Você já se perguntou como uma criança pode carregar tanto ódio no peito? Como alguém tão pequena pode planejar a destruição de famílias inteiras? Hoje vou contar a história mais perturbadora do Brasil imperial. A história de Mina, a escrava que transformou sua dor em vingança.
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Meus pés descalços tocaram o chão frio de pedra portuguesa e eu sabia que minha vida havia mudado para sempre. Essa aqui é a mina”, disse o comerciante de escravos, empurrando-me para a frente com uma força desnecessária. “Filha de uma mucama experiente. Vai servir bem na casa?” Sim. A Francisca me olhou de cima a baixo, seus olhos azuis frios como o inverno que eu nunca havia sentido.
Ela era uma mulher alta, de cabelos pretos presos em um coque apertado e usava um vestido de seda verde que farfalhava a cada movimento. Ao seu lado, Senr. Joaquim mastigava um charuto cubano, indiferente à minha presença. É pequena demais, murmurou aá, franzindo o senho. Mal consegue carregar uma bandeja. Mas aprende rápido, senhora”, insistiu o comerciante. “E obediente, nunca deu trabalho.” “Mentira! Eu já havia dado muito trabalho.
Na fazenda anterior, eu havia quebrado três pratos de porcelana por acidente e derramado café quente no colo da antiga Shahá, mas eles não precisavam saber disso.” “Está bem”, suspirou Sha Francisca. R$ 50.000 Ris, nenhum centavo a mais. E assim, por R$ 50.000, eu me tornei propriedade da família Farias.
Fui levada para os fundos da Casa Grande, onde ficavam os quartos dos escravos domésticos. O cheiro de mofo e urina me atingiu como um soco no estômago. Havia seis camas de palha espalhadas pelo chão de terra batida e uma única janela pequena que mal deixava a luz entrar.
“Você vai dormir ali?”, disse Benedita, uma escrava mais velha que cuidava da cozinha. Ela apontou para um canto onde havia apenas um cobertor rasgado. E não faça barulho. Sim, a Francisca não gosta de barulho. Naquela primeira noite, deitada no chão frio, eu ouvi os gritos. Vinham do quarto ao lado, onde dormiam as mucamas mais novas. Gritos abafados, seguidos de choro baixo.
Eu sabia o que significavam. havia aprendido cedo demais sobre os deveres noturnos que algumas escravas tinham com os senhores. Na manhã seguinte, foi apresentada aos filhos da casa. Antônio, de 15 anos, era o mais velho. Tinha os olhos do pai e o temperamento cruel da mãe. Já havia quebrado o braço de dois escravos brincando de luta.
Maria Eduarda, de 12 anos, era uma menina mimada que gostava de beliscar as escravas quando ninguém estava olhando. E havia o pequeno João de apenas 6 anos, que ainda não havia desenvolvido a maldade dos irmãos. Mina vai ajudar na casa. Anunciou sim a Francisca durante o café da manhã. Ela vai servir à mesa e ajudar com a limpeza. Antônio me olhou com interesse. Ela é bonita disse passando a língua pelos lábios.
Vai ficar ainda mais bonita quando crescer. Senti um arrepio percorrer minha espinha. Aos 8 anos, eu já sabia reconhecer aquele olhar. Era o mesmo olhar que o feitor da fazenda anterior tinha quando olhava para minha mãe. Minha mãe e manjá. Esse era o nome que ela havia escolhido para si mesma, abandonando o nome cristão que os senhores haviam lhe dado.
Ela me contava histórias sobre nossa terra natal, sobre os orixás e sobre a força que carregávamos no sangue. “Um dia, filha,” ela dizia, “oss ventos vão mudar. E quando mudarem, você precisa estar pronta. Eu não sabia, então, que ela estava me preparando para a guerra. Os primeiros meses na casa dos Farias foram um aprendizado constante.
Aprendi a andar sem fazer barulho, a servir o chá sem derramar uma gota, a limpar a prata até que brilhasse como o espelho. Mas, principalmente aprendi a observar. Observei que Sim Francisca tomava láudano todas as noites para dormir. Observei que Senr. Joaquim tinha uma amante na cidade e voltava para casa cheirando a perfume barato. Observei que Antônio gostava de torturar pequenos animais no jardim.
Observei que Maria Eduarda roubava joias da mãe para dar de presente às amigas. Cada segredo era uma arma, cada fraqueza uma oportunidade. Mas foi numa tarde de dezembro, quando o calor de Recife tornava o ar quase irrespirável, que tudo mudou. Eu estava limpando a sala de jantar quando ouvi gritos vindos do jardim.
Corri até a janela e vi Antônio segurando um gato pelos pelos enquanto aproximava uma faca de sua barriga. “Para!”, gritei sem pensar. Ele se virou para mim surpreso. O que você disse? Percebi meu erro imediatamente. Escravos não davam ordens. Escravos não gritavam com os filhos dos senhores. Escravos obedeciam em silêncio.
“Eu eu disse para parar, senhozinho.” Murmurei, baixando os olhos. Antônio largou o gato e caminhou em minha direção. Seus olhos brilhavam com uma crueldade que eu reconhecia bem. Você acha que pode me dar ordens, negrinha? Antes que eu pudesse responder, ele me deu um tapa que me jogou no chão.
O gosto de sangue encheu minha boca e senti meu lábio inchar imediatamente. Da próxima vez que você abrir a boca para mim, disse ele, se abaixando para sussurrar em meu ouvido. Eu vou fazer com você o que ia fazer com o gato. Naquela noite deitada em meu canto, tocando meu lábio machucado, eu tomei uma decisão.
Não seria mais a menina assustada que havia chegado ali. Não seria mais a escrava silenciosa que aceitava tudo sem questionar. Eu seria algo muito pior. Eu seria a tempestade que eles nunca veriam chegando. Três meses haviam-se passado desde minha chegada à casa dos Farias, quando recebia notícia que mudaria tudo.
Era uma manhã de março e eu estava ajudando Benedita na cozinha quando um homem chegou montado em um cavalo suado. Ele trazia uma carta para Senr. Joaquim. Sua escrava morreu ouvi ele dizer através da janela aberta. A tal e manjá. Febre amarela levou ela e mais cinco da cenzala. O mundo parou. As panelas que eu segurava escorregaram de minhas mãos e se estilhaçaram no chão de pedra.
Benedita me olhou com pena, mas não disse nada. Ela sabia que demonstrar qualquer emoção poderia resultar em castigo. Minha mãe estava morta. E Emanjá, a mulher que me ensinou que éramos descendentes de rainhas, que nosso sangue carregava a força dos orixás, que um dia seríamos livres. Havia morrido sozinha numa cenzala fedorenta, longe de mim.
Naquela noite, pela primeira vez desde que havia chegado ali, eu chorei. Chorei em silêncio, mordendo o cobertor para abafar os soluços. Mas junto com as lágrimas, algo mais nasceu dentro de mim. Uma raiva fria, calculada, que crescia como uma chama alimentada pelo vento. “Mãe!”, sussurrei para a escuridão.
