Em 1847, uma viúva escolheu seu escravo mais alto para suas cinco filhas… para criar uma nova linhagem sanguínea.

Em 1847, uma viúva escolheu seu escravo mais alto para suas cinco filhas… para criar uma nova linhagem sanguínea.

A Casa Que Se Viu Morrer

No coração fértil da Geórgia, onde se cultiva algodão, jaz uma ruína que poucos moradores locais se importam em nomear. A Fazenda Whitfield, agora engolida por ciprestes e trepadeiras, permanece como um mero reflexo de sua antiga grandeza — colunas brancas rachadas, venezianas apodrecendo e um silêncio denso como neblina.

Mas por trás desse silêncio esconde-se uma história tão perturbadora que, durante quase dois séculos, até mesmo os historiadores evitaram detalhar seus fatos.

De acordo com fragmentos de registros do condado, cartas familiares e depoimentos orais preservados no Condado de Wilkes, a mulher que governou essas terras na década de 1840 foi Elellanena Whitfield, uma viúva que chegou a comandar mais de 200 pessoas escravizadas e um império de algodão que se estendia até onde a vista alcançava. Ela era conhecida em sua época como “a Rainha sem Rei”.

Seu reinado, no entanto, terminaria em sussurros de loucura, rituais proibidos e uma maldição que, dizem, ecoa pelos trovões sempre que a Geórgia é assolada por tempestades.

Uma rainha sem rei

A morte de Thomas Whitfield em 1842 deixou Elellanena com tudo: riqueza, terras e poder absoluto. Num mundo que desprezava a autoridade feminina, seu controle era uma anomalia. Os vizinhos o chamavam de arrogância; os escravizados, de perigo.

Em 1847, a viúva havia se tornado cada vez mais retraída. Passava as noites no antigo escritório do marido, cercada por livros-razão, periódicos médicos e retratos de suas cinco filhas: Maryanne, Louise, Clara, Isabelle e Ruthanne. Aos visitantes, ela se mostrava elegante e impecável.

Para aqueles que estavam dentro de sua casa, ela estava se tornando algo completamente diferente.

O diário de uma empregada doméstica ainda viva descreve seus rituais noturnos:

“Ela falava com o retrato dele, dizendo que a família precisava ser fortalecida, que nós éramos instrumentos da Providência. Ela dizia que o sangue precisava se misturar.”

Essas palavras — “o sangue deve se misturar” — apareceriam mais tarde em seu diário pessoal, encontrado décadas após seu desaparecimento.

O Homem Escolhido

Entre os trabalhadores escravizados da plantação de Whitfield, havia um homem chamado Josiah. Vendido da Virgínia, com instrução suficiente para ler a Bíblia, Josiah era conhecido por sua força silenciosa e mente afiada — qualidades que deixavam os capatazes cautelosos e a senhora intrigada.

Testemunhas descreveram como ela começou a redistribuir suas funções, transferindo-o para mais perto da casa principal. O que ela disse ao seu supervisor foi simples: “O homem é confiável. Preciso da presença dele.”

O que ela nunca contou a ninguém — pelo menos não diretamente — foi o seu plano.

Sua obsessão por “pureza e força” havia se transformado em algo grotesco: ela pretendia criar uma nova linhagem — uma linhagem nascida de suas filhas e de Josias, a quem chamava de “o receptáculo”. Se ela via isso como destino divino ou ilusão, permanece a questão que intriga os historiadores até hoje.

A filha que falou contra ela

De todas as filhas Whitfield, Maryanne, a mais velha, foi a única que desafiou a mãe. Aos dezessete anos, ela começara a perceber o que os outros temiam nomear. A fazenda havia se tornado estranhamente silenciosa; o riso desaparecera tanto dos alojamentos quanto da casa principal. Até o pregador parou de visitá-los.

Tarde da noite, Maryanne entrou no escritório da mãe e encontrou o diário de couro preto — o mesmo que mais tarde seria preservado no arquivo da Sociedade Histórica de Wilkes. Em suas páginas, havia linhas escritas com uma caligrafia precisa e elegante:

“A nova linhagem Whitfield surgirá com força. Minhas filhas darão origem à grandeza. Josias foi o escolhido.”

O horror da situação fez suas mãos tremerem. Quando sua mãe a flagrou lendo, Elellanena lhe deu um tapa no rosto. “Você vai me obedecer”, sibilou a viúva. “Você vai preservar esta casa como eu ordeno.”

Aquele momento marcou a virada — do controle excêntrico à completa imersão na obsessão.

Desafio em Correntes

A resistência de Josias foi silenciosa, mas firme. Quando Elellanena o confrontou com suas exigências, ele se recusou.

“Meu corpo é seu”, disse ele, “mas minha alma não”.

Foi aquele único ato de rebeldia que selou o destino dele — e possivelmente o dela. Daquela noite em diante, Elellanena tornou-se cruel. Ordenou que ele fosse vigiado, punido, mas mantido por perto, incapaz de destruir o homem que ela acreditava ter sido escolhido por Deus.

Para a comunidade escravizada, os sussurros se transformaram em medo. Os criados diziam que a senhora havia feito um pacto, que não rezava para nenhum deus cristão. Alguns afirmavam tê-la visto acender velas e falar com sombras na cadeira vazia do marido.
E então, numa noite úmida de 1847, ela reuniu suas filhas e Josiah na sala de estar para o que chamou de “uma renovação da família”.

