Uma mulher cega de 86 anos deve € 3.450 em multas… até que o juiz Heinrich Wagner faça uma pergunta!

23 multas de estacionamento não pagas. Um total de € 3.450. O juiz Heinrich Wagner ajusta os óculos e olha para a mulher no banco das testemunhas. Cabelos brancos, mãos cruzadas, uma bengala repousa silenciosamente ao seu lado.

“Sra. Waldner, a senhora é proprietária deste veículo?”

Ela levanta a cabeça lentamente.

“Não, Meritíssimo. Sou cega. Não dirijo desde 1999.”

O tribunal fica em silêncio. O juiz Wagner inclina-se para a frente, seu tom suavizando, mas acentuado pela incredulidade.

“A senhora está me dizendo que é legalmente cega?”

“Sim, Meritíssimo. Retinopatia diabética. Perdi a visão aos 60 anos. Não conseguiria dirigir mesmo se quisesse.”

Ele olha para a lista de intimações e depois para a acusação.

“Placa de Munique M-HR 8473″, lê em voz alta.

” “Tem certeza de que nunca possuiu este veículo?”

“Só ouvi falar dele há três dias.”

Uma tensão silenciosa pairou sobre o tribunal. Wagner se virou para o diretor de fiscalização de estacionamento, Bernd Förster. Quarento e poucos anos, terno elegante, postura confiante, a imagem de alguém que confia mais em documentos do que em pessoas.

“Sr. Förster, ajude este tribunal a entender uma coisa.”

“Como uma senhora cega de 86 anos acumula 23 multas de estacionamento em Munique em apenas 18 meses?”

Förster abriu seu arquivo, ainda confiante.

“Meritíssimo, nosso sistema mostra o veículo registrado em nome dela, seu endereço, o número da sua carteira de habilitação. Tudo coincide. Todas as multas foram emitidas corretamente.”

Wagner não elevou a voz. Não precisava.

“Está me dizendo que seu sistema é mais confiável do que a senhora sentada à minha frente com uma bengala branca?”

O tribunal ficou em silêncio.

Você está assistindo a Caso Encerrado, onde a justiça encontra a verdade, não importa quem tente escondê-la. Förster se remexeu desconfortavelmente.

“Os registros do computador não mentem, Meritíssimo. A placa do carro está registrada em nome dela.”

“Sr. Förster, alguém em seu escritório verificou fisicamente se esta mulher possui um carro?”

“Processamos milhares de multas de trânsito todos os meses. Confiamos nos dados de registro do Detran.”

O juiz Wagner olhou para a Sra. Waldner. Suas mãos tremiam levemente. Ela olhava fixamente para frente, com os olhos desfocados e a postura rígida.

“Sra. Waldner, quando a senhora teve carteira de habilitação pela última vez?”

“1999, Meritíssimo. Quando meu médico me disse que eu não enxergava bem o suficiente para dirigir, eu a entreguei. Recebi um documento de identidade nacional em vez disso.”

“E a senhora renovou esse documento de identidade a cada 10 anos. A última vez foi em 2020.”

O juiz fez uma anotação.

“Então o estado sabe há 26 anos que a senhora não dirige.”

“Sim, senhor.”

Ele se virou para Förster.

“O sistema de vocês diz que ela possui um carro. O estado diz que ela não dirige. Quem está mentindo?”

“Meritíssimo, não estou dizendo que alguém está mentindo. Estou dizendo que nossos registros mostram…”

“Seus registros mostram uma impossibilidade, Sr. Förster. É isso que eles mostram.”

O maxilar de Förster se contraiu.

“Só posso comentar sobre o que consta no sistema.”

“Então o sistema de vocês está com defeito.”

Uma mulher se levantou na galeria. Meados dos cinquenta, óculos, energia nervosa.

“Meritíssimo, posso falar?”

O oficial de justiça, o juiz, deu um passo à frente.

“Diga seu nome para constar em ata.”

“Petra Klein, sou vizinha da Sra. Waldner.”

