“Por favor… dói…” Ela gemeu — o fazendeiro congelou… e então a tirou do inferno” | Melhores Histórias do Velho Oeste

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🤠 O Ouro e a Forja (Ouro e a Forja)

Marabel Cain viu seu marido, Harlon, desabar pela última vez enquanto a pá caía com um estrondo na cabeça dele.

Ouviu o estalo repugnante dos ossos partindo como galhos secos.

Os três assaltantes, Sloan, Griggs e Teller, ofegavam como animais selvagens, os olhos vermelhos de frustração.

Haviam revirado a casa, virado móveis, desfiado colchões, quebrado armários, mas nenhum sinal do ouro.

Onde está?” Teller rugiu.

Harlon não disse nada. E então, ele nunca mais teve a chance de falar.

A fúria deles se voltou para Marabel.

Arrastaram-na para a varanda, enrolaram uma corda em seu pescoço e a amarraram a uma viga de madeira que apodrecia desde o último inverno.

Sloan chutou a cadeira de debaixo de seus pés, e Marabel sentiu o mundo encolher em uma única linha, fina como um último suspiro. O ar se transformou em facas. Seu pescoço estalou com força. A escuridão se fechou.

A viga deu um estalo agudo. Partiu-se.

Marabel caiu na varanda, batendo com força no chão. Sua garganta ardia como fogo, mas ela ainda estava viva.

No caos, ela rastejou para dentro, suas mãos trêmulas roçando em um baú de madeira antigo debaixo da mesa. Agarrando-o, correu para a escuridão, deixando um longo rastro de sangue manchado de seu pescoço e pernas.

Os três homens rugiram e a perseguiram.

Marabel rasgou a noite como um espírito arrastado para fora do inferno até que suas pernas ficaram dormentes, seus braços caíram inertes, e ela desabou no portão da fazenda de Jonas Mercer, o solitário veterano que vivia em uma terra tão desolada que nem o vento ousava tocá-la.

A escuridão se fechou atrás dela, e um novo destino começou a se desenrolar.


O Resgate de Jonas Mercer

 

Jonas Mercer estava sentado sozinho em sua forja inacabada quando o som de algo caindo lá fora rompeu o silêncio como um raio em plena noite.

O cavalo no estábulo soltou um relincho longo e agudo, e o vento mudou, carregando o cheiro fraco de sangue.

Ele se levantou, pegou o velho rifle Winchester que o havia acompanhado por dois anos de guerra e saiu para a varanda com o silêncio de um homem há muito familiarizado com a morte.

Sob o pálido luar, Marabel Cain estava encolhida perto do portão. Um hematoma escuro circundava seu pescoço, a marca da corda ainda nítida em sua pele, sua respiração mal existia. Ao lado dela, um baú de madeira manchado de sangue.

Jonas ajoelhou-se e tocou seu pescoço: quente.

Ainda viva.

Ele a levantou em braços que haviam carregado muitos irmãos de guerra moribundos. Marabel soltou um gemido fraco, como alguém que havia chegado muito perto da morte.

Jonas abriu a porta e a levou para dentro, deitando-a suavemente na mesa de madeira. Ele pressionou um pano limpo em seu pescoço antes de abrir um velho kit médico do exército.

Você consegue me ouvir?” Jonas perguntou, sua voz rouca de anos falando apenas com cavalos e o vento.

Marabel abriu os olhos por um breve momento e conseguiu apenas uma palavra rouca e quebrada: “Eles estão vindo.”

Jonas compreendeu instantaneamente. Isso não foi um acidente. Não foi um roubo insignificante. Foi uma caçada.

Ele ouviu o som distante de cascos: constante. Vicioso. Três cavaleiros seguindo o rastro de sangue.

Não havia tempo para pensar.

Jonas puxou o tapete ao lado da lareira, revelando um alçapão de aço que ele mesmo havia construído após a guerra.

Levava ao seu abrigo, um espaço que guardava memórias, armas e todas as coisas que ele havia tentado enterrar do mundo.

Entre,” ele sussurrou, carregando Marabel para os degraus de madeira.