A cerimônia que fracassou

Chovia torrencialmente — uma chuva forte e implacável que fazia as janelas tremerem. Os criados disseram mais tarde que a casa parecia “vibrante com os trovões”.
Elellanena estava diante de suas filhas, vestida com os trajes brancos que havia encomendado dias antes. Josiah permanecia imóvel junto à porta.

“Meus queridos”, ela começou, “nossa família precisa perseverar. Fomos escolhidos para dar continuidade ao que outros não podem.”

Mas antes que ela pudesse continuar, Maryanne deu um passo à frente. Sua voz, trêmula, porém firme, interrompeu o ritual.

“Não, mãe. Isso acaba esta noite.”

A expressão da viúva endureceu. “Você se esquece de quem você é”, advertiu ela.

“Vocês se esquecem de Deus”, disse Maryanne. “Vocês se esquecem de que ainda somos humanos.”

Josias se colocou entre eles, calmo, porém inflexível. “Esta casa não é sagrada, senhora”, disse ele suavemente. “E seu Deus não gostaria disso.”

Terraços de Tbilisi, Geórgia. Gravura de 1847. Gravuras, pôsteres e quebra-cabeças da Fine Art Finder.

Naquele instante, um raio caiu nas proximidades, fazendo as paredes tremerem. As velas se apagaram e, quando a luz retornou, algo nos olhos de Elellanena havia mudado. A mulher que acreditava poder controlar o sangue e o destino havia se deparado com algo que não podia: resistência.

A Noite da Fuga

Naquela noite, a chuva não parou. A plantação Whitfield, outrora orgulhosa e organizada, mergulhou no caos.
Maryanne foi trancada em seu quarto. Suas irmãs choravam. Os criados sussurravam orações. Josiah, ensanguentado, mas determinado, reuniu um pequeno grupo nos aposentos. Eles partiriam naquela noite — ou morreriam tentando.

Quando Maryanne se libertou e se juntou a ele na porta dos fundos, o trovão rugiu como um aviso. Eles fugiram pela tempestade — passando pelos campos, pelos carvalhos e pelo cemitério onde seu pai jazia. Atrás deles vinha o grito que os moradores locais jurariam ainda ecoar pelo vale:

“Traidores! Vocês dois!”

Ao amanhecer, o capataz e seus homens estavam a cavalo, rifles em punho, cães soltos. A trilha levava ao rio. Disparos foram ouvidos. Alguns dizem que Josias lutou; outros dizem que ele se sacrificou para que Mariana pudesse atravessar.
Nenhum dos dois jamais foi visto novamente.

A Loucura da Viúva

Quando a tempestade passou, a plantação estava silenciosa. Os criados fugiram. O pregador voltou e encontrou Elellanena sozinha, sentada à mesa de jantar, murmurando:

“Eles se foram. Meu trabalho está desfeito.”

Ele tentou confortá-la, mas ela se voltou contra ele com uma fúria que o fez recuar. “Você não sabe nada sobre destino”, ela cuspiu as palavras.
Ele a deixou com um único aviso: “Você tentou bancar Deus, e isso nunca acaba bem.”

Na manhã seguinte, ela desapareceu. Suas filhas encontraram apenas sua Bíblia aberta e um único versículo sublinhado em vermelho:

Não se enganem: de Deus não se zomba.

A Assombração da Casa Whitfield

Na década de 1860, a plantação havia caído em ruínas. A Guerra Civil deixou seus campos áridos e suas paredes enegrecidas. Mas a lenda permaneceu.

Viajantes relataram ouvir passos nos corredores e ver uma mulher pálida parada perto de uma janela no andar de cima durante as tempestades. Crianças desafiavam umas às outras a tocar a varanda e correr antes do anoitecer. Alguns afirmavam que uma figura alta e de ombros largos apareceu perto da margem do rio, com a pele brilhando como se ainda estivesse molhada pela chuva.

Os trabalhadores rurais disseram ter ouvido uma mulher sussurrar em meio ao trovão: “O sangue precisa se misturar”.
Ninguém ficou tempo suficiente para descobrir.

Ecos de um Pecado Que Não Morreu

Hoje, os historiadores chamam a história de Whitfield de “O Experimento das Viúvas da Geórgia”. Se Elellanena realmente acreditava que poderia forjar uma linhagem mais forte ou se sucumbiu à loucura causada pelo isolamento e pelo poder, ninguém sabe ao certo.

Mas nos registros do Condado de Wilkes, o nome Elellanena Whitfield ainda aparece ao lado de uma anotação final, adicionada por um funcionário local em 1851:

“Propriedade abandonada. Proprietário presumido falecido. Imóvel invendável devido à sua reputação.”

Dois séculos depois, as ruínas permanecem — um lembrete de que o orgulho, quando misturado ao poder, pode gerar algo mais sombrio que o pecado: a crença de que a própria humanidade pode ser possuída, alterada ou aperfeiçoada.

Então, se algum dia você dirigir pelas estradas secundárias esquecidas do leste da Geórgia e a chuva começar a cair, abaixe os vidros e escute.
Você também poderá ouvir — o eco fraco de uma mulher sussurrando para a tempestade, ainda convencida de que seu sangue foi escolhido por Deus.

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