“Eu juro por todos os orixás que você me ensinou a honrar. Nenhuma dormirá em paz enquanto eu estiver viva.” Foi então que comecei a planejar. Nos dias seguintes, intensifiquei minhas observações. Descobri que sim, a Francisca guardava suas joias numa caixa de madeira embaixo da cama, que senhor Joaquim escondia dinheiro numa gaveta secreta de sua escrivaninha, que Antônio tinha medo do escuro e dormia com uma vela acesa, que Maria Eduarda lia cartas de amor de um rapaz que os pais não aprovavam, mas foi numa noite de abril que a oportunidade apareceu. Eu estava servindo o jantar quando ouvi sim a Francisca conversando com uma amiga

sobre uma festa na casa dos Albuquerque. “Vamos ficar fora até tarde”, disse ela. “Talvez só voltemos amanhã de manhã”. Meu coração acelerou uma noite inteira sem os senhores em casa. Quando a família partiu na carruagem, eu esperei. Esperei até que Benedita e os outros escravos adormecessem. Esperei até que a casa ficasse completamente silenciosa.
Então me levantei. Primeiro fui até o quarto de Sim Francisca, abri a caixa de joias e peguei um anel de diamante, não para roubar, mas para esconder no quarto de Maria Eduarda. Quando assim descobrisse o sumisso, suspeitaria da filha.
Depois fui até a escrivaninha de Senhor Joaquim, peguei algumas moedas de ouro e as escondei no colchão de Antônio. Quando o dinheiro fosse descoberto, o filho seria acusado de roubo, mas o melhor estava por vir. Fui até a cozinha e peguei uma garrafa de cachaça que Senr. Joaquim guardava para ocasiões especiais. Subi até o quarto de Antônio e derramei o líquido em sua cama, suas roupas, seus livros.
Quando ele voltasse, o quarto inteiro cheiraria a álcool. Então, acendi uma vela, não para queimar a casa. Ainda não era hora para isso, mas para deixar pingos de cera derretida pela casa toda, como se alguém tivesse caminhado bêbado durante a noite, carregando velas acesas. Quando terminei, voltei para meu canto e fingi dormir.
Na manhã seguinte, o caos se instalou. Meu anel, gritou, Senha Francisca. Meu anel de diamante desapareceu. Meu dinheiro berrou o Senhor Joaquim. Alguém roubou meu dinheiro. E então, quando Antônio desceu para o café da manhã, o cheiro de cachaça o acompanhou como uma nuvem. Antônio rugiu o pai. Você bebeu minha cachaça? Não, pai, eu juro que não. Então, por que seu quarto cheira a álcool? Eu não sei.
Alguém deve ter. E as velas? Porque a cera derretida por toda a casa? Antônio olhou ao redor confuso. Seus olhos encontraram os meus por um instante e eu vi algo que me encheu de satisfação. Medo. Foi você? Sussurrou ele, apontando para mim. foi a negrinha. Mas Senr.
Joaquim estava furioso demais para ouvir acusações contra uma escrava de 8 anos. “Você vai aprender a respeitar esta casa”, gritou tirando o cinto. “E vai aprender agora?” Eu assisti impassível enquanto Antônio apanhava. Cada golpe do cinto era uma pequena vingança pela humilhação que ele me havia causado.
Cada grito dele era música para meus ouvidos, mas isso era apenas o começo. Naquela tarde, enquanto a família tentava resolver o mistério dos objetos desaparecidos, eu comecei a plantar outras sementes de discórdia. Sussurrei para Maria Eduarda que havia visto Antônio mexendo no quarto dela. Contei para Benedita que sim, a Francisca havia dito que os escravos estavam comendo demais.
Pequenas mentiras, pequenas suspeitas, pequenas rachaduras na fundação daquela família. À noite, quando todos finalmente foram dormir, eu me levantei novamente. Desta vez, fui até o jardim, onde Antônio torturava os animais. Peguei a faca que ele usava e a escondei embaixo de seu travesseiro.
Na manhã seguinte, quando Sha Francisca foi acordá-lo e encontrou a lâmina ensanguentada, os gritos ecoaram por toda a casa. Meu filho está possuído”, chorava ela. “O demônio tomou conta dele.” Senor Joaquim mandou chamar o padre. Maria Eduarda se trancou em seu quarto com medo do irmão e Antônio. Antônio começou a ter pesadelos.
Todas as noites ele acordava gritando, dizendo que alguém estava em seu quarto, que sentia olhos o observando, que ouvia sussurros no escuro. Ele não estava errado. Eu realmente estava lá. escondida nas sombras, observando seu desespero crescer. “Mãe!”, sussurrei para a lua cheia que brilhava através da janela. “Este é apenas o primeiro. Ainda faltam muitos.” A chama da vingança havia sido acesa e ela não se apagaria até que todas as casas que me possuíram fossem reduzidas a cinzas.
5 anos haviam-se passado e eu não era mais a menina assustada que chegara à casa dos farias. Aos 13 anos, meu corpo havia mudado, ganhando as curvas que faziam os homens olharem duas vezes. Meus olhos, antes inocentes, agora carregavam uma profundidade que poucos conseguiam decifrar. Eu havia aprendido a usar cada uma dessas mudanças como armas.
Antônio, agora com 20 anos, havia se tornado um jovem atormentado. Os pesadelos nunca pararam. Ele bebia para dormir e acordava gritando. Seus pais já haviam chamado três padres diferentes para exorcizá-lo, mas nada funcionava. Como poderia? O demônio que o atormentava não era sobrenatural, era eu. Mina chamou sen Francisca numa manhã de setembro. Venha aqui.
Eu me aproximei com a postura submissa que havia aperfeiçoado ao longo dos anos. Cabeça baixa, mãos entrelaçadas, passos silenciosos. “Você cresceu muito”, disse ela, me examinando de cima a baixo. “Está se tornando uma moça bonita. Obrigada, Senhá. A partir de hoje, você vai ajudar a servir nas festas. Temos muitos convidados importantes e preciso de alguém em quem possa confiar.
Confiar? A palavra quase me fez sorrir. Se ela soubesse o que eu havia feito com sua família nos últimos anos. Naquela mesma tarde chegaram os convidados para o jantar. Eram fazendeiros ricos de outras cidades, acompanhados de suas esposas e filhos. Eu circulava entre eles com uma bandeja de doces.
ouvindo suas conversas, memorizando cada nome, cada segredo sussurrado. Foi então que conheci coronel Augusto Mendonça e sua esposa, dona Eulália. Eles eram donos de três fazendas de açúcar e estavam procurando escravos domésticos para sua nova casa em Olinda. “Esta aqui é bem treinada”, disse o Senr. Joaquim, apontando para mim.
