
«Ei, ei, família Soul Stories. Estamos prestes a iniciar uma nova jornada de amor. Comentem de onde vocês estão assistindo, assim podemos ver que nossa família Soul Stories está espalhada pelo mundo.»
O valsar cresceu, deslizando pelo salão de baile, reluzente com lustres de cristal. Vestidos brancos rodopiavam, ternos pretos exalavam elegância.
Copos de cristal brilhavam, tudo se fundindo em um retrato perfeito de felicidade. Nesse quadro, apenas um lugar se destacava. Um homem sentado silenciosamente em uma mesa VIP, cercado por olhares desconhecidos. Ethan Blackwood, um nome que antes fazia os círculos financeiros europeus e americanos estremecerem.
Herdeiro da Blackwood Capital, o CEO mais jovem a figurar na lista da Forb, um símbolo vivo de poder. Mas esta noite, toda aquela glória era ofuscada pela cadeira de rodas cromada abaixo dele. Ethan estava sentado ereto, smoking perfeitamente ajustado, gravata de cetim preta impecável, seus olhos azul-cinza profundos varrendo a multidão. Mas seu olhar não carregava alegria.
Refletia distância, como se ele fosse alguém fora da parede de vidro observando a festa de longe. Ele já foi o centro de tudo, um cavaleiro habilidoso, um CEO estampando capas de revistas. Mas desde o acidente de carro há dois anos, tudo desmoronou. Sua noiva, Clara, o deixou logo após o médico anunciar que Ethan poderia passar a vida em uma cadeira de rodas.
Amigos se afastaram. Sócios mantiveram distância. E agora, neste casamento, ele não era mais que o convidado deficiente sentado sozinho. O copo de champanhe em sua mão permanecia intocado. Ele nem se dava ao trabalho de beber. O riso agudo da pista de dança apenas apertava seu coração.
«As pessoas vêm aqui para celebrar o amor», pensou amargamente, seus lábios curvando-se em um sorriso seco. «Eu vim aqui para lembrar como perdi o meu.»
Memórias surgiram: o anel de noivado que ele nunca chegou a entregar. Clara indo embora em lágrimas, sussurrando: «Não posso viver esse tipo de vida.» A porta se fechou com estrondo. Ele ficou sozinho, exatamente como agora.
A música mudou para uma balada suave. Casais se dirigiram à pista de dança. Até o tio mais velho pegou a mão de sua esposa, olhos cheios de ternura. Toda a luz brilhava sobre eles, enquanto a escuridão cobria Ethan. Ele recostou-se na cadeira, pálpebras semi-cerradas.
A insegurança o corroía, outrora orgulhoso, agora nada mais que um fardo para o mundo. E então ele ouviu uma risada diferente das outras. Não a risada contida e elegante da elite, mas uma risada brilhante, genuína, daquelas que cortam o ar estranho da festa.
Ele abriu os olhos. Na última mesa, uma jovem em um vestido azul simples tentava acalmar um menino inquieto.
O menino colocou um guardanapo na cabeça, fingindo ser um super-herói, e explodiu em risadas. A mãe riu junto com ele, em vez de se envergonhar.
Naquele instante, Ethan sentiu seus ombros relaxarem inesperadamente. Ele não percebeu que seu olhar havia permanecido sobre ela por tanto tempo. Ela não era deslumbrante como Clara. Sem maquiagem pesada, sem vestido glamoroso.
Mas aquele sorriso, aquela calorosa presença, de repente fez a sala barulhenta silenciar dentro dele. Por um momento fugaz, ele esqueceu que estava em uma cadeira de rodas. Ele até esqueceu os sussurros de piedade ao redor.
Então o menino, com cerca de seis anos, apontou para ele e gritou: «Mamãe, olha. Aquele homem tem a cadeira mais legal de todas!»
O salão inteiro se virou para olhar. Ethan congelou.
Normalmente, palavras assim cortariam como facas, mas desta vez, em vez de piedade, os olhos do menino brilhavam com pura admiração. A mãe corou, tentando acalmar o filho. Mas então ela riu, balançando a cabeça. Seus olhos encontraram o olhar quente e firme de Ethan. E naquele segundo, Ethan não se sentiu tão sozinho.