O juiz Wagner fez um gesto.

“Aproxime-se.”

Petra caminhou até a tribuna das testemunhas. Sua voz era clara, mas trêmula.

“Meritíssimo, a Sra. Waldner e eu moramos uma ao lado da outra há 11 anos. Ela é cega. Não tem carro. Usa bengala e depende da filha ou de mim para levá-la às consultas.”

“Como ela descobriu essas multas de estacionamento?”

“Encontrei-as há três dias.”

“A Sra. Waldner me pediu para verificar sua correspondência porque estava esperando a entrega de um remédio. Encontrei 23 envelopes do departamento de fiscalização de estacionamento, todos fechados. Ela não consegue lê-los.”

O juiz olhou para a Sra. Waldner.

“A senhora não sabia da existência dessas multas de estacionamento?”

“Não, Meritíssimo. Petra as leu para mim. É por isso que estamos aqui.”

O juiz Wagner recostou-se na cadeira.

“Escrivão do Tribunal, traga os documentos de registro da placa M-HR 8473. Imediatamente.”

O juiz saiu da sala do tribunal. O juiz voltou-se para o Sr. Förster.

“Sr. Förster, essas multas de estacionamento, em locais diferentes, horários diferentes — centro de Munique, Schwabing, Glockenbachviertel — algumas com 30 minutos de intervalo. O senhor está me dizendo que uma senhora cega de 86 anos está dando voltas pela cidade sem autorização?”

“Meritíssimo, vou lhe dizer o que os dados indicam.”

“Os dados estão incorretos.”

“Respeitosamente, Meritíssimo, os dados foram verificados pelo Detran. Se houve fraude, isso é um problema do Detran, não da fiscalização de estacionamento.”

“Então o senhor está absolvido porque…”

“Você confia em um computador. Nós temos que confiar no sistema.”

“E o bom senso, onde ele se encaixa no seu sistema?”

Förster não respondeu. O escrivão Richter voltou com uma pasta. Ele a entregou ao juiz. O juiz Wagner a abriu. Seu semblante endureceu.

“Sra. Waldner, esta pasta mostra que a senhora possui um documento de identidade. Emitido em 1999, renovado em 2009 e renovado novamente em 2020. Não há carteira de habilitação registrada.”

Ele olhou para Förster.

“Sr. Förster, seu sistema diz que a Sra. Waldner possui três veículos, não um, três.”

“Um VW Golf, uma VW Amarok e um BMW Série 3. Ela não consegue ver uma placa de pare, mas, segundo o senhor, ela possui uma caminhonete.”

Houve um murmúrio no tribunal. Förster se levantou.

“Sr. Förster, o seu sistema indica que a Sra. Waldner possui três veículos, não um, três.” “Meritíssimo, se o Detran tiver registros falhos, se…”

“Não há ‘se’ aqui. Esta mulher é cega. Ela é cega há mais de duas décadas. O estado tem provas documentadas. Mesmo assim, o seu órgão enviou multas por infrações que ela não poderia ter cometido.”

“O que acontece a seguir no seu caso, Sr. Förster? Se ela não pagar?”

Förster hesitou.

“As multas aumentam. Eventualmente, o caso vai para cobrança.”

“Cobrança. Então, uma mulher cega com renda estável é enviada para cobrança por crimes que não cometeu porque o seu sistema não consegue cruzar os dados com o registro de moradores.”

“Não temos nenhum registro disso.”

“O senhor não tem nenhum registro de bom senso.”

A porta do tribunal se abriu. Uma mulher de blazer entrou, carregando uma pasta. Ela se aproximou da bancada do juiz.

A porta do tribunal se abriu. “Meritíssimo, sou Lisa Martin, investigadora de fraudes do departamento de registro de veículos da Baviera. Fui contatada sobre este caso há uma hora.”

O juiz Wagner gesticulou em direção à tribuna das testemunhas.

“Sra. Martin, a senhora está aqui porque…”

“Esta não é a primeira vez que vemos isso, Meritíssimo. É a primeira vez que alguém traz o caso ao tribunal.”