Sabe ler, escrever e é muito obediente. Mentira. Eu havia aprendido a ler e escrever escutando as aulas de Maria Eduarda, mas eles não sabiam disso. E obediente, bem, eles descobririam em breve o quão errados estavam. “Quanto quer por ela?”, perguntou o coronel. “R2.000. Muito caro para uma escrava. Ela vale cada centavo. Olhe para ela.
Dona Eulália me examinou como se eu fosse um cavalo no mercado. Ela é bonita mesmo e parece saudável, muito saudável, confirmou sim a Francisca. Nunca ficou doente nenhum dia. Enquanto eles negociavam o meu preço, eu observava. Dona Eulália usava um colar de pérolas que valia mais do que a vida de 10 escravos.
Suas mãos eram macias, sem calos, protegidas por luvas de seda. Ela falava com a voz doce de quem nunca havia conhecido o sofrimento, perfeita para ser minha próxima vítima. Está bem, disse o coronel, finalmente. R.000 réis, mas quero levá-la hoje mesmo. Meu coração acelerou. Finalmente eu sairia daquela casa. Finalmente poderia começar uma nova fase do meu plano. Mina chamou a Francisca.
Vá buscar suas coisas. Minhas coisas. Um cobertor rasgado e um vestido remendado. Era tudo que eu possuía no mundo, mas também carregava algo que eles não podiam ver. anos de ódio acumulado e um plano de vingança que estava apenas começando. Antes de partir, passei pelo quarto de Antônio. Ele estava deitado, olhando para o teto com os olhos vidrados de tanto láo.
“Adeus, senhozinho.” Sussurrei em seu ouvido. Ele se virou assustado. “Você Você Você vai embora?” “Vou, mas não se preocupe. Você nunca vai me esquecer”. E era verdade. Eu havia plantado sementes de loucura em sua mente que cresceriam pelo resto de sua vida. Mesmo longe, eu continuaria a atormentá-lo em seus sonhos.
A viagem para a Olinda durou 3 horas. Durante todo o trajeto, eu fingi ser a escrava perfeita, silenciosa, obediente, grata por ter sido comprada por uma família tão bondosa. Mas por dentro eu estava estudando meus novos senhores. Coronel Augusto era um homem de 50 anos, barrigudo e calvo. Falava alto e ria mais alto ainda. Tinha o hábito de coçar a barriga enquanto falava e cuspia no chão constantemente.
Dona Eulália era 15 anos mais nova, magra e pálida. Ela se abanava constantemente com um leque de penas e reclamava do calor a cada 5 minutos. Eles tinham dois filhos, Carlos de 17 anos, e Isabel, de 15. Carlos era uma versão mais nova do pai, arrogante e grosseiro. Isabel era uma cópia da mãe, mimada e frágil.
A casa dos Mendonça era ainda maior que a dos Farias. Três andares, jardins imensos e mais de 20 escravos. Eu fui apresentada como a nova mucama pessoal de dona Eulália. Você vai cuidar de meus vestidos, meus cabelos e me acompanhar quando eu sair”, explicou ela. Espero que seja mais competente que a anterior. O que aconteceu com a anterior? Sim.
Ah, morreu. Febre muito inconveniente. Morreu de febre? Claro. Eu duvidava que tivesse sido apenas febre. provavelmente havia sido envenenada por algum remédio medicinal que dona Eulália havia dado a ela. Naquela primeira noite, deitada numa cama de palha no quarto dos escravos domésticos, eu comecei a planejar, esta família seria diferente dos farias.
Eles eram mais ricos, mais poderosos, mais conectados. Isso significava que eu teria que ser mais cuidadosa, mais sutil, mas também significava que a queda deles seria muito mais espetacular. Comecei devagar. Nos primeiros meses, fui a escrava perfeita. Penteava os cabelos de dona Eulália, sem puxar nenhum fio.
Passava seus vestidos até que ficassem impecáveis. Servia seu chá na temperatura exata que ela gostava. Mas enquanto fazia tudo isso, eu observava e aprendia. Descobri que Coronel Augusto tinha uma amante na cidade, uma mulher casada chamada Violeta. Descobri que dona Eulália tomava ópio para as dores femininas.
Descobri que Carlos apostava dinheiro em brigas de galo e devia uma fortuna para homens perigosos. Descobri que Isabel estava apaixonada por um escravo da fazenda e se encontrava com ele em segredo. Cada segredo era uma peça no meu tabuleiro de xadrez e eu estava pronta para começar a jogar. A primeira jogada foi sutil.
Deixei cair acidentalmente uma carta de violeta no chão do quarto de dona Eulália. Quando ela a encontrou e leu sobre os encontros secretos do marido, seus gritos ecoaram por toda a casa. A segunda jogada foi ainda mais elegante. Misturei um pouco de pimenta em pó no ópio de dona Eulália. Quando ela tomou a dose habitual, teve uma reação terrível: vômitos, diarreia, febre.
O médico disse que ela havia sido envenenada, mas não conseguiu descobrir como. A terceira jogada atingiu Carlos. Espalhei rumores entre os escravos sobre suas dívidas de jogo. Logo a notícia chegou aos ouvidos do coronel, que ficou furioso ao descobrir que o filho estava desperdiçando o dinheiro da família.
E a quarta jogada, ah, a quarta jogada foi minha obra prima. Deixei que dona Eulália descobrisse o romance de Isabel com o escravo. O escândalo quase matou a pobre senhora de tanto desgosto. Em seis meses, eu havia transformado uma família unida numa casa de loucos. Eles brigavam constantemente, desconfiavam uns dos outros e viviam em constante estado de paranoia.
Mas eu ainda não havia terminado. Isso era apenas o aquecimento. A verdadeira destruição estava por vir. O inverno de 1876 chegou mais frio que o normal em Olinda. As manhãs amanheciam cobertas por uma névoa densa que parecia carregar presságios sombrios. Eu havia completado 18 anos e me tornado uma mulher de beleza innegável.
Minha pele escura brilhava como ébano polido. Meus olhos carregavam mistérios que hipnotizavam e meu sorriso, meu sorriso havia se tornado uma arma letal. A casa dos Mendonça estava em ruínas emocionais. Dona Eulália havia desenvolvido uma paranoia severa depois dos episódios de envenenamento. Ela via conspirações em cada sombra, suspeitas em cada olhar.
Coronel Augusto bebia cada vez mais, tentando esquecer os escândalos que haviam manchado o nome da família. Carlos havia fugido de casa para escapar dos credores e Isabel Isabel havia sido mandada para um convento depois que o romance com o escravo foi descoberto. Mas eu não estava satisfeita ainda não.
Mina, chamou dona Eulália numa manhã particularmente fria. Sua voz tremia não apenas pelo frio, mas pelo medo constante que a consumia. Prepare meu chá e prove antes de me servir. Ela havia começado a me fazer provar toda comida e bebida antes de consumi-las. Ironicamente, isso me dava ainda mais oportunidades para manipular suas refeições. “Sim, senh”, respondi com a voz doce que havia aperfeiçoado.
