Você precisa de um teto e eu de uma mãe para minhas filhas. Vem comigo”, disse o fazendeiro. Helena Carvalho sentiu as pernas cederem quando finalmente permitiu que seu corpo descansasse à beira daquela estrada empoeirada. Tinha caminhado desde o amanhecer, carregando apenas uma mala surrada com tudo que possuía no mundo. A patroa tinha sido clara.
Depois de descobrir que algumas peças de tecido haviam sumido do estoque, não queria mais vê-la por perto. Não adiantou explicar que jamais pegaria nada que não fosse seu. A acusação já estava feita e na cidade pequena onde trabalhava, a palavra da dona da casa valia mais que qualquer defesa. Foi quando ouviu o barulho de cascos e rodas rangendo na terra seca.
Helena levantou os olhos cansados e viu uma carroça se aproximando, puxada por um cavalo castanho. O homem que conduzia o animal usava um chapéu de aba larga e tinha uma barba escura bem cuidada. Atrás dele, na carroça de madeira, cinco meninas pequenas se amontoavam, todas com cabelos claros e olhos curiosos fixos nela.
O fazendeiro puxou as rédeas e o cavalo parou a poucos metros de onde Helena estava sentada. Está machucada?”, perguntou ele, a voz grave carregando uma preocupação genuína. Helena balançou a cabeça, tentando se levantar com dignidade, apesar do cansaço que pesava em cada músculo. “Só cansada! Estou indo para a cidade vizinha procurar trabalho.” O homem desceu do cavalo com a agilidade de quem passou a vida toda em fazendas.

Era alto, com ombros largos que denunciavam anos de trabalho pesado. Seus olhos castanhos a analisaram por um momento, não com desconfiança, mas com uma avaliação cuidadosa. A pé são mais de 20 km daqui até Campos do Sul, ele disse, tirando o chapéu e passando a mão pelos cabelos escuros. E o sol está ficando cada vez mais forte.
Não tenho outra escolha”, Helena respondeu, tentando não demonstrar o desespero que sentia. Suas economias mal dariam para uma refeição, quanto mais para uma passagem de ônibus. Uma das meninas, a menor delas, que não devia ter mais de três anos, esticou o bracinho na direção de Helena. “Papai, ela está triste.” O fazendeiro olhou para a filha e depois novamente para Helena.
Houve um silêncio pesado onde ele parecia estar tomando uma decisão importante. Finalmente colocou o chapéu de volta na cabeça e deu alguns passos na direção dela. Meu nome é Fernando Almeida. Tenho uma fazenda a uns 10 km daqui em São Miguel do Campo e tenho uma proposta para você. Helena sentiu o coração acelerar.
Proposta de estranhos na estrada raramente eram coisas boas, mas algo na postura daquele homem, na forma como as meninas o olhavam com confiança absoluta, fazia com que ela não sentisse medo. Que tipo de proposta? Perguntou, mantendo a voz firme, apesar da vulnerabilidade de sua situação. Fernando olhou para as cinco meninas na carroça antes de responder. A mais velha delas, que parecia ter uns 10 anos, observava a conversa com uma expressão fechada. quase hostil.
As outras quatro olhavam com curiosidade infantil. Você precisa de um teto sobre a cabeça. Eu preciso de alguém que cuide das minhas filhas, que faça as refeições, que mantenha a casa em ordem. Ele fez uma pausa como se estivesse escolhendo cuidadosamente as próximas palavras. Minha esposa não está mais conosco e eu não dou conta de cuidar da fazenda e das meninas ao mesmo tempo.
Helena sentiu um aperto no peito, viúvo com cinco filhas pequenas. Devia ser extremamente difícil. Eu trabalhava como costureira, disse ela, sem saber bem por estava considerando aquela proposta. Não tenho muita experiência com crianças ou com cozinha de fazenda. Mas sabe costurar, limpar, cuidar de uma casa?”, Fernando perguntou e quando ela assentiu, ele continuou. “Então pode aprender o resto.
As meninas são boas crianças, só precisam de alguém que esteja presente.” A menina mais velha soltou um ruído de desaprovação que não passou despercebido por ninguém. Fernando lançou um olhar na direção dela, mas não disse nada. Helena percebeu ali o primeiro sinal de que aquela casa não era tão tranquila quanto o fazendeiro tentava fazer parecer.
“E quanto ao pagamento?”, Helena perguntou, tentando manter alguma racionalidade em meio ao desespero. Sabia que não estava em posição de negociar muito, mas precisava entender os termos: “Teto, comida, roupa lavada e um salário justo no fim do mês.” Fernando respondeu sem hesitar. Não é muito, mas é honesto e trataria você com respeito. Isso eu garanto.
Helena olhou para a estrada à frente, depois para a carroça com as cinco meninas. A menor ainda esticava o bracinho na direção dela com um sorriso banguela que tocou algo profundo em seu coração. Não tinha família, não tinha para onde ir. A cidade vizinha provavelmente já teria ouvido falar dela através da rede de fofocas que conectava todas as pequenas comunidades do interior. Suas chances de conseguir trabalho honesto eram mínimas.
Está bem?”, disse ela finalmente, surpreendendo a si mesma com a rapidez da decisão. “Eu aceito.” Fernando assentiu e pela primeira vez ela viu um pequeno sorriso aparecer em seu rosto sério. “Vamos então. Coloque sua mala na carroça.” Helena pegou sua única bagagem e caminhou até a carroça.
As meninas se afastaram um pouco para dar espaço, todas, exceto a mais velha, que continuou olhando para ela com aqueles olhos desconfiados. Quando Helena subiu, sentando-se na beirada da carroça, a menina menor imediatamente se aproximou e tocou seu braço. “Você vai morar com a gente?”, perguntou com a doçura própria das crianças pequenas.
