(1906, Ribeirão Preto) O Caso Proibido de Mariana Queiroz: O Mistério Macabro Que a Cidade Tentou Enterrar para Sempre

(1906, Ribeirão Preto) O Horripilante Caso de Mariana Queiroz

 

No outono de 1906, Ribeirão Preto vivia o auge da prosperidade cafira. As fazendas se estendiam pelos morros vermelhos da região e o dinheiro do café havia transformado a cidade em um dos centros urbanos mais prósperos do interior paulista. Era neste cenário de riqueza e modernidade que a família Queiroz mantinha uma das propriedades mais respeitadas do município, a fazenda Santa Eulalia, localizada a cerca de 15 km do centro da cidade, numa região de colinas suaves cortadas pelo ribeirão que dava nome ao lugar. A família

Queiroz havia chegado à região em 1872, quando Joaquim Bernardino Queiroz, patriarca da linhagem, adquiriu as primeiras terras e plantou os primeiros pés de café. Em 1906, a propriedade estava sob o comando de seu filho, Antônio Lourenço Queiroz, homem de 43 anos, conhecido na região pela severidade com que conduzia os negócios e pela descrição absoluta com que tratava dos assuntos familiares.

Antônio havia se casado em 1885 com Helena Francisca da Silva, filha de uma família tradicional de Campinas. Do casamento nasceram quatro filhos. Mariana, a primogênita, nascida em 1886, portanto com 20 anos em 1906. Carlos Augusto, nascido em 1888. Isabel Cristina, nascida em 1990, e o Cassaula Pedro Henrique, nascido em 1893.

A fazenda Santa Eulália ocupava uma extensão de aproximadamente 300 alqueires, com a casa principal situada no topo de uma elevação natural que oferecia vista panorâmica das plantações. A construção erguida em 1878 seguia o estilo típico das casas de fazenda da época. estrutura de pau a pique, com paredes grossas de adobe, telhado de duas águas coberto por telhas francesas e um alpendre amplo que circundava toda a frente e as laterais da residência.

O que distinguia a casa grande da fazenda Santa Eulália de outras propriedades da região era sua disposição peculiar. A construção original havia sido ampliada em duas ocasiões. Primeiro, em 1885, quando foi acrescentada uma ala inteira para acomodar os filhos do casal. E novamente em 1895, quando Antônio mandou construir um anexo nos fundos destinado a abrigar sua crescente biblioteca e um escritório particular onde conduzia os negócios mais reservados da fazenda.

Esta última ampliação criou uma configuração arquitetônica incomum. A casa passou a ter duas entradas principais, uma voltada para a estrada que levava à cidade e outra que dava acesso direto aos fundos da propriedade, onde ficavam as cenzalas desativadas desde a abolição e os novos alojamentos dos colonos europeus que haviam chegado para trabalhar na lavoura.

Os empregados da casa eram poucos, mas faziam parte da família há décadas. Rosa Benedita Santos, de 52 anos, havia sido escravizada na propriedade e permanecera como cozinheira após a abolição. João Batista Ferreira, de 48 anos, cuidava dos cavalos e da manutenção da casa, também ex-escravizado, que escolhera ficar na fazenda.

Havia ainda Maria das Dores Oliveira, de 35 anos, que auxiliava nos serviços domésticos. e cuidava especialmente das roupas da família. A rotina da fazenda Santa Eulália seguia um ritmo quase religioso. Antônio levantava às 5 da manhã para acompanhar o início dos trabalhos na lavoura. Helena dedicava as manhãs à administração doméstica e as atividades de beneficência na região.

 

 

 

Filhas, Mariana e Isabel dividiam o tempo entre os estudos particulares ministrados por uma preceptora que vinha da cidade três vezes por semana e as atividades próprias de moças de família abastada, bordado, piano, francês e leitura dos romances que chegavam de São Paulo. Mariana Queiroz, aos 20 anos, era descrita pelos contemporâneos como uma jovem de beleza discreta.

mas de inteligência notável. Tinha cabelos castanho escuros, sempre presos em um coque baixo, olhos amendoados de cor parda e uma estatura mediana para os padrões da época. O que mais chamava a atenção nela, segundo os relatos preservados, era sua paixão pelos livros e por longas caminhadas pelas trilhas que cortavam a propriedade.

Desde pequena, Mariana demonstrava uma curiosidade incomum pelo passado da fazenda e pela história das famílias que haviam vivido na região antes da chegada dos queiroz. costumava conversar longamente com Rosa Benedita sobre os tempos da escravidão, fazendo perguntas que deixavam a cozinheira desconfortável.