O casamento brilhava como um sonho luxuoso. Seda branca pendia do teto, rosas alinhavam os corredores, e risadas elegantes ecoavam entre os cristais que tilintavam.
No canto mais distante do salão, uma mesa redonda pequena estava isolada, assim como as pessoas sentadas ali. Sophie Miller estava naquela mesa.
Ela alisava seu cabelo castanho ondulado e suspirou ao perceber que não havia um único rosto familiar ao redor. Ela tinha 29 anos, embora seus olhos brilhantes e sorriso juvenil a fizessem parecer pouco mais de 20. Ela havia sido convidada apenas por uma conexão frágil. Emily, a noiva de hoje, fora sua colega de faculdade em literatura. Compartilharam alguns livros e sessões de estudo.
Mas após a formatura, Emily mergulhou em sua carreira e casamento, enquanto Sophie se consumia em ser mãe solteira. Ela olhou ao redor. As mesas próximas ao palco estavam cheias, transbordando de vestidos e sorrisos polidos. A mesa de Sophie, empurrada para a borda perto da porta, parecia lembrá-la de que ela não pertencia àquele mundo.
Sophie respirou fundo, lembrando-se: «Vamos lá, Miller. Não fique abatida. Você não veio aqui para impressionar ninguém. Só para dar sua bênção, comer uma fatia de bolo e ir embora.»
Puxando a cadeira ao lado dela, seu filho de seis anos, Leo, subiu correndo, olhos verdes brilhantes fixos no salão. «Uau, mamãe. Este lugar parece um filme de conto de fadas. E aquele piano é enorme, como o da casa do Papai Noel.»
Sophie riu: «Sim, mas lembre-se de sentar direito. Somos convidados, não as estrelas do show.»
Leo apoiou o queixo na mão e sussurrou: «Acho que eu poderia ser um super-herói secreto. Vou proteger a noiva dos vilões.»
«Que vilões?» Sophie ergueu a sobrancelha.
«Aqueles que não deixam ela comer o bolo do casamento», respondeu Leo de forma objetiva, fazendo Sophie rir alto, quase engasgando com seu suco de laranja.
Enquanto Sophie se perdia em pensamentos sobre as contas de serviços do próximo mês, Leo de repente deixou cair a colherada de sorvete e apontou para a seção VIP.
«Mamãe, olha. Aquela cadeira é tão legal!»
Sophie olhou para cima. No centro do deslumbrante salão de baile, onde todos podiam ver, um homem estava sentado silenciosamente em uma cadeira de rodas brilhante. A luz dourada derramava-se sobre seu cabelo curto e bem cortado.
Um smoking preto esticava-se perfeitamente sobre ombros largos. Ele não sorria. Seus olhos cinza, como o céu de inverno, olhavam para o horizonte, sem se fixar em ninguém.
O coração de Sophie disparou. Algo em sua postura apertou seu peito. Não por pena, mas por reconhecimento. Durante anos, ela havia se acostumado a estar à margem.
Amigos se afastaram depois que ela decidiu manter Leo quando o pai desapareceu. Família culpando-a por arruinar seu futuro. E agora, neste casamento feliz, ela ainda estava na última mesa, sentada silenciosa com seu filho.
Seus olhos encontraram os do homem por apenas um segundo, mas parecia que ele podia vê-la claramente.
«Mamãe, por que ninguém está sentado com ele?» Leo inclinou a cabeça, voz inocente.
«Talvez estejam desconfortáveis», sussurrou Sophie.
«Desconfortáveis com o quê?»
«Ele tem a cadeira mais legal daqui. Quero experimentar.»
Sophie deu uma risada nervosa, balançando a cabeça. «Não, Leo, isso não é um brinquedo.»
Mas o menino continuava olhando, seus olhos brilhando de curiosidade que os adultos já haviam perdido há muito tempo.
Sophie desviou o olhar, focando em seu prato, mas por dentro estava inquieta. A imagem daquele homem permanecia. Por que um bilionário famoso parecia tão sozinho? Por que seus olhos lembravam os dela naquele dia da formatura, quando ela observava fora do campus enquanto os amigos se abraçavam, e ela permanecia sozinha, com oito meses de gravidez?