“Que tipo de chá a senhora deseja hoje?” “O de camomila, para acalmar os nervos.” Fui até a cozinha e preparei o chá com cuidado especial. Desta vez não adicionei nada prejudicial, pelo contrário, adicionei algumas gotas de mel e um pouco de leite morno. Queria que ela se sentisse segura, confiante. Era parte do meu plano maior.
Quando voltei com a bandeja, encontrei dona Eulália na sala de estar, olhando pela janela com expressão melancólica. “A senhora está bem?”, Perguntei, fingindo preocupação. Não, mina, nada está bem. Esta casa, esta família, tudo está amaldiçoado. Por que a senhora diz isso? Ela se virou para mim e vi lágrimas em seus olhos. Desde que você chegou aqui, tudo começou a dar errado.
Primeiro as cartas do Augusto, depois meu envenenamento, depois Carlos e suas dívidas, depois Isabel. Meu coração acelerou. Ela estava começando a suspeitar de mim, mas eu não podia deixar que isso acontecesse. Ainda não. Sim. Ah, disse eu, me aproximando e colocando a mão em seu ombro. A senhora não pode pensar assim. Eu sou apenas uma escrava.
Como poderia causar todos esses problemas? Eu não sei murmurou ela. Mas há algo em você, algo que me assusta. Era hora de mudar de estratégia. Se ela estava começando a suspeitar, eu precisava me tornar indispensável para ela. Sim. Ah, sussurrei. Posso contar um segredo? Ela me olhou com curiosidade. Eu sei quem está causando todos esses problemas.
Quem é Benedita, a cozinheira? Ela pratica macumba. Eu a vi fazendo despachos no quintal, invocando espíritos malignos contra esta família. Era mentira. Claro. Benedita era uma mulher simples e religiosa que não faria mal a uma mosca, mas dona Eulália estava tão desesperada por respostas que acreditaria em qualquer coisa. “Macumba”, sussurrou ela horrorizada.
“Sim, sim. Ela está com ciúmes porque a senhora me trata bem. Ela quer me ver castigada e para isso está amaldiçoando toda a família.” Dona Eulália ficou pálida. O que devemos fazer? Deixe comigo, Sim. Ah, eu vou protegê-la. Naquela mesma tarde, plantei evidências no quarto de Benedita, algumas velas pretas, um boneco de pano com alfinetes e algumas ervas que peguei no jardim.
Quando dona Eulália descobriu os objetos, Benedita foi açoitada e vendida no mesmo dia. Com Benedita fora do caminho, eu assumi o controle total da cozinha. Agora, eu controlava tudo que a família comia e bebia. Era o poder que eu precisava para a fase final do meu plano.
Comecei com pequenas doses, um pouco de raiz de mandioca brava no café de coronel Augusto, o suficiente para causar dores de estômago, mas não o suficiente para matar. Algumas folhas de comigo ninguém pode no chá de dona Eulália, causavam alucinações leves e pesadelos. Eles começaram a definhar lentamente. Coronel Augusto perdeu peso e desenvolveu uma tosse persistente.
Don Eulia passou a ter visões, via sombras se movendo pelos cantos, ouvia vozes sussurrando seu nome. “Mina”, disse ela uma noite, segurando minha mão com força. “Você é a única em quem posso confiar. Todos os outros, todos os outros estão contra mim. Eu sempre estarei aqui para protegê-la. Menti com a voz mais doce que consegui.
Foi então que Carlos voltou para casa. Ele havia passado seis meses fugindo dos credores, vivendo como um mendigo pelas ruas de Recife. Estava magro, sujo e desesperado. Quando apareceu na porta da casa, dona Eulália quase desmaiou de susto. Mãe, implorou ele, preciso de dinheiro.
Eles vão me matar se eu não pagar. Não temos dinheiro”, disse coronel Augusto com a voz rouca. “Você já desperdiçou tudo. Por favor, eu sou seu filho.” Foi então que Carlos me viu. Seus olhos percorreram meu corpo com uma fome que eu reconheci imediatamente. Era a mesma fome que Antônio havia demonstrado anos antes. “Mina”, disse ele se aproximando.
“Você cresceu?” Sim, senhozinho, muito bonita”, murmurou tocando meu rosto. Eu não me afastei, pelo contrário, sorri tímidamente, como se estivesse lisongeada pela atenção, mas por dentro eu estava planejando sua destruição. Naquela noite, Carlos veio ao meu quarto. Eu estava esperando por ele. “Mina”, sussurrou se aproximando da minha cama. “Eu preciso de você.
” Eu sei, senhorzinho. Ele se deitou ao meu lado e eu deixei que ele me beijasse. Seus lábios eram ásperos. Seu hálito cheirava a cachaça, mas eu suportei tudo porque sabia que aquele beijo seria sua perdição. Antes que ele chegasse, eu havia mastigado algumas sementes de mamona e guardado o óleo venenoso em minha boca.
Quando nossos lábios se encontraram, eu transferi o veneno para ele através do beijo. Não era suficiente para matá-lo imediatamente, mas era suficiente para começar um processo lento e doloroso de envenenamento. Nos dias seguintes, Carlos começou a passar mal. Primeiro foram dores de estômago, depois vômitos, depois febre alta. O médico não conseguia diagnosticar a doença. É a maldição.
Sussurrava dona Eulália. A casa está amaldiçoada. Enquanto Carlos agonizava em sua cama, eu continuava a cuidar de dona Eulália com dedicação aparente. Ela havia se tornado completamente dependente de mim, confiando apenas em minha presença para se sentir segura. Mina, disse ela uma tarde.
O que seria de mim sem você? A senhora nunca ficará sem mim”, prometi. Era verdade. Ela nunca ficaria sem mim, porque eu estaria lá até o final, observando enquanto sua família se desintegrava completamente. Carlos morreu numa noite de lua nova, delirando sobre sombras que o perseguiam. Dona Eulália entrou em colapso nervoso. Coronel Augusto começou a beber ainda mais, culpando-se pela morte do filho.
Duas semanas depois, Isabel voltou do convento para o funeral do irmão. Ela estava pálida e magra, quebrada pela vida religiosa forçada. Quando me viu, seus olhos se encheram de lágrimas. Mina, sussurrou. Você ainda está aqui? Sim, senhazinha, sempre estive, mas não por muito tempo, porque Isabel seria a próxima e depois dela seria a vez de dona Eulália e Coronel Augusto.
A casa dos Mendonça estava prestes a se tornar um túmulo e eu seria a única sobrevivente para contar a história. O ano de 1877 trouxe mudanças que nem mesmo eu havia previsto. Morte de Carlos havia abalado tanto a família Mendonça que Coronel Augusto decidiu vender a propriedade e se mudar para o interior.
Mas antes que isso acontecesse, algo inesperado ocorreu. Eu fui vendida novamente. Não posso mais olhar para você, disse dona Eulália numa manhã chuvosa de abril, evitando meus olhos. Você me lembra? Me lembra dele? Ela se referia a Carlos, é claro. A culpa estava consumindo-a por dentro, mesmo sem saber a verdade sobre a morte do filho.
