em vez disso, seguindo parcialmente seu pedido, divulgou que a senhora havia partido para visitar parentes no Recife.

A casa permaneceu fechada com todos os seus pertences intactos. A investigação oficial sobre o caso, conduzida pelo delegado Gerváio Mota, foi notavelmente breve e superficial. O relatório policial, datado de 30 de julho de 1911 conclui simplesmente que a cidadã Zulmira Cavalcante, viúva, 63 anos, ausentou-se voluntariamente de sua residência, levando consigo documentos pessoais e recursos financeiros para sustento próprio, conforme atestado pelo reverendo vigário da paróquia local.

Não havendo indícios de crime ou coação, determina-se o arquivamento do presente caso. Este relatório apresenta inconsistências evidentes. Não há menção à verificação junto a supostos parentes no Recife, nem explicação para o fato de que todos os documentos pessoais e recursos financeiros de dona Zulmira foram encontrados intactos em sua residência.

Seu porta-oias continha todas as peças catalogadas em seu inventário pessoal, incluindo um valioso conjunto de brincos e colar de safiras, que, segundo testemunhos, ela considerava sua possessão mais preciosa. Mais significativo ainda, não há qualquer menção à descoberta da porta oculta no compartimento subterrâneo relatada pelo sacristão Joaquim.

De fato, nos registros oficiais, não há sequer referência à existência de áreas subterrâneas na propriedade, contradizendo os próprios documentos arquitetônicos da Câmara Municipal. Durante décadas, o caso permaneceu esquecido. A casa da rua Maciel Pinheiro foi transferida para a propriedade da igreja, conforme estipulado em um testamento deixado por dona Zulmira anos antes, com a condição específica de que nunca fosse vendida ou demolida.

Durante mais de 30 anos, o imóvel serviu como escritório administrativo e ocasionalmente como local de reuniões paroquiais. Curiosamente, nenhum funcionário permanecia por muito tempo, sempre solicitando transferência por razões vagas relacionadas à inadequação do espaço ou problemas estruturais. Em 1943, durante uma reforma menor para corrigir infiltrações, os trabalhadores contratados pela diocese relataram ter encontrado uma porta selada com argamassa na área da adega.

Seguindo as instruções expressas do bispo Dom Osvaldo Trigueiro, a porta não apenas não foi aberta, como recebeu uma camada adicional de concreto, sendo posteriormente ocultada por uma estante pesada fixada à parede. A história poderia ter terminado aí, relegada ao esquecimento, como tantos outros mistérios provincianos.

No entanto, em 1962, o professor Josué Almeida, pesquisador da história social de Campina Grande, interessou-se pelo caso ao encontrar referências ao desaparecimento de dona Zulmira em um antigo diário mantido por seu avô. Almeida era um acadêmico metódico formado pela Universidade Federal de Pernambuco, com especialização em antropologia histórica.

Seu interesse inicial, no caso, era puramente acadêmico investigar padrões de comportamento da elite rural paraibana durante o período de transição entre os séculos XIX e XX. O desaparecimento de uma viúva abastada, sem deixar rastros, representava um caso atípico que merecia documentação. Sua pesquisa começou pelos arquivos municipais, onde encontrou as primeiras inconsistências nos registros oficiais.

seguiu pelos arquivos policiais, constatando a superficialidade da investigação. Foi ao consultar os registros eclesiásticos, contudo, que Almeida encontrou o primeiro indício verdadeiramente perturbador, uma anotação marginal em um livro de registro da paróquia feita pelo próprio padre Tertuliano em outubro de 1911.

Visitei hoje a residência da senora para verificar o estado de conservação. Encontrei tudo em ordem, exceto por um detalhe que não consigo explicar racionalmente. Todos os relógios da casa que haviam parado às 23:44, conforme relatado pelo sacristão em julho, agora marcam 3:17. Não há evidências de que alguém tenha entrado na propriedade ou manipulado os mecanismos.

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O mais perturbador é que todos os relógios marcam exatamente o mesmo horário até os segundos, o que seria improvável mesmo se tivessem sido ajustados manualmente. Esta observação aparentemente trivial ganhou nova dimensão quando Almeida, em 1963 conseguiu localizar e entrevistar Filomena Rocha, que havia trabalhado como empregada doméstica na casa de dona Zulmira entre 1906 e 1910.

