em carroça rangia sob o sol impiedoso do interior de São Paulo, ano de 1858, quando Mariana viu a senhora descer com os olhos faiscando fúria. Dona Eulália, a dona da fazenda Santa Cruz, apertava o chicote no punho cerrado, o vestido de linho bordado colado ao corpo suado.
“Quem foi que atrasou o café da manhã?”, vociferou ela, a voz cortando o ar como lâmina afiada. Os escravos no terreiro baixaram as cabeças, mas Mariana, no canto da cenzala sentiu o coração disparar. Ela sabia, sabia o segredo que podia derrubar aquela mulher de ferro. Dona Eulália andava pela fileira de barracões de taipa, o salto das botinas afundando na terra vermelha. Cada passo ecoava autoridade absoluta.
A fazenda era um império de café. 300 escravos curvados sob as lavouras, chicotes estalando ao amanhecer. Ninguém ousava erguer o olhar, exceto Mariana, que limpava o chão da cozinha com as mãos calejadas, os olhos semicerrados observando tudo. Há meses ela guardava aquilo, o visitante noturno, o homem de pele morena, que escalava o muro dos fundos, toda a lua cheia.

Se você está preso nessa tensão desde o primeiro segundo, inscreva-se no canal agora, ative o sininho, compartilhe com quem ama histórias reais e comente aí embaixo de onde você está assistindo. Vamos mergulhar mais fundo. O dia seguia implacável. O sol escaldava as costas dos trabalhadores. O vapor subia dos cafezais como névoa de julgamento. Dona Eulalha subiu ao sobrado principal.
A saia volumosa roçando as escadas de madeira polida. Dentro o ar era fresco, cortinas de musselina filtrando a luz. Ela se sentou à escrivaninha de jacarandá, abrindo o livro caixa. Números, sempre números. A fazenda prosperava porque ela nunca fraquejava. Viúva aos 30, herdara tudo do marido falecido em viagem ao rio.
Contava-se que ele partira cedo demais, deixando-a com rédias firmes nas mãos. Mas Mariana vira o homem, o mesmo porte, a mesma cicatriz no queixo. Não era um fantasma. Mariana carregava baldes de água do riacho, os braços tremendos sob o peso. A roda d’água girava ao longe, rangendo como ossos velhos. Outras mulheres coxixavam.
Assimta com o diabo no corpo hoje. Ela sentia, mas sua mente girava em torno do segredo. Fora numa noite de tormenta, dois meses antes, escovava os cabelos da senhora no quarto quando ouviu o sussurro na janela. Eu lá-lhe, meu amor. Assim a congelara, os olhos vidrados.
Depois mandara Mariana embora com um tapa leve, mas o suficiente para doer na alma. Desde então, as visitas continuavam. O homem trazia cartas, ouro escondido em botas e risos abafados. No almoço, o sino badalou. Escravos se aglomeraram sob a sombra das mangueiras, pão de milho e feijão ralo na gamela coletiva. Dona Eulália apareceu no alpendre, o leque batendo ritmado. Aumentem o ritmo nas capinas. Amanhã chega o comprador do rio.
Seus olhos varreram a multidão, parando em Mariana por um segundo a mais. Um arrepio. Ela sabia que a escrava limpava seu quarto às terças. Será que suspeitava? Mariana engoliu seco, mastigando devagar. precisava de um plano, não vingança burra, mas algo que a libertasse, ou pelo menos equilibrasse a balança. A tarde arrastou-se em ondas de calor.
Ferramentas batiam na terra, suor escorria como lágrimas não choradas. Dona Eulália cavalgava o garanhão preto pelos campos, o chicote na mão, corrigindo posturas com estalos precisos. Mais rápido, preguiçosos. Um rapaz tropeçou e o couro silvou no ar. Ele se encolheu, mas continuou. Ninguém reclamava. A senhora era lei viva.
Casara jovem com o Barão, um homem de negócios frios. Ele morrera em alto mar, dizem que de febre. Mas o visitante noturno contava outra história em sussurros que Mariana flagrara. Você me salvou daquela viagem, Eulália. Fingimos tudo. Ao entardecer, o céu tingiu-se de laranja. Mariana foi chamada ao sobrado.
