Em março de 2012, quando a Polícia Civil de Pernambuco invadiu uma casa simples no bairro Eliópolis, em Garanhuns, os investigadores encontraram algo que mudaria para sempre, a forma como o Brasil enxergaria o mal. Pedaços de carne humana cozinhando no fogão, ossos fervendo em panelas e um diário manuscrito com rituais de purificação que gelaram o sangue dos mais experientes.
Mas o que realmente aterrorizou as autoridades não foi apenas o canibalismo, foi descobrir que por anos aquela carne tinha sido vendida em salgados pelas ruas da cidade, em padas, coxinhas, pastéis e centenas de pessoas inocentes tinham comido. Antes de continuar, escreva nos comentários de onde você está assistindo esse vídeo.
Quero saber até onde nossas histórias estão chegando. Para entender como três pessoas comuns se transformaram nos canibais mais temidos do Brasil, precisamos voltar ao ano de 2004, as ruas empoeiradas do bairro Rio Doce, em Olinda, onde João Beltrão Montenegro, um homem de 42 anos, trabalhava como vendedor ambulante e cultivava uma obsessão que mudaria vidas para sempre.

João não era diferente de milhares de brasileiros. Ensino fundamental incompleto, trabalho braçal, uma vida sem perspectivas numa periferia que o mundo preferia esquecer. Mas havia algo em seus olhos que incomodava os vizinhos, um brilho estranho, como se ele enxergasse coisas que outros não conseguiam ver.
Nascido numa família evangélica conservadora, João cresceu ouvindo sobre o fim dos tempos sobre eleitos e condenados. Seu pai, um mecânico alcólatra, batia nele sempre que o pegava, conversando com anjos. Sua mãe morreu quando ele tinha 12 anos e João jurava que ela continuava falando com ele através dos sonhos. Aos 20 anos, ele já havia passado por três denominações religiosas diferentes.
Batista, Assembleia de Deus, universal. Nenhuma satisfazia sua sede por respostas absolutas. João queria mais do que salvação. Ele queria propósito, queria ser especial. Foi em 2001 que tudo começou a mudar. Trabalhando como ajudante numa loja de produtos esotéricos no Recife, João descobriu literatura sobre purificação espiritual, controle populacional e teorias sobre raças superiores.
Livros que misturavam cristianismo primitivo com ideologias extremistas europeias. O João sempre foi estranho. Relembra dona Maria Santos, antiga vizinha no Rio Doce. Ele ficava horas parado na calçada. olhando as pessoas passarem como se estivesse estudando elas, escolhendo. Em 2003, João começou a frequentar um terreiro de Umbanda na periferia de Olinda, não por fé, mas por curiosidade mórbida.
Queria entender os rituais de sacrifício, os cortes, a manipulação do sangue. O pai de santo, Severino Alves, expulsou João após três meses. Aquele homem tinha algo podre dentro dele”, declarou Severino à polícia anos depois. Ele perguntava coisas que nenhum filho de santo pergunta sobre carne, sobre comer os espíritos dos mortos. Silvia Cristina Torres tinha 35 anos quando o conheceu na feira de Olinda.
Divorciada, dois filhos pequenos, Rafael de 8 anos e Amanda de seis. vendia doces caseiros para sustentar a família depois que o ex-marido desapareceu sem pagar pensão. Era uma mulher simples, religiosa, que frequentava a Igreja Batista da Esperança todas as semanas e acreditava que Deus tinha um plano para cada pessoa. Ela não sabia que João também acreditava em planos divinos, mas os dele envolviam morte.
O primeiro encontro aconteceu numa terça-feira de dezembro. Silvia estava vendendo cocadas quando João se aproximou da barraca. Comprou duas, elogiou a qualidade, perguntou sobre a vida dela com uma preocupação que parecia genuína. “Você tem um dom especial”, ele disse, olhando direto nos olhos dela.
Suas mãos transformam ingredientes simples em algo sagrado. Era o tipo de elogio que Silvia nunca havia recebido. Nenhum homem jamais havia falado de suas mãos. como algo sagrado. João voltou todos os dias durante duas semanas, sempre comprando doces, sempre com palavras carinhosas, sempre perguntando sobre os filhos, sobre as dificuldades, sobre os sonhos que ela havia abandonado.
O namoro começou devagar. João era carinhoso, atencioso, ajudava Silvia com os filhos, trazia presentes baratos, mas bem intencionados. levava Rafael para jogar bola no campinho do bairro. Penteava os cabelos de Amanda enquanto contava histórias bíblicas. Durante seis meses, foi o homem perfeito.
Silvia finalmente havia encontrado alguém que a valorizava, alguém que enxergava nela mais do que uma mãe solteira lutando para sobreviver. Mas João estava apenas plantando sementes até a noite de junho de 2005, quando decidiu revelar suas verdadeiras crenças. O mundo está doente, Silvia. Ele sussurrou no escuro do quarto, enquanto os filhos dormiam no cômodo ao lado, cheio de pessoas ruins, impuras, prostitutas, viciados, gente que contamina a criação de Deus.
E ele me mostrou o caminho para curar essa doença. Silvia tentou se levantar, mas João segurou sua mão com delicadeza. Não tenha medo. Deus me escolheu para uma missão e escolheu você para me ajudar. Documentos apreendidos pela Polícia Civil revelam que João mantinha 23 cadernos repletos de anotações místicas, desenhos anatômicos detalhados, símbolos que misturavam cristianismo com rituais africanos, teorias nazistas sobre purificação racial e interpretações distorcidas do apocalipse de João. Ele havia criado uma cosmologia própria. acreditava que Deus
estava testando a humanidade através da corrupção, que apenas os puros mereciam viver e que ele, João Beltrão Montenegro, havia sido escolhido para identificar e eliminar os impuros. Não é assassinato, Silvia, é cirurgia espiritual.
A manipulação funcionou porque João tocou na ferida mais profunda de Silvia, a necessidade de se sentir especial. Durante toda a vida, ela havia sido apenas mais uma mulher pobre numa periferia esquecida. Agora, de repente, era uma eleita de Deus. Silvia deveria ter fugido naquele momento. Deveria ter pegado os filhos e corrido. Mas a manipulação já havia infectado sua mente como um vírus silencioso.
Em 2006, a vida do casal mudou drasticamente com a chegada de Camila Rodrigue Silva. Aos 19 anos, ela era tudo que Silvia não era. Jovem, bonita, vulnerável. havia fugido de casa em Caruaru após ser abusada pelo padrasto e trabalhava como doméstica na região metropolitana do Recife.
João a conheceu numa parada de ônibus em casa amarela. Camila chorava, segurando uma mala de papelão e contando as moedas no bolso. Ela tinha apenas R$ 15 e lugar nenhum para dormir. João se aproximou com a mesma tática que havia usado com Silvia. ofereceu ajuda, comida, um lugar seguro para ficar.
Falou sobre proteção divina, sobre como Deus nunca abandona os justos. “Você não está sozinha”, ele disse, enxugando as lágrimas dela. Deus me mandou te encontrar. Camila, sem família e sem opções, aceitou ir com ele. Não sabia que estava entrando numa armadilha que levaria 4 anos para se fechar.