O abrigo era apertado, mas selado e seguro. Ele a apoiou em um barril de água e entregou-lhe uma pistola pequena.

Fique quieta aqui embaixo,” Jonas disse, fitando-a nos olhos. “Deixe-me cuidar do resto.”

Marabel assentiu fracamente, o medo tremendo em seu olhar. Mas por trás dele, a vontade inabalável de alguém que foi enforcada e ainda se agarrava à vida.

Jonas fechou o alçapão, puxou o tapete de volta e ficou parado na casa escura. Ele apagou o lampião a óleo.

O cômodo caiu em um silêncio frio e terroso, profundo como um túmulo.


O Caçador e a Escuridão

 

As batidas dos cascos ficaram mais altas. O som de vozes bêbadas. Risadas cruéis sibilando entre dentes cerrados. Os três homens estavam chegando.

Jonas agarrou seu rifle, mas depois o soltou.

Ele não precisava de uma arma para caçar esses animais. Ele precisava de escuridão.

A forja, as hastes de ferro, as correntes, os pedaços de metal, tudo se transformou em armadilhas nas mãos de um veterano de guerra que uma vez havia saído do inferno.

Jonas ficou ali, preso entre os dois últimos batimentos cardíacos de uma vida pacífica, pronto para enfrentar os homens que haviam enforcado uma mulher inocente. E esta noite, a escuridão escolheu ficar com ele.

O vento mudou assim que os três ladrões entraram no quintal, trazendo consigo o fedor de suor, licor barato e sede de sangue que contaminava a terra silenciosa que Jonas Mercer havia mantido intacta por anos.

Sloan, o mais alto, com ombros largos como a porta de um estábulo, saltou primeiro. Griggs o seguiu mais devagar, seus olhos desviando como se estivesse sempre procurando algo para quebrar. Teller veio por último, segurando um lampião oscilante, cuja luz bruxuleava sobre o rastro molhado de sangue que Marabel havia deixado para trás.

Ela correu para cá,” Sloan rosnou, “e o fazendeiro está escondendo ela. Sem dúvida.”

É, sem dúvida,” Teller disse, sua voz rouca, cheia de tensão e violência.

Jonas permaneceu imóvel na escuridão da casa. Ele não respirava alto. Ele não se movia.

A forja ainda irradiava um calor fraco, lançando um brilho vermelho pálido sobre o metal espalhado, mas as sombras engoliam tudo.

A porta foi atingida com força.

Ei, abra!” Griggs latiu. Sua voz encharcada de álcool.

Jonas não deu resposta. Outro golpe e a porta se abriu.

Eles invadiram a casa escura, murmurando maldições quando seus olhos não encontraram nada além de sombras.

Onde está o fazendeiro?

Teller recuou contra a parede, erguendo o lampião, a luz do fogo cortando o cômodo como uma lâmina fina. Eles não viram nada, mas Jonas os viu. Cada veia em seus rostos, cada espasmo, cada respiração; seus olhos, há muito acostumados à escuridão, liam cada movimento deles.

Sloan entrou mais fundo, a coronha de seu rifle varrendo o espaço. Griggs moveu-se para a esquerda, pisando em uma tábua solta que fez o tapete cobrindo o alçapão estremecer levemente. Jonas cerrou os dentes. Teller demorou perto da porta, suas mãos tremendo apesar de sua tentativa de parecer ameaçador.

Eles se separaram. Esse foi o primeiro erro deles.

Jonas moveu-se como uma sombra, deslizando para trás da forja.

Quando Griggs virou a cabeça, a luz do lampião captou a haste de ferro incandescente que Jonas havia colocado ali mais cedo. Griggs apertou os olhos, tentando distinguir o objeto.

Jonas se lançou, enrolando uma corrente forjada no pescoço de Griggs, puxando-o com força em direção à mesa de açougue de cavalos. O forte choque do metal ecoou enquanto Griggs ofegava, pernas debatendo-se, incapaz de gritar.