“Limpe o açoalho do meu quarto”, ordenou a Simá, sem olhar nos olhos. Ela obedeceu, joelhos no açoalho de taco, esfregando com cinzas e água. O aroma de lavanda pairava, misturado ao de tabaco masculino. Debaixo da cama, uma caixa de madeira entalhada. Coração acelerado, ela a arrastou para fora quando ouviu passos distantes. Dentro, cartas amareladas, um medalhão com retrato de um homem jovem, o mesmo do muro.
“Meu irmão”, murmurou uma voz atrás dela. Dona Eulália estava na porta, os braços cruzados. “Você acha que podebilhotar?” Mariana congelou o pano na mão. A senhora avançou devagar, o rosto uma máscara de gelo. Eu controlo esta fazenda porque sei segredos de todos, incluindo o seu. Mariana ergueu o olhar pela primeira vez. Seu segredo? O filho escondido na mata com uma quilombola.
Como sabia? Eu vejo tudo, menina. Mas o meu, o meu é maior. Ela pegou a caixa, trancando-a no armário. Trabalhe e esqueça. A noite caiu pesada, estrelas piscando como olhos curiosos. Na cenzala, lamparinas de quererosene tremulavam. Mariana deitou na rede de palha mente fervendo.
O irmão da senhora vivo, fingira a morte para fugir de dívidas no rio, deixando-a como herdeira. Ouro contrabandeado nas cartas. explicava as expansões da fazenda. Se o capatar soubesse, ou o padre da vila. Mas contar era risco. Podia acabar em calabouso, ou pior, separada do filho. Do sobrado, luzes acesas até tarde. Mariana espiou pela fresta da janela da cozinha.
Dona Eulália andava de um lado para o outro, carta na mão. O homem chegara cedo aquela noite, um capa encharcada de orvalho, abraço apertado no jardim. O comprador desconfia, Eulália. Precisamos de mais ouro. Ela sussurrou algo, mão no peito dele. Amor, ganância. Mariana recuou passos leves na terra úmida. Precisava de prova, algo irrefutável.
Dias se arrastaram em rotina opressiva, capina, colheita, noites de vigília. Dona Eulália intensificou a vigilância, olhos em Mariana como falcões. Uma vez no terreiro, chamou-a a aparte. Você é esperta demais para uma cativa. Quer liberdade? Sirva-me bem. Oferta envenenada. Mariana a sentiu, mas planejava. escondeu uma carta velha na palha da rede. Copiara trechos à noite com carvão em pedaço de pano.
Uma tormenta irrompeu numa madrugada. Raios rasgavam o céu, trovões abalando a terra. Mariana acordou com o barulho de cascos, o homem galopando pelo portão dos fundos. Ela saiu da cenzala, chuva encharcando o camisão fino. Escondida atrás do curral, viu-os no jardim. Abraço febril, malas trocadas. Amanhã eu fico, irmão. A fazenda é nossa, irmão. Confirmado. Mas algo mais.
Um embrulho pequeno, vivo, um choro abafado na chuva, coração em disparada. Mariana aproximou-se. O embrulho era uma criança, olhos escuros como os da senhora. Filha bastarda do irmão, segredo sobre segredo. Dona Eulália entregou a criança uma mucama de confiança, sussurrando: “Leve para a casa da viúva na vila. Diga que é órfã”.
O homem montou partindo na escuridão. Mariana recuou, lama nos pés. Agora tinha tudo, mas usar isso exigia astúcia, chantagear, fugir com o filho. O sol nasceu cinzento, névoa nos cafezais. Dona Eulália no alpendre fingindo normalidade. Hoje dobramos o trabalho. Tempestade atrasou tudo. Seus olhos encontraram Mariana no terreiro. Um sorriso frio.
Ela sabia que fora vista. A tensão pairava, invisível como fumaça. O que a escrava faria? Confrontar, esperar o momento? A fazenda Santa Cruz rangia sob segredos prestes a ruir. Mariana baixou os olhos, fingindo ajustar o cesto de frutas podres que carregava. Seu coração batia como tambor abafado na noite.
A senora Isabela virou-se devagar, o vestido de linho cruzando o ar úmido do amanhecer. Os campos de cana de açúcar se estendiam ao redor, sentinelas verdes sob o sol incipiente do nordeste brasileiro. 1847. O ar cheirava a terra molhada e suor contido. Não agora. Mariana repetia isso em silêncio. Confrontar seria jogar todas as cartas de uma vez.