O que aconteceu nos meses seguintes foi uma manipulação psicológica tão sofisticada que até hoje psicólogos forenses estudam o caso nos cursos de criminologia da Universidade Federal de Pernambuco. João não apenas convenceu duas mulheres a dividirem o mesmo homem, ele as transformou em verdadeiras crentes de sua missão divina. “Vocês duas foram escolhidas”, ele explicava durante os cultos noturnos no quintal da casa.
Silvia, a mãe espiritual, Camila, a filha perdida que encontrou o caminho. Juntas vocês são os instrumentos de Deus para a grande purificação. A estratégia era cruel e eficiente. Ele alimentava a carência emocional de ambas, ao mesmo tempo que criava uma competição sutil entre elas. Silvia queria provar que era digna do amor de João.
Camila queria provar que merecia um lugar naquela família improvável. E João controlava tudo. Decidia quando cada uma podia se aproximar dele, quando mereciam carinho, quando precisavam ser corrigidas. Ele as transformou em escravas emocionais dispostas a qualquer coisa para manter o afeto que acreditavam ter conquistado. Ele falava como um profeta relatou dona Rosa Pereira, vizinha da família à polícia em 2012. Tinha resposta para tudo.
Fazia as pessoas acreditarem que ele realmente conversava com Deus. Até eu chegava a duvidar se ele não era mesmo especial. A casa número 47 da Rua das Palmeiras, no Rio Doce, se tornou o quartel general de uma seita que ainda não tinha nome oficial. João passava entre 3 e 4 horas por dia pregando sobre purificação, sobre como certas pessoas eram marcadas para morrer e assim limpar o mundo de suas impurezas.
Silvia e Camila ouviam em silêncio religioso, sentadas no chão de cimento queimado, absorvendo cada palavra como se fosse evangelho sagrado. João havia conseguido algo que poucos líderes religiosos conseguem. Devoção absoluta. As regras da casa eram simples e terríveis. Não questionar as decisões de João, não falar com vizinhos sobre os ensinamentos, não sair sozinhas, não comer carne que não tivesse sido abençoada por ele.
As primeiras vítimas foram animais, gatos de rua que João capturava durante as madrugadas, cachorros abandonados que seguiam Silvia quando ela saía para comprar mantimentos. João dizia que era treinamento espiritual, que eles precisavam se acostumar com a morte, com o sangue, com o processo de transformar vida em alimento sagrado.
É assim que nossos ancestrais faziam, ele explicava enquanto esquartejava um gato no quintal, antes da contaminação moderna, antes das pessoas esquecerem que comer é um ato sagrado. E as duas mulheres obedeciam por amor, por medo, por uma fé distorcida que crescia como tumor maligno a cada ritual noturno. Os vizinhos do rio Doce começaram a notar mudanças estranhas na rotina da família. O trio saía apenas após o pô do sol.
Comam quantidades excessivas de sal grosso, pimenta e ervas na feira. Silvia, que antes sorria para todos, agora caminhava de cabeça baixa, como se carregasse um peso invisível. O cheiro que vinha da casa às vezes era diferente, doce demais, metálico, como o ferro derretido misturado com açúcar queimado.
A gente achava que eram os doces da Silvia. Lembra seu Antônio? aposentado, que morava na casa ao lado, mas era um cheiro meio estranho, enjoativo. Minha esposa sempre fechava as janelas quando vinha dali, mas ninguém suspeitava da verdade. Como poderiam? Eram apenas três pessoas comuns numa periferia brasileira. Três pessoas que estavam prestes a transformar uma crença distorcida numa realidade que faria o Brasil inteiro questionar os limites da maldade humana.
Em dezembro de 2007, João decidiu que era a hora de dar o próximo passo. O treinamento havia terminado. A fé das suas seguidoras estava inabalável. O mundo precisava ser purificado através do que ele chamava de comunhão suprema. Eles precisavam provar a carne humana, precisavam consumir a essência dos impuros para se tornarem verdadeiramente puros.
João só não sabia que a primeira vítima já estava escolhida e que seria o início de uma jornada que transformaria uma casa simples do Rio Doce no berço do maior caso de canibalismo da história brasileira. Aceita cartel estava prestes a nascer e suas primeiras palavras seriam escritas com sangue. Janeiro de 2008 marcou uma mudança radical na dinâmica do trio.
João havia decidido que era hora de oficializar sua missão divina. A casa no Rio Doce, que antes abrigava uma família disfuncional, se transformou no templo de uma religião que nascia das trevas da mente humana. Precisamos de um nome”, João anunciou durante um dos cultos noturnos. Deus me revelou em sonhos. Seremos o cartel. A escolha não era acidental.
João explicou às suas seguidoras que a palavra cartel representava união, controle e poder absoluto. Eles não eram apenas um grupo religioso, eram uma organização com missão específica, controlar quem merecia viver e quem precisava morrer. Silvia e Camila aceitaram o nome sem questionar, há meses que não questionavam mais nada.
A manipulação psicológica havia chegado ao estágio final, dependência total. Os rituais se tornaram mais elaborados. João criou uma hierarquia rígida, onde ele era o purificador supremo. Silvia era a mãe guardiã e Camila a filha da transformação. Cada uma tinha responsabilidades específicas no que João chamava de processo de limpeza mundial. Documentos apreendidos pela Polícia Civil revelam que João mantinha um calendário detalhado com datas sagradas.
Lua nova era para jejum e meditação, lua cheia para os rituais de purificação. E as sextas-feiras eram reservadas para o que ele denominava comunhão suprema. A humanidade está contaminada há séculos. João pregava enquanto caminhava pelo quintal da casa, gesticulando como um profeta bíblico. Prostitutas, viciados, criminosos, pessoas sem Deus no coração.
Eles infectam os puros apenas existindo. A teoria de João sobre purificação misturava elementos cristãos distorcidos com ideologias extremistas que havia absorvido durante anos de leitura obsessiva. Ele acreditava que certas pessoas carregavam uma essência impura que contaminava o ambiente ao redor e que a única forma de neutralizar essa contaminação era através do que chamava de absorção purificadora, comer a carne dos impuros.
Quando consumimos a essência de alguém contaminado, ele explicava com a calma de um professor universitário, nós neutralizamos o mal que essa pessoa espalha pelo mundo e ao mesmo tempo, fortalecemos nossa própria pureza. A lógica era doentia, mas João tinha uma habilidade perturbadora de tornar o absurdo convincente. Ele citava versículos bíblicos fora de contexto, misturava conceitos de diferentes religiões e criava uma narrativa que fazia sentido apenas dentro do universo mental que havia construído. Silvia foi a primeira aceitar completamente a doutrina. Sua fé
cega em João a tornava incapaz de questionar qualquer ensinamento, por mais extremo que fosse. Ela acreditava genuinamente que estava participando de uma missão divina. Camila demorou mais para ser convencida. Aos 20 anos, ainda mantinha resquícios de consciência moral. Mas João sabia exatamente como quebrar suas resistências.
“Você sofreu nas mãos de homens impuros.” Ele sussurrava. durante as sessões de aconselhamento espiritual que aconteciam no quarto do casal, seu padrasto te contaminou, mas aqui você pode se vingar de todos os homens como ele. Pode transformar sua dor em poder. A manipulação funcionou porque tocou na ferida mais profunda de Camila, a raiva reprimida contra o abuso que havia sofrido.