“Vou sim”, Helena, respondeu, tentando sorrir, apesar da incerteza que sentia. “Meu nome é Júlia. Tenho três anos”, a menina disse levantando três dedinhos. “E aquela ali é Ana, tem cinco. A do meio é Beatriz, tem sete. A outra é Carolina, tem oito. E a maior é Sofia. Ela tem 10 anos e é muito brava.” “Júlia, deixa a moça em paz.
” Fernando disse enquanto voltava para o cavalo. E Sofia não é brava, só está com saudades da mãe. Sofia virou o rosto, olhando fixamente para Aristrada, mas Helena viu suas mãos se fecharem em punhos. Havia muito mais naquela história do que Fernando estava contando. Isso ficou claro naquele momento. A carroça começou a se mover e Helena se segurou na madeira enquanto observava a paisagem.
Campos se estendiam de ambos os lados da estrada, alguns com plantações de milho, outros vazios, esperando a época de plantio. De vez em quando passavam por casas simples, com quintais onde galinhas ciscavam e cachorros latiam ao vê-los passar. Era um mundo completamente diferente da cidade onde tinha passado os últimos anos, trancada em um quarto minúsculo, costurando roupas para pessoas que mal lhe dirigiam a palavra. “Você tem família?” Carolina, a de 8 anos, perguntou timidamente.
Helena balançou a cabeça. Não, meus pais partiram quando eu era jovem. Não tenho irmãos. Então você está sozinha igual à gente? Beatriz, a de 7 anos, disse com uma sinceridade que apertou o coração de Helena. A gente também não tem mais ninguém, só o papai. Vocês têm umas às outras, Helena disse suavemente.
Isso já é muito Ana, a de 5 anos, se aproximou e sentou-se ao lado de Helena. Você é bonita. Seu cabelo é escuro igual ao do papai. Helena sorriu, passando a mão pelos próprios cabelos castanhos escuros que estavam presos em um coque simples. Não se considerava bonita? Não, depois de anos ouvindo da patroa que era magra demais, pálida demais, sem graça demais.
Obrigada, Ana, você também é muito bonita. A menina sorriu revelando um dente que estava começando a cair. Foi nesse momento que Sofia finalmente falou, sua voz cortante como vidro quebrado. Não adianta tentar ser simpática. Você não vai durar uma semana aqui. Helena encontrou os olhos da menina.
vendo ali não apenas hostilidade, mas uma dor profunda que ela reconhecia. Era a dor de quem tinha sido abandonada, de quem tinha aprendido cedo demais a não confiar. “Talvez você tenha razão”, Helena respondeu calmamente. “Mas vou fazer o meu melhor enquanto estiver aqui.” Sofia apareceu surpresa com a resposta, esperando talvez uma defesa mais acalorada ou uma tentativa de conquistá-la.
Mas Helena tinha aprendido há muito tempo que palavras vazias não significavam nada, apenas ações importavam. O restante da viagem foi feito em silêncio, apenas com os sons da carroça rangendo, dos cascos do cavalo batendo na terra e do vento soprando pelos campos. Helena aproveitou para observar Fernando. Ele conduzia o cavalo com segurança, mas havia uma tensão em seus ombros, uma rigidez que sugeria alguém carregando um peso grande demais.
Vez ou outra, ele olhava para trás, conferindo se as meninas estavam bem, e seus olhos sempre pousavam em Sofia, com uma preocupação especial. Quando finalmente avistaram a fazenda, Helena sentiu uma mistura de alívio e apreensão. A casa era simples, mas grande, feita de madeira e tijolo, com um alpendre na frente, onde algumas cadeiras velhas descansavam. Ao redor havia um curral com algumas vacas, um galinheiro de onde se ouvia cacarejo constante e campos que se estendiam até onde a vista alcançava.
Era bonito, de uma forma rústica e honesta, mas havia algo de abandonado na propriedade. A tinta da casa estava descascada, o jardim que um dia devia ter sido cuidado, agora estava tomado por mato e algumas das tábuas do alpendre estavam quebradas. Fernando parou a carroça na frente da casa e desceu rapidamente, ajudando as meninas mais novas a descerem. Sofia pulou sozinha, demonstrando sua independência, e foi direto para dentro da casa, sem olhar para trás.
Helena pegou sua mala e desceu com cuidado, seus pés tocando a terra firme pela primeira vez em horas. “Vou mostrar seu quarto”, Fernando disse, pegando a mala dela antes que ela pudesse protestar. É pequeno, mas é limpo e tem uma janela boa. Era o quarto da Era um quarto de hóspedes. Helena o seguiu para dentro da casa com as quatro meninas mais novas, vindo logo atrás como patinho seguindo a mãe.
O interior era surpreendentemente organizado, considerando que era uma casa com cinco crianças e nenhuma mulher para cuidar dela. A sala tinha móveis simples, mas bem conservados, um sofá grande onde cabiam todas as meninas, uma mesa de jantar com oito cadeiras. As paredes tinham algumas fotos em molduras de madeira, mas Helena notou que todas mostravam apenas Fernando e as meninas.
Nenhuma foto de mulher, nenhum vestígio de uma presença feminina. O quarto que Fernando lhe mostrou ficava no andar de baixo, nos fundos da casa. Era pequeno, sim, com apenas uma cama de solteiro, um guarda-roupa de madeira escura e uma cômoda simples, mas a janela dava para o quintal dos fundos, onde Helena podia ver um varal com roupas balançando ao vento, e mais além pequena horta que parecia estar lutando para sobreviver.