Segundo o depoimento de Filomena, então com 72 anos, a senhora Cavalcante era reservada, mas justa como patroa. Não permitia que ninguém entrasse em seu quarto ou no escritório do falecido marido, e era particularmente rigorosa quanto à proibição de qualquer pessoa descer sozinha aos compartimentos subterrâneos. Eu ia apenas até a adega principal para buscar vinhos ou conservas.

sempre acompanhada por ela. Havia uma rotina estranha que nunca entendi completamente. Toda noite, precisamente às 23:44, dona Zulmira interrompia qualquer atividade que estivesse realizando e retirava-se para seus aposentos, trancando a porta. Certa vez, quando ainda dormia na casa, levantei durante a noite por ouvir sons vindos do andar inferior, algo como batidas rítmicas.

Ao descer, encontrei a senhora na sala, completamente imóvel diante do relógio de parede, observando-o fixamente. Quando percebeu minha presença, sobressaltou-se de forma incomum. No dia seguinte, informou que eu não precisaria mais pernoitar na residência, providenciando acomodações para mim na casa de sua prima, na mesma rua.

O mais estranho, contudo, eram os murmúrios que às vezes se ouviam através das paredes. Não eram vozes reconhecíveis, mas como um zumbido constante que parecia vir de dentro da própria estrutura da casa. A senhora cavalcante sempre ignorava quando eu mencionava esses sons, mudando de assunto ou atribuindo-os a peculiaridades acústicas de casas antigas. Mas eu notava como sua expressão se tornava tensa, quase temerosa.

Filomena também revelou um detalhe que não constava em nenhum registro oficial. Aproximadamente um mês antes de seu desaparecimento, dona Zumira havia recebido a visita de um homem desconhecido na cidade, descrito como um senhor de idade avançada, extremamente magro, com pele muito pálida e olhos profundamente sombreados por sobrancelhas espessas.

Este visitante chegou ao anoitecer e foi recebido pela própria dona Zulmira, que dispensou os empregados mais cedo naquele dia. Segundo a cozinheira, que permaneceu mais tempo para finalizar os preparativos do jantar, o estranho visitante conversou com a senhora cavalcante no escritório por várias horas, em voz baixa demais para ser ouvida.

Na manhã seguinte, dona Zumira aparentava extrema fadiga e uma palidez incomum. Foi a partir deste dia, segundo relatos dos empregados entrevistados pelo professor Almeida, que o comportamento da senhora começou a mudar mais visivelmente, tornou-se ainda mais reservada. passava horas no escritório examinando documentos antigos e, em várias ocasiões, foi vista descendo aos compartimentos subterrâneos carregando livros, e, em uma ocasião específica, um objeto comprido envolto em tecido escuro. A pesquisa do professor Almeida tomou um rumo inesperado quando ele

conseguiu acessar os registros das escavações realizadas pelo coronel Augusto, próximo à região de Ingá. Entre os documentos da Sociedade Arqueológica da Paraíba, da qual o coronel fora membro fundador, encontrou um relatório datado de novembro de 1902, descrevendo uma expedição a uma área não catalogada, a aproximadamente 3 km do principal sítio de inscrições rupestres.

O relatório, escrito pelo próprio coronel Augusto menciona a descoberta de uma pequena caverna não visível da trilha principal, cujo acesso se dava através de uma fenda estreita, parcialmente coberta por vegetação. No interior, a equipe encontrou evidências de ocupação humana antiga, fragmentos cerâmicos, ferramentas líticas rudimentares e, mais significativamente, inscrições nas paredes que não correspondiam aos padrões conhecidos da Itaquatiara de Ingá.

O documento prossegue com uma descrição detalhada dessas inscrições, destacando seu caráter notavelmente geométrico e regular, sugerindo um sistema de escrita estruturado rather than representações pictóricas. O coronel observa com particular interesse que, diferentemente das inscrições principais de Ingá, estas pareciam ter sido feitas com ferramentas metálicas precisas, não condizentes com o desenvolvimento tecnológico atribuído aos povos pré-colombianos da região.