A sala ficou em silêncio. Martin abriu sua pasta.

“Há três meses, começamos a investigar irregularidades em registros de veículos ligados a idosos. O padrão era sempre o mesmo: idosos que não dirigiam, apresentando repentinamente novos registros de veículos que nunca haviam solicitado.”

“Quantos casos até agora?”

“147.”

O número soou como um golpe de martelo. A voz do juiz Wagner permaneceu calma.

“147 pessoas.”

“Sim, Meritíssimo. Todos idosos, muitos cegos, em lares de idosos ou falecidos.”

A Sra. Waldner engasgou. Petra Klein agarrou-se à borda do banco. O Juiz Wagner largou a caneta.

“Falecidos?”

“Sim, Meritíssimo. Encontramos 12 registros de veículos em nome de pessoas que estavam mortas há mais de um ano.”

“E o Departamento de Trânsito emitiu esses registros.”

“Eles foram inseridos no sistema por um funcionário, Kevin Thomsen. Ele trabalha no departamento há oito anos. Ele tinha acesso aos registros de identidade. Ele usou esses registros para criar placas falsificadas e as vendeu para pessoas com carteiras de habilitação cassadas ou sem o direito legal de dirigir.”

“Vendeu?”

“Sim, Meritíssimo. Por € 2.500 por registro, os compradores recebiam uma placa limpa. Thomsen embolsou o dinheiro. As multas foram enviadas para pessoas que não podiam ler ou contestá-las. Cada multa gerada por esses criminosos foi enviada para alguém cego demais ou morto demais para lê-la.”

O Juiz Wagner se virou para Förster.

” “Sr. Förster, o senhor enviou multas para pessoas mortas.”

O rosto de Förster empalideceu.

“Não tínhamos como saber.”

“O senhor tinha todas as oportunidades para saber. Poderia ter perguntado. Poderia ter verificado. Poderia ter questionado por que uma senhora cega de 86 anos de repente possuía três carros.”

Martin continuou: “Identificamos um total de 71 multas vinculadas aos registros falsificados em nome da Sra. Waldner. 23 são de Munique.”

“As outras são de Augsburg, Ingolstadt e Rosenheim.”

“71 multas de estacionamento.”

“Sim, Meritíssimo. Um total de € 14.200 em todas as jurisdições.”

A Sra. Waldner emitiu um som, um pequeno suspiro entrecortado. O juiz Wagner olhou para ela.

“Sra. Waldner, a senhora tinha conhecimento das outras multas de estacionamento?”

“Não, Meritíssimo.”

Ele se voltou para Martin.

“Quanto dinheiro Thomsen ganhou ao longo de 18 meses com base nos 147 registros de veículos falsificados?”

“Aproximadamente € 367.500.”

Um murmúrio percorreu o tribunal. O juiz Wagner levantou a mão. O silêncio se instalou.

“E as vítimas?”

“Principalmente idosos: 12 falecidos, 31 em lares de idosos, 54 com deficiências como a Sra. Waldner. Os 50 restantes eram idosos que viviam sozinhos.”

“Algum deles foi encaminhado para uma agência de cobrança de dívidas?”

A voz de Martin baixou.

“48 deles.”

“Alguns tiveram seus salários ou pensões retidos.”

“Apreendido.”

O juiz Wagner fechou os olhos por um instante. Quando os abriu, seu olhar era penetrante.

“Todo o seu sistema transformou idosos em bodes expiatórios.”

“Meritíssimo”, disse Martin. “Só descobrimos a extensão do esquema há três semanas. Thomsen ocultou bem seus rastros. Distribuiu as permissões ao longo do tempo, usou endereços diferentes e fez parecer aleatório.”

“O que levou à descoberta?”

“Uma filha em Augsburg. O pai dela, que está em uma casa de repouso para pacientes com demência há quatro anos, de repente passou a dever € 11.000 em taxas de estacionamento. Ela contratou um advogado. O advogado nos contatou.”