“O banheiro é ali no corredor”, Fernando disse, colocando a mala dela sobre a cama. Você tem sua privacidade aqui. As meninas dormem todas no andar de cima e meu quarto fica do outro lado da casa. Quero que saiba que respeito sua privacidade e espero o mesmo em troca. Entendo, Helena, disse, apreciando a clareza com que ele estabelecia os limites.
E quanto às minhas obrigações, quando devo começar? Fernando passou a mão pelo rosto, parecendo cansado de repente. Que tal descansar hoje? acomodar suas coisas. Amanhã pela manhã, eu explico a rotina. Normalmente acordo às 5 para cuidar dos animais. As meninas acordam por volta das 6. Café da manhã às 7 antes de Sofia ir para a escola.
E as outras não vão à escola? Helena perguntou surpresa. Ana e Júlia são pequenas demais. Beatriz e Carolina estudam à tarde, ele explicou. O ônibus escolar passa às 7:30 para buscar Sofia e volta ao meio-dia para buscar as outras duas e as levar. Volta com todas as 4 da tarde. Helena assentiu, já fazendo cálculos mentais sobre como organizar o dia.
Não seria fácil, mas ela tinha enfrentado coisas mais difíceis. Pelo menos ali, ela teria um teto sobre a cabeça e comida garantida. “Vou deixar você se acomodar”, Fernando disse indo em direção à porta. Se precisar de alguma coisa, pode me chamar. Estarei no curral. Quando ele saiu, Helena se sentou na cama, sentindo o colchão firme embaixo dela.
Pela primeira vez em dias, permitiu que as lágrimas que tinha segurado escorressem por seu rosto. Não eram lágrimas de tristeza, mas de alívio. Tinha encontrado um lugar, mesmo que temporário. Tinha uma chance de recomeçar. Ela desempacotou suas poucas roupas, colocando-as cuidadosamente no guarda-roupa. Três vestidos simples, duas saias, algumas blusas, roupas íntimas e uma única blusa de lã para os dias frios. Tudo que possuía cabia facilmente nas prateleiras vazias.
Na gaveta da cômoda, guardou seus pertences mais preciosos, uma foto desbotada de seus pais, uma caixinha com alguns botões especiais que tinha colecionado ao longo dos anos e um pequeno caderno onde costumava anotar pensamentos quando a solidão apertava. Querido ouvinte, se você está gostando da história, aproveite para deixar o like e principalmente se inscrever no canal.
Isso ajuda muito a gente que está começando agora, continuando. Um barulho na porta fez Helena se virar rapidamente. Júlia estava ali segurando um ursinho de pelúcia desgastado. “Você vai dormir aqui?”, a menina perguntou entrando no quarto, sem pedir permissão. “Vou sim.” É perto da cozinha”, Júlia disse, como se isso fosse muito importante.
Quando eu tenho fome de noite, às vezes desço escondida para pegar biscoito. O papai não sabe. Helena sorriu, sentando-se no chão para ficar na altura da menina. E você tem fome de noite com frequência? Júlia balançou a cabeça afirmativamente. Às vezes, mas o papai fica bravo quando a gente acorda ele. Ele está sempre muito cansado.
Havia uma tristeza naquela afirmação que partiu o coração de Helena. Crianças pequenas não deveriam ter medo de acordar o pai quando precisavam de algo. Sabe o que podemos fazer? Helena disse, puxando a menina para perto. Podemos deixar alguns biscoitos em uma lata aqui no meu quarto. Assim, quando você tiver fome de noite, pode vir aqui me acordar e eu pego para você, sem precisar acordar, seu pai. Os olhos de Júlia se iluminaram.
De verdade? De verdade? A menina jogou os braços em volta do pescoço de Helena, abraçando-a com a força de quem tinha estado precisando de carinho há muito tempo. Helena retribuiu o abraço, sentindo algo se quebrar dentro de seu peito. Tinha passado tanto tempo sozinha, guardando amor que não tinha para quem dar, que aquele abraço infantil e sincero a emocionou de uma forma que não esperava.
Júlia, onde você está? A voz de Sofia ecoou pelo corredor, dura e controladora. Mamãe sempre dizia para não incomodar as visitas. Júlia se afastou rapidamente, como se tivesse sido pega fazendo algo errado. Sofia apareceu na porta, seu rosto pequeno contorcido em uma expressão de desaprovação que era velha demais para sua idade. “Ela não estava incomodando.” Helena disse calmamente. Estávamos apenas conversando.
“Júlia, vem. É hora do lanche”, Sofia disse, ignorando completamente Helena. A menina pequena saiu correndo, mas não sem antes lançar um último olhar para Helena, um olhar que pedia desculpas pelo comportamento da irmã. Sofia ficou na porta por mais um momento, seus olhos azuis estudando Helena com uma intensidade perturbadora.
Meu pai pode ter caído nessa sua conversa mansa, mas eu não caio. Você é igual às outras que tentaram. vai ficar aqui algumas semanas, vai perceber que é difícil demais e vai embora, igual todas fizeram. Helena se levantou, aproximando-se da menina, mas mantendo uma distância respeitosa. “Outras já vieram trabalhar aqui?” “Três”, Sofia disse, levantando três dedos.
A primeira ficou duas semanas, a segunda ficou um mês, a terceira nem durou uma semana. Todas foram embora, dizendo que era difícil demais cuidar de cinco crianças que não eram delas. Agora, muita coisa fazia sentido. A desconfiança de Sofia, a rapidez com que as meninas mais novas se apegaram a Helena, a hesitação de Fernando ao fazer a proposta. Todas eram marcas de abandono repetido, de expectativas quebradas.