Teller se virou. “Griggs, onde diabos—

Jonas atirou algo pelo cômodo. Um martelo de ferreiro clangou alto em um canto distante, atraindo a atenção de Teller. Ele se virou, erguendo o lampião para ver. Esse foi o segundo erro deles.

Sloan começou a suspeitar de algo. “Espere, tem alguém…” Ele nunca terminou.

Griggs, em seu debate final, derrubou um suporte de ferramentas. O barulho do aço caindo sacudiu a casa. Sloan levantou o rifle e correu em direção ao barulho. Teller recuou, lutando para firmar o lampião, mas tudo o que encontraram foi um cômodo engolido em um silêncio aterrorizante.

Jonas estava ali na escuridão, não como um homem em fuga, mas como um lobo, esperando para atacar. E aqueles três animais tinham acabado de entrar em seu território.


A Dança da Sobrevivência

 

Na escuridão espessa, Jonas Mercer não se movia como um homem. Ele se movia como algo nascido do ferro, do fogo e da pura sobrevivência.

O calor persistente da forja tremeluzia contra as paredes, fazendo a casa parecer que estava respirando, tremendo em antecipação à violência brutal prestes a se desenrolar. Uma violência diferente de tudo que esta terra já vira.

Sloan avançou mais fundo, seu rifle varrendo o escuro. “Que inferno é esse silêncio? Griggs? Teller?

Nenhuma resposta, apenas o fraco som de tique-taque de um ferro quente esfriando na forja.

Jonas avaliou a cena. Griggs morrendo atrás do depósito de carvão. Teller perto da porta, ainda segurando o lampião, tremendo como uma folha seca. Sloan, o maior, o mais perigoso, vindo direto em sua direção.

Jonas fez sua escolha.

Sloan passou em frente a uma cortina de tecido empoeirado. Uma brisa se moveu – nenhum vento de fora, mas o movimento de Jonas se deslocando.

Um batimento cardíaco depois, a corrente de ferreiro chicoteou em volta do pescoço de Sloan, apertada. O som do metal rangendo na carne era assustador. Sloan recuou com a força de um touro, arrastando Jonas meio metro pelo chão.

Mas Jonas havia lutado com coisas mais pesadas que homens.

Ele laçou a corrente em torno de uma viga de suporte e puxou com força. Sloan se dobrou para a frente no momento em que Jonas girou e cravou o joelho direto no rosto do homem. Sloan caiu.

Teller mal teve tempo de gritar. “Jonas Mercer! Você, você…

Jonas o interrompeu com um golpe de uma barra de ferreiro, jogando-o para o lado. O lampião caiu no chão. Apagando a luz.

A escuridão engoliu tudo, deixando apenas os passos firmes e pesados de Jonas.

Teller rastejou para trás, encolhido em um canto, tateando em pânico cego por uma arma. Tarde demais.

Jonas agarrou sua gola e o levantou como um saco de ração.

No brilho das brasas moribundas, o rosto de Teller ficou vermelho como o de um homem já de pé sob a forca.

Ela, ela! Onde ela está?” Teller choramingou.

Eu é que devia estar te perguntando isso,” Jonas disse. Sua voz tão baixa que até a escuridão parecia prender a respiração.

Ele empurrou o rosto de Teller perto do ferro incandescente, perto o suficiente para o calor queimar sua pele.

Teller gritou, tremendo, e despejou tudo.

Alguém… alguém na cidade disse que Harlon tinha ouro! Disse que ele estava se gabando! Não sabíamos que a moça estaria lá! Só queríamos o ouro! Só o ouro!

Jonas apertou sua gola com mais força. “E você a enforcou?

Teller desabou, soluçando e fungando, caindo no chão.

Jonas não disse nada.

Teller, aproveitando o momento em que Jonas o soltou, alcançou desesperadamente a faca em sua bota. Mas Jonas já havia previsto.

Assim que a lâmina brilhou, Jonas girou e chutou a mão de Teller. A faca voou pelo cômodo. Jonas pegou uma arma caída e disparou um tiro limpo.

Teller atingiu o chão, silencioso.

O cômodo se acalmou com o suave crepitar da forja mais uma vez.