O valsar mudou para um swing animado. O mestre de cerimônias convidou todos para a pista de dança.
Aplausos, gritos, passos preenchiam o salão. Tudo brilhava de alegria, exceto pela última mesa, na seção VIP. Ambos permaneciam em silêncio.
Sophie olhou para seu filho. Leo aplaudia junto com a música, mas seus olhos continuavam a observar o homem na cadeira de rodas. Ele sussurrou:
«Mamãe, acho que ele precisa de um parceiro de dança.»
Sophie congelou, depois riu: «Querido, como ele poderia dançar?»
Leo franziu o nariz e sussurrou firmemente: «Dançar não precisa de pernas. Só precisa de alguém que queira dançar com você.»
A inocência das palavras dele abalou o coração de Sophie. Ela virou a cabeça. O homem ainda estava imóvel, olhos semicerrados, como se o mundo não tivesse lugar para ele.
Um impulso estranho surgiu dentro dela, não de pena, mas de uma ideia atrevida e ousada. Essa era Sophie, desajeitada, mas sempre corajosa o suficiente para fazer o que outros não fariam.
Ela pegou um gole de vinho, sentindo o rosto corar. O coração batia acelerado, como se ela estivesse prestes a fazer algo imprudente.
Leo se inclinou, sussurrando: «Mamãe, aposto que ele vai sorrir se você falar com ele.»
Sophie suspirou, mordendo o lábio.
Uma voz interior avisava: «Miller, não seja tola. Quem é ele? Um estranho? Um bilionário? Um homem em uma cadeira de rodas?»
Mas então outra voz sussurrou mais forte: «E daí? Um sorriso não custa nada. E talvez, apenas talvez, possa salvar alguém.»
Sophie piscou, olhou para o filho, depois para o homem novamente. Naquele instante fugaz, ela sabia de uma coisa com certeza.
O destino acabara de colocá-la dentro da história.
A música mudou para uma canção de amor suave. As luzes diminuíram, destacando a pista de dança. Casais deslizavam de mãos dadas. Vestidos brancos rodopiavam nos braços de smokings pretos. Risadas felizes misturavam-se com notas persistentes de violinos.
Na mesa VIP, Ethan Blackwood permanecia imóvel, sua cadeira de rodas destacando-se entre as fileiras de cadeiras cobertas de seda. Ninguém se aproximava.
Havia olhares furtivos de longe, muitos sussurros, mas nenhum se atrevia a se aproximar. Ele estava acostumado com isso. Nos últimos dois anos, o silêncio tinha sido seu único companheiro em festas.
Pessoas vinham apertar sua mão, trocar algumas palavras educadas, e depois se afastavam rapidamente, deixando-o com sua solidão.
Um pensamento amargo o atingiu. Um CEO que nem mesmo consegue encontrar um parceiro de dança em seu próprio evento. Patético.
Ethan tomou um gole de champanhe, o amargor na língua misturando-se com a dor no peito. Ele se perguntou se deveria sair mais cedo.
Na última mesa, Sophie Miller ainda o observava. Seu coração disparava como se algum fio invisível a puxasse em direção àquele homem.
Ela não era impulsiva, mas sua veia brincalhona às vezes a levava a fazer coisas que ninguém esperava. Especialmente quando Leo, seu pequeno, inclinou a cabeça e sussurrou, olhos brilhando:
«Mamãe, acho que ele precisa de um amigo. Por que você não é a amiga dele?»
Sophie riu, balançando a cabeça. «Querido, eu nem o conheço.»
«Mas você conhece mais alguém aqui?» Leo perguntou inocentemente.
A pergunta a pegou desprevenida. Verdade.
Naquele salão brilhante, ela estava tão sozinha quanto ele.
Um pensamento ousado passou por sua mente. Antes que pudesse pensar demais, Sophie deixou o copo e respirou fundo.
«Bem, um movimento louco não vai me matar.»
Ela se levantou, atravessando as mesas, os saltos tocando suavemente o chão de madeira.
Olhares curiosos a seguiam, perguntando silenciosamente: «O que aquela garota da última mesa está fazendo?»
Ethan percebeu a mulher se aproximando. Ele ergueu a sobrancelha. Cenários familiares passaram por sua mente. Ela ofereceria pena ou sugeriria ajuda. Ele estava cansado de ambos.