Eu não vou mentir para você, Sofia”, Helena disse, escolhendo suas palavras com cuidado. “Não sei se vou conseguir. Nunca cuidei de cinco crianças antes, mas posso prometer que enquanto eu estiver aqui, vou fazer o meu melhor. E se um dia eu for embora, não será sem avisar. Isso eu te prometo. Sofia pareceu considerar aquilo por um momento.
Então, sem dizer mais nada, virou-se e saiu, seus passos pesados no corredor de madeira sendo a única resposta que Helena recebeu. Helena voltou para a janela, olhando para o quintal. tinha acabado de fazer uma promessa que não sabia se poderia cumprir, mas algo naquela casa, naquelas crianças machucadas, tocou um lugar profundo em seu coração.
Talvez fosse porque ela também sabia o que era ser abandonada, ser deixada para trás sem explicação. Seus pais tinham partido quando ela tinha apenas 15 anos, levados por uma doença que varreu a região onde moravam. Ela tinha ficado sozinha, passando de casa em casa, trabalhando por comida e abrigo, nunca pertencendo verdadeiramente a lugar nenhum.
O resto daquela tarde passou em um estado de observação cautelosa. Helena ficou em seu quarto, ouvindo os sons da casa. Ouvia Fernando entrando e saindo, suas botas pesadas ecoando no piso de madeira. Ouvia as meninas brincando no andar de cima, suas vozes subindo e descendo em uma melodia familiar de discussões infantis e gargalhadas.
Ouvi a Sofia dando ordens para as irmãs mais novas, assumindo um papel que não deveria ser dela. Quando o sol começou a se pôr, tingindo o céu de laranja e rosa, Helena ouviu uma batida suave na porta. Era Beatriz, a de 7 anos, segurando a mão de Ana. O papai mandou chamar você para o jantar”, disse Beatriz tímidamente.
Ele fez arroz com feijão e frango frito. Helena seguiu as meninas até a cozinha, onde encontrou uma mesa posta de forma simples, mas organizada. Fernando estava tirando a panela do fogão à lenha e o cheiro da comida fez o estômago de Helena roncar, lembrando-a de que tinha comido apenas um pão velho pela manhã.
As cinco meninas já estavam sentadas, cada uma em seu lugar aparentemente habitual. “Sente-se ali”, Fernando disse, apontando para uma cadeira vaga ao lado de Carolina. Desculpe se a comida não é nada especial. Faço o que posso. Cheira delicioso! Helena disse honestamente, sentando-se.
Notou que Sofia estava no outro extremo da mesa, o mais longe possível dela. Fernando serviu a comida em silêncio, colocando porções generosas em cada prato. As meninas começaram a comer imediatamente com a fome típica de crianças que brincaram o dia todo. Helena comeu devagar, saboreando cada garfada. A comida era simples, mas bem temperada, feita por mãos que tinham aprendido por necessidade, não por prazer.
“Está gostoso, papai”, Ana disse com a boca cheia, ganhando um olhar de reprovação de Sofia. “Mastiga primeiro, depois fala.” Sofia repreendeu, soando exatamente como uma mãe cansada. Fernando olhou para a filha mais velha com uma expressão de tristeza misturada com preocupação. Helena percebeu ali mais uma camada da dinâmica daquela família.
Sofia tinha se tornado a mulher da casa, assumindo responsabilidades que não deveria carregar. E Fernando não sabia como impedir isso sem deixar as outras meninas ainda mais desassistidas. Amanhã eu assumo a cozinha”, Helena disse, quebrando o silêncio. “E as outras tarefas da casa? Você precisa se concentrar na fazenda, Fernando.” Ele olhou para ela, surpresa e gratidão brilhando em seus olhos.
Seria uma grande ajuda. Tenho que consertar acerca do pasto oeste amanhã. Algumas vacas andaram escapando. “O papai trabalha muito”, Carolina disse para Helena, como se sentisse necessidade de defendê-lo. Ele cuida da gente e dos animais e da plantação. É muita coisa para uma pessoa só. É mesmo, Helena concordou.
Por isso estou aqui agora para ajudar. “Você sabe cozinhar coisas diferentes?”, Beatriz perguntou esperançosamente, a gente come muito arroz com feijão. Beatriz, não seja mal educada, Sofia disse rispidamente. O papai faz o melhor que pode. Não foi mal educada. Fernando disse sua voz cansada. E ela tem razão.
Não tenho muito tempo para variar o cardápio. Eu sei fazer algumas coisas, Helena disse pensando nas receitas que tinha aprendido ao longo dos anos. Talvez possamos experimentar pratos novos se tiver os ingredientes. Claro. Tem uma horta lá atrás, Fernando explicou. Não está das melhores, mas tem tomate, alface, alguns temperos e temos as galinhas para o mês vou até a cidade comprar o resto.
Helena assentiu, já fazendo planos mentais. poderia fazer uma sopa de legumes, talvez um bolo simples para as meninas, coisas que tornassem aquela casa um pouco mais parecida com um lar e menos com um acampamento de sobrevivência. Depois do jantar, Fernando levou as meninas mais novas para o banho, enquanto Sofia lavava a louça com movimentos bruscos e eficientes.
Helena observou por um momento antes de se aproximar. “Posso ajudar?” Não precisa, Sofia disse sem olhar para ela. Eu sempre faço isso. Eu sei, mas agora estou aqui. Podemos dividir as tarefas. Eu não precisa da sua ajuda. Helena pegou um pano de prato mesmo assim, começando a secar os pratos que Sofia ia colocando no escorredor.
Trabalharam em silêncio por alguns minutos, apenas o som da água correndo e dos pratos batendo, quebrando o silêncio. “Você não vai me perguntar sobre a minha mãe?”, Sofia disse de repente, sua voz carregada de desafio. “Você vai me contar se quiser, Helena”. respondeu calmamente. Não é da minha conta.