Jonas estava sobre três corpos: dois sem vida, um com apenas alguns suspiros restantes. A luz do fogo refletia em olhos que já tinham visto demais da escuridão do mundo.

Mas a noite não havia acabado. Abaixo do chão, Marabel ainda estava ofegando através de uma garganta queimada e machucada. E Jonas sabia que a violência era apenas o ato de abertura para uma verdade mais profunda, esperando para surgir com o brilho vermelho do amanhecer.


O Segredo Revelado

 

Jonas arrastou o corpo de Teller para fora, deixando para trás o cheiro de metal quente em uma casa mergulhada em escuridão. Ele fechou a porta, caminhou até o tapete ao lado da lareira e abriu o alçapão.

A luz do lampião se derramou, lançando um brilho no rosto de Marabel Cain, seu pescoço machucado, olhos meio abertos, lábios rachados de sede e medo.

Acabou,” Jonas disse, sua voz baixa, cansada, mas firme.

Eles… eles estão mortos?

Dois deles. Um está dando seus últimos suspiros no quintal. Mas ninguém mais virá procurar você esta noite.”

Marabel tremeu. “O… o baú. Aquele que eu trouxe.”

Jonas assentiu. “Está aqui.”

O velho baú de madeira estava sobre a mesa, manchado de sangue e poeira da estrada. Jonas levantou a tampa.

Não havia ouro lá dentro. Nem joias. Apenas um punhado de pequenas coisas: um lenço bordado. Um cartão de aniversário amarelado pelo tempo. Uma caneta quebrada. Uma foto de casamento borrada com água. Um colar de prata, sua inscrição gasta.

Marabel olhou para ele, então desabou em soluços. O tipo de choro que parecia carregar cada último suspiro que lhe restava.

Harlon… ele brincou uma vez no saloon,” ela engasgou. “Ele disse: ‘Eu escondi ouro para minha esposa.’ Ele só queria que as pessoas pensassem que ele poderia me dar algo de bom.”

Ela agarrou a foto de casamento com tanta força que seus nós dos dedos ficaram brancos. “E aquela única piada o matou.”

Jonas ficou parado. Uma ostentação inofensiva de um homem que queria parecer um bom marido havia aberto as portas do inferno.

Harlon não merecia morrer por causa de uma piada,” Jonas disse, olhos fixos na luz do fogo.

Marabel balançou a cabeça. “Não. Mas a vida nunca foi justa.”

Jonas não disse mais nada.

Ele se levantou e foi até o estábulo para limpar o rastro dos ladrões. Enquanto movia uma pilha de palha espalhada, os olhos treinados de um homem que havia caminhado por campos de batalha captaram algo fora do lugar.

Uma pedra debaixo da baia, ligeiramente desalinhada.

Jonas ajoelhou-se, acendeu seu lampião e puxou a pedra para o lado. Abaixo da terra fresca, havia uma tampa de madeira. Ele cavou um pouco mais e descobriu um grande baú. Preso com um cadeado de ferro antigo, mas sólido.

Seu coração palpitou. Ele içou o baú. Estava pesado. Muito pesado.

Marabel estava na porta do estábulo, observando a luz, seu pescoço ainda doendo. Mas forçando-se a ficar de pé.

Jonas abriu a tampa.

Um clarão de ouro irrompeu, brilhante o suficiente para banhar os dois em uma cor que ninguém queria ver naquele momento.

Ouro. Muito ouro. Fundido em barras, embrulhado em oleado, cuidadosamente arranjado, planejado, intencional.

Marabel caiu de joelhos. “Oh, meu Deus. Harlon… ele…

Jonas tocou a borda do baú, sua expressão ficando sombria. “Ele realmente escondeu. Ele não estava apenas se gabando.”

Marabel agarrou o peito. A dor tão aguda que ela pensou que seu coração pudesse se estilhaçar novamente. “Ele fez isso por mim. E este presente é o que o matou.”

O vento noturno se moveu pelo estábulo, carregando o cheiro de grama, de terra e de um luto que não tinha mais forma.

