“Não Consigo Fechar as Pernas”: O Rancheiro Encontra Hannah e o Início de Uma Nova Vida no Kansas

“Não Consigo Fechar as Pernas”: O Rancheiro Encontra Hannah e o Início de Uma Nova Vida no Kansas

O grito dela não soou humano. Cortou o calor daquela tarde no Kansas como o som de algo morrendo.

Quando Elias Boon empurrou a porta do estábulo no rancho Miller, ele não encontrou o cavalo que viera comprar. Encontrou uma jovem no chão de terra, tremendo tanto que a palha ao seu redor vibrava.

Suas pernas estavam travadas, separadas, e ela tentava incessantemente juntá-las. Mas cada tentativa enviava uma pontada de dor tão forte que ela gritava novamente.

Elias parou. Ele tinha visto feridas de guerra, ossos quebrados, homens mantidos vivos apenas pela oração. Mas nunca vira uma mulher sofrendo assim, sozinha em um celeiro silencioso, enquanto o sol lá fora continuava a brilhar como se nada estivesse errado.

Ela tentou se erguer sobre um cotovelo. Sua voz rachou como madeira frágil. Ela sussurrou: “Não consigo fechar as pernas.” Então ela chorou de novo, não por vergonha, mas por uma dor tão profunda que vivia em cada respiração.

Elias ajoelhou-se ao lado dela. Ele ainda não a tocou, para não assustá-la.

Ele viu hematomas na parte interna de suas coxas, inchaços vermelhos onde a pele havia sido esfregada, marcas antigas de corda perto de seus tornozelos. Sinais de alguém forçando seu corpo a abrir-se o tempo suficiente para despedaçá-la por dentro.

Ela tentou cobrir as pernas com as mãos trêmulas. “Por favor, não me deixe aqui. Dói. Não consigo me mover.”

Elias sentiu algo pesado se instalar em seu peito. Aquilo não era um acidente. Não era uma queda. Era crueldade. Crueldade lenta, feita por alguém que deveria tê-la protegido.

Ele pousou o chapéu no chão e falou gentilmente. “Senhora. Meu nome é Elias. Eu não vou machucá-la. Deixe-me ver o que está errado para que eu possa ajudá-la.”

Ela assentiu levemente. Sua voz caiu para um sussurro fantasma. “Meu nome é Hannah. Por favor, senhor, leve-me embora daqui. Por favor.”

Elias inclinou-se, cuidadoso e firme. Ele se abaixou para apoiar a perna dela apenas o suficiente para verificar se havia sangramento. No segundo em que sua mão tocou a pele dela, Hannah gritou e agarrou sua camisa com as duas mãos, seus dedos agarrados como os de alguém se afogando.

Ele percebeu então que ela estava deitada ali há horas, talvez mais. Podia sentir o calor irradiando de sua pele inchada. O tipo de calor que indicava que a infecção já estava se instalando.

Elias Boon não era um homem que fugia do sofrimento. Nunca foi.

Ele olhou em direção à casa do rancho. Vazia. Nenhum sinal do marido que ela mencionara. Nenhum sinal de qualquer alma que se importasse se ela vivesse ou morresse.

Ele se virou para ela. “Hannah, eu vou tirar você daqui. Eu lhe prometo.”

Os olhos dela se arregalaram, cheios de medo e esperança em conflito. Ela perguntou, a voz trêmula: “Senhor, se você me ajudar agora, o perigo o seguirá também?”

E Elias sentiu o peso daquela pergunta se instalar sobre ele como uma tempestade, porque ele sabia a verdade. Sim, o perigo estava chegando.


Hannah agarrou-se a Elias como se estivesse segurando a última coisa sólida no mundo. Sua respiração vinha em golfadas curtas e dolorosas, e toda vez que tentava puxar as pernas, sibilava em agonia.