Sofia pareceu desconcertada com a resposta. Claramente esperava que Helena fosse curiosa, invasiva, como provavelmente as outras mulheres tinham sido. “Ela foi embora.” Sofia disse finalmente, suas mãos parando por um momento no meio da água com sabão. Simplesmente pegou suas coisas e foi embora. Nem se despediu direito. Helena sentiu o coração apertar.
Sinto muito. Não sinta. Sofia disse, voltando a lavar os pratos com renovada intensidade. Ela não nos queria, ficou claro. E se ela não nos queria, então não precisamos dela. Mas a forma como a voz da menina tremeu ao dizer aquilo mostrava claramente que ela precisava, sim, que todas elas precisavam.
Você cuida muito bem das suas irmãs, Helena disse suavemente. Alguém tem que fazer isso. Mas você ainda é uma criança também. Merece brincar, se divertir, não se preocupar tanto. Sofia finalmente olhou para ela e seus olhos estavam vermelhos de lágrimas não derramadas. Se eu não me preocupar, quem vai? Meu pai está sempre trabalhando. As meninas são pequenas demais. Só sobra eu.
Agora sobra nós duas. Helena disse, “Você não precisa carregar tudo sozinha mais.” Por um momento, apenas por um momento, a máscara de Sofia caiu e Helena viu a criança assustada por baixo. Mas então a menina ergueu o queixo, enxugou as mãos no avental e saiu da cozinha sem dizer mais nada.
Helena terminou de secar o resto da louça sozinha, guardando tudo nos lugares que imaginou serem corretos. A cozinha era simples, mas funcional, com um fogão à lenha que ainda irradiava calor, prateleiras de madeira nas paredes, cheias de potes e panelas, e uma mesa grande no centro, onde claramente acontecia boa parte da vida familiar.
Quando foi dormir naquela primeira noite, Helena ficou acordada por muito tempo, ouvindo os sons da casa se acomodando. Ouvia Fernando andando lá em cima, seus passos pesados parando na frente do que ela imaginou. ser o quarto das meninas. Ouvia sussurros baixos e então, silêncio. Imaginou que ele estava dando boa noite a cada uma, um ritual de pai que tentava compensar a ausência de mãe.
A lua entrava pela janela do quarto, jogando sombras prateadas nas paredes nuas. Helena pensou em como sua vida tinha mudado drasticamente em questão de horas. Pela manhã estava desesperada e sem rumo. Agora tinha um teto sobre a cabeça e uma família estranha para cuidar. Não era o que tinha imaginado para sua vida, mas talvez fosse exatamente o que precisava.
Na manhã seguinte, Helena acordou antes do sol nascer, despertada pelo som do galo cantando, levantou-se rapidamente, vestindo um de seus vestidos simples e prendendo o cabelo em um coque prático. Quando saiu do quarto, encontrou Fernando já na cozinha, acendendo o fogão à lenha. Acordou cedo? Ele comentou surpreso. Pensei que fosse dormir até mais tarde depois da viagem de ontem.
Estou acostumada a acordar cedo, Helena disse. Na casa onde trabalhava começava às 5 da manhã. Fernando assentiu, colocando a chaleira com água no fogo. Vou mostrar onde fica tudo. Depois preciso ir cuidar dos animais. Ele passou a próxima meia hora mostrando a Helena onde ficavam os mantimentos, como funcionava o fogão à lenha, onde ficavam as roupas das meninas que precisavam ser lavadas.
Era muita informação de uma vez, mas Helena prestou atenção em cada detalhe. A loja mais próxima fica a 5 km daqui. Fernando explicou. Vou te dar uma lista das coisas que costumamos comprar. Uma vez por semana, dona Margarida, uma vizinha, passa aqui com sua carroça e leva encomendas para a cidade. Você pode pedir as coisas com ela. Entendi.
Helena disse. E para lavar roupa? Tem um tanque lá atrás. Toda segunda-feira é dia de lavar. Sofia normalmente ajuda, mas agora você pode fazer isso. Helena percebeu como ele tentava sutilmente tirar responsabilidades de Sofia, sem dizer explicitamente que estava preocupado com quanto a filha tinha assumido.
Era um bom pai, isso ficava claro, apenas um pai sobrecarregado e sem saber como fazer melhor. Quando as meninas começaram a descer para o café da manhã, Helena já tinha preparado café fresco, pão com manteiga e ovos mexidos. Não era nada elaborado, mas era feito com cuidado.
As meninas se sentaram, seus olhos arregalando ao ver a mesa posta. “Você fez tudo isso?”, Ana perguntou maravilhada. “Fiz. Espero que gostem.” Júlia foi a primeira a provar pegando um pedaço de pão com manteiga e mordendo com entusiasmo. Seu sorriso foi aprovação suficiente. Uma por uma, as outras meninas começaram a comer todas, exceto Sofia, que olhava para o prato com desconfiança. O que foi, Sofia? Fernando perguntou, notando a hesitação da filha.
Nada, ela murmurou, finalmente pegando o garfo. Está bom. Era o mais próximo de um elogio que Helena imaginou que receberia da menina. Então, aceitou com um pequeno sorriso. Depois que Sofia foi para a escola e Fernando saiu para o campo com Beatriz e Carolina, Helena ficou sozinha com as duas meninas mais novas.
Júlia e Ana seguiram pela casa como sombrinhas curiosas enquanto ela começava a organizar e limpar. Havia tanto para fazer. O pó tinha se acumulado em cantos que provavelmente não viam uma vassoura há meses. As janelas estavam embaçadas de sujeira, as cortinas precisavam ser lavadas. “Vocês podem me ajudar?”, Helena perguntou para as meninas.