Jonas olhou para Marabel das sombras. “Isso não pertence àqueles homens,” ele disse. “Mas talvez não deva pertencer a mais ninguém esta noite também.”

Marabel assentiu, lágrimas quentes contra a pele queimada pela corda em sua garganta. “Jonas, eu não quero o ouro,” ela disse, sua voz tremendo como alguém desgastada pela morte. “Eu só quero paz.”

Na picada da luz amarela do lampião, Jonas entendeu. O ouro não é algo para ser guardado. É algo para ser enterrado para que o passado possa ficar onde pertence.

E quando o sol nascesse, eles teriam que escolher fazer exatamente isso.


Uma Nova Escolha

 

Juntos, o vento noturno finalmente se dissipou quando Jonas e Marabel voltaram para a pequena casa. A lareira havia queimado até um fino fio de luz, e o cômodo inteiro estava envolto no tipo de silêncio que somente aqueles que roçaram a morte podem entender.

Marabel sentou-se à mesa, um pano enrolado em seu pescoço, seu peito subindo e descendo com respirações dolorosas. Embora Jonas a tivesse enfaixado, as marcas da corda ainda ardiam em vermelho, gravadas profundamente como a mordida de uma fera selvagem em seu destino. Mas não era a dor na garganta que a fazia tremer. Era a verdade que havia sido revelada. Aquele baú de ouro ofuscante.

Jonas colocou um copo de água morna em suas mãos. “Beba. Sua garganta ainda está doendo.”

Marabel deu uma risada fraca e rachada, o tipo que soava como madeira velha se partindo. “A dor no meu pescoço é mais fácil do que a do meu coração.”

Jonas não disse nada. Ele se sentou em frente a ela, os olhos no fogo onde as brasas incandescentes pulsavam e diminuíam com a respiração da casa.

Harlon economizou por três anos,” Marabel disse, sua voz pequena como uma confissão. “Todo inverno ele pegava empregos extras. Todo verão ele vendia cavalos. Cada dólar era para mim.”

E então ela agarrou o copo com força, a cabeça baixa. “E então uma piada o matou.”

Jonas olhou para ela. Nenhuma palavra poderia suavizar esse tipo de dor.

Mortes sem sentido assombraram Jonas por toda a sua vida no campo de batalha. Homens morriam por causa de uma ordem errada, um momento descuidado, um boato tolo. Aqui, foi por causa de um comentário casual em um saloon.

Você não fez nada de errado,” Jonas disse gentilmente.

Mas eu carreguei aquele baú,” Marabel sussurrou. “Corri para a noite com ele. Pensei que fosse ouro. A única vida que me restava. Mas eu estava errada. Eram apenas memórias. E memórias quase me mataram de novo.”

Ela tocou a queimadura em seu pescoço. “Jonas. Estou cansada. Não quero ouro. Não quero fugir. Só quero que acabe.”

Jonas abaixou a cabeça, os dedos batucando levemente na mesa como se estivesse falando com sua própria escuridão. “Acabar não significa fugir,” ele disse. “Significa escolher o que é certo, mesmo quando pesa mais do que o passado.”

Marabel olhou para cima, seus olhos vermelhos de chorar. “O que é certo para quem, Jonas? Harlon? A lei? Ou certo para a mulher que foi enforcada na própria varanda?

Jonas respirou fundo. “Certo para você.”

Marabel olhou para ele por um longo momento. Em seus olhos, dor e exaustão se misturaram em algo que parecia resignação, mas também um fraco vislumbre que Jonas ainda não estava pronto para chamar de esperança.

A casinha ficou quieta mais uma vez até que Jonas se levantou e colocou mais lenha no fogo. As chamas subiram, lançando um brilho laranja quente sobre o rosto de Marabel.

Durma um pouco,” Jonas disse. “Amanhã de manhã. Decidiremos o destino desse baú.”

Marabel assentiu, agarrando o pano em volta do pescoço como se estivesse segurando o último fio de vida. “Jonas, obrigada por me puxar para longe da morte pela segunda vez.”

Jonas virou o rosto, mas sua voz suavizou. “Os vivos sofrem mais do que os mortos, Marabel. Mas se alguém estiver ao seu lado, a dor é mais fácil de respirar.”