Mas Sophie parou na frente dele, inclinou-se levemente e sorriu.
Seus olhos castanhos brilhavam com travessura. Então, com uma voz suave mas firme, perguntou:
«Quer ser meu par esta noite?»
O salão de baile parecia prender a respiração. O silêncio se estendeu por um instante. Então, o impensável aconteceu: Ethan riu.
O som era áspero, baixo, desconfortável, como se ele tivesse esquecido que ainda podia rir.
O salão parecia conter a respiração. Sussurros surgiram: «Quem é ela?», «Oh meu Deus», «Será que é pena?». Mas Sophie não se importou.
Ela colocou o braço em volta do encosto, descansando a mão naturalmente sobre a cadeira de rodas como se aquilo fosse a coisa mais natural do mundo.
«Pronto, Sr. Blackwood?» — murmurou ela, alto o suficiente para ele ouvir.
Ethan arqueou uma sobrancelha. «Pronto para ser olhado como um animal em uma jaula?»
«Não!» — Sophie riu, olhos brilhando. «Pronto para se tornar a estrela desta pista de dança?»
Ethan balançou a cabeça com um leve sorriso, impotente. Ele não sabia por que a deixou arrastá-lo para essa loucura. Mas uma coisa era certa: fazia muito tempo desde que seu coração batia tão rápido.
A música encheu o salão. Sophie girou a cadeira de Ethan em um círculo, como uma dançarina rodopiando. Seu vestido azul esvoaçava levemente, e o cabelo castanho brilhava sob as luzes.
O público ofegou. Ethan segurou os braços da cadeira, surpreso.
«Você está tentando me transformar em um carro de corrida?»
«Você é meu parceiro», — Sophie brincou com um sorriso travesso — «e esta cadeira é a melhor perna da noite.»
Ela o empurrou para frente, depois para trás, girou novamente com graça. Ethan sentiu seu corpo se mover no ritmo, não passivamente, mas como parte da dança.
A sensação era nova. Durante meses, ele havia permanecido imóvel, observando a vida de fora. Mas agora, sob as mãos de Sophie, ele estava dentro da dança.
Risadas surgiram. Crianças aplaudiam. Adultos, depois de um momento de surpresa, começaram a bater palmas.
«Veja», — sussurrou Sophie, inclinando-se para perto dele, rosto próximo ao seu — «você pode dançar. Só precisava do parceiro certo.»
Seus olhos se encontraram. O calor perfurou o gelo que havia aprisionado o coração de Ethan por anos.
Então uma voz aguda soou:
«Mamãe, eu também quero dançar.»
Leo correu da última mesa direto para o círculo, com um guardanapo branco amarrado no pescoço como capa de super-herói.
«Ei, senhor, deixe-me dançar com você.»
Ethan riu de verdade, profundo, balançando o peito.
«E o que devo fazer, garoto?»
«Fácil», — anunciou Leo solenemente, subindo atrás da cadeira e segurando os braços com Sophie — «serei seu motor extra.»
O salão explodiu em risadas. Sophie fingiu suspirar exasperada, mas seus olhos brilhavam de alegria.
«Muito bem, senhores. Vamos mostrar ao mundo como podemos dançar.»
E assim, sob as luzes de cristal, uma cena inesquecível se desenrolou: um homem em uma cadeira de rodas, uma jovem cheia de luz e um menino animado de seis anos transformando a pista de dança em seu palco.
Sophie girava a cadeira.
Leo gritou: «Vrum, vrum!» com toda a força. Ethan ria sem parar.
Os aplausos trovejaram.
Os sussurros de pena se dissolveram, substituídos pela admiração e espanto.
Naquele momento, Ethan percebeu algo: Sophie não o via como um homem com deficiência, nem como um CEO caído, nem como alguém abandonado.
Para ela, ele era simplesmente um homem. Um homem que podia rir, viver e trazer alegria a uma criança.
A sensação era tão intensa que apertava o peito dele.
A música terminou com um acorde longo e persistente. Sophie parou a cadeira, inclinando-se em uma reverência de dançarina.
Leo abriu os braços e gritou: «Tcharam!»