O juiz Wagner olhou para Petra Klein.

“E a senhora, Sra. Klein, abriu a correspondência da sua vizinha.”

Petra assentiu.

“A Sra. Waldner me pediu.”

“Ela confia em mim.”

“Graças ao fato de você ter se dado ao trabalho de ler a correspondência de um vizinho, outras 146 pessoas poderão dormir tranquilas esta noite.”

Se você acredita que o Detran deveria verificar a identidade de idosos antes que as multas de trânsito sejam enviadas para agências de cobrança, clique em Inscrever-se no Caso Encerrado para que mais pessoas possam ver esta história. Martin pegou uma folha de papel.

“Meritíssimo, tenho uma lista parcial das vítimas.”

“Posso lê-la para constar em ata?”

“Claro.”

“Harald Preuss, 92 anos, 89 multas de trânsito, € 13.000 em multas, pensão penhorada por 16 meses antes de sua filha descobrir.”

A mão da Sra. Waldner foi à boca.

“Meritíssimo, tenho uma lista parcial das vítimas.” “Denise Löwe, 78 anos, cega devido a glaucoma, 14 multas de estacionamento, € 2.100. Enviada para uma agência de cobrança de dívidas, registro na Schufa destruído. Eleonore Völk, 84 anos, falecida dois anos antes da primeira multa de estacionamento ser emitida em seu nome.”

“Seu filho só descobriu quando tentou resolver o inventário e encontrou uma penhora de bens.”

Os nós dos dedos do juiz Wagner ficaram brancos na mesa.

“E ninguém verificou.”

Martin o encarou.

“Só hoje, Meritíssimo.”

Ele se virou para Förster.

“Sr. Förster, os agentes de fiscalização de estacionamento revisaram manualmente algum desses casos?”

A voz de Förster estava tensa.

“Não temos pessoal suficiente para revisar manualmente todas as multas de estacionamento.”

“Eu não perguntei sobre todas as multas. Perguntei sobre as que não faziam sentido. Uma senhora de 86 anos com 23 multas. Uma mulher falecida com 17. Alguém parou para perguntar por quê?”

“O sistema sinaliza multas não pagas, não dados demográficos.”

“Esse é o problema.”

O juiz Wagner olhou para Martin.

“Onde está Thomsen agora?”

“Sob custódia. Ele foi preso esta manhã depois que rastreamos os pagamentos até contas offshore.”

“E as pessoas que compraram essas permissões?”

“Estamos trabalhando com a polícia para identificá-las. Algumas usaram dinheiro vivo, outras cartões pré-pagos. Vai levar tempo.”

“Sra. Martin, quantas dessas vítimas já foram notificadas?”

“Começamos a notificá-las ontem. Vai levar semanas.”

“Semanas.”

A voz do juiz Wagner estava baixa.

“Perigoso.”

“Algumas dessas pessoas estão vivendo com medo há meses. Ligações de cobrança, crédito arruinado, e tudo isso leva semanas.”

“Meritíssimo, somos uma equipe pequena. Fazemos tudo o que podemos.”

Ele assentiu lentamente.

“Eu acredito em vocês, mas o sistema que permitiu que isso acontecesse… quão pequeno ele é?”

Ninguém respondeu. O juiz Wagner olhou para a Sra. Waldner.

“Sra. Waldner, a senhora entende o que aconteceu aqui?”

“Alguém usou meu nome para registrar carros que não me pertencem.”

“Isso mesmo. E esses carros acumularam 71 multas de estacionamento. As pessoas que dirigiam esses carros sabiam exatamente o que estavam fazendo. Sabiam que as multas não chegariam até elas. Sabiam que a senhora não podia fazer nada a respeito.”

Sua voz era quase um sussurro.

“Por que eu?”

“Porque a senhora era ingênua. A senhora é idosa. A senhora é cega. A senhora mora sozinha. Para eles, a senhora era invisível.”

Petra Klein se pronunciou.