Ela precisava de prova irrefutável. caminhou para os barracões, os pés descalços afundando na lama vermelha. Atrás dela, os olhos de Isabela perfuravam as costas como agulhas invisíveis. A fazenda Santa Cruz pulsava com rotina opressiva, o ranger das correntes nos tornozelos, os gritos dos feitores ecoando como trovões distantes. Nos dias seguintes, Mariana observava.
De dia capinava as roças sob o chicote invisível do medo. De noite esgueirava-se até a Casagre. A senora Isabela, viúva há 10 anos, regia tudo com precisão militar. Seus cabelos negros presos em coque severo, o rosto marcado por linhas que pareciam sulcos de enchada, mas à meia-noite mudava. Mariana vira pela fresta da janela. Uma figura sombria, um homem de pele clara.
Não, o capataz comum. Ele chegava a cavalo pelo brejo escondido, sussurrando promessas que ecoavam como vento. Quem era ele? Um contrabandista de escravos, um rival de fazendas vizinhas? O segredo era o ponto fraco. Isabela controlava 300 cativos com punho de ferro, mas dependia daquele visitante para algo vital. Dinheiro, poder.
Mariana juntava peças, papéis trocados às escondidas, um colar de ouro que surgia no pescoço dela de repente. Uma tarde chuvosa. O céu desabava em lençóis cinzentos. Mariana estava no engenho, moendo cana com as mãos calejadas. Isabela apareceu, guarda-chuva de seda preta aberta como asa de corvo. Parou a poucos passos. Os outros escravos baixaram a cabeça, fingindo invisíveis. “Você venha comigo.
” Voz baixa, mas afiada como lâmina de canivete. Mariana limpou as mãos na saia esfarrapada, seguiu até o alpendre da Casagre. A chuva tamborilava no telhado de palha. Isabela fechou a porta. O ar dentro era denso, cheirando a café forte e segredos mofados. “O que viu naquela noite?”, Isabela perguntou sem preâmbulos.
Seus olhos castanhos fixos, como os de uma pantera a espreita. Mariana hesitou. Frases curtas na mente. Responder, negar. Nada sim há. Só o luar. Mentira frágil. Isabela riu. Som seco como casca de milho. Não minta para mim, menina. Eu controlo esta terra, cada palmo, cada alma. Você acha que pode me desafiar? Mariana ergueu o queixo.
Pela primeira vez, o medo recuou um passo. Siná controla o dia. A noite tem seus próprios senhores. Silêncio. A chuva acelerou como coração em pânico. Isabela aproximou-se, o dedo indicador tocando o ombro de Mariana. Pressão sutil. O que quer? Liberdade? Ouro. Diga. Tudo tem preço, senh Mas o seu segredo vale mais que correntes.
Isabela recuou. Uma rachadura na armadura. Você não sabe de nada. Aquele homem, meu irmão, de longe traz notícias da corte do imperador. Nada que te diga a respeito. Mariana sorriu por dentro. Mentira mal costurada. Ela vira os beijos roubados, as mãos entrelaçadas. Irmão, não. A fazenda rangia sobre mentiras maiores. Isabela precisava dele para falsificar documentos.
talvez desviar cana para portos ilegais. Prova disso estava no sótam, onde Mariana já bisbilhotara. Livros caixa com números trocados. Vá e esqueça. Isabela dispensou-a com um gesto, mas o tom tremia. Vitória pequena para Mariana. Os dias viraram semanas. A tensão crescia como erva daninha.
Feitores apertavam o cerco, vigiando Mariana mais de perto. Uma noite, o visitante retornou. Mariana escondeu-se nos arbustos perto do brejo. O cavalo relinchou baixo. Ele desmontou. Homem de uns 40, barbarrala, casaco europeu poído. Isabela esperava na varanda dos fundos. Os papéis estão prontos? Ele sussurrou.
Voz com sotaque português carregado. Sim, mas há uma problema, uma das minhas. Uma cativa viu você. Ele pruejou baixo. Mande-a para o tronco. Ou pior. Isabela hesitou. Não. Ela é esperta. Pode ser útil. Chantagem reversa. Mariana ouviu tudo. Útil. A palavra queimava. Correu de volta ao barracão, mente fervendo planos.
