
Wade Langston havia esperado três meses por uma mulher que nunca viria.
A carta em suas mãos gastas prometia uma professora gentil chamada Margaret, com cabelos castanhos e modos tranquilos.
Mas a mulher que desceu daquela trilha empoeirada carregava uma arma no quadril e segredos nos olhos que poderiam destruir tudo que ele pensava saber sobre confiança.
Ela se apresentou pelo nome correto.
Novos detalhes que só Margaret deveria saber.
Ela até tinha o medalhão que Wade havia enviado adiante como prova de suas intenções.
Mas quando ela sorriu, havia algo perigoso escondido sob a superfície.
Algo que fez seus instintos gritarem que aquela mulher já havia matado antes.
A parte mais estranha não era que ela estava mentindo sobre quem era.
A parte mais estranha era que ela parecia saber coisas sobre Wade que ele nunca havia escrito a nenhuma mulher: coisas sobre seu passado, sobre a cicatriz em seu ombro esquerdo, sobre a forma como tomava café pela manhã, coisas que deveriam ser impossíveis para um estranho saber.
E quando ela olhou para ele com aqueles olhos verdes afiados, Wade sentiu algo que nunca havia experimentado antes, não a companhia confortável que esperava de Margaret.
Era algo que fazia seu pulso disparar e suas mãos tremerem.
Algo que parecia estar na beira de um penhasco, com o vento empurrando-o para frente.
Mas quando o sol começou a se pôr naquele primeiro dia, Wade notou sangue fresco na bota dela.
Sangue que ainda estava úmido.
E à distância, ele podia ver cavaleiros se aproximando de sua propriedade com um propósito nada amigável.
O que quer que essa mulher tivesse feito, quem quer que ela realmente fosse, problemas a seguiram diretamente até sua porta.
A questão não era se ela era perigosa.
A questão era se o perigo que ela trouxe destruiria ambos, ou se, de alguma forma, de maneiras que ele ainda não podia entender, poderia ser exatamente o que ambos precisavam para sobreviver.
Os olhos de Wade se fixaram na mancha escura se espalhando pela bota de couro gasta da mulher.
O sangue ainda não havia secado, o que significava que o que quer que tivesse acontecido era recente. Muito recente.
Suas mãos se moveram instintivamente em direção ao rifle encostado na varanda, mas ele se conteve.
Se ela quisesse matá-lo, já teria puxado aquela arma.
A mulher, que dizia ser Margaret, percebeu seu olhar e olhou para a bota com uma expressão mais irritada do que preocupada.
Ela limpou o sangue casualmente no degrau de madeira, como se estivesse tirando lama de uma caminhada de domingo.
A facilidade daquele gesto disse a Wade tudo que precisava saber sobre o quão familiarizada ela estava com a violência.
Três cavaleiros ultrapassaram a colina à distância, movendo-se com o propósito firme de homens rastreando uma presa.
Eles ainda estavam longe demais para distinguir rostos, mas próximos o suficiente para que Wade visse o brilho do metal em suas mãos.
A mulher seguiu seu olhar, e toda sua postura mudou.
Sua mão direita deslizou em direção à arma.
E pela primeira vez desde que chegou, Wade viu algo que poderia ser medo passar por suas feições.
“Aqueles amigos seus?” Wade perguntou, voz cuidadosamente neutra.
Ele aprendera há muito tempo que mostrar medo a pessoas perigosas é como sangrar em águas cheias de tubarões.
Ela voltou aqueles olhos verdes para ele, e agora ele podia ver cálculo neles.
Ela estava pesando opções, decidindo quanta verdade podia se dar ao luxo de contar.
“Depende da sua definição de amigos,” disse finalmente. “Certamente são persistentes.”
Wade sentiu o maxilar apertar.
O problema que aquela mulher trouxe para sua porta estava prestes a se tornar dele, quisesse ele ou não.
Seu vizinho mais próximo estava a 15 milhas de distância, e o xerife poderia muito bem estar na lua, de tanta ajuda que ele receberia.
Lá fora, um homem resolvia seus próprios problemas ou morria tentando.
“Quanto tempo temos?” ele perguntou, surpreendendo-se com a palavra nós.