Em várias ocasiões, Rosa foi vista saindo dessas conversas com os olhos vermelhos, como se tivesse chorado. Isabel, se anos mais nova que a irmã, era de temperamento completamente oposto, alegre, expansiva, adorava as festas da cidade e sonhava com um casamento que a levasse para São Paulo ou Rio de Janeiro. As duas irmãs, apesar da diferença de idade e personalidade, mantinham uma relação próxima, embora marcada por silêncios estranhos que não passaram despercebidos aos empregados da casa. Carlos Augusto, o filho do meio, havia partido para São Paulo em 1905

para estudar direito na Faculdade do Largo de São Francisco. Suas visitas à fazenda eram raras e sempre breves. Pedro Henrique Oula, com 13 anos em 1906, estudava no colégio interno dos Padres Salesianos em Campinas, retornando apenas durante as férias escolares. A primeira irregularidade documentada na rotina da fazenda Santa Eulália ocorreu na manhã de 15 de abril de 1906.

Rosa Benedita relatou posteriormente que ao preparar o café da manhã, como fazia há mais de 20 anos, notou que Mariana não havia descido para a refeição matinal no horário habitual. Isso era incomum, pois a jovem mantinha uma pontualidade rigorosa em todas as atividades domésticas.

Quando Rosa subiu para verificar se Mariana estava indisposta, encontrou o quarto vazio, mas a cama feita de maneira impecável. As roupas que Mariana havia usado no dia anterior estavam dobradas sobre a cadeira e seu vestido de passeio matinal armário. A janela do quarto permanecia fechada, assim como a porta havia sido encontrada pela manhã.

Helena Queiroz, questionada sobre o paradeiro da filha, respondeu que Mariana havia saído cedo para uma de suas caminhadas habituais pela propriedade, atividade que praticava regularmente desde os 15 anos. Antônio, consultado durante o almoço, confirmou a versão da esposa e acrescentou que havia autorizado a filha a explorar livremente todas as trilhas da fazenda, desde que retornasse antes do anoitecer.

No entanto, Mariana não retornou para o almoço, nem para o jantar. Quando a escuridão tomou conta da propriedade e ela ainda não havia aparecido, Antônio organizou uma busca com os colonos e empregados da fazenda. Durante toda a noite de 15 para 16 de abril, homens com lampiões percorreram cada trilha, cada bosque, cada clareira da propriedade.

João Batista Ferreira relatou posteriormente que durante a busca noturna, o grupo encontrou pegadas de pés descalços numa trilha que levava a uma parte mais afastada da propriedade, próxima aos limites com a fazenda vizinha. As pegadas eram pequenas, compatíveis com os pés de Mariana, mas o estranho era que pareciam seguir um caminho em círculos, como se a pessoa estivesse desorientada ou procurando algo específico.

No final da trilha, os homens descobriram uma clareira natural que nenhum deles conhecia, apesar de trabalharem na fazenda há décadas. A clareira estava rodeada por árvores antigas, algumas com troncos tão largos que três homens não conseguiriam abraçá-las. No centro da área aberta havia uma depressão circular no solo, como se alguém tivesse cavado e depois coberto novamente a terra.

Antônio ordenou que escavassem o local imediatamente. Após cavarem aproximadamente 1 m de profundidade, encontraram uma caixa de madeira do tamanho de um baú pequeno. A madeira estava deteriorada pela humidade, mas ainda resistente. Quando a abriram, descobriram que continha objetos pessoais: roupas de criança, sapatos pequenos, brinquedos de madeira e diversos papéis manuscritos em estado de conservação precário.

Os papéis, examinados posteriormente por Antônio à luz de lampiões, conham o que pareciam ser cartas escritas por crianças, mas o conteúdo era perturbador. As cartas falavam sobre o lugar onde ninguém nos encontra, os jogos que o Senhor nos ensina e o segredo que não podemos contar para ninguém. Algumas cartas mencionavam nomes que Antônio reconheceu. Eram filhos de colonos e empregados que haviam trabalhado na fazenda nas décadas anteriores. A descoberta causou um mal-estar imediato entre os homens presentes.

Rosa Benedita, que havia insistido em acompanhar a busca, apesar das objeções de Antônio, ao ver o conteúdo da caixa, caiu de joelhos e começou a chorar de forma incontrolável. Quando conseguiu falar, repetia apenas: “Eu sabia, eu sempre soube, mas não podia falar.

” Antônio ordenou que a caixa fosse levada de volta à casa e guardada em segurança. Também determinou que ninguém comentasse a descoberta com pessoas estranhas à propriedade. A busca por Mariana continuou durante toda a madrugada, mas sem resultados. Quando o sol nasceu em 16 de abril, ela continuava desaparecida.

Durante os dias seguintes, uma atmosfera de tensão silenciosa se instalou na fazenda Santa Eulalia. Helena passou a permanecer trancada em seus aposentos na maior parte do tempo. Isabel, que inicialmente havia demonstrado preocupação natural com o desaparecimento da irmã, tornou-se estranhamente calada e evitava qualquer conversa sobre o assunto.