O salão explodiu em aplausos.
Ethan olhou ao redor, lábios curvados em um sorriso, olhos iluminados por algo que nem ele mesmo reconheceu: felicidade genuína.
Ele se virou para Sophie e sussurrou, apenas para ela:
«Danke. Faz tanto tempo que eu não me sentia vivo.»
Sophie encontrou seu olhar, caloroso e terno.
«Du bist nicht nur lebendig, Ethan. Du strahlst.»
E naquele momento, o resto do mundo desapareceu.
O restaurante Riverside, no Japão, exalava elegância com tatames, decoração delicada e o leve aroma de chá verde.
Ethan entrou com Sophie ao lado, vestida com um simples vestido creme. Não era glamouroso, mas irradiava graça silenciosa.
James inclinou-se e sussurrou: «Fräulein Miller kann helfen, falls sie eine sanfte Übersetzung brauchen.»
Sophie sorriu: «Ich bin nur für das Sushi hier, aber wenn es darum geht, eine Firma zu retten, bin ich bereit.»
Ethan riu pela primeira vez naquele dia, e a tensão se dissipou.
À cabeceira da mesa, sentava-se o Sr. Moramoto, um homem de meia-idade severo, e sua esposa. Eles se curvaram educadamente, olhos atentos e observadores.
A conversa inicial foi pesada. Ethan apresentou sua visão, números e estratégia. Ainda assim, o rosto do Sr. Moramoto permaneceu imóvel, palavras escassas, olhares escapando agora e então para a esposa, em japonês.
O conselho estava parcialmente certo. A imagem de um CEO em cadeira de rodas não transmitia a força esperada.
Sophie percebeu, e quando o sashimi chegou, inclinou-se para frente.
«Oh não», — riu, derrubando uma fatia de peixe no molho de soja — «estou praticando há três semanas e ainda não consigo dominar isso. Sr. Moramoto, você tem algum segredo para que eu não transforme o sushi em sopa?»
Pela primeira vez, a Sra. Moramoto cobriu a boca e riu. O rosto severo do Sr. Moramoto suavizou-se ao olhar para a esposa.
«Fräulein Miller, wir glauben, es braucht ein ganzes Leben, um wirklich Stäbchen zu meistern. Sie sind noch jung. Sie haben noch viel Zeit.»
A mesa riu.
Sophie continuou calorosamente: «Felizmente, não estou aqui para provar que sou boa com hashis. Estou aqui porque acredito nesta empresa e no homem ao meu lado, que sabe agarrar o que realmente importa. Não são as pernas, mas a visão.»
Suas palavras atingiram o alvo.
Os olhos da Sra. Moramoto brilharam e ela sussurrou algo para o marido. Ele pausou e deu um leve aceno.
Ethan aproveitou o momento, detalhando os benefícios mútuos. Desta vez, o Sr. Moramoto ouviu atentamente, não mais olhando para a cadeira, mas para o homem que falava com convicção.
No fim do jantar, quando o chá foi servido, o Sr. Moramoto disse lentamente: «Blackwood Capital hat einen Leiter, der zuhört, und einen Verbündeten, der Vertrauen schafft.»
«Ich glaube, wir können unterschreiben.»
Ethan apertou o braço da cadeira, pulso acelerado. Curvou-se profundamente, voz firme: «Arau Gyimasu.»
A Sra. Moramoto virou-se para Sophie com um sorriso caloroso: «Danke, dass Sie heute Abend Wärme gebracht haben.»
De volta ao carro, Ethan ficou em silêncio por um longo momento. As luzes da cidade refletiam no rio, espelhadas em seus olhos.
«Hm, você percebe o que acabou de fazer? Você salvou uma empresa inteira.» — disse ele suavemente a Sophie.
«Não, eu só deixei cair um pedaço de sashimi» — riu ela.
Ethan riu alto, um som raro, mais leve do que havia sido em anos. Pela primeira vez em muito tempo, ele não se sentiu um peso nos negócios. Ele viu uma parceira, alguém que podia colocar calor em meio a números frios.
Em seu coração, uma verdade se tornou clara: Sophie não apenas lhe trouxe sorrisos, mas também a força para continuar se levantando à sua maneira.
A sala de fisioterapia brilhava sob luz intensa.