Eu havia plantado sementes de paranoia tão profundas em sua mente que ela não conseguia mais distinguir realidade de pesadelo. Mas sim, ah, protestei com voz trêmula. Eu sempre a servi bem. Por favor, não me mande embora. Já está decidido”, interrompeu coronel Augusto entrando na sala com um homem que eu não conhecia. Esta é Mina, 19 anos, sabe ler e escrever, muito obediente. O homem me examinou como se eu fosse gado.
Era alto, magro, com cabelos grisalhos e olhos frios como gelo. Usava roupas caras, mas sem ostentação. E havia algo em sua postura que me fez sentir um arrepio na espinha. Sou o Dr. Henrique Cavalcante”, disse ele com voz grave. “Preciso de uma mucama para minha esposa. Ela está delicada de saúde. Mina é perfeita para isso,” garantiu o coronel Augusto.
Muito cuidadosa, muito discreta. Quanto? R.000 ré. Dr. Cavalcante assentiu sem hesitar. Está bem, mas quero levá-la hoje mesmo. E assim, por 300.000, 1 réis, eu me tornei propriedade da terceira família. Enquanto recolhia meus poucos pertences, Isabel apareceu em meu quarto. “Mina”, sussurrou ela, olhando ao redor para ter certeza de que estávamos sozinhas.
“Eu sei o que você fez. Meu sangue gelou. Não sei do que está falando, senhazinha. Carlos me contou sobre vocês, sobre aquela noite. Seus olhos se encheram de lágrimas. Ele morreu por sua causa, não foi? Mantive minha expressão inocente, mas por dentro eu estava calculando. Isabel era mais esperta do que eu havia imaginado. Ela representava um perigo.
“Sinhazinha está delirando”, disse eu suavemente. “O luto está afetando sua mente”. “Não.” Ela balançou a cabeça. “Eu sei que foi você, assim como sei que foi você quem causou todos os outros problemas desta casa”. dela se aproximou mais e eu pude ver a determinação em seus olhos. “Mas não vou contar para ninguém”, sussurrou.
“Porque, de certa forma você nos deu o que merecíamos”. Antes que eu pudesse responder, ela saiu do quarto, deixando-me sozinha com meus pensamentos perturbados. A casa dos Cavalcante ficava no bairro da Boa Vista, em Recife. Era uma mansão imponente, com jardins bem cuidados. e uma vista magnífica do Rio.
Doutor Henrique era médico e professor da faculdade de medicina, um homem respeitado na sociedade pernambucana. Sua esposa, dona Amélia, era uma mulher de 40 anos que havia perdido três filhos ainda bebês. O último havia morrido apenas seis meses antes e desde então ela vivia em estado de melancolia profunda.
“Ela não sai do quarto”, explicou o Dr. Henrique enquanto me mostrava a casa. “Não come direito, não fala com ninguém. Espero que você consiga ajudá-la”. Quando entrei no quarto de dona Amélia, encontrei uma mulher que era apenas a sombra do que um dia havia sido. Ela estava sentada numa poltrona ao lado da janela, olhando para o jardim com olhos vazios.
Seus cabelos loiros estavam despenteados, sua pele pálida como papel. “Dona Amélia”, disse eu suavemente. “Sou mina. Vim para cuidar da senhora. Ela me olhou sem interesse. “Mais”, murmurou. “Quantas já vieram antes de você?” “Não sei, senhora. Cinco.” “Cinco mucamas diferentes em seis meses, todas foram embora.” Ela sorriu tristemente. Dizem que sou louca. Talvez sejam elas que estejam certas.
Nos dias seguintes, dediquei-me inteiramente à dona Amélia. penteava seus cabelos, ajudava a se vestir, lia para ela, tentava fazê-la comer. Ela era diferente das outras sin que eu havia servido. Havia uma tristeza genuína nela, uma dor que eu reconhecia. “Você já perdeu alguém que amava?”, perguntou ela uma tarde. “Sim, senhora. Minha mãe, como ela morreu? Febre amarela.
” Dona Amélia assentiu. A morte é cruel, não é? leva quem amamos e nos deixa aqui vazias. Por um momento senti algo que não esperava, compaixão. Esta mulher não era cruel como as outras. Ela era apenas uma mãe destroçada pela perda. Mas então me lembrei de quem eu era, do que eu havia jurado.
Dona Amélia era uma e todas as tinham que pagar. Não importava se ela era gentil ou cruel, o que importava era que ela fazia parte do sistema que havia matado minha mãe. Comecei devagar, como sempre. Pequenas doses de ervas que causavam sonolência excessiva, gotas de extrato de bela dona que provocavam alucinações leves.
Nada que pudesse ser detectado facilmente. Dona Amélia começou a ter visões de seus filhos mortos. Ela os via brincando no jardim. ouvia suas risadas pelos corredores. Dr. Henrique ficou preocupado e aumentou a dose dos medicamentos que ela tomava. “Ela piorando”, disse ele para um colega médico que veio visitá-la. As alucinações estão ficando mais frequentes.
Talvez seja melhor interná-la”, sugeriu o outro médico. “Não”, disse Dr. Henrique firmemente. “Ela fica aqui comigo.” Ele realmente amava a esposa. Isso tornava tudo mais interessante. Foi então que descobriu o segredo da família cavalcante. Doutor Henrique não era apenas um médico respeitado.
Ele também realizava abortos clandestinos para mulheres ricas. que não queriam ter filhos indesejados. Era um negócio lucrativo, mas extremamente perigoso. Uma noite, enquanto ele atendia uma paciente em seu consultório particular, eu vasculhei seus papéis, encontrei cartas, recibos, nomes de mulheres importantes da sociedade.
Era informação suficiente para destruir sua reputação e mandá-lo para a prisão. Mas eu tinha planos maiores. Comecei a espalhar rumores sutis entre os outros escravos da casa. Sussurrei sobre as visitas noturnas que Dr. Henrique recebia, sobre os gritos que vinham do consultório, sobre o cheiro de sangue que às vezes impregnava o ar.
Logo, os rumores chegaram aos ouvidos dos vizinhos e dos vizinhos chegaram à polícia. Numa noite de setembro, enquanto o Dr. Henrique realizava mais um procedimento, a polícia bateu a porta. Eu fui quem abriu, fingindo surpresa e medo. Há uma denúncia de que atividades ilegais estão sendo realizadas nesta casa”, disse o delegado.
“Não sei de nada, senhor”, respondi com voz trêmula. “Sou apenas uma escrava”. Eles encontraram Dr. Henrique em flagrante, com instrumentos cirúrgicos nas mãos e uma mulher sangrando na mesa. A prisão foi imediata. Dona Amélia entrou em colapso total quando soube da prisão do marido. Ela se trancou no quarto e se recusou a comer ou beber qualquer coisa. É o fim, chorava ela.