Lá fora, o amanhecer ainda estava longe, mas dentro daquela pequena casa, a escuridão não era mais a única coisa que vivia ali.


O Enterro e a Promessa

 

O amanhecer surgiu com uma luz amarela pálida, o tipo que não era quente o suficiente para afastar a longa noite, mas ainda assim brilhante o suficiente para mostrar tudo o que havia sido perdido. Uma fina camada de névoa cobria o Vale Mercer como uma mortalha para coisas sobre as quais ninguém queria falar novamente.

Jonas amarrou o corpo de Harlon Cain a um pequeno carrinho de madeira. Não houve funeral, nem amigos, nem pregador, apenas Marabel parada ao lado dele, agarrando o lenço em sua garganta como se soltá-lo a fizesse desabar na terra.

Você tem certeza?” Jonas perguntou.

Marabel não disse nada. Ela simplesmente assentiu. Um tipo estranho de aceno firme para alguém que acabara de perder tudo.

Eles subiram a colina norte, onde o vento soprava mais forte, onde o chão era duro, mas ainda macio o suficiente para uma sepultura.

Harlon gostava deste lugar,” Marabel dissera, “porque ele dava para todo o vale, um lugar onde a luz sempre chegava tarde, mas nunca quebrava sua promessa.”

Enquanto Jonas cavava as primeiras porções de terra, o ar ficou parado, como se a própria terra prendesse a respiração. Cada golpe pesado da pá fazia mais do que quebrar o solo: rasgava outra ferida em Marabel.

Ele só queria ser impressionante,” Marabel disse calmamente. “Harlon pensou que se ele se gabasse um pouco, as pessoas o respeitariam mais. Ele não era um homem mau, apenas tolo.”

Jonas parou, apoiando-se na pá. “Ninguém merece morrer por ser tolo.”

Marabel deu um sorriso amargo.

Quando a sepultura estava funda o suficiente, Jonas baixou Harlon. Marabel se aproximou, suas mãos tremendo, mas seus olhos nunca deixando o marido.

Harlon,” ela sussurrou. “Se você soubesse o que sua piadinha causaria… talvez você teria ficado quieto naquela noite.”

Ela se ajoelhou e colocou o lenço bordado, uma das lembranças do baú de madeira, no peito de Harlon.

Eu te perdoo,” ela disse, sua voz quebrando, mas não fraca. “Não porque você mereça, mas porque eu não aguento mais carregar a raiva.”

O vento aumentou, como se estivesse levando aquelas palavras para longe.

Jonas começou a cobrir a sepultura. Uma camada após a outra, ninguém falava. As pás finais soaram como o fechar da tampa de um caixão.

Quando o monte estava nivelado, Marabel ficou de pé, o vento puxando seu cabelo e vestido para um lado. Ela parecia pequena, frágil, mas havia uma dureza nela agora que não pertencia a alguém que acabara de ser enforcada na noite anterior.

Eu… eu não sei para onde ir,” Marabel disse, olhos ainda na sepultura. “Minha casa se foi. A cidade vai falar. Não quero carregar aquele baú, e não posso voltar para onde tanta coisa morreu.”

Jonas olhou para ela de lado, onde a luz da manhã pegava a marca em sua garganta. Uma mulher que havia sobrevivido, mas não tinha casa, nem âncora, e nada lhe restava além de uma dor maior que sua sombra.

Esta fazenda é grande,” Jonas disse lentamente. “Ninguém mora aqui além de mim. Você… você pode ficar. Pelo menos até encontrar para onde você deve ir.”

Marabel virou-se para ele, olhos vermelhos, mas brilhando. “Você tem certeza? Eu trago muitos problemas.”

Você traz vida. Depois de uma noite como aquela, isso é o suficiente.”

O vento soprou mais forte, sussurrando em algumas hastes de grama no topo da sepultura. Duas pessoas estavam lado a lado naquela manhã pálida. Uma que acabara de perder um marido, o outro que há muito perdera a fé no mundo. E ambos sabiam que algo havia mudado. Não por causa do ouro, não por causa do passado, mas porque, pela primeira vez em muitos anos, não estavam mais sozinhos naquela colina.