João transformou seu trauma em combustível para o ódio e o ódio em justificativa para o que viria a seguir. Em fevereiro de 2008, aita Cartel estabeleceu suas regras definitivas. Eram sete mandamentos que João havia recebido em revelação. Primeiro, apenas o purificador supremo decide quem deve morrer. Segundo, a morte dos impuros é um ato sagrado, não um crime.
Terceiro, o sangue derramado deve ser oferecido à terra como sacrifício. Quarto, a carne consumida deve ser preparada com sal e ervas sagradas. Quinto, nenhum pedaço pode ser desperdiçado. Tudo tem propósito divino. Sexto, os ossos devem ser queimados em ritual específico. Sétimo, o segredo da seita deve ser protegido até a morte.
As regras eram escritas à mão num caderno vermelho que João guardava como se fosse uma relíquia sagrada. Silvia e Camila precisavam recitá-las todas as noites antes de dormir, mas havia um oitavo mandamento não escrito. A seita precisava se sustentar financeiramente e João havia encontrado uma forma perfeita de combinar propósito religioso com necessidade econômica. Os salgados.
Deus me mostrou uma visão. Ele anunciou numa madrugada de março: “Vamos levar nossa purificação para o mundo. Vamos alimentar as pessoas com a essência transformada dos impuros. Assim, toda a cidade participará da nossa missão sem nem saber.” A ideia era ao mesmo tempo genial e aterrorizante. Eles usariam a carne das vítimas para fazeras, coxinhas e pastéis que seriam vendidos nas ruas de diferentes cidades pernambucanas.
O produto da purificação se tornaria literal e simbólico. Silvia, que tinha experiência em culinária por causa dos doces que vendia na feira, seria responsável pela preparação. Camila ajudaria com os temperos e o preparo da massa. João supervisionaria todo o processo e escolheria os locais de venda.
Assim, cada pessoa que comer nossos salgados estará participando da purificação mundial. João explicava com os olhos brilhando de fanatismo. Eles não vão saber, mas estarão consumindo a transformação do mal em bem. Para testar a teoria, eles começaram com os animais que capturavam. Gatos e cachorros mortos eram transformados em carne moída, temperada com ervas que João considerava sagradas e usada no recheio de salgados que as mulheres vendiam discretamente na periferia de Olinda.
Os vizinhos compravam, elogiavam o sabor diferenciado, pediam mais. A Silvia tinha um tempero especial, lembra dona Francisca, que comprou salgados da família durante meses. Era um gosto meio doce, meio salgado, diferente de tudo que eu já tinha provado. O sucesso inicial convenceu João de que Deus estava abençoando a missão. Era hora de dar o próximo passo.
Em abril de 2008, ele anunciou que havia chegado a hora da primeira purificação humana. Deus havia revelado o nome da primeira vítima, uma jovem que representava tudo de impuro no mundo moderno. Ela é prostituta, viciada e desrespeitosa com os pais”, João declarou durante um culto noturno.
“É perfeita para iniciar nossa missão verdadeira. Se inscrevam no canal, pois temos mais histórias como essa para contar.” O nome da vítima era Giovana Reis Oliveira, 17 anos, estudante do ensino médio numa escola pública de Olinda, filha de uma família trabalhadora do bairro Jardim Atlântico. João a havia observado durante semanas, anotado sua rotina, estudado seus hábitos e decidido que ela seria o sacrifício inaugural do cartel.
Ele não sabia que estava prestes a cruzar uma linha que transformaria três pessoas comuns nos criminosos mais procurados de Pernambuco. Uma linha que uma vez atravessada os levaria direto ao inferno que eles mesmos haviam criado. Aceita Cartel havia nascido oficialmente e sua primeira palavra seria escrita com o sangue de uma adolescente que apenas queria terminar os estudos e ajudar a família.
O mal havia encontrado sua forma definitiva e estava pronto para se alimentar. Mas João, Silvia e Camila ainda não sabiam que essa primeira morte seria apenas o começo de uma espiral de horror que duraria 4 anos e chocaria o Brasil inteiro. Eles acreditavam estar salvando o mundo. Na verdade, estavam destruindo a própria humanidade que carregavam dentro de si.
A primeira vítima os aguardava sem saber que havia sido escolhida para morrer. E a cidade de Garanhuns, a 300 km de distância, ainda não imaginava que se tornaria o palco dos crimes mais perturbadores da história criminológica brasileira. O cartel estava pronto para mostrar ao mundo do que era capaz, e o mundo não estava preparado para testemunhar tamanha maldade disfarçada de fé.
Giovana Reis Oliveira tinha 17 anos quando cruzou o caminho de João Beltrão Montenegro numa terça-feira de maio de 2008. Ela voltava da escola técnica, onde estudava enfermagem, quando o homem de olhar penetrante se aproximou na parada de ônibus do bairro Jardim Atlântico em Olinda. “Você parece uma menina responsável”, João disse com um sorriso que parecia genuíno. “Tenho uma proposta de trabalho que pode interessar.
” Giovana hesitou. A família passava por dificuldades financeiras desde que o pai Antônio Reis havia perdido o emprego na fábrica de tecidos. Sua mãe, Conceição Oliveira, trabalhava como fachineira em casas de família, mas o salário mal cobria as despesas básicas.
A proposta de João era simples, trabalhar como doméstica na casa dele em Rio Doce. Salário de 400 por mês, mais alimentação e moradia. Para uma família que sobrevivia com menos de R$ 500 mensais, era uma oferta irrecusável. É para cuidar da casa e ajudar minha esposa com os afazeres João explicou. Trabalho honesto, ambiente familiar, o que Giovana não sabia.
é que havia sido observada durante semanas. João estudara sua rotina, conhecia seus horários, sabia que ela era vulnerável financeiramente. A aproximação não foi casual, foi uma caçada cuidadosamente planejada. Registros da Escola Estadual Maria José Albuquerque mostram que Giovana era uma aluna exemplar. Notas altas, comportamento irrepreensível, sonhava em se formar em enfermagem e trabalhar no hospital da restauração, no Recife.
Seus professores a descreviam como uma menina de ouro, com futuro brilhante pela frente. A Giovana era especial. Relembra Maria Santos, sua professora de português. Inteligente, educada, sempre disposta a ajudar os colegas. Quando soubemos que ela havia arranjado um emprego como doméstica, ficamos preocupados. Uma menina com aquele potencial merecia coisa melhor.
Em 26 de maio de 2008, Giovana se despediu da família pela última vez. Carregava uma mala de pano com suas poucas roupas e os livros escolares que pretendia continuar estudando nas horas vagas. Sua mãe a abençoou na porta de casa. sem imaginar que nunca mais veria a filha viva.
A casa no Rio Doce recebeu Giovana com uma encenação perfeita de normalidade familiar. Silvia se mostrou carinhosa e maternal. Camila, apenas três anos mais velha que a recém-chegada, fingiu ser uma irmã mais velha protetora. João mantinha uma postura paternal, respeitosa. Durante três meses, Giovana viveu uma rotina aparentemente normal.
Acordava cedo, preparava o café, limpava a casa, ajudava Silvia na cozinha. À noite estudava seus livros de enfermagem à luz de uma lâmpada fraca no quartinho que lhe haviam dado, mas estava sendo cuidadosamente observada. João estudava cada movimento, cada reação, cada traço da personalidade da menina. Ele precisava conhecer perfeitamente sua vítima antes de agir.