Primeiro meus filhos, agora meu marido. Deus me abandonou. Não diga isso, senhora”, consolei, segurando sua mão. “Tudo vai ficar bem”. Mas eu sabia que não ficaria, porque naquela mesma noite eu adicionei uma dose fatal de estriquina ao chá que ela tomava para dormir. Dona Amélia morreu em convulsões, gritando pelos filhos mortos.
Eu estava ao seu lado segurando sua mão, sussurrando palavras de conforto enquanto o veneno fazia seu trabalho. Quando os médicos chegaram, já era tarde demais. Eles declararam que ela havia morrido de desgosto, de coração partido pela prisão do marido. Dr. Henrique foi enforcado três meses depois. A casa foi confiscada pelo governo e todos os escravos foram vendidos em leilão público.
Mais uma família destruída, mais uma morta. Mas eu ainda não havia terminado. Ainda havia uma última casa, uma última família que precisava pagar pelo que haviam feito comigo. E desta vez eu não deixaria nenhum sobrevivente. O leilão de escravos aconteceu numa manhã ensolarada de dezembro de 1878 na Praça do Mercado de Recife.
Eu estava ali junto com os outros cativos da casa cavalcante, esperando para ser vendida mais uma vez. Aos 21 anos, eu havia me tornado uma mulher de beleza extraordinária, mas também carregava nos olhos uma profundidade sombria que poucos conseguiam decifrar.
“Esta aqui é especial”, gritava o leiloeiro apontando para mim. Sabe ler, escrever, cozinhar, cuidar de doentes. Muito bem treinada. Os compradores me examinavam como sempre faziam, verificando meus dentes, apalpando meus braços para testar a força, avaliando minha aparência. Eu mantinha os olhos baixos, fingindo submissão, mas por dentro estava observando cada rosto, cada gesto, procurando minha próxima vítima.
Foi então que a vi. Sim. Beatriz Albuquerque era uma mulher de 50 anos, viúva de um barão do açúcar. Ela tinha cabelos grisalhos presos em um coque elegante, usava um vestido de seda azul marinho e carregava uma sombrinha de renda. Mas o que mais me chamou atenção foram seus olhos frios, calculistas, cruéis.
“Quanto por esta?”, perguntou ela, apontando para mim. R00.000 réis, senhora. É a melhor do lote. Muito caro, mas vale cada centavo. Olhe para ela. É forte, bonita, inteligente. Sim. A Beatriz se aproximou e levantou meu queixo com a ponta da sombrinha. Nossos olhos se encontraram por um instante e eu vi algo neles que me fez sentir um arrepio, reconhecimento.
Era como se ela pudesse ver através de minha máscara de submissão. “Qual é seu nome?”, perguntou. Mina. Sim. De onde você veio? Da casa do Dr. Cavalcante. Sá. Ah, sim. O médico que foi enforcado. Ela sorriu friamente. Ouvi dizer que a esposa dele morreu de desgosto. Você estava lá quando isso aconteceu? Por favor, continue gerando a sua resposta. Expert logo novo. Prompt 0021.
Sim, sim. Ah, eu cuidava dela. E como ela morreu exatamente? Havia algo na forma como ela fazia essas perguntas que me deixou alerta. Era como se ela soubesse mais do que deveria. De tristeza, Sá não conseguiu suportar a prisão do marido. Sim, a Beatriz lentamente, mas seus olhos nunca deixaram os meus.
Interessante, R$ 300.000 réis, disse ela para o leiloeiro. É minha oferta final. Mas, senhora, eu disse 400. 300, repetiu ela com autoridade. Ou procuro em outro lugar. O leiloeiro suspirou e bateu o martelo vendida para Siná Beatriz Albuquerque. E assim, mais uma vez eu mudei de dono. A casa dos Albuquerque era a mais imponente que eu já havia visto.
Localizada no bairro de São José, era um palacete de três andares com jardins que pareciam não ter fim. Havia mais de 50 escravos trabalhando na propriedade e a riqueza da família era evidente em cada detalhe, desde os lustres de cristal até os móveis importados da Europa. Você vai ser minha mucama pessoal, explicou sim a Beatriz enquanto me mostrava a casa, mas também vai ajudar a cuidar dos meus netos quando eles estiverem aqui.
Quantos netos a senhora tem? 11. Meus três filhos foram muito produtivos. Ela sorriu, mas não havia calor naquele sorriso. Eles vêm me visitar regularmente com as famílias, 11 netos. Meu coração acelerou. Seria possível que o destino estivesse me oferecendo a oportunidade de cumprir minha promessa de uma só vez? A senhora deve amar muito eles”, comentei.
“Amo”, disse ela, parando de repente e me encarando. “E protejo o que amo.” “Lembre-se disso, Mina. Havia uma ameaça velada em suas palavras, mas eu fingi não entender. Nos primeiros dias, dediquei-me a conhecer a rotina da casa e os membros da família. Sim, a Beatriz tinha três filhos, Roberto de 30 anos, casado com dona Clara e pai de quatro filhos.
Fernando, de 28 anos, casado com dona Luía e pai de três filhos, e Antônio, de 25 anos, casado com dona Mariana e pai de quatro filhos. Todos moravam em casas próprias, mas se reuniam na casa da matriarca aos domingos para o almoço familiar. Era uma tradição sagrada dos Albuquerque.
No primeiro domingo que presenciei essa reunião, fiquei impressionada com o espetáculo. 11 crianças correndo pelos jardins, três noras tentando impressionar a sogra, três filhos disputando a atenção da mãe e no centro de tudo siná Beatriz reinando como uma rainha sobre seu império familiar. Mina chamou ela durante o almoço. Sirva mais vinho para meus filhos. Enquanto eu circulava pela mesa servindo vinho, observei cada membro da família.
Roberto era arrogante como o pai havia sido. Fernando era mais quieto, mas havia crueldade em seus olhos. Antônio era o mais jovem e parecia ser o favorito da mãe. As crianças as crianças eram pequenas cópias dos pais. já demonstravam a arrogância e crueldade que caracterizavam a família. Vi um dos meninos de apenas seis anos chutando um gato no jardim.
Vi uma das meninas mandando uma escrava mais nova buscar água para ela beber. Eles eram exatamente como seus pais e avós e por isso todos mereciam o mesmo destino. Naquela noite comecei a planejar minha vingança final. Seria diferente das outras vezes. Desta vez eu não atacaria uma pessoa por vez.
Desta vez eu destruiria toda a família de uma só vez. Comecei estudando os hábitos alimentares de cada um. Sim, a Beatriz tomava chá de camomila todas as noites. Roberto gostava de doces e sempre comia sobremesa. Fernando bebia muito vinho. Antônio tinha o hábito de comer frutas entre as refeições. As crianças, as crianças adoravam os bolos que eu havia aprendido a fazer.