“Preciso de duas assistentes muito especiais”. Os olhos delas se iluminaram. “O que podemos fazer?”, Júlia perguntou, pulando, animada. “Vocês podem me ajudar a tirar todas as almofadas do sofá? Vamos bater o pó delas lá fora.
As meninas se puseram a trabalhar com o entusiasmo próprio de crianças que estão sendo incluídas em algo importante. Helena aproveitou para conhecê-las melhor enquanto trabalhavam. Ana lhe contou sobre sua professora, sobre como estava aprendendo a ler. Júlia falou sem parar sobre seu ursinho de pelúcia, sobre como ele tinha nome, chocolate, e sobre como ela queria ter um cachorro de verdade um dia. “Por que você não tem cachorro?”, Helena perguntou.
“O papai disse que não temos tempo para cuidar de mais nada.” Ana explicou com a seriedade de quem repete palavras de adulto. Ele já cuida de muita coisa. Helena assentiu entendo. Mas talvez, apenas, talvez as coisas pudessem começar a mudar agora. Por volta do meio-dia, quando o sol estava alto e forte, Helena preparou um almoço simples de sopa de legumes com frango desfiado.
Tinha encontrado alguns vegetais na horta que ainda estavam bons e havia frango cozido sobrando da noite anterior. Quando as meninas maiores voltaram da escola, encontraram a mesa posta e a casa cheirando a comida caseira de verdade. Nossa, Beatriz disse parando na porta da cozinha. Faz muito tempo que não sinto esse cheiro.
Fernando entrou logo atrás delas, tirando o chapéu e passando a mão pelos cabelos suados. Quando viu a mesa, algo no seu rosto se suavizou. Você não precisava ter feito tudo isso ele disse. Mas sua voz carregava gratidão. Precisava sim. É para isso que estou aqui. Durante o almoço, as meninas conversaram animadas sobre a escola. Carolina contou que tinha tirado nota boa em matemática. Beatriz reclamou de um menino que tinha puxado seu cabelo no recreio.
Sofia comeu em silêncio, mas Helena notou que ela repetiu a sopa, o que considerou uma pequena vitória. “A cerca está consertada”, Fernando disse, “maais para preencher o silêncio do que qualquer outra coisa. Mas preciso verificar o telhado do celeiro. Está gotejando quando chove.” “Tem muito trabalho acumulado,” Helena observou.
“Sempre tem.” Ele respondeu com um suspiro cansado. Fazenda não para, sempre tem algo precisando de atenção. Talvez possamos priorizar, Helena sugeriu, fazer uma lista do que é mais urgente. Fernando a olhou surpreso, como se não estivesse acostumado a alguém oferecendo ajuda para organizar, para planejar.
tinha provavelmente passado tanto tempo apenas sobrevivendo, apenas fazendo o que era absolutamente necessário naquele momento, que não tinha espaço mental para pensar de forma mais estratégica. Seria bom, ele admitiu, pode fazer isso mais tarde? Claro, aquela tarde estabeleceu um padrão que se repetiria nos dias seguintes.
Helena cuidava da casa e das meninas mais novas pela manhã, preparava as refeições, lavava roupas. Fernando trabalhava nos campos e com os animais, voltando para almoçar e jantar. As meninas maiores iam para a escola, voltavam, faziam suas tarefas. E Sofia continuava observando tudo com aqueles olhos desconfiados, esperando o momento em que Helena falharia quando mostraria que era igual às outras. Foi no terceiro dia que Helena finalmente decidiu enfrentar a horta.
estava em um estado lamentável, com plantas crescendo de forma desordenada, algumas praticamente morrendo por falta de água adequada, outras sendo sufocadas por ervas daninhas. Ela pegou uma enchada velha que encontrou no galpão e começou a trabalhar sob o sol forte da tarde. “O que você está fazendo?” A voz de Sofia veio de trás dela, fazendo Helena se virar.
tentando salvar a horta”, Helena respondeu, limpando o suor da testa. “Tem boas plantas aqui, só precisam de cuidado. Sofia cruzou os braços, sua postura defensiva, como sempre. Minha mãe que cuidava da horta. Desde que ela foi embora, ninguém mais mexeu direito nisso. Então, está na hora de alguém cuidar novamente.” Helena disse suavemente.
“Quer me ajudar?” “Por quê?”, Sofia perguntou desconfiada: “Por que você quer consertar tudo?” Helena parou de trabalhar e se endireitou, encarando a menina. Porque estou aqui e enquanto estiver aqui, vou fazer meu trabalho direito. Isso não significa que estou tentando substituir sua mãe ou ser algo que não sou. Apenas significa que vou cuidar do que precisa ser cuidado.
Sofia ficou em silêncio por um longo momento. Então, para a surpresa de Helena, ela pegou uma pequena pá que estava encostada na cerca. “Os tomates precisam ser amarrados nas estacas”, ela disse. Sua voz ainda dura, mas não mais hostil. Senão caem no chão e apodrecem. Elas trabalharam lado a lado por quase uma hora, o silêncio entre elas gradualmente se tornando menos pesado e mais companeiro.
Helena aprendeu com Sofia quais plantas eram quais, onde a mãe dela costumava plantar cada coisa, como ela fazia a rotação para manter o solo bom. Ela era boa nisso, Sofia disse em determinado momento. Sua voz baixa. Na horta, quero dizer, sempre tinha legumes frescos para o jantar, flores também. Ela plantava flores só porque eram bonitas.
Ela te ensinou tudo isso? Sofia assentiu. Eu costumava ajudar. Era nosso tempo juntas. Enquanto o papai trabalhava e as meninas pequenas dormiam à tarde. Helena percebeu que estava ouvindo algo precioso, uma memória que Sofia raramente compartilhava. não disse nada, apenas continuou trabalhando, dando espaço para a menina continuar, se quisesse.
