Ele deu pão à garotinha faminta. Dias depois, ela voltou com sua mãe coberta de cicatrizes de chicote. Acolhê-las não era caridade, era uma declaração de guerra.

Ele ergueu o olhar, forçando a vista através da névoa poeirenta. Ali, junto ao poste de madeira, estava uma menina Apache magricela. O cabelo era um emaranhado, os pés descalços cobertos de lama, e seus olhos estavam cheios de fome e medo. Sem dizer uma palavra, ela apenas agarrou a barriga vazia. Seus lábios estavam rachados e secos.

Reed parou o que estava fazendo. Ele não perguntou o nome dela. Simplesmente abriu o portão e fez um gesto para que ela entrasse. A menina hesitou, mas o cheiro de broa de milho fresca vindo da cabana iluminou seus olhos.

Na cozinha, Reed colocou um pedaço quente de broa de milho e uma xícara de leite de cabra na mesa. A menina sentou-se, ainda desconfiada. Mas no momento em que seus dedos tocaram a comida, ela a devorou como se não provasse algo assim há muito tempo. Reed (o roteiro o chama de Elias em uma parte, mas vamos manter Reed para consistência) trouxe um velho cobertor de lã e o colocou perto da lareira. Ninguém disse uma palavra. Apenas o estalar do fogo e o som da mastigação apressada enchiam a sala.

Reed sentou-se no canto segurando seu cachimbo. Seus olhos ocasionalmente se voltavam para a criança. Assim que seu estômago estava cheio, ela enrolou o cobertor nos ombros, deu a Reed um pequeno aceno de cabeça, um silencioso “obrigada”, e então saiu silenciosamente, desaparecendo no crepúsculo pintado de poeira vermelha.

Reed permaneceu sentado, olhando para o fogo, dominado por um sentimento estranho. Fazia tempo demais que aquela cabana não sentia os passos de uma criança.

Três dias se passaram desde que Reed deu algo para a garota Apache comer. Ele pensou que nunca mais a veria. Mas na tarde do quarto dia, exatamente quando o sol estava ficando vermelho escuro e começando a afundar atrás das colinas, Reed avistou uma figura familiar pairando perto da cerca.

Ela havia retornado. Seu cabelo ainda estava emaranhado, seus olhos ainda cautelosos, mas desta vez ela não estava sozinha.

Ao seu lado estava uma mulher alta, o rosto encovado, os ombros nus e marcados por velhas cicatrizes de chicote, o braço esquerdo frouxamente envolto em um pano sujo e manchado de sangue. Seus passos eram irregulares, mas seus olhos escuros ardiam com um estado de alerta feroz.

Reed largou o balde de água que estava puxando e ficou parado na varanda. A mulher parou a cerca de 10 metros de distância, empurrou a filha para trás dela e falou com uma voz rouca e esgotada: “Não temos para onde ir. Eu posso fazer qualquer coisa… puxar água, cozinhar, cuidar do gado, limpar a terra. Só peço que nos deixe ficar esta noite, mesmo que seja debaixo da varanda.”

Reed olhou para elas por um longo momento sem dizer uma palavra. O velho cachorro rosnou baixinho e depois se calou. Ele se lembrou da menina comendo a broa de milho dias atrás. Agora ela estava atrás da mãe, agarrando a barra de uma camisa rasgada, os olhos ainda cheios de medo, mas desta vez com um vislumbre de esperança.

Reed suspirou. Ele não era um homem gentil, nem alguém que gostava de se envolver nos problemas dos outros. Mas, naquele momento, o vazio de sua cabana ecoou com uma voz familiar. “Não vire as costas para quem precisa.” Era algo que sua esposa costumava dizer, muitos anos atrás.

Ele assentiu e abriu lentamente o portão. “Entrem.”

Sem outra palavra, Reed se virou e entrou na cozinha, atiçando o fogo de volta à vida. Quando mãe e filha entraram, ele puxou uma velha cadeira de madeira e colocou o último pão de milho e uma panela de feijão na mesa. Então, ele olhou para o canto da sala onde um cobertor grosso estava dobrado. “Durmam ali”, disse Reed secamente.