A última página do relatório contém uma anotação que o professor Almeida considerou especialmente perturbadora. Durante o exame das inscrições da Câmara Municipal, Souza, assistente do coronel notou o que parecia ser uma pedra solta no centro do recinto. Ao removê-la, descobrimos uma cavidade perfeitamente cilíndrica, como se tivesse sido perfurada com precisão mecânica na rocha sólida.

No interior encontramos o artefato mais extraordinário, um cilindro de aproximadamente 30 cm de comprimento por 8 cm de diâmetro. Confeccionado em material semelhante a basalto, mas com densidade consideravelmente superior. A superfície do cilindro está coberta por inscrições idênticas às das paredes dispostas em sete anéis paralelos.

A extraordinária preservação do objeto, sem qualquer sinal de erosão ou desgaste, após o que devem ser séculos ou mesmo milênios, sugere propriedades materiais que merecem investigação científica detalhada. Mais notável ainda é a temperatura do artefato. Permanece constante, significativamente abaixo da temperatura ambiente, mesmo após horas de exposição ao calor.

Quando manuseado por períodos prolongados, produz sensação similar a leve choque elétrico, acompanhada por zumbido quase imperceptível. Decidi não incluir este item no inventário oficial da expedição até que possa conduzir análises mais detalhadas em meu estúdio particular. A importância desta descoberta não pode ser subestimada, pode representar evidência de civilização pré-colombiana com desenvolvimento tecnológico muito superior ao atualmente reconhecido pela arqueologia ortodoxa. Não há registros subsequentes sobre este

artefato nos documentos da sociedade arqueológica. De fato, o coronel Augusto não submeteu nenhum outro relatório ou artigo após este, apesar de ter sido previamente um contribuidor prolífico. O professor Almeida, intrigado por estas descobertas, solicitou à diocese permissão para examinar a antiga residência de dona Zulmira, particularmente as áreas subterrâneas mencionadas em vários documentos.

Após meses de solicitações persistentes, recebeu autorização limitada em maio de 1964, com a condição expressa de que seria acompanhado pelo padre Clementino Vieira e não tentaria acessar áreas seladas. O relatório de sua visita, preservado entre seus papéis pessoais doados posteriormente à Universidade Federal da Paraíba, descreve uma experiência desconcertante.

A casa mantém-se em condição surpreendentemente boa, considerando que está essencialmente desocupada há mais de 50 anos. A estrutura não apresenta danos significativos por cupins ou infiltrações, o que é notável para uma construção desta idade no clima local. O interior preserva a disposição original dos móveis, criando a impressão perturbadora de que a proprietária saiu apenas temporariamente.

O acesso aos compartimentos subterrâneos se dá por uma escada em Caracol localizada na dispensa, parcialmente oculta por uma instante. A temperatura desce perceptivelmente à medida que se descende, mais do que seria esperado para um porão comum nesta região.

A iluminação elétrica instalada recentemente pela diocese funciona apenas intermitentemente nesta área. O primeiro ambiente corresponde a adega principal, um espaço amplo com aproximadamente 40 m², paredes de pedra e teto abobadado. Nichos nas paredes ainda contém algumas garrafas de vinho cobertas por décadas de poeira. A umidade é notavelmente baixa para um ambiente subterrâneo.

Na parede sul, identificamos facilmente a área mencionada nos relatórios. uma sessão de aproximadamente 2 m por 5 m, onde a pedra original foi substituída por concreto moderno, posteriormente revestido com argamassa, para simular a textura das paredes adjacentes.

É evidente que há um espaço além desta parede, pois ao bater contra ela o som produzido é distintamente mais o que nas sessões adjacentes. O mais perturbador, contudo, foi o que ocorreu quando nos aproximamos desta parede. Meu relógio de pulso, um omômega confiável que mantenho precisamente ajustado, subitamente parou às 3:17, embora fossem aproximadamente 15:30 naquele momento.