A Giovana era inocente demais, Camila confessou anos depois, durante interrogatório policial. Ela acreditava que éramos uma família de verdade, que João era um homem bom, que Silvia era como uma mãe para ela. Lentamente, João começou a introduzir elementos de doutrinação religiosa. Falava sobre pureza, sobre pessoas escolhidas por Deus, sobre missões especiais.
Giovana, criada numa família católica tradicional, ouvia com respeito as pregações que João dizia ter recebido em revelação. “Você é especial, Giovana”, ele repetia durante as longas conversas noturnas no quintal: “Deus tem planos grandes para sua vida”. O que João não revelava é que esses planos envolviam a morte dela.
Em agosto de 2008, começaram os rituais. João convenceu Giovana de que ela precisava participar de sessões de purificação espiritual para se tornar uma pessoa melhor. A menina, confiante na família que a havia acolhido, aceitou participar. Os primeiros rituais eram aparentemente inofensivos.
Orações em círculo, jejuns de purificação, banhos com ervas que João dizia serem sagradas. Giovana participava de tudo com a fé sincera de uma adolescente que acreditava estar crescendo espiritualmente. Mas João estava apenas preparando o terreno para o que viria a seguir. A transformação de Giovana em vítima foi gradual e cruel. João começou a isolá-la do mundo exterior.
Convenceu-a de que a família não a procurava porque estava decepcionada com suas escolhas. Que o mundo lá fora era perigoso e impuro, que apenas ali, naquela casa, ela estaria verdadeiramente segura. Ele mexia com a cabeça dela. Silvia revelou durante judicial.
Fazia ela acreditar que nós éramos a única família de verdade que ela tinha. Em setembro, João anunciou que Giovana havia sido escolhida para uma missão especial. Ela seria a primeira a passar pelo ritual de purificação suprema, um processo que a transformaria numa pessoa completamente pura, livre de todas as contaminações do mundo moderno.
Giovana acreditou como uma ovelha sendo conduzida ao matadouro, ela caminhou voluntariamente para o próprio sacrifício. A noite de 26 de setembro de 2008 foi cuidadosamente planejada. João escolheu uma sexta-feira de Lua Nova, data que considerava ideal para rituais de transformação. Silvia preparou uma refeição especial.
Camila decorou o quintal com velas e flores. Tudo parecia uma celebração. “Hoje você vai nascer de novo, Giovana”, João anunciou durante o jantar. “Vai se tornar pura como os anjos”. Após a refeição, eles se dirigiram ao quintal para o que João chamou de cerimônia de purificação final. Giovana vestia um vestido branco que Silvia havia costurado especialmente para a ocasião.
Ela sorria genuinamente feliz por ter sido escolhida para algo que acreditava ser sagrado. O que aconteceu naquele quintal durante a madrugada de 27 de setembro foi reconstruído anos depois. através dos depoimentos dos próprios criminosos. Detalhes tão perturbadores que o promotor André Rabelo precisou fazer pausas durante os interrogatórios.
João matou Giovana com um golpe de facão na nuca enquanto ela estava ajoelhada em oração. A menina não teve tempo de entender o que estava acontecendo. Morreu acreditando que estava participando de um ritual sagrado. Mas a morte foi apenas o começo do horror. Seguindo os mandamentos da seita cartel, João, Silvia e Camila esquartejaram o corpo de Diovana com a precisão de açueiros.
profissionais separaram a carne em porções, retiraram os órgãos internos, quebraram os ossos maiores para facilitar o manuseio. Parte da carne foi consumida naquela mesma madrugada, durante o que João chamou de comunhão purificadora. Os três comeram a carne de Giovana, temperada com sal grosso e ervas, acreditando que estavam absorvendo a pureza da menina. O restante foi cuidadosamente processado.
Silvia, usando a experiência culinária que havia desenvolvido vendendo doces, transformou a carne de Giovana em ingrediente para salgados, padas, coxinhas, pastéis. Durante duas semanas, esses salgados foram vendidos nas ruas de Olinda e Recife.
Centenas de pessoas compraram e comeram, sem imaginar que estavam consumindo os restos de uma adolescente assassinada. O tempero da Silvia estava especial naqueles dias. Lembra um cliente habitual que a polícia localizou anos depois. Tinha um sabor diferente, mais encorpado. Cheguei a perguntar qual era o segredo. O segredo era Giovana Reis Oliveira.
Os pais de Giovana procuraram a polícia quando a filha não deu notícias. Foram à casa em Rio Doce. Mas João disse que ela havia ido embora sem avisar. que havia arranjado um emprego melhor em Recife. A família registrou o boletim de ocorrência, mas a polícia tratou o caso como mais um desaparecimento de menor em situação de vulnerabilidade social.
Não havia indícios de crime, apenas uma doméstica que havia mudado de emprego sem avisar os patrões. Giovana se tornou mais uma estatística, mais um nome numa lista de pessoas desaparecidas que ninguém investigava com seriedade. João, Silvia e Camila continuaram suas vidas normalmente. O ritual de purificação havia sido um sucesso. Eles se sentiam mais puros, mais próximos de Deus, mais confiantes na missão que acreditavam ter recebido. Mas algo havia mudado irreversivelmente no trio.
Cruzar a linha entre morte, entre humanidade e monstruosidade, havia despertado neles um apetite que não conseguiriam mais controlar. Se existem pessoas que se tornam monstros, elas estavam aprendendo que matar não era difícil, que esquartejar era prático, que comer carne humana era apenas questão de tempero adequado.
A primeira vítima havia alimentado não apenas seus corpos, mas também sua sede. Por mais aceita cartel, havia provado sangue e agora queria mais. Giovana Reis Oliveira se tornou a primeira de uma série que duraria 4 anos e chocaria o Brasil inteiro. Mas naquele momento ela era apenas uma menina de 17 anos, cujo sonho de ser enfermeira havia sido interrompido pela maldade de pessoas que ela considerava família.
João já planejava a próxima vítima e desta vez eles não ficariam 4 anos escondidos numa periferia de Olinda. Era hora de levar a missão para uma cidade maior, para um lugar onde pudessem expandir os negócios e purificar mais pessoas. Era hora de ir para Garanhuns. Após o assassinato de Giovana, o trio permaneceu em Olinda por mais três anos, não por remorço ou medo, mas por cautela estratégica.
João havia decidido que precisavam aperfeiçoar seus métodos antes de expandir a missão sagrada. Durante esse período, a Seita Cartel operou como uma empresa familiar sinistra. Silvia desenvolveu técnicas culinárias cada vez mais sofisticadas para disfarçar o sabor e a textura da carne humana nos salgados. Camila se especializou em identificar potenciais vítimas nas ruas da região metropolitana do Recife e João aprimorou seus métodos de manipulação psicológica.
Mas em 2011 a situação mudou dramaticamente. Os vizinhos do Rio Doce começaram a fazer perguntas inconvenientes sobre o cheiro que vinha da casa. Algumas pessoas se lembraram da menina que havia trabalhado como doméstica e desaparecido misteriosamente. “A paranoia de João cresceu. Está na hora de mudar.” Ele anunciou durante um culto noturno em dezembro de 2011.
Deus me revelou um lugar novo para continuarmos a purificação, uma cidade onde poderemos trabalhar sem interferências. A cidade escolhida foi Garanhuns, no agreste pernambucano. João havia visitado a região algumas vezes durante viagens de negócios, quando ainda trabalhava como vendedor ambulante. Conhecia a dinâmica local, cidade média, movimento comercial intenso, muitos forasteiros circulando. O lugar perfeito para se misturar sem chamar atenção.