A mulher (Awanata) curvou a cabeça, a voz trêmula. “Obrigada, senhor.” A menina (Tiva) sentou-se imediatamente, agarrando a tigela quente de feijão, seu rosto tenso começando a relaxar lentamente. Reed sentou-se do outro lado da sala, olhos no fogo, sem fazer perguntas. Ele entendia que, às vezes, o silêncio é a coisa mais gentil que se pode oferecer.

Naquela primeira noite, a pequena cabana estava tão quieta que se podia ouvir cada estalo da lenha queimando. Na manhã seguinte, quando Reed saiu para tirar água do poço, Awanata já estava de pé. Ela mancou com outro balde, os ombros tremendo de dor, mas o rosto determinado. “Deixe-me fazer”, disse ela com firmeza.

Reed não disse nada. Ele simplesmente pegou o balde dela e o colocou ao lado do poço. Ao meio-dia, quando Reed voltou dos campos, viu que a varanda havia sido varrida e suas camisas rasgadas tinham sido remendadas com linha grossa. Awanata estava sentada, encostada em um poste, o braço esquerdo ainda doendo, mas seus olhos estavam mais brilhantes.

Naquela noite, o jantar foi um evento silencioso. Awanata havia temperado a panela de feijão com algumas ervas que carregava. Reed deu uma mordida. Um calor suave se espalhou por sua língua. Tiva, sentada ao lado da mãe, soltou uma risadinha suave – a primeira vez que Reed a ouvia rir.

Três dias se passaram. A cabana, antes tão acostumada ao silêncio, agora continha sons de passos e colheres batendo nas panelas. Não era uma família, mas não era mais um lugar para apenas um homem.

O céu da manhã estava claro. Reed Callahan levou seu martelo para a cerca norte. Desta vez, duas figuras o seguiram. Awanata, com o ombro enfaixado, ergueu um tronco pesado como se não sentisse dor. Reed franziu a testa ligeiramente, surpreso. Tiva carregava pequenos feixes de palha.

Naquela tarde, eles trabalharam juntos para consertar o telhado do abrigo dos cavalos. Awanata subiu, martelando tábuas de madeira, o suor encharcando suas costas. Reed segurou a escada embaixo, seu olhar não mais cheio de dúvida, mas de um respeito silencioso. Ao entardecer, o jantar foi diferente. Awanata fez a Reed algumas perguntas curtas sobre a terra. Ele respondeu secamente, mas seu tom havia perdido o frio. Tiva entrou na conversa, falando sobre o bezerro recém-nascido, fazendo os dois rirem.

Naquela noite, Reed sentou-se na varanda, acendendo seu cachimbo. Lá dentro, Awanata dobrava o cobertor da filha. Reed deu uma longa tragada. Dentro dele, algo começou a piscar – um calor que ele pensava ter partido há muito tempo.

Mais tarde, Awanata baixou a agulha com que costurava e olhou diretamente para Reed. “Você provavelmente quer saber”, ela disse suavemente, “Por que a menina e eu acabamos aqui.”

Reed apenas assentiu.

“Nós vivíamos em Baker’s Ridge”, ela respirou fundo. “Eu pertencia a um homem lá. Ele me tratava como propriedade. Quando não pude mais lhe dar um filho, ele me espancou… as marcas de chicote, o braço quebrado… são dele. Eu não aguentava mais. Peguei Tiva e fugi.”

O silêncio tomou conta da cabana. Reed lentamente se levantou, foi até a lareira e acrescentou mais lenha. Ele não disse nada, mas quando as chamas subiram, Awanata viu seus olhos claramente: frios, cinzentos, firmes como aço. Não havia pena neles, apenas compreensão.

“Se ele vier aqui”, ela sussurrou, “Eu irei embora. Não quero trazer problemas para sua porta.”

Reed olhou para ela por um longo momento, então bateu a faca na mesa de madeira. Sua voz era baixa e firme. “Ninguém tem o direito de arrastá-la de volta para aquele inferno. Não enquanto você e a garota estiverem nesta terra.”

Naquela tarde, o céu queimava em vermelho. O velho cachorro de Reed rosnou de repente. O som de cascos ecoou. Na estrada poeirenta, um cavaleiro solitário se aproximou.

