Enterrada Viva no Deserto, Ela Oferece o Corpo ao Rancher Solitário Pela Lei Apache: Ele Aceita?

Eli Carver guiava sua carroça-pipa pelas terras mortas.

O ruído das rodas moendo a areia e o cascalho era a única companhia no imenso vazio. Mas, de repente, em meio àquela monotonia áspera, ele captou algo diferente. Um som tênue, fraco como o último suspiro de alguém à beira da morte.

Ele puxou as rédeas, parou os muares, e desceu para escutar.

O som veio novamente.

“Me ajude.”

Eli virou-se, examinando o horizonte devastado. Na beira de um barranco, sob um monte de areia revolvida, algo tremeluziu. Era um fio de cabelo preto e, logo depois, um par de olhos.

Ele ajoelhou-se e começou a cavar. Cada punhado de areia queimava suas mãos calejadas pelo sol e pelo trabalho. Mas ele persistiu até libertar um corpo esgotado.

Era uma mulher Apache, reduzida a ossos e pele. Sua pele, castigada pelo sol inclemente, estava coberta de feridas e sujeira. Havia sangue escorrendo de seus pulsos, onde cordas haviam cortado fundo. Sua respiração era mínima. Os lábios, rachados e secos.

Eli pegou sua cantil e deixou algumas gotas escorrerem em sua boca.

Os olhos dela se abriram, atordoados. A voz saiu rouca, áspera como o vento soprando a areia.

“Você salvou minha vida. Pela lei da minha tribo, eu lhe devo meu corpo.”

Eli permaneceu imóvel. A luz do sol projetava sombras nítidas em seu rosto bronzeado e seus olhos cinzentos, duros como aço. Ele foi até a carroça, pegou um cobertor e o colocou gentilmente sobre ela.

Então, falou baixo: “O fato de você estar viva já é o suficiente. Não preciso do seu corpo.”

Ele a ergueu, colocando-a na carroça, e estalou as rédeas. As rodas voltaram a rolar pela areia, deixando para trás um buraco fundo, o lugar que hoje seria a sepultura dela.


A carroça de Eli rangeu pela trilha esburacada, um lamento metálico que parecia um grito de dor. O céu estava encoberto, e a luz severa do sol atravessava o passo da montanha, iluminando a figura curvada do homem que guiava e o corpo inerte da mulher enrolada no cobertor, deitada na traseira.

Eli Carver parou em frente a uma cabana velha. Suas paredes de madeira estavam rachadas pela idade, o telhado de lata desbotado pelo tempo. Era um lugar tão silencioso que nem mesmo o vento parecia ter motivo para passar por ali.

Ele a carregou para dentro.

Com cuidado, deitou-a numa cama coberta por um cobertor de lã desgastado. Em seguida, acendeu o fogão a lenha. A fumaça subiu, misturando-se ao cheiro de areia e sangue seco.

Limpar os ferimentos dela foi o próximo passo, enfaixando o braço que ainda sangrava. Suas mãos, mais habituadas a selas e revólveres, moviam-se com uma desajeitada delicadeza, tomando o máximo cuidado para não machucá-la.

Quando a água ferveu, ele preparou uma sopa simples e cortou pão seco em pedaços miúdos.

Ela continuava inconsciente. Os cabelos pretos, desgrenhados, escondiam a pele pálida sob a poeira. Eli a observou por um longo tempo, não com pena, mas com o olhar calmo de quem já tinha visto perdas demais na vida.

A noite caiu. O vento uivava através das fendas nas paredes.

Eli sentou-se perto da porta, com a mão repousada no cabo do revólver, como era seu costume. Dentro da cabana, o fogo tremeluzia, projetando sombras em seu rosto marcado: solitário, mas firme como uma rocha.

Algum tempo depois da meia-noite, ela acordou.

Os olhos se abriram em sobressalto e o medo a fez tentar se levantar.

“Onde estou?”

“Minha cabana,” respondeu Eli.

“Por que me salvou?”

Eli não a olhou. Falou apenas, com a voz baixa: “Porque ouvi que você ainda estava respirando.”

Ela olhou ao redor, notou a bandagem no braço, o cobertor limpo, a tigela de sopa esperando por ela. Os lábios tremeram.

“Não tenho nada para lhe dar além do meu corpo.”

Eli levantou-se para pôr mais lenha no fogo. “Você não precisa me dar nada. Apenas continue viva.”

