A noite caiu sobre Brasília com um peso difícil de descrever. Os corredores da Câmara dos Deputados estavam mais movimentados do que de costume, e pequenas ilhas de parlamentares se reuniam em conversas sussurradas, como se cada palavra pudesse detonar um escândalo. A sessão de cassação que se aproximava tinha tudo para ser apenas mais um embate acalorado entre oposição e situação — até que o deputado Glauber Braga decidiu que aquela noite não seria esquecida tão cedo.
O relógio marcava pouco depois das oito quando o presidente da mesa declarou aberta a sessão. As galerias estavam lotadas, com assessores, jornalistas e curiosos tentando captar cada gesto. Os flashes das câmeras iluminavam o ambiente de tempos em tempos, mas havia uma escuridão simbólica pairando sobre o plenário: a sensação de que algo sério estava prestes a acontecer.
Glauber Braga permaneceu sentado nos primeiros minutos, ouvindo em silêncio, como quem aguarda o instante exato para entrar em cena. Seus olhos percorriam o ambiente com firmeza, acompanhando os discursos inflamados de deputados que defendiam a cassação com argumentos que ele conhecia de cor — e que, para ele, escondiam motivações mais profundas e obscuras. A cada frase que ecoava pelo microfone, o deputado fazia uma anotação rápida no papel à sua frente.
Quando finalmente pediu a palavra, o burburinho no plenário cessou imediatamente. Glauber não era conhecido por discursos mornos; quando subia à tribuna, algo acontecia. E naquela noite, o impacto seria maior que o habitual.

Ele ajustou o microfone, respirou fundo e iniciou com uma frase curta, mas carregada de tensão:
“Chegou a hora de tirar as máscaras.”
A frase percorreu o plenário como uma onda elétrica. Alguns parlamentares da direita se remexeram em suas cadeiras, já antecipando o confronto. Outros mantiveram a postura, tentando demonstrar indiferença — sem muito sucesso.
Glauber prosseguiu:
“Estamos aqui discutindo uma cassação travestida de justiça, mas movida pelo desejo de poder de uma direita golpista que não suporta ver sua influência diminuída. Esta sessão não é sobre ética, não é sobre legalidade, e muito menos sobre democracia. É sobre vingança.”
Do outro lado do plenário, um deputado mais exaltado pediu questão de ordem, protestando contra o uso da palavra “golpista”. A mesa indeferiu. Glauber sorriu de leve e continuou.
“Mas já que querem falar de golpe… vamos falar direito.”
O silêncio posterior era tão profundo que permitia ouvir até mesmo o clique das câmeras.
Ele então abriu uma pasta repleta de documentos. Ninguém sabia exatamente o que havia ali, mas o gesto foi suficiente para elevar a tensão ao máximo. Glauber começou a citar trechos de conversas, declarações e estratégias políticas articuladas nos bastidores por setores da direita — elementos que, dentro da narrativa criada aqui, revelavam uma trama para desestabilizar adversários e manipular processos internos da Casa.
Cada acusação era recebida por reações explosivas: alguns deputados levantavam-se indignados, outros gritavam palavras desconexas tentando interromper o discurso, mas o presidente da mesa mantinha a ordem com dificuldade.
Glauber retomou, elevando o tom:
“Vocês não suportaram perder influência, perder narrativa, perder a capacidade de enganar o povo. E agora tentam transformar este plenário em um palco de perseguição política. Vocês querem cassar quem não se curva ao seu projeto de poder.”
Nesse momento, parte da oposição aplaudiu de pé. O contraste entre palmas e gritos indignados de adversários criou uma paisagem sonora caótica — mas Glauber, firme, mantinha a voz estável, como se a confusão ao redor só o fortalecesse.
Ele então caminhou alguns passos para a frente, aproximando-se simbolicamente dos parlamentares da direita.
“Vocês falam de moralidade, mas passam pano para quem rasga a Constituição. Falam de respeito institucional, mas conspiram em salas fechadas. Falam de democracia, mas só a defendem quando ela serve aos seus interesses.”
Uma deputada tentou interromper novamente, acusando Glauber de teatralidade. Ele apenas respondeu:
“Se apontar a verdade é teatro, então preparem-se, porque o espetáculo está só começando.”

O público nas galerias reagiu com uma mistura de choque e entusiasmo. O nível de dramaticidade da sessão atingia níveis raros, e jornalistas digitavam freneticamente, tentando registrar cada detalhe.
Glauber prosseguiu por longos minutos, descrevendo episódios, confrontos políticos, tentativas de manipulação e discursos que, na narrativa ficcional desta reportagem, formavam um mosaico de conflitos internos que poucos tinham coragem de trazer ao microfone. Sua fala era intensa, bem construída, e sobretudo contundente.
Mas o momento mais impactante ainda estava por vir.
O deputado encerrou seu discurso com uma frase que ecoaria por toda a Casa:
“A história não vai lembrar vocês como heróis da democracia. Vai lembrar vocês como aquilo que realmente são: a direita golpista que tentou calar quem não se ajoelha.”
A frase final caiu sobre o plenário como um raio. Durante alguns segundos, ninguém disse nada. Nem mesmo seus apoiadores. Foi um silêncio pesado, profundo, que significava mais do que qualquer aplauso ou vaia poderia expressar.
Depois, o caos.
Deputados se levantaram, gritaram, protestaram. Outros batiam palmas com força. A mesa precisou suspender a sessão por alguns minutos para tentar recuperar a ordem. Glauber voltou para sua cadeira lentamente, como alguém que sabe exatamente o tamanho do impacto que acabara de causar.
Aquela noite mudaria conversas, alianças e a temperatura política dos dias seguintes. E mesmo quem discordava dele sabia: o discurso de Glauber Braga entraria para os anais da Câmara como um dos mais explosivos, intensos e provocadores de sua carreira.