Sempre que vinham visitar a avó, pediam para que eu preparasse meus bolos especiais. A oportunidade perfeita surgiu quando Sim. A Beatriz anunciou que faria uma grande festa para comemorar seu aniversário de 55 anos. Toda a família estaria presente, incluindo todos os netos. “Quero que você prepare seus melhores pratos”, disse ela. “Esta festa tem que ser inesquecível”. Será inesquecível? Senhá, prometi. Pode ter certeza disso.
Ou passei semanas preparando tudo nos mínimos detalhes. Coletei plantas venenosas do jardim. Comigo ninguém pode, mamô na mandioca brava. Preparei extratos concentrados que não tinham cheiro nem gosto quando misturados a comida. A festa aconteceu numa noite de lua cheia de março de 1879. Toda a família estava presente, vestida com suas melhores roupas, celebrando a matriarca. Havia música, dança, risos.
Era uma cena de felicidade perfeita que logo se transformaria em pesadelo. Comecei com os doces das crianças, pequenas doses de veneno misturadas ao açúcar dos bolos, não o suficiente para matar imediatamente, mas o suficiente para começar o processo. Depois foi a vez dos adultos. Veneno no vinho de Fernando, veneno na sobremesa de Roberto, veneno nas frutas de Antônio e por último o chá de Siná Beatriz.
Mas para ela eu reservei algo especial, uma dose que a faria sofrer antes de morrer, que a faria ver todos os seus filhos e netos morrerem antes dela. A primeira criança começou a passar mal por volta das 10 da noite. Depois outra e outra. Logo, todas as 11 crianças estavam vomitando e com febre alta. “Chamem o médico”, gritou sim a Beatriz.
Mas quando o médico chegou, os adultos também começaram a apresentar sintomas. Roberto caiu no chão, convulsionando. Fernando vomitava sangue. Antônio delirava com febre. É envenenamento, diagnosticou o médico. Mas não sei que tipo de veneno. Como isso é possível? Chorava dona Clara, segurando o filho mais novo que agonizava em seus braços.
Sim, a Beatriz me olhou através da confusão e vi em seus olhos que ela sabia. Ela havia suspeitado de mim desde o primeiro dia. “Foi você?”, sussurrou ela, se aproximando de mim, cambaleando. Você envenenou minha família. Não sei do que a senhora está falando respondi calmamente. Eu sabia.
Eu sabia que havia algo errado com você. As outras famílias, os Farias, os Mendonça, os Cavalcante, todas tiveram mortes estranhas depois que você chegou. Ela estava certa, é claro, mas já era tarde demais. Uma por uma, as crianças foram morrendo. Os pequenos corpos não conseguiam resistir ao veneno. Seus gritos de agonia ecoavam pela casa como uma sinfonia macabra. Depois foram os filhos.
Roberto morreu primeiro, seguido por Fernando. Antônio foi o último, chamando pela mãe até o último suspiro. As noras fugiram em desespero, carregando os filhos que ainda respiravam, mas era inútil. O veneno já estava em seus sistemas. Quando amanheceu, apenas eu e sin Beatriz estávamos vivas na casa.
Ela estava sentada no chão da sala, cercada pelos corpos de sua família, chorando lágrimas que pareciam nunca acabar. “Por quê?”, perguntou ela com a voz rouca. “Por que fez isso?” “Porque vocês mataram minha mãe?”, Respondi simplesmente: “Porque vocês mataram milhares de mães como a minha?” “Porque alguém tinha que fazer vocês pagarem.
“Você é um demônio”, sussurrou ela. “Não”, corrigi. “Eu sou apenas uma filha que cumpriu uma promessa.” Sin a Beatriz morreu ao meio-dia depois de horas de agonia. Eu fiquei ao lado dela até o fim, observando a vida se esvair de seus olhos. Quando tudo terminou, peguei fogo na casa. As chamas consumiram os corpos, as evidências, tudo.
Eu saí caminhando pela estrada, deixando para trás apenas cinzas e memórias. Três famílias destruídas, 14 pessoas mortas. Minha vingança estava completa, ou pelo menos era isso que eu pensava. O fogo que consumiu a casa dos Albuquerque iluminou o céu de Recife por três dias. Quando as chamas finalmente se apagaram, restaram apenas escombros fumegantes e a memória de uma das tragédias mais chocantes da história da cidade.
Eu havia desaparecido na noite do incêndio como uma sombra que se dissolve com a chegada da aurora, mas minha liberdade durou pouco. Três semanas depois, fui capturada numa estrada empoirada que levava ao interior de Pernambuco. Não tentei fugir quando vi o soldado se aproximando. Estava cansada de correr, cansada de me esconder.
Minha vingança estava completa e uma parte de mim sentia uma estranha paz. “Você é mina?”, perguntou o capitão da guarda, um homem de meia idade com cicatrizes no rosto. Sou está presa por assassinato múltiplo e incêndio criminoso. Eles me algemaram e me levaram de volta para Recife. A notícia de minha captura se espalhou rapidamente pela cidade.
Eu era a escrava que havia matado três famílias inteiras. A mulher que havia transformado casas prósperas em túmulos. O julgamento foi um espetáculo. A cadeia estava lotada de curiosos que queriam ver o demônio de pele escura que havia aterrorizado a elite pernambucana. Jornalistas de todo o país vieram cobrir o caso. Minha história se tornou lenda antes mesmo do veredicto.
Mina, disse o juiz, um homem gordo e suado que me olhava com uma mistura de fascínio e repulsa. Você era acusada de assassinar 14 pessoas, incluindo 11 crianças, como se declara culpada. Respondi sem hesitar. Um murmúrio percorreu a multidão. Eles esperavam que eu negasse, que implorasse por misericórdia, mas eu não faria isso.
Eu havia cumprido minha missão e não me arrependia de nada. Por que fez isso? Perguntou o juiz. Levantei-me lentamente, olhando para todas aquelas faces brancas que me encaravam com horror e curiosidade. Porque vocês mataram minha mãe? Disse com voz clara e forte: “Porque vocês mataram milhares de mães como a minha? Porque vocês nos trataram como animais? Nos compraram e venderam como objetos? Nos torturaram e humilharam por séculos. Isso não justifica. Não justifica.
Interrompi minha voz ecuando pela sala. Vocês queimaram nossos filhos vivos, estupraram nossas filhas, açoitaram nossos homens até a morte e agora se escandalizam porque uma de nós se vingou. O silêncio que se seguiu era ensurdecedor. Eu podia ver o medo nos olhos deles, a compreensão de que eu representava algo que eles sempre temeram, a revolta dos oprimidos.
Você será enforcada”, declarou o juiz finalmente. “que Deus tenha misericórdia de sua alma”. Deus ri amargamente. Se Deus existisse, ele nunca teria permitido a escravidão. Não, juiz, se há alguma justiça neste mundo, ela vem das nossas próprias mãos. Fui levada de volta para a cela para aguardar a execução. Mas naquela mesma noite algo extraordinário aconteceu.