“Ela não é invisível para mim.”

O juiz Wagner assentiu.

“É por isso que estamos aqui.”

Ele se virou para Bernd Förster.

“Sr. Förster, quais medidas de segurança o sistema de fiscalização de estacionamento adota para evitar que algo assim aconteça novamente?”

Förster hesitou.

“Revisamos nossos registros.”

“Revisar? Isso não é uma resposta, Meritíssimo.”

“Dependemos do departamento de registro de veículos para obter dados precisos. Se os dados deles forem comprometidos, o senhor está se esquivando da responsabilidade.”

“Estou simplesmente relatando a realidade dos nossos procedimentos.”

O juiz Wagner inclinou-se para a frente.

“Esta é uma nova realidade, Sr. Förster. Automação sem supervisão não é eficiente.”

“É negligência. Seu departamento levou uma senhora cega de 86 anos à beira da cobrança de dívidas porque ninguém se deu ao trabalho de fazer uma pergunta simples. Faz sentido?”

Förster não disse nada.

“Eu lhe fiz uma pergunta, Sr. Förster.”

“Não, Meritíssimo, não faz sentido.”

“Por que está ali?”

“O que aconteceu?”

“Porque confiamos no sistema, e o sistema falhou.”

“Quem assume a responsabilidade por isso?”

A voz de Forester falhou um pouco.

“Nós.”

O juiz Wagner recostou-se. Olhou para o teto, depois para os papéis à sua frente e, em seguida, para a Sra. Waldner, que permanecia completamente imóvel, com as mãos cruzadas e o rosto voltado para uma voz que não conseguia ver. 5 segundos 7 10 12.

“Já ouvi o suficiente.”

O tribunal respirou aliviado.

“Todas as 23 intimações contra a Sra. Waldner estão imediatamente anuladas. A agência de fiscalização de estacionamento emitirá uma declaração de exoneração por escrito e adicionará uma anotação de roubo de identidade ao seu arquivo. A partir de hoje, Sra. Martin, seu escritório coordenará com a Schufa (a maior agência de crédito da Alemanha) para restaurar a pontuação de crédito da Sra. Waldner e remover todas as anotações referentes a essas infrações de todos os bancos de dados.”

“Sim, Meritíssimo.”

“Todas as 23 intimações contra a Sra. Waldner são imediatamente anuladas. A agência de fiscalização de estacionamento emitirá uma declaração escrita de exoneração e adicionará uma anotação de roubo de identidade ao seu arquivo.” “Além disso, observo as seguintes recomendações para a Autoridade Federal de Transporte Rodoviário e todas as agências municipais de fiscalização de trânsito deste estado.”

Ele olhou diretamente para Förster e Martin.

“Primeiro, o departamento de registro de veículos deve implementar a verificação presencial obrigatória ou por vídeo ao vivo para todos os registros de veículos, sem exceções.”

“Se alguém não puder comparecer pessoalmente, o estado irá até essa pessoa. Segundo, toda solicitação de registro vinculada a um documento de identidade que não seja de motorista acionará um alerta automático de fraude e uma verificação secundária. Terceiro, as agências de fiscalização de trânsito devem verificar de forma independente a propriedade do veículo antes de encaminhar qualquer caso para a agência de cobrança. O cruzamento de dados com os registros de moradores não é opcional.”

“Primeiro, as agências de fiscalização de trânsito devem verificar de forma independente a propriedade do veículo antes de encaminhar qualquer caso para a agência de cobrança. O cruzamento de dados com os registros de moradores não é opcional.” “Quarto, o estado enviará cartas anuais a todos os residentes com mais de 70 anos, listando todos os veículos registrados em seus nomes. Se não possuírem um veículo, basta marcar uma caixa e devolver a carta. Simples assim. Estas são recomendações, não ordens. Não posso promulgar leis deste tribunal, mas posso garantir que cada palavra desta audiência seja registrada publicamente e que as pessoas saibam o que aconteceu aqui.”

Ele se virou para a Sra. Waldner.