Mas algo na forma como ela estava, pronta para lutar contra probabilidades que claramente não estavam a seu favor, fez-o pensar em um lobo encurralado.
“Perigosa, sim, mas também desesperada. Talvez 10 minutos se tivermos sorte,” respondeu ela, conferindo os cartuchos em sua arma com eficiência prática.
“Menos se eles forem melhores rastreadores do que eu dei crédito.”
Wade tomou uma decisão que mudaria tudo.
Em vez de expulsá-la de sua propriedade, em vez de tentar se distanciar do problema que ela carregava, entrou na cabana e emergiu com seu rifle e uma caixa de munição.
“Então acho que é melhor nos prepararmos.”
A mulher o encarou com algo que poderia ter sido surpresa.
“Você nem sabe o que eles querem.”
“Eu sei que estão vindo rapidamente para minha terra com armas em punho,” Wade disse, carregando o rifle com mãos firmes.
“Isso é suficiente.”
Mas mesmo enquanto falava, Wade não conseguia se livrar da sensação de que estava perdendo algo crucial.
Algo sobre a maneira como ela se comportava, como parecia conhecer sua terra quase tão bem quanto ele.
Quase como se tivesse observado o lugar muito antes de hoje.
E se isso fosse verdade, então esse encontro não era acidente algum.
A mulher se movimentava pela propriedade de Wade com a confiança de alguém que passou considerável tempo estudando o terreno.
Ela se posicionou atrás da bebedouro sem hesitar, escolhendo o ponto exato que oferecia a melhor cobertura mantendo linhas de visão claras para os cavaleiros que se aproximavam.
Wade descobrira aquela posição sozinho depois de morar ali por três anos.
“Você já esteve aqui antes,” disse ele, escondendo-se atrás do canto da cabana.
Não era uma pergunta.
Ela não negou.
Uma mulher que viaja sozinha aprende a reconhecer lugares seguros para descansar.
Seus dedos traçaram a borda do bebedouro, e Wade percebeu como ela testava sua espessura com a familiaridade de quem já fez esse cálculo antes.
“Sua terra parecia adequada.”
Os cavaleiros estavam próximos o suficiente para Wade distinguir seus rostos.
Três homens, todos armados, todos com expressões sombrias de quem viajou muito por algo que pretendiam tomar à força.
O homem da frente tinha uma cicatriz que ia da orelha esquerda até a mandíbula.
E quando sorriu, era do tipo de sorriso que prometia dor.
“Dixie Hargrove,” chamou o homem cicatrizado, voz ecoando à distância. “Sabemos que você está aqui. Saia e talvez deixemos sua amiga viver.”
Wade sentiu algo gelar em seu estômago.
“Dixie, não Margaret.”
A mulher ao lado dele tensou ao ouvir seu verdadeiro nome, mas não parecia surpresa por terem encontrado ela.
Ela parecia alguém que esperava por esse confronto há muito tempo.
“Quantas pessoas você matou, Dixie?” Wade perguntou, voz baixa, sem tirar os olhos dos cavaleiros que se aproximavam.
“Não tantas quanto eles,” respondeu ela.
E havia algo em sua voz que fez Wade acreditar nela.
E nunca ninguém que não merecesse.
O líder levantou a mão, fazendo seus companheiros pararem a cerca de 50 jardas da cabana.
“Podemos fazer isso fácil ou difícil, Dixie. Mas de qualquer forma, você vem conosco.”
O aperto de Dixie na arma se intensificou.
“Eu disse a você em Kansas City, Krenshaw. Acabou minha vida com isso.”
Crenshaw riu. Um som como vidro quebrado.
“Ninguém escapa da nossa operação. Você sabe demais. Viu demais.”
Seus olhos se moveram para Wade.
“E agora sua amiga aqui também viu demais.”
Wade percebeu com clareza cristalina que não se tratava apenas do que Dixie tinha feito.
Tratava-se de silenciar testemunhas, de garantir que ninguém pudesse testemunhar quaisquer crimes desses homens.
O sangue na bota dela de repente fez sentido terrível.
“Há algo que você deveria saber,” disse Dixie, voz baixa, apenas para Wade ouvir.
“A verdadeira Margaret não virá porque não pode. Ela está morta. Esses homens a mataram há 3 dias, quando ela se recusou a dizer onde me encontrar.”