Em janeiro de 2012, o trio se mudou para uma casa alugada no bairro Eliópolis. Residência simples, mas estrategicamente localizada, próxima ao centro comercial, mas isolado o suficiente para manter privacidade. João havia escolhido o local após duas semanas de observação cuidadosa.
A casa da rua São Paulo, número 134, se tornou o novo quartel general da Seita Cartel e também o cenário dos crimes mais perturbadores da história de Garanhuns. Aqui vamos poder trabalhar adequadamente”, João explicou à suas companheiras enquanto organizavam os poucos móveis no imóvel. Deus preparou este lugar para expandirmos nossa missão.
A adaptação à nova cidade foi rápida e eficiente. Silvia alugou um ponto no mercado municipal para vender salgados. Camila conseguiu trabalho como vendedora numa loja de roupas no centro. João se apresentou como comerciante autônomo, transitando entre diferentes negócios.
Para os vizinhos de Heliópolis, eles eram apenas mais uma família nordestina em busca de melhores oportunidades. Ninguém suspeitava que haviam acabado de receber os canibais mais perigosos do país. Durante o primeiro mês em Garanhuns, João estabeleceu novas regras operacionais para a seita. A experiência com Giovana havia mostrado que sequestrar vítimas e mantê-las em casa era arriscado.
O novo método seria mais direto, atrair, matar rapidamente e desaparecer com o corpo. Eficiência é pureza. Ele pregava durante os rituais noturnos no quintal da nova casa. Quanto menos tempo entre a escolha e a purificação, melhor. Em fevereiro de 2012, João identificou a primeira vítima de garanhuns, Vanessa Lima Rocha, de 31 anos.
Vanessa era exatamente o perfil que João procurava. Mulher solteira, sem vínculos familiares fortes na cidade, vida social discreta. havia-se mudado para Garanhuns havia apenas seis meses. Trabalhava como secretária num escritório de contabilidade e morava sozinha num apartamento no centro. João a observou durante duas semanas, anotou sua rotina, saía de casa às 7:30, almoçava sempre no mesmo restaurante, voltava do trabalho às 18 horas, frequentava uma academia três vezes por semana.
Vida previsível, vulnerabilidades identificáveis. A abordagem aconteceu numa terça-feira de fevereiro, na saída da academia. João se aproximou de Vanessa, fingindo ser um empresário local interessado em contratar serviços de secretariado para uma empresa que estava montando. “Soube que você trabalha com contabilidade”, ele disse com o charme que havia desenvolvido ao longo dos anos. Tem uma proposta que pode interessar.
Trabalho extra, boa remuneração. Vanessa, sempre interessada em renda adicional, aceitou conversar. João sugeriu que se encontrassem no sábado seguinte para discutir detalhes. O local seria a casa dele, onde poderiam conversar com mais privacidade. Era 25 de fevereiro de 2012, quando Vanessa Lima Rocha se dirigiu à casa da rua São Paulo, 134, acreditando que participaria de uma entrevista de emprego.
usava sua melhor roupa, carregava currículo atualizado e estava esperançosa com a possibilidade de melhorar sua situação financeira. Ela não sabia que estava caminhando para a própria morte. João a recebeu com cortesia exagerada. Apresentou Silvia como sua esposa e sócia nos negócios. Camila foi apresentada como secretária da empresa.
Tudo parecia profissional e legítimo. Durante uma hora, eles conversaram sobre trabalho, responsabilidades, salário. Vanessa se mostrou interessada e competente. João fingiu estar impressionado com seu currículo. “Você é perfeita para o que precisamos”, ele disse com um sorriso que não chegava aos olhos.
Mas antes de fecharmos o acordo, preciso que você conheça a natureza especial do nosso trabalho. Foi então que João revelou a verdadeira natureza da empresa. Falou sobre purificação, sobre missão divina, sobre pessoas escolhidas para morrer. Vanessa tentou sair, mas Silvia havia trancado a porta discretamente. Você foi escolhida por Deus. João explicou com a calma de quem recita uma receita culinária.
Sua morte vai purificar o mundo. É uma honra. O assassinato de Vanessa foi mais rápido que o de Giovana. João havia aprendido que prolongar o sofrimento era desnecessário e arriscado. Um golpe certeiro na nuca com um martelo de carpinteiro. Morte instantânea. O ritual de esquartejamento seguiu os mesmos padrões estabelecidos 4 anos antes.
Silvia comandou o processo com a eficiência de uma profissional. Camila ajudou sem demonstrar nenhuma emoção. Parte da carne foi consumida pelos três na mesma noite. O restante foi cuidadosamente processado e transformado em recheio para os salgados que Silvia vendia no mercado municipal. Durante duas semanas, os clientes de Silvia consumiram Vanessa Lima Rocha sem saber.
elogiavam o tempero diferenciado, pediam a receita, compravam quantidades maiores. Dona Silvia tinha um dom especial, lembra Maria José, comerciante que tinha banca próxima no mercado. Os salgados dela sempre tinham um sabor único, mas encorpado, sabe? Diferente de tudo que eu já provei, a família de Vanessa em São Paulo, só percebeu o desaparecimento uma semana depois, quando ela não respondeu às ligações habituais.
Acionaram a polícia de Garanhuns, mas não havia pistas concretas. Vanessa havia simplesmente desaparecido. O delegado responsável pelo caso, Dr. Carlos Mendonça, tratou a ocorrência como desaparecimento voluntário. Mulher adulta, solteira, sem dívidas conhecidas, provavelmente mudou de cidade em busca de melhores oportunidades. João, Silvia e Camila acompanharam as notícias sobre o desaparecimento com interesse profissional.
Analisaram os erros, identificaram os acertos, planejaram melhorias para a próxima operação, porque já estava claro que haveria uma próxima. O sucesso da operação havia confirmado a eficiência dos novos métodos. Garanhuns se mostrou o ambiente ideal para expandir a missão do cartel e havia tantas pessoas impuras na cidade que precisavam ser purificadas.

Em março de 2012, João começou a observar a próxima vítima, Tatiana Alves Moura, de 25 anos. Tatiana era natural de Caruaru e havia se mudado para Garanhuns após conseguir emprego como vendedora numa loja de eletrodomésticos. morava numa pensão no bairro Santo Antônio e enviava parte do salário para ajudar a mãe doente. Era o perfil perfeito, vulnerável socialmente, sem rede de proteção local, rotina previsível. A observação durou uma semana.
João identificou que Tatiana tinha o hábito de voltar do trabalho sempre pelo mesmo caminho, sozinha, por uma rua pouco movimentada. Era a oportunidade que ele procurava. Em 12 de março de 2012, quando Tatiana voltava do trabalho, João a abordou, fingindo estar perdido e pedindo informações. Durante a conversa, ele mencionou que estava procurando vendedoras experientes para trabalhar numa nova loja que pretendia abrir.
“Você tem o perfil que procuro”, ele disse com o charme ensaiado. “Que tal conversarmos melhor amanhã? Posso buscar você depois do trabalho. Tatiana, sempre interessada em crescer profissionalmente, aceitou a proposta. Combinou de encontrar João na saída da loja no dia seguinte. Era 13 de março, quando Tatiana Alves Moura entrou no carro de João Beltrão Montenegro pela última vez.