O mesmo aconteceu com o relógio do padre Clementino. Ao nos afastarmos da parede, ambos os relógios voltaram a funcionar normalmente, sem necessidade de ajuste. Outro fenômeno inexplicável foi a mudança de temperatura localizada. Enquanto a adega mantinha a temperatura constante e agradável, o ar imediatamente adjacente à parede selada era perceptivelmente mais frio, suficiente para produzir condensação visível na superfície do concreto, formando padrões que, observados sobângulo, lembravam vagamente símbolos geométricos. Perguntei ao padre Clementino se sabia o que havia além

daquela parede. Sua resposta foi evasiva, mas significativa. Algumas portas foram feitas para permanecerem fechadas, professor. A igreja tem razões para suas precauções que vão além da simples preservação histórica. Após esta visita, o interesse do professor Almeida no caso intensificou-se.

Nos meses seguintes, ele expandiu sua pesquisa para incluir registros hospitalares, esperando encontrar o relatório médico original sobre a morte do coronel Augusto. entrevistou antigos moradores da região, coletou relatos sobre a família Cavalcante e chegou a visitar o sítio arqueológico de Ingá, mencionado nos documentos, tentando localizar a caverna descrita pelo coronel.

Em outubro de 1964, Almeida finalmente conseguiu uma descoberta significativa. Nos arquivos do antigo Hospital da Caridade, encontrou um conjunto de anotações pessoais do Dr. Herculano Bandeira. incluindo esboços detalhados das marcas encontradas no corpo do coronel Augusto, um padrão circular específico.

Junto aos desenhos, o médico havia feito anotações comparando estas marcas com padrões semelhantes documentados em casos médicos incomuns ao longo da história, incluindo referências a um tratado obscuro sobre condições anômalas publicado em Portugal em 1834. Mais significativamente, o caderno continha uma anotação marginal que ligava diretamente o caso do coronel ao de sua esposa.

Visitei hoje a residência C, a pedido da senora Z. Ela relata ter encontrado marcas incomuns surgindo gradualmente em seu antebraço esquerdo. As marcas são visualmente similares àquelas observadas no falecido marido e apresentam a mesma configuração peculiar. A paciente recusa-se a considerar tratamento médico ou a permitir documentação formal.

Sintomas associados incluem episódios de temperatura corporal anormalmente baixa e períodos de desorientação momentânea. O mais alarmante é seu relato de sons inexplicáveis que ela ouve principalmente durante a noite, emanando aparentemente das próprias paredes da residência. Esta revelação estabelecia uma conexão direta entre os sintomas experimentados pelo coronel antes de sua morte e o estado da esposa nos meses que precederam seu desaparecimento.

Uma conexão que todas as investigações oficiais haviam ignorado ou deliberadamente ocultado. Em dezembro de 1964, o professor Almeida conseguiu localizar Sebastião Souza, o assistente que havia acompanhado o coronel Augusto, na expedição de 1902. Então, com 86 anos, residindo em João Pessoa, Souza mostrou-se extremamente relutante em discutir o assunto. Foi apenas após repetidas visitas e a construção gradual de confiança que ele finalmente compartilhou sua versão dos eventos.

O que encontramos naquela caverna não deveria ter sido perturbado. Eu disse isso ao coronel na época, mas ele era um homem de ciência, não dava ouvidos à superstições. Os nativos locais evitavam aquela área específica. Chamavam-na de a passagem, embora nunca explicassem passagem para onde. O cilindro não estava simplesmente depositado na cavidade, como ele descreveu no relatório.

Estava parcialmente incorporado à própria rocha. como se tivesse sido inserido quando a pedra ainda era maleável e depois se solidificou ao seu redor. Foi extremamente difícil removê-lo. Precisamos usar ferramentas especiais que o coronel havia trazido como se já soubesse o que encontraria.

Quando finalmente o extraímos, ouve, não sei como descrever. Uma mudança na atmosfera. A temperatura caiu drasticamente. Um dos carregadores que nos acompanhava desmaiou sem motivo aparente. E houve um som, não alto, mas persistente, como um zumbido distante, quase no limite da audição. O coronel mudou após aquele dia, tornou-se obsessivo com o artefato.

Passava horas estudando-o, fazendo anotações, tentando decifrar as inscrições. construiu um compartimento especial na casa para guardá-lo, com especificações precisas que ele mesmo desenhou. O mais perturbador foi o que aconteceu cerca de dois meses depois. O coronel me chamou a sua casa tarde da noite, extremamente agitado.