Lá fora, o deserto jazia na escuridão. Dentro da cabana, o som do vento se misturava à respiração de duas pessoas. Uma fraca, a outra constante. De alguma forma, elas se encaixavam, como dois corações que procuravam um motivo para continuar.


Na terceira noite, o vento do deserto berrava através das fendas da cabana, chicoteando a porta de madeira rangente. O fogo no fogão tremeluzia, fraco, como se estivesse engasgando, projetando as sombras de duas almas solitárias nas paredes.

Nia estava sentada, imóvel. O cobertor escorregara de seus ombros, revelando contusões que desciam pelo seu pescoço e costas.

Em silêncio, Eli afiava uma faca pequena na mesa. O som do aço raspando a pedra era duro, mas constante.

Ela olhou para ele, a voz parecendo se desprender de uma pedra. “Você quer saber por que fui enterrada?”

Eli levantou os olhos. “Vá em frente.”

Ela respirou fundo. Seus olhos escuros refletiam a luz do fogo. “Ele era meu marido. Gareth.”

Nia fez uma pausa. Cada palavra caía pesada, como pedras atiradas em um poço.

“Ele casou comigo por causa de uma promessa que minha mãe fez à tribo. Mas, para ele, eu era apenas uma posse. Toda vez que bebia, me batia. Às vezes, sem motivo. Apenas para me lembrar de que tinha esse direito.”

O fogo crepitou, a luz dançando em seu rosto queimado de sol.

“Naquela noite, ele estava bêbado. Recusei-me a me curvar. Ele me amarrou, me arrastou para fora e disse que me ensinaria uma lição. Então, me enterrou na areia.”

“Eu gritei. Eu implorei. Ele apenas riu. Disse que quando eu parasse de respirar, o mundo ficaria finalmente quieto.”

Ela abaixou a cabeça. As lágrimas caíram e desapareceram instantaneamente em suas mãos em brasa. “Se você não tivesse vindo, a essa hora eu seria comida de abutre.”

Eli pousou a faca. Sem conforto. Sem piedade. Ele serviu uma dose de uísque e deslizou o copo em direção a ela. “Beba.”

Nia olhou para ele. “Você não tem medo de mim. Alguém que foi enterrada viva.”

“Alguém que foi deixada para trás,” respondeu Eli, a voz rouca, mas firme. “O que há para temer? Aqui fora, todos têm algo que os enterrou uma vez. A única diferença é que alguns ainda escolhem se levantar.”

Silêncio.

Lá fora, o vento seco carregava grãos de areia que raspavam na cabana como palavras não ditas. Lá dentro, o fogo pulsava suavemente, iluminando dois rostos. Um lavando a memória com lágrimas. O outro com a força tranquila de quem sabe escutar.


O sol nasceu tarde, depois de vários dias de vento e areia. A luz dourada e quente escoou pela janela de madeira, pousando suavemente no rosto de Nia enquanto ela abria os olhos.

Não havia mais pesadelos. Não havia mais gritos. Apenas o cheiro de fumaça do fogão e o tilintar suave de metal. Eli estava lá fora, na varanda, reforjando uma lâmina.

Ela tentou se sentar. Cada movimento ainda doía, mas não queimava mais.

Seus pés descalços tocaram o chão de madeira frio. As pernas tremeram. No entanto, ela andou. Abriu a porta e saiu.

O campo seco se estendia infinitamente. O vento levantava a poeira como névoa matinal. Uma sensação estranha a invadiu. Liberdade.

Eli levantou os olhos ao vê-la. “Você deveria descansar mais.”

“Já descansei o suficiente,” ela respondeu, a voz ainda áspera, mas firme.

Ele não disse mais nada. Apenas lhe entregou uma caneca de água e voltou a consertar os arreios.

Nia o observou. Seu olhar se suavizou gradualmente. Este homem não fazia perguntas. Ele apenas trabalhava como se a presença dela ali fosse a coisa mais natural do mundo.

Ao meio-dia, ela estava sentada na varanda, descascando batatas, observando Eli amarrar os cavalos, remendar a cerca e consertar a porta. O sol escurecia sua pele, o suor marcava suas costas, mas sua expressão permanecia serena. Havia algo sólido nele, como pedra, mas não frio.

Mais tarde, à tarde, Eli trouxe dois revólveres. Um menor. “Sabe atirar?”

Nia balançou a cabeça.

“Então, aprenda.”