Antônio mantinha suas atividades normais durante o dia, supervisionando os trabalhos da lavoura e atendendo aos negócios da fazenda. No entanto, todas as noites, ele se recolhia ao seu escritório nos fundos da casa e permanecia lá até altas horas, examinando papéis e documentos. As luzes do escritório eram visíveis dos alojamentos dos colonos e alguns relataram posteriormente que ocasionalmente ouviam o som de papel sendo queimado na lareira, mesmo durante as noites mais quentes do outono.

No dia 20 de abril, 5 dias após o desaparecimento de Mariana, um evento inesperado mudou completamente o rumo dos acontecimentos. Por volta das 2 horas da tarde, Mariana apareceu caminhando pela estrada principal que levava à fazenda, vinda da direção da cidade. Rosa Benedita foi a primeira a vê-la chegando.

Relatou posteriormente que Mariana caminhava com passos regulares, mas lentos, e que seu vestido estava limpo e bem arrumado, como se tivesse acabado de se vestir. Seus cabelos estavam perfeitamente penteados e ela carregava nas mãos um pequeno buquê de flores silvestres. Quando Rosa correu para abraçá-la, Mariana a cumprimentou com naturalidade, como se tivesse saído apenas para um passeio matinal.

Perguntada sobre onde havia estado durante os cinco dias, Mariana respondeu que havia visitado os amigos antigos e que havia ajudado a resolver algumas questões pendentes. Helena, chamada às pressas, encontrou a filha sentada na sala principal da casa, arrumando as flores silvestres em um vaso.

Ariana a cumprimentou com um beijo no rosto e comentou que estava com fome, perguntando se poderia almoçar. Comportava-se como se nada de extraordinário tivesse acontecido. Antônio, informado do retorno da filha, deixou imediatamente os trabalhos na lavoura e voltou para casa. O encontro entre pai e filha foi presenciado por Rosa Benedita, que estava servindo o almoço tardio de Mariana.

Segundo seu relato, Antônio entrou na sala com expressão severa, mas ao ver Mariana, sua fisionomia mudou drasticamente, ficou pálido e permaneceu parado por vários segundos, como se tivesse visto um fantasma. Mariana levantou-se da mesa e caminhou até o pai. Segurou suas mãos e disse com voz calma e clara: “Não se preocupe, papai. Tudo está resolvido agora.

Os segredos antigos foram colocados em seus devidos lugares. Antônio não respondeu, apenas assentiu com a cabeça e se retirou para seu escritório, onde permaneceu pelo resto do dia. A partir do retorno de Mariana, a rotina da fazenda Santa Eulalia nunca mais foi a mesma.

A jovem retomou suas atividades habituais, as aulas com a preceptora, as caminhadas pela propriedade, a leitura em sua biblioteca particular. No entanto, os empregados da casa notaram mudanças sutis em seu comportamento. Mariana havia desenvolvido o hábito de conversar sozinha durante as caminhadas. Rosa Benedita, que ocasionalmente a observava da janela da cozinha, relatou que via a jovem parar em determinados pontos da propriedade e falar com alguém que não estava visível. Às vezes gesticulava como se estivesse explicando algo.

Outras vezes permanecia imóvel, como se estivesse ouvindo respostas. Isabel começou a evitar a irmã sempre que possível. Quando, questionada posteriormente sobre o motivo, disse apenas que Mariana falava sobre coisas que uma moça não deveria saber e que seus olhos haviam adquirido uma expressão que assustava.

As refeições familiares, que anteriormente eram momentos de conversa animada, tornaram-se ocasiões de silêncio quase absoluto. Helena comia mecanicamente, sem levantar os olhos do prato. Antônio mantinha uma expressão tensa e respondia apenas com monossílabus quando alguém lhe dirigia a palavra. Isabel inventava desculpas para fazer as refeições em seus aposentos.

Apenas Mariana parecia à vontade, comentando sobre assuntos triviais, como se nada tivesse mudado. João Batista Ferreira relatou que durante maio de 1906 começou a notar mudanças na rotina de Antônio. O fazendeiro passou a sair sozinho durante as noites, sempre na direção da clareira, onde haviam encontrado a caixa enterrada.

João, preocupado com a segurança do patrão, decidiu segui-lo discretamente em algumas ocasiões. Segundo o relato de João Batista, Antônio permanecia na clareira por períodos longos, às vezes até duas ou três horas. Carregava sempre uma lamparina e alguns papéis. João nunca conseguiu se aproximar o suficiente para ouvir o que Antônio fazia exatamente, mas descreveu que o fazendeiro parecia estar lendo em voz alta e ocasionalmente enterrando pequenos objetos em diferentes pontos da clareira.

Em uma ocasião específica, durante a última semana de maio, João relatou ter visto Mariana na Clareira antes da chegada de Antônio. A jovem estava de pé no centro da área, vestida com um camisão branco, completamente imóvel. Quando Antônio chegou, aproximou-se dela e os dois ficaram conversando por um longo período. João não conseguiu ouvir a conversa, mas notou que em nenhum momento Mariana se moveu de sua posição central.

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