Disse que havia estabelecido contato com algo através do cilindro. falava rapidamente, de forma desconexa, alternando entre euforia científica e o que parecia ser profunda inquietação. Mencionou repetidamente que as inscrições não eram uma linguagem morta, mas algo ainda ativo, algo que respondia quando abordado corretamente.

Mostrou-me seus antebraços, onde começavam a aparecer marcas incomuns, formando exatamente o mesmo padrão das inscrições no cilindro. Quando sugeri procurar assistência médica, ele recusou veementemente e disse: “É tarde demais para isso, Souza. Fiz um acordo. Conhecimento em troca de acesso. Nunca entendi completamente o que ele quis dizer com acesso.

Acesso a quê? Para quem? O coronel faleceu menos de um mês depois. Não comparecia ao funeral. não podia enfrentar a possibilidade de ver aquelas marcas novamente. Anos depois, em 1911, recebi uma carta de dona Zulmira. Não nos comunicávamos desde a morte do coronel. A carta era breve, perguntando se eu ainda possuía as anotações originais da expedição e se havia experimentado efeitos residuais após o contato com o artefato.

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Respondi negando ambas as coisas, embora não fosse inteiramente verdade. Nunca mencionei a ninguém os sonhos recorrentes que comecei a ter após aquela expedição. Sonhos de um lugar subterrâneo, muito mais extenso que a caverna que exploramos, onde formas geométricas pulsavam nas paredes como se estivessem vivas, e onde uma presença antiga aguardava com paciência infinita.

O depoimento de Souza, embora carregado de elementos que poderiam ser atribuídos à imaginação de um homem idoso ou a superstições de época, forneceu ao professor Almeida uma perspectiva valiosa sobre os eventos que precederam tanto a morte do coronel quanto o desaparecimento de sua esposa. Em janeiro de 1965, Almeida fez uma última tentativa de visitar a antiga residência dos Cavalcante, especificamente para examinar mais detalhadamente a parede selada na Adega.

Desta vez, porém, seu pedido foi categoricamente negado pela diocese, com uma carta assinada pelo próprio bispo, afirmando que a propriedade estava passando por avaliação estrutural e não poderia receber visitantes. Curiosamente, três meses depois, a diocese anunciou que a antiga residência seria convertida em um centro de documentação após extensa renovação estrutural.

Parte desta renovação, conforme documentos municipais da época, incluiu o preenchimento completo das áreas subterrâneas com o concreto, supostamente para garantir a estabilidade da fundação. A decisão de selar permanentemente os compartimentos subterrâneos intrigou o professor Almeida, especialmente considerando o valor histórico e arquitetônico da propriedade.

Em suas anotações pessoais, ele questiona: “Por que tamanha preocupação em tornar inacessível um simples porão? O que poderia estar lá que justificaria tal medida extrema?” A resposta a esta questão começou a tomar forma em abril de 1965, quando o professor recebeu uma correspondência inesperada, um envelope sem remetente, contendo apenas uma folha de papel envelhecido com uma mensagem manuscrita: “Nem tudo que está selado permanece contido.” Algumas presenças encontram novos receptáculos.

Abandone esta investigação enquanto ainda é possível. Há conhecimentos que exigem mais do que simples compreensão intelectual. A letra era notavelmente similar a da carta de dona Zulmira ao padre Tertuliano, embora apresentasse tremores e irregularidades que sugeriam uma mão enfraquecida ou extremamente idosa.

Esta comunicação perturbadora coincidiu com o início de experiências incomuns relatadas pelo professor em seu diário pessoal, dificuldades para dormir, a sensação persistente de estar sendo observado e, mais notavelmente, o aparecimento de pequenas manchas circulares em seu antebraço esquerdo que ele inicialmente atribuiu a alguma reação alérgica.

Em maio de 1965, Almeida viajou a Ingá, determinado a localizar a caverna mencionada nos relatórios do coronel Augusto. Após dias de buscas infrutíferas com guias locais, encontrou o que parecia ser a fenda descrita nos documentos. No entanto, a entrada estava completamente bloqueada por um desmoronamento que, segundo os moradores da região, havia ocorrido muitos anos atrás, após um abalo sísmico de pequena intensidade.