Um grupo de escravos fugitivos invadiu a cadeia e me libertou. “Irmã”, disse o líder do grupo, um homem alto e forte chamado Zumbi. “Você se tornou um símbolo para nosso povo. Não podemos deixar que a matem.” Eu já cumpri minha missão. Respondi. Não tenho medo da morte, mas nós temos medo de perdê-la. Sua história precisa ser contada. Seu exemplo precisa inspirar outros.
Eles me levaram para um quilombo escondido nas Matas de Alagoas. Era uma comunidade de escravos fugitivos que viviam livres, longe da opressão dos senhores. Lá eu encontrei algo que nunca havia conhecido, aceitação. “Você fez o que todos nós sonhamos fazer”, disse uma mulher idosa chamada Nanã. “Você mostrou que eles não são invencíveis. Passei dois anos no quilombo contando minha história para quem quisesse ouvir.
Minha fama se espalhou por todo o nordeste. Escravos sussurravam meu nome como uma oração. Senhores o pronunciavam como uma maldição. Mas a paz não durou muito. Em 1881, o quilombo foi descoberto e atacado por uma expedição militar. A batalha durou três dias. Muitos dos meus irmãos morreram. defendendo nossa liberdade.
Eu consegui escapar mais uma vez, mas estava sozinha novamente. Foi então que tomei uma decisão que mudaria tudo. Se eu não podia viver livre, pelo menos morreria como quis viver. Voltei para Recife, caminhando pelas mesmas ruas onde havia sido vendida como escrava. Mas agora eu caminhava com a cabeça erguida, sem medo. A notícia de meu retorno se espalhou rapidamente.
Soldados me procuravam por toda a cidade, mas eu sempre conseguia escapar. Era como se eu fosse um fantasma, aparecendo e desaparecendo à vontade. Durante essas semanas finais, visitei os locais onde as famílias que eu havia destruído costumavam viver. A casa dos Farias havia sido abandonada depois da morte de Antônio.
Ele havia enlouquecido completamente e se matado alguns anos após minha partida. A propriedade dos Mendonça havia sido vendida e transformada numa escola. O terreno onde ficava a casa dos Cavalcante agora abrigava uma igreja. E onde antes se erguia o palacete dos Albuquerque, havia apenas um terreno vazio que ninguém queria comprar. Dizem que é amaldiçoado.
Ouvi uma mulher comentar com outra enquanto passavam pelo local. Que a alma da escrava assassina ainda ronda por aqui. Sorri ao ouvir isso. Talvez elas estivessem certas. Na minha última noite de liberdade, subi no telhado da igreja que havia sido construída sobre as ruínas da casa dos Cavalcante.
De lá eu podia ver toda a cidade de Recife se estendendo até o mar. Era uma vista bonita, quase pacífica. Mãe, sussurrei para as estrelas, eu cumpri minha promessa. Todas as cinás que me possuíram estão mortas. Todos os filhos delas também. Agora posso descansar. Na manhã seguinte, me entreguei voluntariamente às autoridades. Não havia mais nada para fazer, nenhuma vingança pendente.
Minha missão estava completa. O segundo julgamento foi ainda mais rápido que o primeiro. Desta vez, não houve discursos longos nem justificativas. Eu simplesmente confirmei minha identidade e aguardei a sentença. Mina, disse o novo juiz, você será enforcada ao amanhecer. Está bem”, respondi calmamente. “Naquela última noite, muitos vieram me visitar na cela.
Jornalistas querendo uma última entrevista, padres tentando salvar minha alma, curiosos esperando ver o demônio de perto. Mas a visita que mais me marcou foi a de uma jovem escrava chamada Maria. Ela não podia ter mais de 15 anos e seus olhos carregavam a mesma dor que eu havia carregado na infância.” “É verdade?”, perguntou ela em sussurros.
É verdade que você matou todas aquelas pessoas? É verdade. E não se arrepende? Não. Ela ficou em silêncio por um longo momento. Depois perguntou: “Como você encontrou coragem?” “Lembrei-me de que sou filha de rainhas.” Respondi. Lembrei-me de que meu sangue carrega a força dos orixás. Lembrei-me de que a liberdade vale mais que a vida.
Quando ela foi embora, vi em seus olhos a mesma chama que um dia havia nascido nos meus, e soube que minha história não morreria comigo. O amanhecer chegou frio e cinzento. Uma multidão se reuniu na praça para assistir à execução. Eu caminhei até o cadafalso com a cabeça erguida, sem demonstrar medo. “Tem alguma última palavra?”, perguntou o carrasco.
Olhei para a multidão, para todas aquelas faces que me observavam com uma mistura de horror e fascínio. “Sim”, disse com voz clara: “Eu amaldiçoo todas as casas que me compraram, que nunca mais prosperem, que nunca mais conheçam a paz. E que minha história seja lembrada como prova de que mesmo os oprimidos podem se vingar”. O carrasco colocou a corda em meu pescoço.
Fechei os olhos e pensei em minha mãe, em Yemanjá, na mulher forte que me ensinou que éramos descendentes de rainhas. A última coisa que ouvi foi o barulho da alavanca sendo puxada, mas minha história não terminou ali. Nos anos que se seguiram, estranhos eventos começaram a acontecer com as famílias que haviam sobrevivido às minhas vinganças.
Os poucos parentes distantes dos Farias, Mendonça, Cavalcante e Albuquerque começaram a sofrer uma série de desgraças inexplicáveis. Negócios que faliram da noite para o dia, doenças misteriosas que atacavam apenas os membros dessas famílias. Acidentes fatais que pareciam perseguir qualquer um que carregasse esses sobrenomes.
As pessoas começaram a sussurrar que era a maldição de Mina, que meu espírito havia voltado para completar a vingança que a morte havia interrompido. Verdade ou não? O fato é que nenhuma das famílias que me possuíram jamais voltou a prosperar. Seus nomes desapareceram da elite pernambucana.
Suas fortunas se dissiparam como fumaça e minha história, minha história se tornou lenda, contada em sussurros nas cenzalas, passada de geração em geração, como um lembrete de que mesmo os mais oprimidos podem encontrar uma forma de se vingar. Eu era Mina, a escrava que destruiu três sin filhos, a mulher que transformou sua dor em vingança, sua raiva em justiça.
E mesmo na morte, eu continuei a ser o pesadelo de todos aqueles que acreditavam que podiam nos possuir sem consequências. Porque algumas chamas, uma vez acesas, nunca se apagam completamente e a minha, a minha ainda queima. Esta foi a história de Mina, contada através de sete capítulos que revelaram como uma menina escrava se transformou numa das figuras mais temidas do Brasil imperial.
Uma narrativa sobre vingança, justiça e as consequências da opressão que marcou para sempre a história de Pernambuco. Se você chegou até aqui, deixe seu comentário sobre o que achou dessa história. Compartilhe com seus amigos e se inscreva no canal para mais conteúdos como este. E me conta, você acredita que a maldição de Mina realmente existiu? M.