Ele colocou a arma em suas mãos, ficou atrás dela, ajustou sua postura, ombro a ombro. “Fique firme. Respire fundo. Não pense nele. Pense em você.”

O tiro rasgou o ar seco. Uma lata tombou. Nia sorriu levemente. Foi o primeiro sorriso desde que ele a conhecera.

Eli olhou para ela, não disse nada, apenas fez um pequeno aceno. Naquele breve momento, ambos entenderam. O que eles buscavam não era mais apenas uma dívida a ser paga. Era uma nova forma de viver.

Naquela noite, sob a luz bruxuleante da lamparina de azeite, Nia costurava a camisa velha dele.

“Eu costumava pensar que só estava viva para suportar,” ela falou baixo.

Eli respondeu, os olhos ainda fixos no fogo. “E agora?”

“Agora, eu quero viver para lembrar como é esta sensação.”

Lá fora, o vento do deserto varria, carregando a poeira vermelha. O antigo observador de muitos que haviam se perdido. Mas, naquela noite, na pequena cabana de Hell Creek Hill, havia duas pessoas e dois fogos queimando juntos.


Na décima manhã desde o dia em que Eli tirou Nia da areia, o ar estava estranhamente parado. Uma brisa leve, céu limpo e o som constante de uma serra ecoavam do quintal. Nia estava pendurando cobertores para secar, os cabelos pretos soprando desgrenhados sobre a testa.

Tudo parecia tranquilo até que o som de cascos quebrou o silêncio.

Eli levantou os olhos. O tilintar de metal nas selas, vozes ásperas com sotaque do leste. Ele pousou a serra, limpou as mãos na calça e saiu para a varanda.

Pela estrada empoeirada, três homens a cavalo se aproximavam: um oficial e dois soldados da fronteira.

O líder parou e falou, a voz seca e cortante. “Bom dia. Estamos procurando uma mulher Apache que fugiu de sua tribo. Dizem que ela deveria ser punida por violar a lei tribal, mas está desaparecida há três semanas.”

Nia congelou atrás da porta, apertando a ponta do cobertor. O coração batia forte.

Eli não se virou, apenas inclinou levemente a cabeça. “Não vi ninguém por aqui. Somos só eu e algumas cabeças de gado teimosas.”

O oficial olhou por cima do ombro dele, examinando o interior da cabana. Nia se agachou um pouco, escondendo-se atrás da cortina. Ela podia ouvir as batidas do seu próprio coração, até mesmo a respiração pesada dos cavalos.

“Se a vir, avise o posto. Ela pode ser perigosa.”

Eli respondeu secamente. “O perigo não vem de quem está fugindo. Vem de quem está caçando.”

O oficial o encarou por um momento, depois bufou, puxando as rédeas. Os três cavalos se viraram, partindo. Uma nuvem de poeira subiu atrás deles, embaçando o sol.

Eli ficou parado ali, observando até que o som dos cascos desaparecesse no vento.

Quando se virou, Nia ainda estava no mesmo lugar. O rosto pálido, os olhos cheios de preocupação.

“Eles vão voltar, talvez. Por que você me ajudou?”

Eli olhou para ela por um longo momento. A voz se abaixou. “Porque uma vez vi outra mulher implorar do mesmo jeito que você. E não cheguei a tempo.”

As palavras caíram na quietude como uma faca.

Nia não perguntou mais nada. Ela se aproximou. A mão trêmula pousou gentilmente na dele. “Se voltarem, eu não vou me esconder.”

Eli acenou. “Ninguém precisa se esconder nesta casa.”

Lá fora, o primeiro vento da estação mudou de direção. Uma nuvem escura se formou no oeste. No céu, os abutres circulavam lentamente. Nenhum dos dois disse em voz alta, mas ambos sabiam que a paz acabara de chegar, e a tempestade estava a caminho.


Naquela tarde, o céu ficou cinzento, o ar pesado. O cheiro de chuva se misturava à terra seca. Eli estava na varanda, os olhos fixos nas nuvens escuras que desciam das montanhas ocidentais. Ele sabia que a tempestade estava chegando.

Nia recolheu a roupa, fechou as janelas. As mãos tremiam no vento crescente. Fios de cabelo preto voavam, grudando em suas bochechas úmidas de suor.

Enquanto fechava o último trinco, o trovão ribombou. Um relâmpago branco riscou o céu como uma faca.