O cheiro forte de antisséptico misturava-se ao calor do mentol.
Barras de aço paralelas se estendiam pelo ambiente, onde pacientes praticavam cada passo trêmulo.
Ethan sentou-se à beira da cadeira de rodas, suor já pingando na testa, embora ainda não tivesse se movido.
Seu terapeuta, Sr. Harris, estava próximo, severo, mas paciente.
«Mr. Blackwood, hoje vamos tentar ficar em pé. Sem degraus, apenas ficar de pé. Estarei bem aqui.»
Ethan assentiu levemente, mãos grandes apertando o encosto da cadeira, veias saltando. Ele esperava este dia, o dia em que testaria seu corpo contra a prisão da cadeira.
No canto, Sophie observava, coração disparado. Desde que o conhecera, ela viu seus olhos cinzentos mascararem tanto orgulho. Hoje, aqueles olhos ardiam novamente com esperança e medo.
«Pronto», disse Harris. «Um, dois, três.»
Ethan empurrou com os braços, convocando cada gota de força para suas pernas há muito esquecidas.
Os músculos tremeram. O suor escorria pelo chão. Por um instante, os joelhos pareciam firmes, lembrando a função que haviam abandonado.
Então, thud. Seu corpo caiu. Os joelhos bateram no chão com um estalo brutal.
«Ethan!» Sophie gritou, correndo para ele.
Ele apoiou as mãos, mas tremiam violentamente, incapazes de sustentá-lo.
Seu rosto se contorceu, respiração ofegante, como um animal acuado.
«Chega!» — Ethan rugiu, voz crua — «Não consigo. Sou apenas um homem numa cadeira. Todo esse esforço é inútil.»
As palavras ecoaram pelas paredes esterilizadas.
Harris avançou, mas Sophie já estava ajoelhada à frente dele, envolvendo-o em um abraço.
Ele tremia violentamente em seus braços, raiva, desespero e agonia colidindo dentro dele.
O peito dele subia e descia, respiração entrecortada, como se quisesse soluçar, mas se recusasse.
Sophie apertou-o mais forte, voz quebrando, mas estranhamente rindo ao mesmo tempo.
«Basta, Ethan. Se você passar o resto da vida nessa cadeira, ainda estarei aqui. Entende? Estou com você por você, não por suas pernas.»
Ethan fechou os olhos, deixando as primeiras lágrimas em anos caírem, escorrendo pelos cabelos de Sophie.
Pela primeira vez, deixou-se quebrar.
E pela primeira vez, acreditou que não precisava lutar sozinho.
Harris desviou o olhar, fingindo estar ocupado com os equipamentos, dando a eles o espaço necessário.
Sophie aproximou-se mais, batimento acelerado contra o peito dele.
«Você não precisa ser perfeito, Ethan. Apenas precisa ser você mesmo, e se precisar, eu serei as pernas nas quais você pode se apoiar.»
Uma risada escapou dele entre as lágrimas.
«Você é louca.»
«Sim», Sophie sussurrou de volta, rindo entre as lágrimas. «Mas do tipo certo de louca, e eu não vou te deixar.»
Naquele momento, Ethan sentiu a escuridão dentro dele rachar o suficiente para que a luz entrasse.
Não a luz de promessas de andar da noite para o dia, mas a luz da esperança, a luz do amor sem condições.
Ele levantou a cabeça e encontrou o olhar de Sophie.
E pela primeira vez na vida, acreditou que, mesmo que suas pernas nunca se movessem novamente, ainda poderia seguir em frente, porque ao lado dele havia alguém que sempre colocaria sua mão na dele e caminharia por toda a estrada com ele.
O salão de festas do Metropole Hotel brilhava sob os lustres de cristal.
Nas mesas cobertas com toalhas brancas impecáveis, buquês de rosas amarelas misturavam-se a flores hortênsias, simbolizando fé e gratidão.
Naquela noite, o nome de Ethan Blackwood estava por trás de um baile de caridade para órfãos, sua primeira aparição pública em anos após se afastar da imprensa.
Em uma mesa próxima ao palco, Sophie apertou delicadamente a mão de seu filho.
