Negra Li: ‘São três décadas ocupando espaços nem sempre abertos para uma mulher preta do hip hop’

Cantora e atriz reflete sobre celebração dos 30 anos de carreira com a turnê ‘O Silêncio que Grita’

Negra Li na estreia da turnê 'O Silêncio que Grita'Negra Li na estreia da turnê ‘O Silêncio que Grita’ — Foto: Divulgação/Isabelle Índia

Dos 45 anos de existência, já são três décadas de Negra Li dedicadas a uma carreira inspiradora – com destaque para os hits Não É Sério (2000), com Charlie Brown Jr., Você Vai Estar na Minha (2007), com Pitty, e a icônica abertura da novela Vai na Fé, da TV Globo, em 2023. Ela celebra o marco determinante na trajetória com o lançamento da turnê O Silêncio que Grita, que leva o novo disco aos palcos.

Com repertório inédito, potente e emocionante, a paulistana da Brasilândia segue com reflexões sobre identidade, ancestralidade, amor próprio e superação para frisar a força de uma mulher resiliente, dentre as maiores vozes do hip hop. São 11 faixas marcadas pelo empoderamento feminino, envolto também por questões raciais e políticas, traduzidas em melodias, com participações de LinikerGloria Groove e Djonga.

“Essa turnê tem um significado profundo para mim, porque é um trabalho muito íntimo, forte e cheio de mensagens que precisava colocar no mundo. Cada faixa tem um papel importante na narrativa. Além disso, claro, tem os sucessos da minha carreira, que o público ama e sempre pede”, declara em entrevista exclusiva sobre a leva de shows iniciada no último dia 26 de julho, em São Paulo.

E o que pensa uma artista com 30 anos de arte no currículo? Negra Li revisita a própria história e fala o que faria diferente, a importância da música no seu crescimento pessoal e na quebra de barreiras na vida de uma mulher preta, periférica e do rap.

Negra Li na estreia da turnê 'O Silêncio que Grita' — Foto: Divulgação/Isabelle ÍndiaNegra Li na estreia da turnê ‘O Silêncio que Grita’ — Foto: Divulgação/Isabelle Índia

Quem: O que passa na cabeça quando pensa em 30 anos de carreira?
Negra Li
: É uma mistura de gratidão, surpresa e orgulho. Olho pra trás e vejo uma caminhada cheia de desafios, mas também de muita luta, superação e amor pela música. São três décadas quebrando barreiras, ocupando espaços que nem sempre estavam abertos para uma mulher preta do hip hop e da música popular brasileira. Ver o quanto cresci e o quanto minha arte impactou outras pessoas é emocionante.

Lembra quando se entendeu uma artista famosa? E como lida com a fama hoje?
Acho que comecei a perceber isso quando as pessoas vinham me contar como minhas músicas tinham mudado a vida delas. No início, foi estranho, porque nunca busquei a fama pela fama. Sempre quis ser ouvida. Hoje, lido com muito mais naturalidade. Entendo a responsabilidade de ser inspiração e tento usar essa visibilidade para abrir caminhos para outras meninas como eu.

Qual foi o momento mais desafiador até então e o que você faria diferente?
Foram muitos momentos difíceis, mas acho que me manter fiel a quem eu sou em um mercado que sempre tentou me encaixar em moldes foi o maior desafio. Talvez, se eu pudesse voltar [no tempo], teria confiado mais na minha voz desde o começo. Me imposto mais e me questionado menos.

Negra Li na estreia da turnê 'O Silêncio que Grita' — Foto: Divulgação/Isabelle ÍndiaNegra Li na estreia da turnê ‘O Silêncio que Grita’ — Foto: Divulgação/Isabelle Índia

São muitos lugares ocupados para além de grandes sucessos e colaborações na música, como o feat internacional com Akon. Foi estrela de série e filme com Antônia, da TV Globo pros cinemas, participante do Dança dos Famosos e madrinha de bateria da Vai-Vai. O que você quer mais?
Quero levar minha música ainda mais longe, fazer mais colaborações internacionais, me aventurar mais como atriz, talvez até dirigir um projeto audiovisual. Também plantar sementes fora do palco, com projetos sociais e educacionais.

Quem te foi referência para que você fosse referência?
Minhas referências sempre foram mulheres fortes: minha mãe, mulheres da periferia, e artistas como Lauryn HillElza Soares e Sandra de Sá. Mulheres que transformaram dor em arte, resistência em beleza.

Negra Li na estreia da turnê 'O Silêncio que Grita' — Foto: Divulgação/Isabelle ÍndiaNegra Li na estreia da turnê ‘O Silêncio que Grita’ — Foto: Divulgação/Isabelle Índia

Parafraseando o projeto, quando que o seu ‘Silêncio Grita’?
Meu silêncio grita quando vejo injustiças acontecendo e não posso me calar. Meu silêncio grita nas entrelinhas das minhas letras, nos olhares de outras mulheres pretas que se reconhecem em mim. Ele grita quando a sociedade insiste em invisibilizar histórias como a minha.

Transformar dores em poesia é uma forma de ressignificar o preconceito e as barreiras para muito artista. Foi assim com você?
Com certeza. A arte sempre foi meu abrigo e minha arma. Eu transformei choro em melodia, raiva em rima, e encontrei no palco um lugar de cura. O preconceito me feriu, mas também me fortaleceu quando decidi que minha resposta seria através da arte.

Negra Li na estreia da turnê 'O Silêncio que Grita' — Foto: Divulgação/Isabelle ÍndiaNegra Li na estreia da turnê ‘O Silêncio que Grita’ — Foto: Divulgação/Isabelle Índia

Como a arte te tornou mais forte e de que forma te empoderou para se tornar a mulher e mãe que é hoje?
A arte me deu voz, e com ela veio a coragem. A coragem de ser quem eu sou, de ocupar espaços, de educar meus filhos com consciência racial e emocional. Me ensinou a ser vulnerável sem ser fraca, e isso me fortaleceu como mulher, como artista e como mãe.

Como a maternidade de Sofia, de 15 anos, e Noah, de 8, te inspira artisticamente?
A maternidade me mostrou um amor que eu nem sabia que existia. E com ele, veio uma nova sensibilidade, uma vontade de deixar um legado mais profundo. Meus filhos me inspiram a ser melhor, a escrever com mais verdade, a cantar com mais propósito.

Quais são seus sonhos?
Quero continuar fazendo música com alma, lançar novos projetos, escrever um livro, quem sabe. E sonho com um mundo mais justo, onde crianças pretas possam crescer se sentindo representadas e valorizadas desde cedo.

Negra Li na estreia da turnê 'O Silêncio que Grita' — Foto: Divulgação/Isabelle ÍndiaNegra Li na estreia da turnê ‘O Silêncio que Grita’ — Foto: Divulgação/Isabelle Índia

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