Elias sabia que ela não podia ficar naquele celeiro nem mais um minuto. Então, ele deslizou um braço sob seus ombros, o outro sob seus joelhos, e a levantou o mais gentilmente que um homem de sua idade conseguia.

Ela ofegou, não de medo, mas de alívio.

Ele a carregou para a luz quente do sol do Kansas. A cabeça dela repousava em seu peito, os dedos ainda firmes em sua camisa. Por um segundo, ela semicerrou os olhos para a vasta pradaria, como se tivesse esquecido a aparência do mundo fora daquele estábulo escuro.

O vento roçou seu rosto, um vento quente de verão, e só isso a fez começar a chorar novamente. Suave e trêmula.

Elias colocou-a em seu cavalo, firmando-a enquanto ela tentava sentar sem deixar as pernas se tocarem. “Calma. Eu estou com você.” Sua voz era calma, do tipo que um homem ganha apenas após uma vida inteira de anos difíceis.

Ela olhou para ele. Seus olhos estavam assustados, mas outra coisa cintilava ali. Algo minúsculo. A esperança tentando acordar novamente.

Ele montou atrás dela, firmando-a com os dois braços para que ela não caísse. A cada som de casco, Hannah respirava um pouco mais fundo. Cada solavanco na estrada a fazia gemer, mas ela não reclamou.

Ela encostou a cabeça nas costas de Elias e sussurrou: “Você está mesmo me levando embora.”

Ele assentiu. “Sim, senhora. E nós não vamos olhar para trás.”

A viagem durou horas, o suficiente para o sol deslizar para o oeste e lançar luz dourada sobre as planícies. Elias falava às vezes, apenas sobre coisas pequenas: o tempo, a terra, histórias sobre cavalos que ele costumava domar quando era mais jovem. Nada pesado. Nada que a fizesse encolher, apenas o suficiente para mantê-la acordada e talvez afugentar o medo que tentava rastejar por sua espinha.

Quando o Rancho Boone surgiu à vista, Hannah estava tremendo de exaustão. As cercas brancas, as portas vermelhas do celeiro, o som do gado no pasto distante. Tudo parecia irreal para ela, como se tivesse entrado na vida de outra pessoa, uma vida onde o ar não doía e as pessoas falavam sem gritar.

Elias carregou-a para dentro de sua casa, chamou a velha Senhora Harper, a governanta, e pediu-lhe que trouxesse água morna e lençóis limpos.

Hannah tentou se desculpar por ser um fardo. Ele balançou a cabeça. “Não, senhora. Nem um pouco.” Ele disse isso de forma tão simples que ela acreditou nele pela primeira vez em anos. Ela se permitiu descansar.

Mas, ao fechar os olhos, um pensamento se impôs: o marido dela, Caleb, viria procurá-la.


Hannah estava no Rancho Boone há apenas dois dias quando o problema finalmente apareceu. Elias viu a poeira primeiro, um rastro longo e fino subindo sobre a cerca. Cavaleiros se movendo rápido, e não do tipo amigável.

Hannah estava descansando lá dentro, apoiada por travesseiros. Elias saiu em silêncio e fechou a porta atrás de si, não querendo que ela ouvisse os gritos raivosos que se aproximavam.

Caleb Miller cavalgou direto para o pátio como se fosse o dono do lugar. Ele puxou o cavalo para parar, apontou um dedo trêmulo para Elias e latiu: “Traga minha esposa para cá agora mesmo!”

Elias não vacilou. Ele era um cowboy trabalhador desde os 15 anos. Mas a maneira como os olhos de Caleb ardiam, a maneira como ele cuspia a palavra esposa como se fosse propriedade, isso agitou algo quente no peito de Elias.

Caleb desmontou e avançou. “Você a levou! Você a roubou de mim! Eu vou arrastá-la de volta sozinho.”

Elias manteve a voz firme. “Ela está ferida. Está assustada. E ela foi comigo porque queria ir embora.”

Caleb zombou. “Queria ir embora? Aquela mulher é minha! Ela faz o que eu digo.”