O mundo pareceu girar sob os pés de Wade.
A professora gentil com quem ele correspondia há meses.
A mulher com quem ele planejava se casar havia desaparecido.
Morta pelos mesmos homens que agora cercavam sua propriedade.
Eles usaram as cartas dela para me rastrear até aqui, continuou Dixie.
“Eu tomei o lugar dela porque pensei que poderia afastá-los de pessoas inocentes.”
“Nunca pretendi que você ficasse no meio disso.”
Wade sentiu a raiva crescer em seu peito, quente, pura e focada.
Esses homens não apenas mataram uma mulher inocente, mas usaram sua morte como isca.
Transformaram sua esperança de companhia em uma armadilha.
Mas ao olhar para Dixie, vendo como suas mãos permaneciam firmes apesar das probabilidades contra eles, vendo a determinação em seus olhos para protegê-lo mesmo mal conhecendo-o, Wade percebeu algo que mudava tudo.
O que quer que fosse verdadeiro ou mentira, a mulher ao lado dele estava disposta a morrer lutando em vez de se render a esses assassinos.
E isso lhe disse tudo que precisava saber sobre quem merecia sua lealdade.
Krenshaw estava levantando a arma quando Dixie sussurrou algo que fez o sangue de Wade gelar.
“Wade, há algo mais. Algo sobre por que eles realmente querem me matar.”
As palavras de Dixie pairaram no ar como fumaça de um tiro.
Wade queria exigir explicações, mas Crenshaw estava desmontando, botas tocando a terra lentamente.
Os outros dois cavaleiros se espalharam para flanquear a cabana, movendo-se com a coordenação de homens que já haviam feito isso antes.
“Eu testemunhei algo,” sussurrou Dixie urgentemente.
“Em Kansas City, esses homens não são apenas assassinos, Wade. Eles fazem parte de algo maior.”
“Eles têm vendido gado roubado e culpado tribos nativas para iniciar conflitos, ganhando dinheiro tanto com o gado quanto com os contratos militares que se seguem.”
O sangue de Wade virou gelo.
Ele ouvira rumores de tais esquemas, mas testemunhar significava que Dixie podia destruir homens poderosos.
Homens com influência suficiente para fazer desaparecer comunidades inteiras se necessário.
“Quantos bois?” Wade perguntou, entendendo agora por que matariam Margaret, por que perseguiriam Dixie através de estados.
“Mais de 2.000 cabeças,” respondeu Dixie, conferindo a munição novamente. “E posso provar. Tenho documentos.”
O peso da revelação caiu sobre Wade como um cobertor pesado.
Ela não estava apenas fugindo de assassinos.
Ela carregava provas que poderiam expor a corrupção, alcançando governos territoriais e comandos militares.
Não é de admirar que quisessem matá-la.
Krenshaw chamou novamente, “Cheguem mais perto agora. Última chance, Dixie. Saia e faremos rápido.”
Wade tomou uma decisão que o surpreendeu.
“Em vez de ficar escondido,” ele entrou em plena visão, rifle apontado para o peito de Crenshaw. “Esta é minha terra,” disse, voz ecoando pelo quintal. “Você está invadindo.”
O sorriso do homem cicatrizado se ampliou.
“Bem, parece que temos um herói.”
Ele fez um gesto para os companheiros.
“Garotos, parece que este cowboy acha que pode proteger nossa pequena testemunha.”
“Sua testemunha matou uma mulher inocente,” respondeu Wade, dedo no gatilho.
“Isso faz de vocês assassinos, e assassinos não são bem-vindos em minha propriedade.”
“Você não sabe no que está se metendo, amigo,” disse Krenshaw, dando outro passo à frente.
“Essa mulher tem sangue em suas mãos também. Mais do que você imagina.”
Wade sentiu Dixie enrijecer ao lado dele, mas não desviou o olhar da ameaça que se aproximava.
“Acredito que isso é entre ela e sua consciência.”
“É mesmo?” O riso de Crenshaw era feio. “Diga a ele, Dixie. Diga a ele sobre Denver. Diga sobre a família que você não conseguiu salvar.”
Pela primeira vez desde que chegou, Wade ouviu a respiração de Dixie falhar.