Foi durante esta viagem que o professor fez sua última descoberta significativa. No pequeno museu local, entre artefatos arqueológicos catalogados de forma rudimentar, encontrou um fragmento de pedra negra densamente polida, com aproximadamente 5 cm de comprimento, contendo inscrições geométricas precisas.

A etiqueta indicava apenas fragmento lío de origem indeterminada doado por AC 193. O curador do museu, quando questionado, não possuía informações adicionais sobre o item, exceto que fazia parte da coleção original estabelecida no início do século. Permitiu, contudo, que o professor fotografasse e fizesse um molde em gesso do fragmento para estudo posterior.

De volta à Campina Grande, Almeida dedicou-se a analisar as inscrições no fragmento, comparando-as com os desenhos encontrados nos documentos do Dr. Bandeira. A correspondência era innegável. O padrão das marcas encontradas no corpo do coronel Augusto e posteriormente mencionadas no caso de dona Zulmira reproduzia exatamente uma sequência específica das inscrições no fragmento de pedra.

Esta descoberta levou o professor a uma conclusão perturbadora que ele registrou em seu diário em 17 de junho de 1965. As implicações são extraordinárias e profundamente inquietantes. O artefato encontrado pelo coronel parece possuir propriedades que transcendem nossa compreensão atual da física. As marcas não são simplesmente padrões, são algum tipo de transmissão ou influência do próprio objeto.

Mais alarmante ainda é a possibilidade de que este processo continue mesmo após a remoção do objeto original, como sugerido na mensagem anônima. Seria possível que algo tenha permanecido após o desaparecimento de dona Zulmira. O professor não completou este pensamento. Na mesma noite em que escreveu esta entrada, acordou às 3:17, com a sensação de frio intenso em seu quarto, apesar do clima quente típico de junho na região.

Em seu diário, registrou ter percebido uma presença no quarto, não claramente definida, mas inegavelmente presente, como uma distorção no próprio ar. Nos dias seguintes, os sintomas físicos se intensificaram. As marcas circulares em seu antebraço tornaram-se mais pronunciadas e ele começou a experienciar períodos de confusão mental e lapsos de memória.

Em seu diário, as entradas tornam-se progressivamente mais desordenadas e fragmentadas, alternando entre análises acadêmicas lúcidas e passagens quase incoerentes sobre padrões não euclidianos e frequências além do espectro audível. Sua última entrada conhecida, datada de 28 de junho de 1965, consiste em apenas duas linhas de caligrafia trêmula. As paredes respiram.

Finalmente compreendo o que ele queria desde o início. Em primeiro de julho de 1965, o professor Josué Almeida não compareceu as suas aulas na universidade. Quando colegas foram à sua residência verificar seu bem-estar, encontraram o apartamento vazio, meticulosamente organizado, sem sinais de perturbação ou violência.

Sobre sua mesa de trabalho havia apenas uma antiga caixa de fósforos vazia e um relógio de bolso parado exatamente às 3:17. A investigação policial sobre o desaparecimento do professor foi tão superficial quanto aquela conduzida para dona Zulmira décadas antes. Após duas semanas de buscas nominais, o caso foi arquivado com a conclusão oficial de que a Almeida havia viajado sem aviso prévio por razões pessoais.

Uma explicação que seus colegas e estudantes consideraram completamente incompatível com seu caráter metódico e seu comprometimento com a instituição. Os documentos, fotografias e anotações relacionados à sua pesquisa sobre o caso cavalcante, que ele mantinha organizados em pastas específicas, desapareceram de seu escritório na universidade.

O único item remanescente foi um envelope selado endereçado ao reitor, contendo uma breve carta que dizia apenas: “Algumas histórias não devem ser contadas até o fim. Algumas portas não devem ser abertas. Peço desculpas por não poder explicar adequadamente minha partida. O molde em gesso do fragmento de pedra de ingá guardado em seu armário particular no departamento de história, também desapareceu.

Curiosamente, o fragmento original no pequeno museu de Ingá foi igualmente removido do acervo aproximadamente na mesma época, sem registro formal de sua transferência ou destino. Durante décadas, o caso permaneceu esquecido. da antiga residência dos Cavalcante funcionou como centro administrativo até 1982, quando foi transferida para instalações mais modernas.