No dia seguinte, durante a missa dominical, no oratório da fazenda, ela agiu. Padre rezava em latim, escravos ajoelhados em bancos de madeira dura. Isabela na frente, imagem de piedade. Mariana aproximou-se na saída, cesto de flores como disfarce. Sussurrou no ouvido dela: “Siná, o homem do brejo manda lembranças e os papéis precisam de mais tinta.” Isabela congelou. O rosto empalideceu sob o véu. O que quer, demônio? Uma chance.
Meus filhos livres e o capataz longe de mim. Negociação perigosa. Isabela a sentiu quase imperceptível, mas olhos prometiam retaliação. Se inscreva no canal agora. Compartilhe esta história com quem ama narrativas que prendem a alma e comente de onde você está assistindo. Sua interação faz esta fazenda crescer.
A trégua durou pouco. O capataz, um brutamontes chamado Joaquim, recebeu ordens veladas. No engenho, ele a isolou. Siná disse para te ensinar lição. O braço ergueu-se, sombra longa. Mariana desviou, correu para os canaviais. Folhas cortantes chicoteavam a pele, atrás passos pesados. Ela conhecia os caminhos secretos, trilhas feitas por anos de fuga noturna.
escondeu-se numa touça de mato alto. Joaquim passou xingando. Noite caiu. Mariana foi ao sótam da Casa Grande, escada rangente, lá os livros caixa. Folhou páginas amareladas, números inflados, envia os fantasmas para o rio. Prova. Escondeu um sob a saia. Amanheceu com alvoroço. Um escravo fugido, avistado nos limites. Todos mobilizados. Isabela gritava ordens, distraída.
Perfeito. Mariana aproximou-se do visitante que selava o cavalo no brejo. Senhor, um presente da senhora entregou o livro caixa. Ele foliou, olhos arregalados. O que é isso? O fim dela se não ajudar? Ele riu. Pequena, atrevida, o que ganha? Liberdade para 10, incluindo eu. Ele pensou. Cavalo bufou. Feito, mas ela cai primeiro. Mariana voltou. A fazenda fervia.
Isabela a chamou ao escritório. Porta trancada. Traição, você roubou. Mariana mostrou o colar que pegara do sótam. Não, você construiu isso. Isabela avançou. Luta silenciosa. Mesas viradas, papéis voando. Mariana empurrou. Isabela caiu, joelho no chão. Pare. Podemos dividir. Dividir? Você divide só dor. Porta arrombada. Feitores entraram. Cena congelada. Isabela de pé, descomposta.
Levem-na. Tronco por uma semana. Mariana arrastada. Correntes frias nos pulsos. Mais sorriu. O visitante cavalgava para a vila. Livro em mãos. Autoridades viriam. Inspores imperiais. Dias no tronco, dor nas costas, chuva lavando o rosto. Escravos passavam, olhos cúmplices. Um deles, Zé, sussurrou. Segunda à noite, fuga, plano em marcha. Isabela andava tensa, olhando sombras.
O homem não voltara. Mensageiros da capital chegaram ao portão. Cavalos reais, bandeiras tremulando. Isabela recebeu-os na varanda. Uniformes engomados. Perguntas afiadas. Documentos da fazenda, senhora. Ela gaguejou tudo em ordem. Mariana, ainda no tronco ouvia fragmentos, risos nervosos, papéis requisitados. Noite da fuga.
Zé cortou correntes com faca escondida. 10 almas saíram. Mulheres, crianças, velhos, pelo brejo para o quilombo distante nas serras. Isabela descobriu ao amanhecer. Grito ecoou pela fazenda, cavaleiros enviados. Mais tarde, o visitante testemunha contra ela nos tribunais. Fraudes expostas. A fazenda Santa Cruz tremeu. Mariana olhou para trás uma última vez.
Sol nascente tingia os canaviais de ouro. Liberdade custava caro, mas valia cada sussurro, cada risco. A tensão não acabara. Isabela, arruinada, mas viva, jurava vingança. Segredos já eram mais segredos. A jornada continuava nas matas. Ei, se esta história te deixou com o coração acelerado, inscreva-se, ative o sininho, compartilhe com amigos e comente: “Qual segredo você guardaria numa fazenda como essa?” “De onde você assiste? Vamos interagir.