Leo olhou ao redor com olhos grandes e brilhantes, sussurrando:
«Mamãe, todos aqui parecem estar em um filme. Preciso me curvar ou algo assim?»
Sophie riu, endireitando a pequena gravata dele.
«Não, querido. Apenas sorria. Seu sorriso faz todos felizes.»
Do outro lado da sala, Ethan se aproximou deles, rosto calmo, embora seus olhos traíssem um lampejo de nervosismo.
Quando viu Sophie e Leo, seus ombros relaxaram, e um leve sorriso surgiu.
No palco, o holofote iluminava o púlpito de madeira.
Ethan se aproximou, e o murmúrio no salão cessou.
A imagem de um CEO em cadeira de rodas, antes alvo de ridículo, agora atraía silêncio e expectativa.
«Obrigado a todos por estarem aqui», sua voz profunda soou firme e clara.
«Eu costumava acreditar que, quando minhas pernas não podiam mais me sustentar, eu não tinha nada a oferecer. Mas aprendi que sempre podemos dar com o coração, com a mente e com a fé.»
«Esta noite, quero entregar essa fé às crianças que nunca tiveram escolha em suas circunstâncias.»
O aplauso trovejou.
As câmeras dispararam.
Enquanto Ethan continuava seu discurso, Leo, que estava quieto, subiu de repente ao palco.
Sophie arfou, levantando-se de repente.
Antes que pudesse detê-lo, o menino agarrou a mão de Ethan e puxou o microfone até seu nível.
«Olá a todos», a vozinha de Leo soou alta, mas firme.
«Sou o Leo. Vim aqui com mamãe…»
Ele fez uma pausa, virando-se para Ethan, olhos brilhando de emoção.
«…com papai hoje.»
Todo o salão congelou.
Então veio uma onda de risadas suaves misturadas com admiração.
As câmeras dispararam em rajadas, capturando a cena do menino de seis anos abraçando o braço do homem na cadeira de rodas com inocência e orgulho.
O coração de Ethan se apertou.
Por um momento, ele não conseguiu respirar.
Ninguém jamais o chamara de pai antes.
E agora, pelos lábios de uma criança que ele já amava como sua, a palavra mais sagrada do mundo soou.
Ele inclinou-se, mão firmemente sobre o pequeno ombro de Leo.
A voz dele falhou, mas carregou:
«E estou orgulhoso de ser seu pai. Não apenas hoje.»
O salão explodiu em aplausos.
Sophie correu ao palco, pegando Leo no colo, rosto vermelho de pânico.
«Leo, o que você está fazendo? Isso não é…»
Mas Ethan ergueu a mão, interrompendo-a, olhos fixos nos de Sophie, impassíveis pela primeira vez sob o brilho de centenas de flashes.
Ele apertou sua mão com firmeza.
«Quero que todos aqui saibam que família nem sempre é escrita no sangue. Às vezes, é uma escolha. E esta noite, escolho ela e este menino como minha família.»
Por um segundo sem fôlego, silêncio pairou.
Então todo o salão se levantou.
Aplausos retumbavam como ondas.
Na primeira fila, a Sra. Moramoto sorriu, acenando em aprovação.
As câmeras dispararam, capturando a imagem de um bilionário em cadeira de rodas, segurando a mão de uma mulher simples e seu filho, uma imagem mais calorosa do que qualquer discurso.
Mais tarde, quando o público se dispersou, Sophie sentou-se com Ethan em um corredor silencioso, bochechas ainda queimando.
«Você acabou de dizer a todo o salão que Leo e eu somos sua família. Sabe o que a imprensa vai dizer?»
Ethan voltou-se para ela com um sorriso, expressão desarmada e gentil.
«Deixe que escrevam. Pela primeira vez, quero que a imprensa diga a verdade.»
Sophie não encontrou palavras.
Sob o brilho dourado dos arandelas, seu rosto não carregava mais a armadura fria.
Apenas calor, apenas paz.
Leo apoiou a cabeça no ombro de Ethan, pálpebras pesadas.
«Viu? Eu estava certa, papai.»
Ethan sorriu suavemente, beijando o cabelo bagunçado do menino.
«Sim, papai está aqui.»
As campainhas soaram, claras e brilhantes, ecoando pela velha catedral.