O Último Enterro

 

Naquela tarde, a luz do sol havia suavizado, não carregando mais a dureza do Velho Oeste. O vento varreu a Fazenda Mercer como se estivesse soprando os últimos vestígios da longa noite anterior. Mas dentro da casa de madeira, o ar permaneceu pesado, como se as sombras ainda se agarrassem a cada canto.

Jonas e Marabel estavam diante do baú de ouro no meio do cômodo. A luz do sol escorregava pela janela, refletindo em cada barra de ouro, fazendo-as brilhar tão intensamente que parecia quase cruel.

Marabel olhou para elas como se estivesse encarando um inimigo. “Isso não é uma bênção,” ela disse lentamente. “É uma maldição.”

Jonas assentiu. Ele sentia o mesmo.

Matou Harlon. Matou toda a vida dele,” Marabel disse, olhos vermelhos. “E quase me matou. Ela fungou, a mão tremendo ao tocar a borda do baú. Mas não era ganância que a fazia tremer. Era memória.

Harlon escondeu isso para me surpreender. Ele queria me dar um futuro melhor, mas não entendeu. Um futuro melhor não se compra com ouro. É construído com paz.”

Jonas olhou para seu rosto, cansado, mas resiliente. “O que você quer fazer com ele, Marabel?

Ela se endireitou, respirou fundo como se estivesse prestes a tomar a decisão mais importante de sua vida. “Enterrá-lo novamente, em algum lugar que ninguém conheça. Não para escondê-lo, mas para esquecê-lo.”

Jonas não perguntou mais nada. Para ele, aquelas palavras eram a coisa mais verdadeira que ela poderia ter dito.

Eles carregaram o baú para a colina de trás, onde a terra estava intocada. Sem marcas de cascos, sem pegadas. Jonas carregava a pá. Marabel caminhava atrás, lenta, mas firme, sua garganta ainda dolorida. Mas pela primeira vez em dias, seu coração parecia um pouco mais leve.

Eles cavaram fundo, mais fundo que a sepultura de Harlon.

Quando o baú alcançou o fundo do buraco, Marabel se ajoelhou perto. “Harlon,” ela sussurrou. “Estou deixando seu presente aqui, não porque estou te esquecendo, mas porque quero continuar vivendo.”

O vento aumentou, suave como uma bênção de longe.

Jonas cobriu o buraco. Cada pá de terra fez mais do que enterrar o ouro. Enterrou os fantasmas de uma noite que eles nunca esqueceriam.

Quando a terra estava lisa novamente, Marabel ficou parada por um longo momento. “Jonas, eu não sei o que farei em seguida. Mas sei de uma coisa.”

Jonas olhou para ela, calmo e quieto, como um homem que perdeu mais do que jamais ousou admitir. “O que é?

Que eu quero ficar, pelo menos por um tempo. Não porque tenho medo do que está lá fora.” Ela olhou para o horizonte, “mas porque não quero deixar o único lugar onde ainda consigo respirar.”

Jonas respirou fundo como se tivesse acabado de ouvir algo sagrado. “Há trabalho a ser feito aqui,” ele disse. “Se você quiser ficar, este lugar pode ser seu lar. Não temporário, não escondido. Um lar de verdade.”

Marabel olhou para ele. Em seus olhos inchados de lágrimas, pela primeira vez, havia um novo tipo de luz, fraca, mas real.

Obrigada, Jonas.” Ela lhe deu um pequeno sorriso, suave como a luz da manhã. “Não por me salvar, mas por me permitir ficar de pé em vez de cair.”

Eles voltaram para a casa, deixando para trás um pedaço de terra sem marca. Sem sinais, sem nomes, nada para dizer o que jazia por baixo. O ouro foi enterrado, mas eles foram salvos. Não por tesouro, nem por sorte, mas porque duas pessoas despedaçadas escolheram ficar lado a lado quando o mundo tentou o seu máximo para quebrá-las.

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