Então, a tempestade veio. Os ventos uivavam, a chuva batia no telhado de lata. Lâminas d’água chicoteavam as paredes de madeira. A cabana inteira estremeceu sob a fúria da natureza.

Eli escorou a porta da frente, examinando o cômodo. O fogo no fogão se apagara. A única luz era a lamparina de azeite que tremeluzia na mesa.

Nia encolheu-se numa cadeira, agarrada a um cobertor. “Odeio trovões.” A voz dela era pequena, quase perdida.

Eli se aproximou e lhe entregou seu casaco grosso. “É só barulho.”

Ela soltou uma risada fraca. “Na minha tribo, eles dizem que o trovão é a raiva do espírito.”

“Aqui fora,” ele disse, “é só o céu aprendendo a respirar.”

Um clarão de relâmpago iluminou a janela, projetando seus rostos em forte relevo: um cansado, o outro assustado. Depois, a escuridão os engoliu novamente.

Eli sentou-se em frente a ela, colocando o revólver na mesa. Os dedos giravam o tambor lentamente, quase distraidamente. “O que te assusta mais? O trovão ou ele?”

Nia olhou para ele, os olhos profundos e brilhantes. “Ele ainda está na minha cabeça. Quer esteja morto ou vivo, eu ainda ouço a voz dele.”

Eles ficaram assim, sem dizer mais nada, escutando a chuva martelar o telhado.

Às vezes, a paz não vem do silêncio. Ela vem de ter alguém que fica.

Quando a tempestade começou a acalmar, Nia se levantou e caminhou em direção à lamparina. A luz capturou seu rosto, metade na sombra, metade na chama.

“Se você quiser, eu irei embora quando o sol nascer.”

Eli levantou os olhos. A voz baixa e firme como o chão sob eles. “Se eu quisesse que você fosse embora, teria deixado você morrer na areia.”

Nia parou. Ela o encarou por um longo tempo. Então, caminhou lentamente até a mesa. A lamparina entre eles continuou queimando, e pela primeira vez, nenhum dos dois sentiu frio.

Lá fora, a chuva ainda caía, mas agora soava como a terra respirando novamente depois de um longo sono.


Naquela manhã, ao amanhecer, o céu ainda estava encoberto pela névoa. O chão permanecia encharcado pela tempestade da noite anterior, quando o som de cascos ecoou de longe. Pesado, lento e assustadoramente familiar.

Eli estava rachando lenha quando parou. Os olhos fixos na trilha que subia a colina.

Através da névoa, três cavaleiros surgiram. No centro, Gareth. Um homem alto, ombros largos, o rosto marcado pela bebida e uma cicatriz irregular que lhe cortava o queixo. Seu olhar era metade escárnio, metade loucura.

“Ouvi dizer que alguém te tirou do deserto, Nia,” ele gritou, a voz ecoando pela pradaria. “Ora, venha para fora. É hora de voltar para casa, esposa.”

Nia saiu para a varanda. A cicatriz no ombro ainda estava visível. Os olhos, arregalados, mas calmos.

“Casa,” ela disse suavemente, a voz trêmula, mas cortante. “Minha casa é debaixo da areia, no mesmo lugar onde você me enterrou.”

Gareth riu e cuspiu no chão. “Vou te ensinar a falar direito de novo.” Ele fez um sinal para seus dois homens. Eles desmontaram, as mãos nos cabos das armas.

Eli saiu das sombras do celeiro. A luz fraca da manhã atingiu seu rosto bronzeado. Os olhos cinzentos, frios como aço. Ele não disse nada. Apenas carregou seu revólver, devagar, com firmeza, deliberadamente.

Gareth zombou. “Acha que pode me impedir de ficar com minha esposa, rancheiro?”

“Não estou impedindo ninguém,” respondeu Eli, a voz baixa e poderosa. “Mas se você trouxer violência para cá, pagará caro por isso.”

No momento em que as palavras deixaram seus lábios, o tiroteio explodiu.

Um dos homens de Gareth caiu instantaneamente. A areia voou em uma nuvem. O segundo revidou. Uma bala rasgou a janela da cabana.

Nia correu para a frente, segurando a pequena pistola que Eli a tinha ensinado a atirar, e puxou o gatilho. O tiro atingiu o homem no ombro. Ele desabou.

Gareth rugiu, sacou sua arma, mas Eli já havia se colocado entre ele e Nia.

Ambos atiraram quase ao mesmo tempo. O som das balas estalou pelos arredores.