Essa frase empurrou Elias além do limite. Ele deu um passo à frente e disse: “Hoje, ela não faz. Nunca mais.”

Caleb o empurrou. Elias o empurrou de volta com mais força. Caleb atacou descontroladamente, acertando um golpe forte logo abaixo do olho de Elias, abrindo a pele e embaçando sua visão.

Antes que os capangas pudessem cercá-lo, um dos cowboys do rancho correu do celeiro, gritando que Elias não lutaria sozinho. E foi tudo o que foi preciso para a coisa toda explodir.

Caleb avançou novamente, atacando com mais raiva do que pontaria, enquanto os capangas se apressavam atrás dele. Elias se abaixou, agarrou-o pela frente da camisa e o esmagou contra a lateral do bebedouro.

Elias e o cowboy do rancho se moveram com propósito. Anos de trabalho no rancho haviam lhes dado uma força que aqueles rapazes não esperavam.

Elias jogou um na terra enquanto o cowboy puxava o outro pelo colarinho com força suficiente para fazê-lo uivar.

Então Elias voltou-se para Caleb, que se levantava como um galo furioso. Elias o agarrou pelo colarinho. “Se você chegar perto dela de novo, é melhor vir com um pregador. E suas últimas palavras prontas.”

Caleb recuou, tremendo de raiva, mas com muito medo de avançar novamente. Ele cuspiu na terra, montou em seu cavalo e foi embora, gritando que aquilo não tinha acabado.

Elias ficou na poeira que assentava, o peito arfando. Sabendo muito bem que a luta estava apenas começando. Dentro da casa, Hannah tinha ouvido o suficiente para começar a tremer novamente. Mas desta vez, ela tremia por uma razão diferente. Alguém finalmente se colocara entre ela e o homem que a atormentava.


Caleb foi embora naquele dia, mas a poeira que ele deixou para trás nunca se assentou de verdade. Elias sabia disso. Hannah também sabia. O ar parecia mais pesado, como se todo o rancho estivesse prendendo a respiração.

Naquela noite, Elias sentou-se à mesa da cozinha, olhando para a parede como se a resposta certa pudesse estar gravada na madeira. Mas ele continuava pensando em Hannah descansando no quarto de hóspedes, finalmente aquecida, finalmente segura, e como tudo isso poderia ser arrancado se Caleb aparecesse com a lei ao seu lado.

Ele finalmente se levantou, pegou o chapéu e disse: “Senhora Harper, fique de olho nela. Preciso ver um velho amigo.”

A viagem para Dodge City levou menos de uma hora. Elias cavalgava rápido. O sol estava se pondo quando ele amarrou seu cavalo em frente ao escritório do xerife.

Lá dentro, o Xerife Cole Harding sentou-se atrás de uma mesa. Ele levantou os olhos no segundo em que Elias entrou.

“Ora, Boon, esse é um rosto que eu só vejo quando algo ruim aconteceu. Sente-se antes que caia.”

Elias sentou-se, mas sua mandíbula permaneceu tensa. Cole ouviu Elias contar tudo. Cada detalhe feio, cada hematoma que ele vira nela. Cada palavra que Caleb cuspira da sela.

Cole inclinou-se para trás, mastigando a parte interna da bochecha, a maneira como ele sempre fazia quando tentava manter a calma. “Elias, o que aquele homem fez é um crime, simples assim. Mas a lei por aqui nem sempre funciona como deveria. Você sabe disso.”

“Eu sei,” disse Elias. “Mas eu não vou mandá-la de volta. Não enquanto eu estiver respirando.”

Cole assentiu lentamente. “Tudo bem. Faremos isso direito então. Conseguiremos que o médico escreva uma declaração. Encontraremos qualquer pessoa em Abilene que tenha visto Caleb levantar a mão contra ela. Traremos Hannah quando ela estiver forte o suficiente para falar, e levaremos tudo ao Juiz Wilbur antes que Caleb o faça.”