Ela acreditava que estava indo para uma entrevista de emprego que mudaria sua vida. estava certa sobre a mudança, mas não sobre o tipo de mudança que a aguardava. O terceiro assassinato da Seita Cartel seria ainda mais calculado que os anteriores. João havia aperfeiçoado seus métodos. Silvia dominava completamente o processo de transformar corpos humanos em alimento comercializável.
E Camila desenvolvia uma frieza emocional que impressionava até mesmo João. A máquina de matar estava funcionando perfeitamente e Garanhuns não imaginava que abrigava os criminosos mais perigosos do país. na loja de eletrodomésticos onde Tatiana trabalhava. Os colegas estranharam quando ela não apareceu no dia seguinte ligaram para a pensão, mas a proprietária disse que ela havia saído normalmente para trabalhar.
Foi o início de mais um desaparecimento que a polícia trataria como caso rotineiro. Mais uma pessoa que simplesmente desapareceu sem deixar rastros. Mas desta vez algo seria diferente. Um detalhe aparentemente insignificante começaria a unir os pontos e levar as autoridades até a casa do horror em Heliópolis.
O erro que João não previu estava prestes a acontecer. E com ele o fim de 4 anos de crimes perfeitos. O erro que levaria à queda da Seita Cartel começou com um descuido aparentemente insignificante. Após assassinar Tatiana Alves Moura, em 13 de março de 2012, João cometeu o primeiro deslize em 4 anos de crimes perfeitos.
Permitiu que Camila usasse o cartão de crédito da vítima. Era só para testar se ainda funcionava. Camila confessaria anos depois durante interrogatório. João queria saber se a família já havia cancelado. O teste revelou mais do que esperavam. O cartão estava ativo e Camila comprou produtos básicos numa farmácia do centro de Garanhuns.
Compras pequenas, insignificantes, mas que deixaram um rastro digital que não existia nos casos anteriores. Três dias depois, quando a família de Tatiana em Caruaru recebeu a fatura do cartão pelo correio, tudo mudou. Havia uma compra feita após o desaparecimento da filha em Garanuns. Minha filha sumiu no dia 13.
Dona Lúcia Moura disse ao telefone para o atendimento do banco. Como pode ter compra no cartão dela no dia 15? O banco confirmou. Transação realizada na farmácia São José, centro de Garanhuns, 15 de março, 1437. Mineiro. Valor 23,50. comprador, uma mulher de aproximadamente 20 anos, cabelos castanhos usando blusa azul.
Dona Lúcia ligou imediatamente para a delegacia de Garanhuns. Desta vez, o caso não seria tratado como desaparecimento voluntário. Havia evidência de atividade criminosa. O delegado Carlos Mendonça assumiu pessoalmente a investigação. Veterano com 25 anos de experiência policial, ele havia desenvolvido um instinto apurado para casos complexos e alguma coisa naquele desaparecimento não batia.
Duas mulheres desaparecidas em menos de um mês. Ele anotou no relatório inicial. Perfis similares, faixa etária próxima, ambas sem vínculos familiares fortes na cidade. A primeira ação foi revisar as câmeras de segurança da farmácia São José. As imagens mostraram claramente uma jovem morena, aparentando 20 e poucos anos, comprando produtos básicos com o cartão de Tatiana.
O rosto estava nítido o suficiente para a identificação. Simultaneamente, a equipe investigativa começou a traçar conexões entre os dois desaparecimentos. Vanessa Lima Rocha havia sumido em 25 de fevereiro. Tatiana Alves Moura em 13 de março. Ambas solteiras, trabalhadoras, sem histórico de problemas psicológicos ou financeiros. Não é coincidência.
Mendonça disse para sua equipe durante reunião na delegacia: “Alguém está caçando mulheres nesta cidade”. A investigação ganhou urgência quando uma terceira similaridade foi descoberta. Tanto Vanessa quanto Tatiana haviam mencionado para conhecidos que receberam propostas de emprego poucos dias antes de desaparecer.
Maria José, colega de trabalho de Tatiana, prestou depoimento crucial. Ela estava animada. disse que um empresário a havia abordado com proposta de emprego melhor. Ia se encontrar com ele depois do trabalho. O padrão estava se formando. Alguém usava ofertas de emprego para atrair vítimas. Alguém que conhecia a cidade sabia identificar pessoas vulneráveis e tinha local adequado para esconder evidências.
Mendonça solicitou reforços da Polícia Civil de Recife. O caso estava ganhando contornos de serial killer e ele precisava de especialistas em crimes em série. A equipe expandida começou um trabalho meticuloso de investigação. Entrevistaram comerciantes do centro, donos de estabelecimentos onde as vítimas eram conhecidas, motoristas de táxi, seguranças de lojas. Alguém tinha que ter visto algo.
Foi José Antônio, taxista veterano de Garanhuns, que forneceu a primeira pista concreta. “Lembro sim dessa moça”, ele disse ao ser mostrada a foto de Tatiana. Vi ela entrando num Fiat Uno no branco na rua da loja onde trabalhava. Era um homem mais velho dirigindo, uma mulher no banco do carona. A descrição do veículo foi fundamental.
Fiat no branco, modelo antigo, placa com letras PEF. A equipe começou a rastrear veículos com essas características na região. Enquanto isso, João, Silvia e Camila continuavam suas atividades normalmente. Não sabiam que estavam sendo procurados, mas a paranoia natural de João aumentava a cada dia.
Estão fazendo muitas perguntas na cidade, Camila relatou após um dia de trabalho na loja. A polícia anda perguntando sobre mulheres desaparecidas. João tomou a decisão que selaria o destino da seita, acelerar o cronograma. Em vez de esperar meses antes do próximo crime, como fazia habitualmente, ele decidiu agir rapidamente.
Uma quarta vítima eliminaria as suspeitas ao criar confusão temporal na investigação. Era uma lógica distorcida, mas fazia sentido na mente perturbada do líder da seita. Se a polícia estava procurando padrões temporais, ele quebraria o padrão. A quarta vítima escolhida foi Sandra Melo, de 29 anos, professora primária que havia se mudado para Garanhuns havia pouco tempo.
Ela se encaixava perfeitamente no perfil, solteira, poucos vínculos locais, rotina previsível, mas João não sabia que a investigação havia chegado mais perto do que imaginava. Em 15 de março, a equipe de Mendonça localizou o Fiat Uno no Branco. O veículo estava registrado em nome de João Beltrão Montenegro, residente na rua São Paulo, 134, bairro Eliópolis.
A consulta aos antecedentes revelou informações perturbadoras. João tinha histórico de passagem por clínicas psiquiátricas em Recife, registros de envolvimento com grupos religiosos extremistas e uma queixa de 2009 por comportamento estranho, arquivada sem investigação. Encontramos nosso suspeito. Mendonça anunciou para a equipe: “Vamos fazer vigilância discreta antes de agir.
” A observação da casa em Heliópolis começou em 16 de março. Durante 48 horas, policiais a paisana monitoraram a movimentação do trio. O que viram confirmou as suspeitas mais sombrias. João, Silvia e Camila mantinham horários noturnos.
Saíam pouco durante o dia, mas tinha movimento intenso na casa durante as madrugadas. Vizinhos relataram cheiros estranhos vindos do quintal, especialmente aos finais de semana. Mais perturbador, Silvia frequentava o mercado municipal diariamente, vendendo salgados que tinham procura acima da média. Clientes elogiavam o sabor diferenciado, mas ninguém questionava a origem dos ingredientes.