Quando a fumaça se dissipou, Gareth estava de bruços. Sua arma havia sido arremessada para o lado. Sangue manchava seu ombro.

Eli se aproximou. Sua arma ainda estava apontada, mas ele não atirou novamente. Ajoelhou-se e disse, baixinho: “Um homem como você merecia morrer. Mas essa é a diferença entre você e eu.”

Ele puxou o cinto de Gareth, amarrou os pulsos dele firmemente e o arrastou até o portão.

Neste instante, o som de mais cascos se aproximou. A patrulha da fronteira estava de passagem. Eli apontou. “Tenho algo que vocês estavam procurando.”

O oficial examinou a cena, acenou com a cabeça e levou Gareth e seus homens sob custódia antes de partir.

Nia estava na varanda, os olhos cheios de lágrimas. Não de medo, mas pelo peso que se levantava de seu peito.

Eli limpou as mãos e se virou para ela. “Acabou?” ela perguntou baixinho. “Você se arrepende?”

“Não. Mas estou cansado.”

Eles se entreolharam. “Não mais areia. Não mais gritos. Apenas respiração. Real, quente e, finalmente, deles.”


A primavera voltou a Hell Creek tão silenciosamente quanto uma promessa.

Após meses de sol escaldante e tempestades de areia, grama fresca começou a brotar ao longo da cerca quebrada. Os pássaros voltaram para o telhado da velha cabana. O céu não queimava mais como uma fornalha, mas estava limpo como água da chuva, refletindo uma terra que antes havia sido esquecida.

Eli Carver estava sentado na varanda, cravando a última estaca de madeira no lugar. O suor escorria por sua bochecha marcada pelo sol, mas seus olhos não carregavam mais o vazio de antes.

Lá dentro, o cheiro de sopa flutuava pela cabana, junto com passos suaves.

A porta se abriu. Nia saiu. Seu vestido de algodão áspero era agitado pela brisa. As mãos seguravam uma caneca quente. O vento da primavera pegou seus longos cabelos pretos, roçando na leve cicatriz em seu pescoço. Uma marca que antes era de morte. Agora, não era mais vergonha. Era a prova de que ela havia sobrevivido.

Ela lhe entregou a caneca. “Está quente de novo.”

Eli tomou um gole e sorriu gentilmente. “É a primeira vez em anos que esta estação significa algo para mim.”

Nia sentou-se ao lado dele. “Na minha tribo, eles dizem que se alguém te tira da areia, a alma dele fica ligada à sua para sempre.”

Ele olhou para ela, meio sorrindo, meio suspirando. “Não acredito em almas.”

Ela olhou para cima. Seus olhos escuros capturavam a luz do sol. “Eu também não, até te conhecer.”

Silêncio.

O vento varreu o campo, ondulando a grama jovem como ondas. Nia colocou a mão sobre a barriga com tanta naturalidade que Eli congelou. Ela falou suavemente. A voz trêmula, mas brilhante como a luz da manhã.

“Talvez em breve haja mais alguém aqui para escutar este vento conosco.”

Eli não disse nada. Ele apenas olhou para ela e depois para a terra aberta, onde a luz do sol se espalhava e a vida voltava lentamente após a tempestade. Em seus olhos, algo mudou. Algo que ele pensava ter morrido com sua esposa e filho começou a se agitar novamente.

Ele se levantou, caminhou até a cerca e tocou o novo poste de madeira. “Isso é para o futuro. Para que, quando alguém crescer aqui, saiba a linha entre o medo e a liberdade.”

Nia parou atrás dele. O vento lhe levantava o cabelo. Ela sorria. “Esta terra uma vez me engoliu. Agora, me deu vida de novo. Talvez ela tenha escolhido você para me ajudar a ficar.”

O sol se inclinou para o oeste. A luz dourada derramou-se sobre a cabana, projetando duas longas sombras, lado a lado. Ao longe, um cavalo relinchou. O som foi levado pela brisa.

Tudo parecia parado.

Sem votos. Sem casamento. Apenas duas almas que antes foram enterradas na areia. Agora, observando a primavera voltar juntas.

O Oeste não promete nada além de vento, poeira e solidão. Mas, às vezes, no meio de todo esse vazio, duas pessoas se encontram. Não para esquecer o passado, mas para provar que até mesmo a terra morta pode florescer novamente.

Related Posts

Our Privacy policy

https://abc24times.com - © 2025 News