Todos se voltaram, em silêncio, enquanto a noiva aparecia.
Sophie entrou, seu vestido de noiva simples, sem brilho exagerado, mas radiante além da medida.
Seu sorriso iluminava como uma luz guia.
A cada passo que dava, pétalas brancas caíam no chão, traçando um caminho de felicidade.
No final do corredor, Ethan esperava em sua cadeira de rodas familiar.
O smoking preto delineava seus ombros largos, seu rosto calmo, mas os olhos ardendo com brilho.
Quando Sophie se aproximou, seu coração disparou, como se todos os anos de escuridão tivessem conduzido a este momento.
Sussurros suaves percorreram os bancos, não de piedade, mas de admiração.
Aqui estava um CEO, outrora marcado como incapacitado, agora esperando orgulhosamente pelo amor de sua vida.
Sophie parou diante dele.
Ethan ergueu o olhar, seus olhos cinza tempestade encontrando os castanhos quentes dela.
Todo o mundo parecia se dissolver, restando apenas os dois, como na cafeteria na noite do pedido, como nos bastidores do casamento anos atrás.
A voz solene do padre soou sob o teto abobadado:
«Ethan Blackwood, aceita Sophie Miller para amar e prezar, na riqueza e na pobreza, na doença e na saúde, enquanto ambos viverem?»
A voz de Ethan foi baixa, mas inabalável.
«Ich will.»
«Sophie Miller, aceita Ethan Blackwood para amar e prezar? Até que a morte os separe?»
Lágrimas escorreram pelas bochechas dela enquanto sorria.
«Ich will.»
A catedral explodiu em aplausos, misturados com o suave som do órgão.
Então vieram as palavras:
«Agora, pode beijar a noiva.»
Sophie inclinou-se, pronta para beijá-lo, como tantas vezes antes.
Mas Ethan colocou as mãos nos apoios e respirou fundo.
Para espanto de todos, empurrou-se para cima.
As pernas tremiam, todo o corpo lutando contra a gravidade.
James apareceu rapidamente com um par de muletas escondidas atrás do altar, mas Ethan segurou apenas uma levemente.
Ele queria que suas pernas suportassem o peso, mesmo que apenas por alguns segundos.
A sala caiu em silêncio, sem fôlego.
Sophie congelou, mãos trêmulas contra os lábios.
Lágrimas escorreram ainda mais rápido, borrando sua visão.
Ethan se inclinou, sorriso radiante se espalhando pelo rosto:
«Ich möchte, dass du eine Erinnerung hast, die du nie vergessen wirst. Den Moment, in dem dein Bräutigam aufgestanden ist, um dich zu küssen.»
E então, pela primeira vez desde o acidente, suas pernas se firmaram enquanto ele se inclinava e pressionava o beijo mais sagrado nos lábios de Sophie.
A catedral explodiu em aplausos e gritos.
As câmeras dispararam como fogos de artifício.
Leo saltou, gritando até o teto:
«Papa está de pé! Papa é um super-herói!»
Risadas e lágrimas se misturaram, criando a mais bela música de amor.
A recepção explodiu em vida, banhada por luzes e fogos de artifício.
Enquanto a primeira dança começava, Ethan ainda segurava as muletas, mas a mão de Sophie segurava a dele, e Leo se agarrava à sua perna, puxando-os juntos para a pista de dança.
Os convidados aplaudiram ao assistir.
Uma família de três, de mãos dadas, balançando sob as luzes douradas.
Ethan estava de pé, não perfeitamente, não para sempre, mas o suficiente para segurar Sophie e Leo no mesmo abraço.
Sophie ergueu o rosto, lágrimas se misturando ao sorriso.
Ethan inclinou-se e sussurrou em seu ouvido:
«Danke, dass du mich hast aufstehen lassen, nicht nur mit meinen Beinen, sondern mit meinem Herzen.»
Ela apertou a mão dele com força:
«Und ich werde mit dir gehen.»
A cada passo, Leo olhava para cima, inocente e feroz:
«Wir sind für immer ein Team.»
A música aumentou.
Fogos de artifício explodiram do lado de fora das janelas da catedral, inundando o salão com luz radiante.
No meio de aplausos intermináveis, a pequena família se abraçou.