A propriedade foi então adaptada para servir como anexo da diocese, função que mantém até hoje. Funcionários que trabalham no local ocasionalmente relatam fenômenos inexplicáveis: flutuações de temperatura em áreas específicas do piso térrio, falhas elétricas recorrentes sem causa identificável e, mais comumente, a sensação persistente de estarem sendo observados quando sozinhos no edifício.

Em 1997, durante a instalação de um novo sistema de drenagem, trabalhadores precisaram quebrar parte do concreto que preenchia as antigas áreas subterrâneas. Um dos operários, Severino Gomes, relatou ter encontrado embutido na massa de concreto um pequeno objeto cilíndrico de aproximadamente 10 cm de comprimento.

Antes que pudesse examiná-lo adequadamente, um representante da diocese apareceu e confiscou o item, instruindo os trabalhadores a não mencionarem o ocorrido e a prosseguirem imediatamente com o preenchimento da área escavada. Gomes, contudo, havia tocado brevemente no objeto. Nos meses seguintes, desenvolveu insônia severa e passou a relatar aos familiares que percebia vibrações estranhas vindas das paredes de sua casa.

Eventualmente, procurou o tratamento psiquiátrico após começar a notar padrões geométricos que surgiam em seu campo visual. Em 1998, foi internado após um episódio de comportamento errático, durante o qual tentou remover o reboco das paredes de sua residência, alegando que algo se movia dentro delas.

Durante o exame médico, foram observadas marcas circulares incomuns em seu antebraço esquerdo que ele insistia terem aparecido espontaneamente. A história oficial, aquela que consta nos registros municipais e eclesiásticos, é que dona Zulmira Cavalcante deixou Campina Grande voluntariamente em 1911 para cuidar de assuntos familiares e nunca retornou. Sua propriedade foi doada à igreja, conforme estipulado em seu testamento, e seu desaparecimento, como tantos outros daquela época, foi gradualmente esquecido, conforme a cidade se modernizava e expandia. A verdade, porém, aquela que emerge dos

fragmentos de documentos, testemunhos e coincidências perturbadoras, sugere algo muito mais inquietante. Algo que começa com uma descoberta arqueológica incomum em 1902 e se estende por décadas em uma cadeia de desaparecimentos, eventos inexplicáveis e manifestações de fenômenos que resistem a explicações científicas convencionais.

O que realmente aconteceu com dona Zulmira? O que estava contido no cilindro de pedra descoberto pelo coronel Augusto? E por tantos esforços foram feitos para selar fisicamente e ocultar documentalmente qualquer traço destas ocorrências? Talvez a resposta mais próxima da verdade esteja nas palavras finais da carta de dona Zulmira.

Há conhecimentos antigos que exigem um preço quando despertados. Um preço que parece ter sido pago não apenas pelo coronel Augusto e sua esposa, mas por todos aqueles que subsequentemente se aproximaram demais da verdade que eles descobriram. Hoje a antiga residência dos Cavalcante permanece na rua Maciel Pinheiro, sua fachada restaurada e preservada como patrimônio histórico.

Turistas e moradores locais passam por ela diariamente, admirando sua arquitetura colonial, completamente alheios ao que pode ainda residir em suas fundações, selado em concreto, mas talvez não verdadeiramente contido. E se ao caminhar por Campina Grande em uma noite particularmente silenciosa, você sentir subitamente um frio inexplicável ou ouvir um zumbido quase imperceptível emanando das paredes ao seu redor.

Lembre-se que algumas presenças não se limitam a locais específicos. Algumas entidades, uma vez contatadas, estabelecem conexões que transcendem barreiras físicas, encontrando sempre novos receptáculos para sua existência contínua.

Pois, como sugeriu o professor Almeida em suas últimas notas coerentes, o verdadeiro horror não está no que encontramos sepultado nas profundezas, mas na possibilidade de que, ao descobri-lo, permitimos que algo muito mais antigo que a humanidade encontre seu caminho de volta à superfície, usando-nos como pontes para um mundo que uma vez lhe pertenceu.

Algumas portas, uma vez abertas, jamais podem ser verdadeiramente fechadas novamente.

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