O que aconteceu em Denver era a ferida que esses homens continuavam pressionando.
A coisa que a tornava vulnerável.
“Algumas coisas não podem ser desfeitas,” disse Dixie calmamente.
“Mas minha arma nunca vacilou.”
“Isso não significa que eu deixei de tentar fazer o que é certo.”
O impasse se estendeu como um fio esticado.
Três contra dois, sem cobertura entre os grupos e sem para onde correr.
Wade podia sentir o suor se acumulando entre suas omoplatas apesar do ar fresco.
Em momentos assim, tudo se resumia a quem estava disposto a puxar o gatilho primeiro.
Mas assim que Krenshaw levantou a arma, um novo som os alcançou de fora.
Cascos de vários cavalos aproximando-se rapidamente do leste.
O coração de Wade afundou, pensando que reforços tinham chegado para o grupo de Crenshaw.
Em vez disso, Dixie sorriu pela primeira vez desde que chegou.
“No momento certo. Quem está vindo?” Wade perguntou, mas a atenção de Dixie estava fixa nos cavaleiros que se aproximavam, expressão quase de alívio.
O som de tiros irrompeu pela trilha leste, e Crenshaw se virou para o barulho com expressão de puro choque.
“O que quer que esteja acontecendo, ele não esperava.”
“Dixie,” Wade disse urgentemente. “Quem mais sabe que você está aqui?”
Os cavaleiros emergiram da nuvem de poeira com armas em punho, mas não atiravam em Wade e Dixie.
Eles miravam nos homens de Crenshaw com a precisão de quem sabia exatamente quem era o inimigo.
Wade contou cinco cavaleiros, todos com distintivos que refletiam a luz da tarde.
Marshals federais, explicou Dixie, sem desviar os olhos de Krenshaw.
“Enviei notícias sobre a operação do gado antes de chegar aqui. Eles têm rastreado esses homens por semanas.”
O rosto de Crenshaw se contorceu de raiva ao perceber a armadilha.
“Você nos armou, bruxa astuta.”
“Eu lhe dei chances de ir embora,” respondeu Dixie calmamente. “Em Kansas City, em Silver Creek, até ontem, quando você poderia ter continuado a cavalgar… mas matou Margaret em vez disso.”
O som de tiros se intensificou enquanto os dois companheiros de Crenshaw se viram presos entre a cabana e os marshals que se aproximavam.
Um deles gritou e caiu do cavalo, segurando o ombro.
O outro jogou a arma no chão e levantou as mãos em rendição.
Mas Crenshaw não havia terminado.
Com fúria desesperada, ele avançou em direção à cabana, arma apontada diretamente para Wade.
“Se eu cair, levo alguém comigo.”
Dixie se moveu mais rápido do que Wade achava possível.
Ela se jogou entre eles justo quando a arma de Crenshaw disparou.
A bala atingiu seu lado, girando-a ao redor.
Ela caiu com força, mas conseguiu atirar, acertando Crenshaw no peito.
O homem cicatrizado caiu de joelhos e depois desabou na terra.
O quintal ficou em silêncio, exceto pelo som dos cavalos que se aproximavam e da respiração ofegante de Dixie.
Wade largou o rifle e se ajoelhou ao lado dela, pressionando as mãos contra o ferimento em seu lado.
O sangue se infiltrava entre seus dedos, quente e urgente.
“Por que fez isso?”
“Porque você escolheu ficar ao meu lado,” ela sussurrou.
Rosto pálido, mas olhos ainda afiados.
“Mesmo quando você não sabia toda a verdade.”
O marshal líder desmontou e se aproximou, distintivo dizendo, Deputy Marshall Samuel Brooks.
Ele era um homem experiente, com olhos gentis que olhavam Dixie com respeito óbvio.
“Senhorita Hargrove, você correu um risco enorme vindo aqui.”
“Tive que atraí-los.”
Dixie conseguiu, franzindo ao sentir Wade aplicar pressão no ferimento.
“Eles estavam chegando muito perto de outras pessoas inocentes.”
Brooks assentiu e olhou para Wade.
“Você deve ser Langston. Senhorita Hargrove disse que você poderia ajudar quando enviou sua mensagem.”
Wade sentiu o mundo se mover novamente.
“Você planejou tudo. Tudo.“