Um dia, ela simplesmente parou de vir para a horta. Sofia continuou arrancando ervas daninhas com mais força do que necessário. Ficou estranha, calada. Papai disse que ela estava cansada, que precisava de descanso, mas não era cansaço normal. Era, era como se ela tivesse sumido por dentro antes de sumir por fora.
“Às vezes as pessoas passam por coisas que não conseguimos entender.” Helena disse cuidadosamente. “Não torna certo o que ela fez, mas também não significa que foi culpa de vocês.” “Eu sei disso,” Sofia disse, mas sua voz tremeu. “Mas mesmo sabendo, ainda dói. Ainda me pergunto o que poderíamos ter feito diferente.” Helena largou a enchada e se ajoelhou na terra ao lado de Sofia.
Você era e ainda é uma criança. Não é sua responsabilidade consertar os adultos ao seu redor. Seu trabalho é apenas ser criança. Alguém precisa cuidar das meninas, Sofia insistiu. Se não for eu, agora sou eu. Helena interrompeu gentilmente. Você pode voltar a ser só a irmã mais velha. Não precisa ser a mãe também.
Sofia a olhou com aqueles olhos azuis cheios de lágrimas que ela se recusava a deixar cair. E se você for embora também? Então você vai sobreviver, Helena disse honestamente. Porque você é forte e corajosa e tem suas irmãs. Mas eu vou fazer tudo que puder para não ir embora. Isso eu prometo.
Foi naquele momento, ajoelhadas na terra da horta, com as mãos sujas e o sol se pondo ao fundo, que algo mudou entre Helena e Sofia. Não era confiança total, não ainda, mas era um começo, uma pequena abertura na armadura que Sofia tinha construído ao seu redor. Naquela noite, quando Helena estava terminando de lavar a louça do jantar, Sofia apareceu na cozinha com algo nas mãos.
Encontrei isso no sótam”, ela disse, entregando uma caixa velha de madeira para Helena. “São sementes. Minha mãe guardava sementes das melhores plantas para plantar na próxima estação. Pensei que você poderia querer.” Helena abriu a caixa e encontrou pequenos envelopes de papel, cada um cuidadosamente rotulado com letra bonita. Sementes de tomate, alface, cenoura, flores diversas.
“Obrigada, Sofia.” Helena disse emocionada: “Vou cuidar muito bem delas”. Sofia apenas a sentiu e saiu, mas havia algo diferente em seu andar, algo mais leve. Os dias foram se transformando em semanas e Helena começou a criar uma rotina. Acordava cedo, preparava o café da manhã, via a Sofia sair para a escola.
passava amanhã com as meninas mais novas, ensinando-as pequenas coisas, como dobrar roupas, como varrer direito, como cuidar das plantas. Quando Beatriz e Carolina voltavam da escola, ajudava com as lições de casa na mesa da cozinha. Preparava jantares cada vez mais elaborados, à medida que ia conhecendo o gosto de cada membro da família. Fernando começou a chegar em casa um pouco mais cedo, agora que não precisava se preocupar tanto com as tarefas domésticas.
Helena notava como ele observava as mudanças na casa, as cortinas limpas, as flores que ela tinha plantado em vasos velhos na entrada, o cheiro de comida caseira, sempre permeando o ar. A casa está diferente”, ele disse uma noite depois que as meninas tinham ido dormir. Helena estava terminando de organizar a cozinha para o dia seguinte e ele tinha ficado sentado à mesa tomando café e observando-a a trabalhar.
Diferente como? Helena, perguntou se virando para encará-lo. “Mais viva”, ele disse, escolhendo as palavras com cuidado, como uma casa deveria ser. Helena sentiu algo se apertar em seu peito. Era o elogio mais próximo que Fernando tinha lhe dado e significava mais do que ele provavelmente imaginava. “Você deveria ir dormir”, ela disse suavemente. “Sei que acorda cedo.
” “Você também acorda cedo?”, ele apontou. Vejo sua luz acesa quando passo pelo corredor às 5 da manhã. “Estou acostumada.” Fernando ficou em silêncio por um momento, olhando para a xícara de café em suas mãos. Posso te fazer uma pergunta pessoal? Helena hesitou, mas assentiu.
Por que você estava sozinha naquela estrada? Uma mulher jovem, sem família, apenas uma mala. Alguma coisa deve ter acontecido. Helena se sentou na cadeira em frente a ele, decidindo que merecia ao menos parte da verdade. Eu trabalhava para uma família na cidade, costurava roupas para eles e para clientes. Um dia, algumas peças de tecido caro sumiram do estoque.
A patroa me acusou, disse que eu tinha vendido e guardado o dinheiro. Não adiantou dizer que eu não tinha feito nada. Ela me demitiu na hora, me expulsou da casa, nem me deu tempo de explicar direito. “Você roubou?”, Fernando perguntou sua voz neutra, sem julgamento. “Não.” Helena disse firmemente. Nunca roubei nada na minha vida, mas a palavra dela valia mais que a minha.
Ela era a dona da casa. Eu era apenas a empregada. Fernando a sentiu acreditando nela sem hesitação. Isso tocou Helena de uma forma que ela não esperava. Já passei por acusações injustas também, ele disse. Sei como dói quando ninguém acredita em você, quando sua palavra não vale nada.
O que aconteceu com você? Helena perguntou curiosa, apesar de saber que talvez estivesse sendo intrometida. Fernando passou a mão pelo rosto, parecendo decidir se compartilharia ou não. Quando minha esposa foi embora, muitos na cidade acharam que eu tinha feito alguma coisa, que eu tinha sido cruel com ela ou negligente. Ninguém queria acreditar que ela simplesmente escolheu ir embora. Era mais fácil me culpar. Sinto muito.