Em 18 de março, a equipe interceptou uma conversa telefônica entre João e um contato não identificado. Ele falava sobre mercadoria especial e entregas programadas. O vocabulário comercial disfarçava algo muito mais sinistro. Mendonça decidiu que era hora de agir. As evidências circunstanciais eram suficientes para mandado de busca e apreensão, mas ele não estava preparado para o que encontraria na casa do horror.
Se essa história já te arrepiou até aqui, compartilhe o vídeo para que mais gente descubra essa parte esquecida do país. A operação foi planejada para a madrugada de 19 de março de 2012. três equipes, uma para cercar a casa, outra para revistas nos fundos, uma terceira para entrada principal. Mendonça queria evitar que evidências fossem destruídas.
Às 5:30 da manhã, quando o primeiro raio de sol tocava os telhados de Heliópolis, 12 policiais cercaram a casa da rua São Paulo, 134. O que encontraram dentro mudaria para sempre a forma como o Brasil enxergava os limites da maldade humana. A primeira coisa que chamou atenção foi o cheiro, doce e metálico ao mesmo tempo, como açúcar queimado misturado com ferro derretido, um odor que grudava na garganta e fazia o estômago revirar.
No quintal, panelas enormes ferviam sobre fogões improvisados. Dentro delas, ossos humanos em diferentes estágios de cocão, costelas, fêmores, fragmentos de crânios, como se alguém estivesse preparando uma sopa macabra. Na cozinha, a cena era ainda mais perturbadora. Pedaços de carne humana organizados sobre tábuas de corte, alguns já temperados com sal e ervas, outros sendo processados numa máquina de moer carne doméstica.
Sobre o fogão, três panelas conham o que parecia ser recheio para salgados. Carne moída temperada, pronta para ser usada em empadas e coxinhas. Carne que havia sido pessoas vivas apenas dias antes. “Meu Deus!”, sussurrou o investigador Marcos Silva ao entrar na cozinha. “Eles estão cozinhando gente.” João, Silvia e Camila foram encontrados dormindo tranquilamente no quarto principal.
Não tentaram resistir à prisão, pelo contrário, pareciam quase aliviados por finalmente poder falar sobre suas obras sagradas. “Vocês não entendem”, João disse calmamente enquanto era algemado. “Estávamos salvando o mundo, purificando a humanidade”. O mais chocante veio quando os policiais encontraram o Diário da Seita.
23 cadernos manuscritos com detalhes de 4 anos de crimes, descrições minuciosas dos assassinatos, receitas para preparo de carne humana, listas de clientes que haviam comprado salgados feitos com vítimas anteriores, e a informação que gelou o sangue de todos os presentes, centenas de pessoas em Garanhuns haviam comido carne humana sem saber. Durante meses, os salgados de Silvia eram feitos com Vanessa Lima Rocha e Tatiana Alves Moura.
A descoberta se espalhou pela cidade como fogo em palha seca. Em poucas horas, multidões se aglomeravam nas ruas, exigindo o linchamento público do trio. A própria casa onde os crimes aconteceram foi incendiada por vizinhos revoltados antes que a perícia terminasse o trabalho. Garanhuns nunca mais seria a mesma. Uma cidade inteira havia sido forçada a confrontar a realidade de que consumiu carne humana, de que conviveu por meses com os canibais mais perigosos do país, sem suspeitar de nada.
E o pior ainda estava por vir, porque a investigação estava apenas começando, e os segredos que a Seita Cartel guardava eram ainda mais profundos do que qualquer um poderia imaginar. A verdade completa sobre quatro anos de horror estava prestes a ser revelada, e o Brasil inteiro tremeria com as descobertas que viriam a seguir.
Os interrogatórios de João Beltrão Montenegro, Silvia Cristina Torres e Camila Rodrigue Silva duraram 16 dias. 16 dias que expuseram uma realidade tão perturbadora que mudou para sempre a forma como o sistema judiciário brasileiro lidaria com crimes de canibalismo. O promotor André Rabelo, responsável pelo caso, precisou fazer pausas frequentes durante os depoimentos.
Em 22 anos de carreira, nunca presenciei tamanha frieza emocional”, ele declarou à imprensa. Eles falavam sobre esquartejar pessoas como se estivessem descrevendo uma receita culinária. João confessou tudo com orgulho perturbador. Detalhou cada assassinato, cada ritual, cada etapa do processo de transformar vítimas em alimento.
Ele genuinamente acreditava que havia prestado um serviço sagrado à humanidade. Purificamos quatro pessoas impuras, ele repetia durante os interrogatórios. Neutralizamos o mal que elas espalhavam pelo mundo. Deus vai nos recompensar por isso. Silvia manteve-se calada na maior parte do tempo, respondendo apenas quando questionada diretamente, mas suas respostas revelavam uma mente completamente dominada pela doutrina de João.
Ela não demonstrava remorço, apenas uma obediência cega que impressionava até os psicólogos forenses. Camila foi quem forneceu os detalhes mais perturbadores. Durante horas, descreveu com precisão cirúrgica como esquartejavam as vítimas, que temperos usavam na carne, como preparavam os salgados, onde vendiam os produtos.
“A gente tinha clientes regulares,”, ela disse, sem demonstrar emoção. Eles sempre elogiavam o sabor, pediam a receita, compravam mais. A investigação revelou que durante 4 anos, centenas de pessoas consumiram carne humana sem saber. Comerciantes do mercado municipal, clientes avulsos, até mesmo policiais que faziam rondas na região, haviam comido os salgados de Silvia.
Maria José Santos, que tinha banca próxima a Devia no mercado, vomitou durante três dias seguidos após descobrir a verdade. “Comi várias vezes”, ela disse entre lágrimas. “Sempre elogiava o tempero especial. Meu Deus, que nojo! O impacto psicológico em Garanhuns foi devastador.
A cidade inteira precisou confrontar a realidade de ter convivido com canibais durante meses. Pessoas que haviam comprado salgados de Silvia desenvolveram traumas profundos. Muitas precisaram de acompanhamento psicológico por anos. Foi como descobrir que você estava vivendo num pesadelo sem saber”, declarou Antônio Carlos Ferreira, comerciante que frequentou a banca de Silvia durante meses.
A gente achava que conhecia nossos vizinhos, que entendia a nossa cidade. Em dezembro de 2013, começou o primeiro julgamento. João, Silvia e Camila foram processados inicialmente pelo assassinato de Giovana Reis Oliveira, cometido em 2008 no Rio Doce. O Ministério Público decidiu separar os casos por local e data para garantir que nenhum crime ficasse impune.

O júri popular foi realizado no fórum de Olinda, sob esquema especial de segurança, multidões se aglomeravam do lado de fora, exigindo pena de morte para os réus. Dentro do tribunal, o silêncio era sepulcral quando os promotores descreviam os detalhes dos crimes. “Eles não são animais”, disse o promotor André Rabelo em seu discurso final.
Animais matam por instinto, por sobrevivência. Estes réus mataram por prazer sádico, disfarçado de religião. Mataram por diversão. Mataram porque gostavam. A defesa tentou alegar insanidade mental, mas os laudos psiquiátricos foram categóricos. João, Silvia e Camila eram plenamente conscientes de seus atos. Sabiam que estavam cometendo crimes, sabiam que era errado.