” A noite caía pesada sobre a fazenda, como um manto de sombras que engolia os cafezais. Mariana se movia como um fantasma entre as cenzalas, o coração pulsando em ritmo de tambor surdo. Dona Beatriz, a senhora de Punho de Ferro, havia ordenado vigilância redobrada após o último sussurro de rebelião.
Mas Mariana carregava o peso do segredo, aquele que vira por acidente numa noite de tormenta, quando o candieiro da patroa iluminou páginas amareladas escondidas no açoalho do quarto alto. Ela parou na beira do barracão, os pés descalços afundando na terra úmida. O ar cheirava a café torrado e suor acumulado.
É agora pensou, os dedos apertando o pano enrolado com o frasco roubado do armário da cozinha. Não era veneno, mas algo que dona Beatriz usava para acalmar as noites insônias. Um elixir que deixava a mente nublada, vulnerável. Mariana o pegara para equilibrar as contas, para forçar a mão da senhora, sem derramar uma gota de líquido carmesim.
Do outro lado do pátio, a casa grande erguia-se imponente, suas janelas como olhos acusadores. Dona Beatriz andava de um lado para o outro na varanda, o vestido de linho bordado roçando o piso de madeira polida. Seus cabelos negros, presos em coque severo, contrastavam com a palidez da pele, marcada por rugas de autoridade implacável.
“Quem ousou mexer nas minhas coisas?”, murmurava ela para si, os olhos varrendo à escuridão. Seu marido, o coronel Ramiro, viajava a São Paulo a semanas, deixando-a sozinha com o império que construíra com chicotes e ordens secas. Mariana avançou, colando-se à sombras dos troncos de Jabuticaba. Cada passo era calculado, o ritmo da respiração controlado para não trair o tremor nas pernas.

Ela sabia o segredo. Dona Beatriz não era a viúva impiedosa que todos temiam. Anos atrás, jovem e ingênua, ela fora prometida a um fazendeiro cruel que a trancara por ciúmes doentios. Para escapar, falsificara papéis, assumira a identidade de uma prima rica e comprara a fazenda com ouro escondido. Mas o preço era alto.
Manter a fachada com punho de ferro, temendo que o passado a alcançasse. O diário, com confissões rabiscadas, era sua fraqueza exposta. Um galo cantou cedo demais, ecoando pelo pátio. Mariana congelou. Passos pesados se aproximaram. Zé, o capataz de confiança da senhora, patrulhava com lanterna. “Quem tá aí?”, grunhiu ele, a voz rouca de cachaça. Ela se escondeu atrás de um barril, o peito arfando.
Zé passou devagar, o cheiro de tabaco impregnando o ar. Quando ele se afastou, Mariana correu para a lateral da Casagre, escalando a treliça de trepadeiras com agilidade de quem crescera nos campos. No quarto de dona Beatriz, a porta rangeu ao ser empurrada. A senhora virou-se bruscamente, o rosto iluminado pela vela solitária. “Você”, exclamou, os olhos se estreitando ao reconhecer Mariana.
“O que faz aqui a essa hora? Quer o chicote de novo?” Sua voz era aço, mas havia um tremor sutil, como folha ao vento. Mariana não recuou, parou no centro do quarto, o frasco frio na palma da mão. Eu sei, sim, sei de tudo. As palavras saíram baixas, cortantes, frases curtas como lâminas.
Dona Beatriz empalideceu, recuando até a cama de Docel. O quê? Fale claro, sua insolente, o diário, a prima morta que nunca existiu, o fazendeiro que aprendia como a um animal. Mariana desdobrou o pano, revelando o frasco. E isso aqui para as noites que o medo não deixa dormir. A senhora estendeu a mão como para golpear, mas parou.
Seus olhos, pela primeira vez, traíam dúvida. Um abismo psicológico se abrindo no chão, polido. Como? Dona Beatriz sentou-se devagar, o corpo enrijecendo como corda esticada. Você não entende. Se souberem, tudo desaba. A fazenda minha vida. Frases longas, agora o ritmo desacelerando para descrever o pavor interno.
Ela viajava no tempo, recordando as correntes metafóricas de seu passado, o ouro roubado que comprara liberdade ilusória. Governara com ferro para não ser vista como fraca, esmagando rebeliões antes que nascessem. Mariana se aproximou, o olhar fixo. Eu entendo mais que a pensa.