Awanata parou na varanda, sua respiração acelerou. “É ele”, ela sussurrou.

O homem parou o cavalo do lado de fora do portão. Uma longa cicatriz brilhava em sua bochecha. Ele soltou uma risada seca e zombeteira. “Awanata, você realmente acha que pode fugir de mim? Você é minha, mulher. E a garota também.”

Reed saiu para a varanda, alto e firme. “Ela não pertence a ninguém”, disse ele.

O homem riu com desprezo, sacou a arma e apontou direto para a varanda. O ar ficou tenso. Reed não piscou. Calmamente, ele ergueu o Winchester e o engatilhou com um clique agudo que quebrou o silêncio.

“Abaixe a arma”, disse Reed, com os olhos fixos no alvo. “Se quiser sair daqui vivo.”

O dedo do homem tremeu no gatilho. Por um momento, os dois homens ficaram como montanhas. Finalmente, o homem soltou um rosnado furioso e baixou a arma. “Você vai se arrepender disso, Callahan. A cidade inteira saberá que você está abrigando uma selvagem.” Ele virou o cavalo e desapareceu na poeira.

Três dias depois, um vento sul varreu a poeira. O som de cascos trovejou. Quatro cavaleiros emergiram da névoa. Liderando-os estava o homem de Baker’s Ridge.

“Callahan, eu avisei!”, ele gritou. “Entregue a mulher e a garota, ou queimaremos esta cabana até o chão!”

Um dos homens atirou uma tocha na cerca seca. As chamas irromperam.

“Fogo!”, o líder rugiu.

Tiros explodiram. Balas atingiram os postes de madeira. Reed jogou o rifle no ombro e disparou. Um homem caiu do cavalo. Awanata, de trás da porta, agarrou o rifle de caça que Reed havia deixado e disparou um tiro que estilhaçou a roda de uma carroça.

“Abaixem-se!”, Reed gritou, mergulhando para o lado e disparando uma segunda vez. A bala atingiu o ombro do líder, fazendo-o uivar de dor. Fumaça, chamas e poeira vermelha se transformaram em uma tempestade mortal. Reed disparou novamente. Outro homem caiu.

Finalmente, o líder rosnou. “Recuar! Da próxima vez eu trago a cidade inteira!” Ele se foi.

O som dos cascos desapareceu, deixando apenas o estalar do fogo. Reed virou-se e viu Awanata parada na porta, seu rifle ainda fumegando, Tiva agarrada ao seu vestido. Naquele momento, os três sabiam: este não era mais um refúgio temporário.

O inverno passou. Pelo campo, pequenas lâminas de grama nova brotavam da terra rachada. Reed Callahan apoiava-se em sua enxada. Ao seu lado, Awanata erguia uma tábua de madeira pesada. Na varanda, Tiva ria.

“Sr. Reed, mamãe disse que vamos plantar mais milho hoje!”

Reed sorriu, um sorriso que não mostrava há muito tempo. “Sim. Teremos uma colheita e tanto.”

Dia após dia, os três reconstruíram a cerca queimada. A cada martelada, um voto silencioso criava raízes. Este é o lar.

Quando a noite caiu, Reed sentou-se em sua cadeira enquanto Tiva dormia com a cabeça no colo de Awanata. A mulher Apache olhou para Reed, seus olhos profundos não mais desconfiados, mas quietos e quentes. “Sabe”, ela sussurrou, “lá na tribo, eu nunca pensei que teria um lar como este. É maravilhoso.”

Reed assentiu. A esperança havia retornado. Lá fora, a lua crescente brilhava sobre a pequena cabana. Um rancheiro que havia perdido tudo, uma mãe abandonada pelo mundo e uma criança que parecia destinada a crescer com medo. Eles haviam encontrado um ao outro.

Eles não haviam escolhido o caminho fácil, mas haviam escolhido um ao outro, e isso era o suficiente para transformar até mesmo esta terra dura em um lugar chamado lar. E enquanto a primeira brisa do verão soprava, Reed sabia que esta không phải là apenas terra. Este era o lugar onde seu coração ficaria.

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