Escolheram fazer mesmo assim. Dr. Roberto Medeiros, psiquiatra forense responsável pelos exames, explicou ao júri: “Eles não são loucos no sentido clínico, são pessoas com personalidades psicopáticas desenvolvidas que encontraram na religião uma justificativa para expressar impulsos sádicos.
O veredito veio após 14 horas de deliberação, culpados por homicídio qualificado, ocultação de cadáver e vilipêndio de corpo. João foi condenado a 23 anos de prisão, Silvia a 21 anos, Camila a 19 anos. Mas a justiça estava apenas começando. Em março de 2018, 6 anos após a prisão, começou o segundo julgamento, desta vez pelos assassinatos de Vanessa Lima Rocha e Tatiana Alves Moura, cometidos em Garanhuns.
O processo foi ainda mais tenso que o anterior. As famílias das vítimas acompanharam cada sessão exigindo justiça. cidade de Garanhuns parou para assistir ao julgamento que finalmente revelaria todos os detalhes dos crimes que haviam traumatizado a comunidade. João compareceu ao tribunal com a mesma arrogância de sempre.
Durante o depoimento, ele reafirmou suas crenças religiosas distorcidas e disse que faria tudo novamente se fosse solto. “Deus me deu uma missão”, ele declarou para o juiz Dr. Marcelo Henrique Silva. “E eu cumpri essa missão com perfeição. Não tenho remorços. Silvia e Camila permaneceram caladas durante a maior parte do processo, mas quando questionadas diretamente sobre as vítimas, suas respostas gelaram o sangue dos presentes.
Elas estavam contaminadas, Silvia disse com voz monocórdia. João me explicou que eram pessoas ruins, que precisavam morrer. O momento mais perturbador veio quando Camila foi questionada sobre os salgados vendidos no mercado. Ela descreveu com detalhes técnicos como preparavam a carne das vítimas para consumo comercial.
A gente temperava bem para disfarçar o gosto, ela explicou como se estivesse dando uma aula de culinária. Pimenta, cominho, sal grosso, ficava igual carne de porco. As sessões foram interrompidas várias vezes porque jurados passavam mal ao ouvir os detalhes. Uma jurada desmaiou quando Camila explicou como retiravam os órgãos das vítimas.
Outro precisou ser substituído após desenvolver síndrome do pânico, mas o júri persistiu e em dezembro de 2018 o veredicto final foi anunciado. João Beltrão Montenegro foi condenado a 71 anos de prisão, Silvia Cristina Torres há 68 anos, Camila Rodriguees Silva há 71 anos.
Somadas as condenações dos dois julgamentos, os membros da Seita Cartel receberam penas que ultrapassaram 200 anos de prisão. João nunca mais sairia da cadeia, nem suas companheiras. Hoje, passados mais de 10 anos dos crimes, João cumpre pena na penitenciária Barreto Campelo em Itamaracá. Aos 65 anos, ele mantém as mesmas crenças delirantes.
Escreve cartas para jornalistas explicando sua missão divina e afirma que outros continuarão seu trabalho. Silvia e Camila estão presas na colônia penal feminina de Buí, no interior de Pernambuco. Silvia, hoje com 58 anos, desenvolveu depressão severa e passa a maior parte do tempo em isolamento voluntário. Camila, aos 36 anos, trabalha na biblioteca da prisão e afirma ter encontrado a verdadeira religião, mas as consequências dos crimes da seita cartel vão muito além das condenações judiciais.
Garanhuns nunca se recuperou completamente do trauma. O mercado municipal foi reformado três vezes, mas muitos comerciantes ainda relatam pesadelos sobre os salgados de Silvia. A cidade desenvolveu uma paranoia coletiva em relação a alimentos vendidos por desconhecidos.
Mudou nossa forma de ver as pessoas, diz Maria Fernanda Costa, moradora de Garanhuns há 40 anos. A gente não confia mais como antes. Sempre fica aquela dúvida: será que eu realmente conheço meu vizinho? A casa da rua São Paulo 134, onde os crimes aconteceram, foi demolida em 2015. No local, hoje existe uma praça com uma placa discreta, lembrando as vítimas. Mas os moradores do bairro Eliópolis ainda sentem o peso da memória.
O caso dos canibais de Garanhuns se tornou objeto de estudo em universidades do mundo inteiro. Criminologistas, psicólogos e sociólogos analisam como três pessoas comuns se transformaram em monstros capazes de atos tão extremos. Dr. Paulo Sérgio Teles, criminologista da Universidade Federal de Pernambuco, publicou três livros sobre o caso.
É o exemplo mais completo de como o fanatismo religioso pode ser usado para justificar os piores impulsos humanos. Ele explica. As famílias das vítimas nunca se recuperaram completamente. Dona Conceição Oliveira, mãe de Giovana, morreu em 2019, sem nunca superar a perda da filha. Até o fim, ela se culpava por ter deixado a menina aceitar o emprego como doméstica.
Dona Lúcia Moura, mãe de Tatiana, ainda luta na justiça por uma indenização do Estado. Ela alega que a polícia demorou para agir nos primeiros desaparecimentos, o que permitiu que sua filha fosse assassinada. Minha filha morreu porque ninguém levou a sério os desaparecimentos anteriores. Ela disse durante uma audiência em 2020.
Se tivessem investigado direito, Tatiana estaria viva. A verdade é dura. Mas precisa ser dita. O caso dos canibais de Garanhuns revelou falhas sistêmicas na segurança pública brasileira. Mostrou como pessoas vulneráveis podem desaparecer sem que ninguém investigue adequadamente. Expôs a facilidade com que predadores podem se camuflar em comunidades pequenas, mas também revelou algo mais perturbador sobre a natureza humana.
mostrou que o mal absoluto pode se esconder atrás de rostos comuns, de famílias aparentemente normais, de pessoas que vendem salgados no mercado e cumprimentam os vizinhos na rua. João Beltrão Montenegro não era um monstro nascido das trevas, era um vendedor ambulante que desenvolveu crenças distorcidas e convenceu duas mulheres a segui-lo numa jornada ao inferno.
Silvia e Camila não eram demônios disfarçados, eram mulheres comuns que permitiram que a manipulação destruísse sua humanidade. O caso nos ensina que o mal não vem de outro planeta. Não usa chifres e rabo, não mora em castelos sombrios. Ele vive na casa ao lado, trabalha no mesmo escritório, compra pão na mesma padaria e às vezes prepara salgados que vendemos no mercado municipal da nossa cidade.
Toda semana trazemos vozes que o mundo tentou esquecer. Inscreva-se para não perder a próxima. Esta foi a história dos canibais de Garanhuns. Uma história que nos força a questionar não apenas os limites da maldade humana, mas nossa própria capacidade de identificar o perigo que pode estar escondido bem debaixo dos nossos narizes. Porque algumas verdades são difíceis de engolir, mas são ainda mais difíceis de esquecer.
E em algum lugar do Brasil, neste exato momento, outras seitas podem estar nascendo. Outros líderes podem estar manipulando seguidores vulneráveis, outras vítimas podem estar sendo escolhidas. A história dos canibais de Garanhuns terminou, mas a vigilância sobre a maldade humana deve ser eterna, porque o mal nunca dorme e está sempre procurando sua próxima oportunidade de se alimentar. M.