Vi minha mãe partir antes da hora por causa de senhores como aquele, mas siná é igual agora com punho que esmaga sonhos. A tensão pairava, densa como neblina matinal nos cafezais. Dona Beatriz pegou o frasco, os dedos trêmulos. O que quer? Ouro. Liberdade para você, para todos. Mariana falou sem hesitar, mas com cálculo. Não era rebelião cega, era barganha precisa. Eu guardo o segredo.
Sim, solta os mais velhos, os doentes, aos poucos, sem alarde, ou o diário vai para o coronel quando voltar. Dona Beatriz riu, um som seco, sem humor. Você acha que pode me chantagear? Eu que controlo cada palmo dessa terra. Mas seus olhos desviavam para a fresta no açoalho, onde o diário jazia, o silêncio se estendia, quebrado apenas pelo tictac do relógio de pêndulo. Ela via o abismo.
Expor-se significava ruína, mas ceder abria brechas na armadura. A madrugada rastejava. Zé gritou lá fora. Um escravo fugira, aproveitando a confusão. Dona Beatriz levantou, o rosto endurecendo. Vá, pegue o diário e queime. Amanhã libero três. Mas se respirar uma palavra. A ameaça pairava, incompleta, carregada de subtexto.
Mariana obedeceu os movimentos rápidos, pegou as páginas amareladas, sentindo o cheiro de tinta velha e segredos podres. Na cozinha, acendeu o fogo do fogão à lenha e as viu virar cinzas, mas guardou uma página chave dobrada no peito, seguro pessoal, equilíbrio precário. Dias viraram semanas. Dona Beatriz manteve o punho de ferro em público, mas aos poucos escravos idosos sumiam para vilas próximas com papéis de venda falsos.
Mariana observa das cenzalas o poder invertido em sussurros. A senhora a chamava à Casa Grande para tarefas especiais, conversas tensas, onde olhares se cruzavam como espadas. Uma noite de chuva torrencial, o coronel retornou. Banquete na casa grande, comiam feijoada e bebiam vinho importado.
Dona Beatriz sorria, mas Mariana, servindo, viu o suor em sua testa. Ele suspeita? Sussurrou ao passar. Não ainda respondeu a senhora voz baixa. Mas o preço sobe. Ajude-me a despistar. Aliança improvável nasceu. Duas mulheres presas em teias de segredos, navegando a fazenda como navio em mar revolto. Mariana ganhava espaço, ensinando letras escondidas aos jovens.
Dona Beatriz, aliviada do fardo diário, suavizava ordem sem perder o controle, mas a tensão nunca morria. Um capatazer encontrou cinzas estranhas. Zé começou a vigiar Mariana, o que trama com a patroa. Confrontou a ele um entardecer no moinho. Nada que te diga respeito rebateu ela. Frases curtas acelerando o pulso dele. A crise veio numa assembleia dos feitores. O coronel anunciou venda de terras, incluindo escravos.
Dona Beatriz interveio. Eu cuido disso. No quarto depois confrontou Mariana. Ele sabe de algo. O diário. Você guardou? Guardei nossa paz. Mariana mostrou a página. Sin decide agora. Liberta todos ou eu falo. O ar creptava. Dona Beatriz andou.
O vestido farfalhando recordou seu passado, a fuga, o ouro manchado de mentiras. Você me prendeu como ele me prendia, mas nos olhos reluzia respeito relutante. Vá, leve os outros, eu fico com a fachada. Não era salvação mágica. Mariana organizou a saída noturna, carretas com café falso cobrindo corpos. 15 partiram para o norte, rumo a quilombos velados.
Dona Beatriz assistiu das sombras, o punho finalmente abrindo-se, mas o ferro permanecendo na alma. Anos depois, a lei Áurea ecoou, mas na fazenda a mudança veio antes, forjada em segredo e tensão. Dona Beatriz envelheceu sozinha, o coronel partindo antes da hora em viagem misteriosa.
Mariana, livre em terras vizinhas, plantava seu próprio café sem punhos de ferro. A fazenda sussurrava histórias, mas o único segredo morrera com as cinzas. Ei, se essa conclusão te deixou pensando no poder dos segredos, inscreva-se no canal, ative o sininho, compartilhe com quem ama histórias reais e comente qual segredo mudaria sua vida.
De onde você assiste hoje? Vamos trocar ideias nos comentários. M.