Pela primeira vez naquele dia, Elias sentiu um pequeno peso ser tirado de seus ombros. Ele se levantou, apertou a mão de Cole, e o xerife disse: “Traga-a amanhã. Vou garantir que o juiz ouça os dois.”

O amanhã nunca veio.

O juiz adiou a audiência, dizendo que precisava de mais testemunhas e declarações adequadas. Assim, nas duas semanas seguintes, Elias cavalgou de Abilene a Dodge City, conversando com vizinhos, reunindo cartas, até implorando ao médico para ir duas vezes examinar Hannah e escrever suas descobertas.

Toda noite, Hannah perguntava se havia algum progresso. E toda noite, Elias dizia para ela aguentar só mais um pouco.

Na manhã da audiência, o tribunal em Dodge City estava mais frio do que qualquer vento de inverno que Hannah já conhecera. Ela sentou-se ao lado de Elias, as mãos firmemente cruzadas.

O médico falou primeiro, depois um lojista de Abilene, depois um vizinho. Caleb não estava em lugar nenhum.

E finalmente, foi a vez de Hannah. Ela se levantou lentamente, os pés instáveis, mas sua voz, de alguma forma, estava firme o suficiente para alcançar todos os cantos daquela sala. Ela não mencionou a dor. Ela não mencionou as piores noites. Ela apenas falou sobre o desejo de paz, de segurança, do direito de fechar os olhos à noite sem medo.

Quando ela terminou, até o Juiz Wilbur permaneceu em silêncio por um longo momento. Então ele pigarreou e disse as palavras que mudaram a vida dela.

O Juiz Wilbur anunciou que Hannah receberia uma ordem de proteção temporária, mantendo Caleb longe dela e do Rancho Boone. Ele explicou que uma audiência completa seria marcada nas próximas semanas, assim que mais testemunhas fossem reunidas e a lei tivesse tempo para rastrear Caleb.

Não era a vitória final, mas era o primeiro passo real em direção a uma. O ambiente pareceu mais claro, mais leve, quase sagrado.

Hannah sentou-se, e o suspiro que soltou foi a primeira respiração livre que ela dava em anos. Elias olhou para ela, e ela olhou de volta, e nada precisava ser dito. Alguns momentos dizem tudo sem uma única palavra.


Meses se passaram. Hannah ajudou na cozinha, depois no jardim, depois perto dos cavalos, assim que sua força voltou. E toda noite, Elias se pegava observando-a rir com a Senhora Harper ou ouvindo-a cantarolar enquanto dobrava a roupa. E ele percebeu algo gentil, mas certo: ela estava se curando, e ele também.

Em uma manhã fresca, Hannah acordou cedo, pálida e tonta. A Senhora Harper sorriu do jeito que só as mulheres mais velhas sorriem quando já sabem a resposta.

Mais tarde naquela tarde, o médico confirmou. Hannah estava esperando uma criança.

Quando ela contou a Elias, ele ficou imóvel. Então ele se sentou pesadamente, como se tivessem tirado o ar dele. Ela temeu que ele estivesse chateado, mas então ele riu, enxugou os olhos e disse: “Ora, vejam só. A vida ainda encontra um jeito.”

Para Hannah, era mais do que um filho. Era a prova de que ela nunca havia sido quebrada. Era a prova de que a bondade cultiva coisas que a crueldade nunca conseguiria.

Longe, na pradaria, Caleb finalmente ouviu a notícia de que Hannah estava grávida. Ele paralisou, atordoado que ela pudesse carregar um filho depois de tudo. Então seu rosto se contorceu, parte arrependimento, parte raiva pura, enquanto ele murmurava que aquilo não era o fim.

Mas Hannah estava segura, e pela primeira vez em muito tempo, ela se sentiu digna de amor. Amor de verdade, amor tranquilo, do tipo que permanece.

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