“Sra. Waldner, pode se retirar. A senhora não lhe deve nada. O estado é que lhe deve um pedido de desculpas. Um pedido que jamais poderá oferecer completamente.”

Sua voz tremeu.

“Obrigada, Meritíssimo.”

“Não me agradeça. Agradeça à Sra. Klein. Foi ela quem se deu ao trabalho de ler sua correspondência.”

Petra Klein enxugou as lágrimas. O juiz Wagner olhou para Martin.

“Qual o próximo passo para Thomsen?”

“Ele será indiciado amanhã.”

“As acusações incluem roubo de identidade, fraude, conspiração e abuso de idosos. A promotoria está buscando a pena máxima.”

“Ótimo. Certifique-se de que eu receba uma cópia deste veredicto.”

“Sim, Meritíssimo.”

O juiz Wagner fechou o processo à sua frente.

“Uma pergunta salvou cem vidas. Como uma mulher cega recebe uma multa de estacionamento? Essa pergunta deveria ter sido feita há 18 meses.”

“Deveria ter sido feita pelo Detran, pelos agentes de trânsito, por qualquer pessoa que visse o nome da Sra. Waldner ao lado de 23 infrações. Mas não foi. Então, um vizinho a fez.”

Ele olhou para a galeria, para os repórteres, para as poucas pessoas que vieram assistir.

“Este caso está encerrado, mas a conversa não.”

O martelo bateu.

Quatro meses depois, Kevin Thomsen se declarou culpado de todas as acusações. O juiz o sentenciou a 12 anos de prisão, sem possibilidade de liberdade condicional por sete anos. O estado reembolsou todas as 147 vítimas. Um fundo de compensação foi criado para aqueles que tiveram seus históricos de crédito arruinados ou cujas pensões foram penhoradas. Uma lei foi aprovada exigindo verificação pessoal para o registro de veículos.

Mas 23 das vítimas morreram antes que a fraude fosse descoberta. Suas famílias receberam desculpas e indenização, mas nenhuma justiça. A Sra. Waldner tornou-se defensora da proteção da identidade dos idosos. Ela testemunhou perante o parlamento estadual, dizendo que a confiança é algo que não precisa de olhos para ver para ser perdida. O juiz Heinrich Wagner manteve uma de suas multas de estacionamento emoldurada em seu escritório.

Ao lado, ele pendurou sua bengala branca, um presente que ela lhe deu após a audiência. A placa embaixo diz: “Faça a pergunta”. Petra Klein ainda verifica a correspondência da Sra. Waldner todos os dias, não porque ela seja obrigada, mas porque ela se importa. Bernd Förster renunciou ao cargo de fiscal de estacionamento. Seis semanas após a audiência, a nova diretora implementou protocolos de revisão manual para todas as violações de alto volume e cruzamento de dados com os registros estaduais de auxílio-doença.

Lisa Martin foi promovida para chefiar uma força-tarefa estadual que investiga fraudes contra idosos. Ela está carregando uma foto da Sra.

Waldner em sua pasta, um lembrete de que dados sem humanidade são apenas números. E a Sra. Waldner. Ela ainda mora na mesma casinha onde vive há décadas. Ela ainda depende dos vizinhos para ir a consultas médicas.

Ela ainda renova sua carteira de identidade a cada 10 anos porque não dirige desde a década de 1990. E agora, quando a correspondência chega, alguém se senta ao lado dela, abre cada envelope e lê cada linha em voz alta. Não porque ela seja indefesa, não porque tenha sido esquecida, mas porque alguém finalmente a enxerga. Alguém vê os anos que ela trabalhou.

Alguém vê a vida que ela construiu. Alguém vê a verdade por trás da papelada que tentou enterrá-la. E casos como este nos obrigam a confrontar uma questão mais difícil. Doze anos são suficientes para uma funcionária pública que roubou 147 identidades, incluindo a de uma idosa cega que não merecia nada disso? Conte-nos o que você pensa nos comentários abaixo.

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