A Crônica de Ardu-Sin: O Fluxo da Idade do Bronze

Ardu-Sin era um jovem escriba na gloriosa cidade suméria de Ur, no coração da Mesopotâmia. Ele cresceu ao lado dos canais de irrigação que seus ancestrais cavaram e das tabuletas de argila gravadas com a escrita cuneiforme, o grande orgulho da primeira civilização. Mas essa glória não durou. As guerras incessantes entre as cidades-estado, a seca prolongada e a ambição dos povos vizinhos corroeram o reino.
Quando Ardu-Sin tinha dezoito anos, o rufar dos tambores de guerra de Sargão, o Grande, de Acádia, ecoou por Ur. Este povo semita e belicoso havia absorvido a cultura suméria, mas trazia consigo um desejo de conquista. Sargão unificou toda a Mesopotâmia, fundando o Primeiro Império, que se estendeu do Golfo Pérsico ao Mar Mediterrâneo. Embora lamentasse a perda da independência de Ur, Ardu-Sin, carregando uma tábua de argila com as leis antigas, compreendeu que, às vezes, o caos era o preço de uma nova ordem—mesmo que essa ordem fosse construída com espadas. Ele decidiu deixar Ur e viajar para o Norte, em busca de um lugar onde o conhecimento pudesse perdurar.
A jornada de Ardu-Sin o levou a Babilônia, a “Porta dos Deuses” (Bab-ili), uma cidade em ascensão. Sob o reinado do Rei Hamurabi, a Babilônia atingiu seu apogeu. Ardu-Sin tornou-se um estudioso, testemunhando o rei promulgar um código de leis monumental, gravado em um pilar de diorito negro. “Olho por olho, dente por dente”. O Código de Hamurabi não era apenas punição, mas ordem, a base da justiça. Ele percebeu que Hamurabi havia consolidado o poder e criado um império (Paleobabilônico) muito mais estável do que o breve império acadiano de Sargão. Ardu-Sin viveu na Babilônia por muitos anos, vendo (posteriormente sob Nabucodonosor II) os Jardins Suspensos florescerem e as muralhas fortificadas. Ele aprendeu como os babilônios aprimoraram os equipamentos de guerra e como adoravam o Deus Marduk. Mas então, após a morte de Hamurabi, o império mais uma vez caiu em um turbilhão de colapso, saqueado por tribos nômades. Ardu-Sin entendeu que, por mais justa que fosse a lei, ela não poderia vencer o tempo nem a ganância de novos conquistadores.
Deixando a Babilônia, Ardu-Sin rumou para o Oeste, para a Anatólia, onde o poderoso Império Hitita dominava. Eles eram um povo Indo-Europeu, distinto dos semitas e sumérios, famosos por sua maestria na arte da guerra. Ali, ele viu as aprimoradas carruagens de guerra que podiam levar até três guerreiros: um condutor, um lanceiro e um escudeiro/arqueiro—uma combinação perfeita de ataque, defesa e velocidade. Mais surpreendente ainda, os hititas haviam começado a dominar a metalurgia do ferro. Ardu-Sin, acostumado ao cobre e ao bronze na Mesopotâmia, ficou maravilhado com a força e a durabilidade das primeiras lâminas de ferro. Essa era uma virada de jogo, um segredo militar que os hititas guardavam. Ele esteve perto do campo de batalha de Kadesh, onde os hititas haviam enfrentado o Faraó Ramessés II do Egito na maior batalha de bigas da história, estabelecendo-se como iguais ao grande império egípcio. Ardu-Sin percebeu: a nova tecnologia era a chave para o poder.
Da Anatólia, Ardu-Sin navegou com os astutos comerciantes fenícios. Eles eram o “Povo Púrpura”, famosos pelo seu valioso corante Púrpura Tíria e pelo alfabeto fonético que se tornou o ancestral de todos os alfabetos modernos. Sob o patrocínio de um mercador de Tiro, ele navegou pelo Egeu até a ilha de Creta. Foi lá que Ardu-Sin encontrou a civilização minoica. Cnossos não tinha muralhas, um sinal de paz e autoconfiança conquistada pela supremacia marítima. As mulheres eram respeitadas e, em vez de guerra, os minoicos praticavam o taurocatapsia (salto sobre o touro) em competições atléticas audaciosas. Era completamente diferente de tudo o que ele já vira: um paraíso de arte e conhecimento. No entanto, o destino não poupou nem mesmo o paraíso. Enquanto Ardu-Sin estava na ilha, o vulcão de Santorini entrou em erupção. A ilha estremeceu, um tsunami gigantesco engoliu as cidades costeiras, seguido por cinzas que obscureceram o sol, causando fome e desordem. Essa devastação se tornou a origem da lenda da Atlântida submersa. Ardu-Sin assistiu, horrorizado, a uma civilização brilhante, que não havia sido subjugada por homens, desmoronar sob a fúria da natureza.
Muitos anos depois, Ardu-Sin era um homem idoso. Seus cabelos estavam brancos e seu corpo, fraco. Ele havia vivido a era de ouro de Ur, a ascensão de Acádia, a ordem de Hamurabi, o poder dos hititas e a queda dos minoicos. Ele se sentou em um canto tranquilo de Cartago—a próspera colônia fenícia—escrevendo as últimas linhas em uma nova tabuleta de argila. Nenhum império era eterno. No final, todos voltaram ao pó. Mas seus legados—do traço cuneiforme ao alfabeto A-B-C, da lei justa ao segredo do ferro—haviam sido conectados, trocados e herdados. “Grandes civilizações não desaparecem da noite para o dia, mas suas histórias podem ser tão incríveis e ricas quanto aquelas imaginadas pelos melhores escritores e poetas.” Ele pousou a pena e sorriu. As crônicas que ele escreveu seriam o testemunho eterno do Fluxo da Idade do Bronze.