A maior estrela pop do Brasil, Anitta, lançou um videoclipe retratando rituais da fé afro-brasileira Candomblé, gerando polêmica em um país onde a intolerância religiosa é muito comum

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A maior estrela pop do Brasil, Anitta , lançou um videoclipe retratando rituais da fé afro-brasileira Candomblé, gerando polêmica em um país onde a intolerância religiosa é muito comum.

Sua faixa — intencionalmente chamada de “Accept” — foi vista mais de um milhão de vezes no YouTube desde seu lançamento na terça-feira. É uma rara oferta pessoal da artista, que há muito pratica a religião no Rio de Janeiro. Anitta disse que perdeu 200.000 de seus 65 milhões de seguidores no Instagram após seu lançamento.

“Já falei sobre minha religião inúmeras vezes, mas parece que deixar uma obra artística no meu catálogo para sempre foi demais para aqueles que não aceitam que os outros pensem diferente”, disse Anitta nas redes sociais na terça-feira. Os trolls que ridicularizaram o candomblé pareciam muito superados em número pelos que expressaram apoio.

As críticas de uma minoria de usuários de mídia social continuaram durante a noite, e ela emitiu outra declaração na quarta-feira para denunciar desinformação e piadas direcionadas às religiões afro-brasileiras.

“Seus ensinamentos e seu povo merecem respeito como qualquer outra religião”, disse Anitta.

Filmado em preto e branco, o vídeo mostra Anitta agachada nua enquanto uma sacerdotisa em traje tradicional branco derrama água purificadora sobre sua cabeça. Em algumas cenas, ela usa um vestido de palha que lembra a cobertura da cabeça aos pés usada por Obaluaê, o orixá ou divindade da terra e da saúde. O vídeo também mostrou iconografia católica, um serviço cristão evangélico e um adorador judeu com um tefilin.

À medida que os colonos católicos portugueses trouxeram escravos africanos para o Brasil, os homens e mulheres escravizados desenvolveram misturas sincréticas de suas religiões tradicionais com o catolicismo, agora praticado por uma pequena minoria de brasileiros.

Anitta já era conhecida por valorizar populações marginalizadas, como mulheres, moradores de bairros populares conhecidos como favelas, além de pessoas LGBTQ+ e negras.

A estrela pop tem um lado subversivo semelhante ao de Madonna, disse Raquel Martins, que é doutora em música pela UNICAMP. Anitta e Madonna lançaram uma faixa juntas em 2019 e também dividiram o palco brevemente durante o maior show de Madonna, que aconteceu no Rio em 4 de maio. O show repetidamente invocou a religião de maneiras provocativas e Anitta, enquanto estava no palco, usava um crucifixo brilhante em volta do pescoço.

“Anitta é uma artista de renome mundial. Ela não precisa mais provar nada para ninguém. Então o que ela faz? Ela disponibiliza sua arte para incentivar o debate na sociedade”, disse Martins.

Apesar do baixo número, os praticantes de religiões afro-brasileiras têm sofrido cada vez mais com intolerância religiosa nos últimos anos, principalmente por parte de membros de igrejas evangélicas.

“Accept” faz parte do novo álbum de Anitta, “Funk Generation”. Quando anunciado pela primeira vez, Anitta o descreveu como “um álbum onde celebro minhas raízes”.

“É um ritmo que nasceu nas favelas, onde cresci, e que exala resistência e arte em todas as comunidades”, disse ela em um comunicado.