
A luz da varanda tremulava enquanto a garota de 17 anos, Kayla Hester, se ajoelhava ao lado do pequeno gato laranja, sua voz mal passando de um sussurro.
“Eu sei que você está com medo, mas prometo que vou continuar voltando.”
As costelas do gato apareciam por baixo do pelo emaranhado, e o coração de Kayla apertou quando ela colocou o pequeno prato de frango que havia sobrado ao lado dos degraus de concreto. A chuva começou a bater na cobertura acima delas, criando um casulo íntimo de sons.
“Já faz uma semana inteira que venho aqui todas as noites,” ela murmurou, observando o gato se aproximar da comida com cautela. “A mamãe acha que eu sou louca por alimentar animais de rua quando mal conseguimos comprar mantimentos pra nós.”
Os olhos dourados do gato encontraram os dela por apenas um momento antes de começar a comer com uma fome desesperada.
Kayla puxou o cardigã gasto mais apertado ao redor dos ombros. Os buracos nas mangas eram prova das dificuldades financeiras da família desde que a fábrica onde seu pai trabalhava fechou seis meses antes.
Por sete noites seguidas, Kayla manteve esse ritual. Depois de terminar seu turno no restaurante local, onde limpava mesas por salário mínimo, ela guardava o que pudesse das sobras que o cozinheiro permitia levar para casa. Metade ia para completar o jantar da família, e a outra metade ia para o gato sem nome que havia aparecido na porta deles como uma oração atendida ao contrário.
O bairro já vira dias melhores. Placas de execução hipotecária pontuavam a rua como lápides, e muitas das pequenas casas no estilo rancho exibiam o aspecto desgastado de anos sem manutenção. A casa da família Hester não era exceção, com sua pintura descascada e os degraus da frente afundando.
Mas a mãe de Kayla, Sandra, mantinha o pequeno pedaço de gramado meticulosamente aparado e plantava alegres tagetes em latas de café ao longo da calçada.
“Você vai fazer a gente se atrasar pra escola amanhã se continuar com isso aí!” gritou seu irmão mais novo, Dany, do batente da porta, a mochila já pendurada no ombro para o dia seguinte.
“Só mais cinco minutos, Dany,” Kayla implorou, fazendo carinho na cabeça do gato enquanto ele terminava de comer.
O animal tinha ficado menos arisco a cada noite, permitindo breves momentos de contato que pareciam pequenas vitórias. Naquela noite, pela primeira vez, ele começou a ronronar.
Na oitava noite, tudo mudou.
Kayla chegou do trabalho e encontrou o gato deitado imóvel ao lado dos degraus da frente, seu pequeno corpo quase invisível sob a fraca luz do poste. O coração dela disparou quando correu, ajoelhando-se ao lado da forma imóvel.
“Não, não, não…” ela sussurrou, tocando suavemente o lado do gato.
O alívio tomou conta dela ao sentir a fraca elevação e queda da respiração. Mas algo estava terrivelmente errado. A respiração era pesada, irregular, e quando os olhos do gato se abriram por um instante, pareciam desfocados e cheios de dor.
Sem hesitar, Kayla pegou o animal nos braços e correu em direção ao centro da cidade.
A clínica veterinária estava fechada, mas ela sabia que o Dr. Martinez às vezes trabalhava até tarde em seu escritório acima do consultório.
Ela bateu na porta até que uma luz se acendesse no andar de cima.
“Por favor!”, ela chamou, olhando para a janela.
O médico apareceu.
“É uma emergência!”
Dr. Martinez, um homem gentil de seus cinquenta anos que havia crescido naquele mesmo bairro, precisou de apenas um olhar para o rosto molhado de lágrimas de Kayla e para o gato inerte em seus braços antes de permitir a entrada dela.
Na sala de exames iluminada, Dr. Martinez trabalhou com eficiência suave enquanto Kayla pairava por perto, torcendo as mãos.
Depois de alguns minutos tensos, ele ergueu o olhar com uma expressão grave.
“Este gato foi envenenado,” disse ele calmamente. “Alguém deu anticongelante pra ela, provavelmente misturado com comida. Se você não tivesse trazido hoje, ela teria morrido.”
As pernas de Kayla quase cederam.
“Ela…?”
“Sim. E ela está prenha. Aproximadamente seis semanas.”
Dr. Martinez continuou o exame, administrando soro e medicação.
“A boa notícia é que encontramos a tempo. Com os cuidados corretos, tanto ela quanto os filhotes devem sobreviver.”
“Mas… quem faria algo tão cruel?” A voz de Kayla falhou.
A expressão do médico escureceu.
“Infelizmente, houve vários casos assim neste último mês. Alguém na área tem envenenado animais de rua de forma sistemática. A polícia está investigando, mas ainda não encontrou o culpado.”