Não precisa, já passou, mas me ensinou a não julgar as pessoas pelas histórias que contam sobre elas. a procurar a verdade por trás das palavras. Eles ficaram sentados em silêncio confortável por mais alguns minutos. Então, Fernando se levantou, colocando a xícara vazia na pia. Boa noite,
Helena. Boa noite. Ela o ouviu subir as escadas, seus passos pesados, mas familiares agora. E Helena percebeu que tinha começado a pensar naquela casa, não como um lugar temporário de trabalho, mas como algo perigosamente próximo de um lar. Na manhã seguinte, um domingo, Helena acordou com barulho de vozes altas vindo da sala, vestiu-se rapidamente e saiu do quarto, encontrando Fernando na porta da frente, conversando com uma mulher que Helena não conhecia.
A mulher era baixa e rechonchuda, com cabelos grisalhos presos em um coque apertado e olhos pequenos que pareciam avaliar tudo ao seu redor com suspeita. “Fernando, não estou dizendo que não pode ter ajuda”, a mulher dizia com uma voz que carregava autoridade. “Estou dizendo que precisa ter cuidado.
Não conhece essa mulher? De onde ela veio? Quem é a família dela?” “Dona Margarida?” Fernando disse sua voz tensa. Com todo o respeito, quem eu trago para trabalhar na minha casa é problema meu. Foi quando dona Margarida notou Helena parada na entrada da sala. Seus olhos a percorreram de cima a baixo, um exame clínico e claramente desaprovador.
“Então você é a nova ajudante”, ela disse, não se dando ao trabalho de disfarçar o tom de desconfiança. “De onde você é, menina?” “Sou de Campos do Sul.” Helena respondeu calmamente, acostumada com esse tipo de interrogatório. Trabalhava como costureira. Costureira? Dona Margarida repetiu como se a palavra fosse sinônimo de algo suspeito.
E o que faz uma costureira trabalhar em uma fazenda cuidando de crianças? Margarida. Fernando disse um aviso claro em sua voz. Estou apenas fazendo as perguntas que todos na comunidade estão fazendo. Ela se defendeu. Uma mulher jovem, sozinha, sem família, vindo do nada para trabalhar na casa de um homem viúvo.
As pessoas vão falar, Fernando, já estão falando. Helena sentiu a raiva subir, mas manteve a voz calma. As pessoas sempre falam. Deixo elas falarem. Meu trabalho aqui é cuidar da casa e das crianças. E é exatamente isso que estou fazendo. Dona Margarida resfolegou, claramente não satisfeita com a resposta, mas sem argumento para contra-atacar.
“Vim buscar a lista de compras”, ela disse finalmente, voltando-se para Fernando. “Vou à cidade amanhã cedo.” “Já está pronta”, Fernando disse, pegando um papel que estava sobre o aparador perto da porta. E Margarida, agradeço sua preocupação, mas Helena está fazendo um bom trabalho.
As meninas estão felizes, a casa está em ordem, é tudo que importa. Dona Margarida pegou a lista, seus lábios apertados em uma linha fina. Se você diz, mas não deixe de vir ao mercado no próximo sábado. Padre Antônio estava perguntando por você e pelas meninas. Depois que ela saiu, Fernando se virou para Helena com uma expressão de desculpas. Não ligue para ela.
Margarida é fofoqueira, sempre foi. Acha que sabe o que é melhor para todo mundo. Não me incomoda. Helena mentiu. Na verdade incomodava sim saber que as pessoas da comunidade estavam falando dela, julgando-a sem sequer conhecê-la, mas não era nada que ela já não tivesse enfrentado antes. Ela tem influência na comunidade. Fernando continuou parecendo preocupado.
Se ela começar a espalhar coisas sobre você, pode dificultar sua vida aqui. Então, vou ter que provar que ela está errada. Helena disse com mais confiança do que sentia. Através de ações, não de palavras. Fernando a olhou com algo que parecia admiração. Você é forte, mais do que eu imaginava quando te encontrei naquela estrada. A vida me ensinou a ser forte.
Helena respondeu. Não tive escolha, querido ouvinte. Se você está gostando da história, aproveite para deixar o like e, principalmente se inscrever no canal. Isso ajuda muito a gente que está começando agora continuando. Aquele domingo passou tranquilo depois da visita de dona Margarida.
Helena passou o dia com as meninas, ensinando-as a fazer biscoitos simples. A cozinha ficou cheia de risadas e farinha por toda parte. E até mesmo Sofia parecia relaxada, deixando a guarda baixar enquanto ensinava as irmãs mais novas a usar o cortador de biscoitos. Minha mãe costumava fazer biscoitos nas tardes de domingo. Sofia disse em certo momento sua voz nostálgica. Ela dizia que era a melhor parte da semana.
Era uma tradição bonita. Helena disse, “Podemos continuar com ela se você quiser.” Sofia a olhou considerando, então assentiu lentamente. Seria bom. As meninas pequenas mal se lembram dela. Seria uma forma de manter viva essa memória. Helena percebeu que era a primeira vez que Sofia falava sobre a mãe sem raiva ou ressentimento.
Era progresso, pequeno, mas significativo. À tarde, enquanto os biscoitos esfriavam, Helena finalmente teve coragem de perguntar algo que vinha incomodando desde que chegou. Sofia, posso te fazer uma pergunta? A menina estava guardando os ingredientes, mas parou para olhar para Helena. Depende da pergunta.
As outras meninas, Beatriz, Carolina, Ana, Júlia, elas são todas filhas do seu pai e da sua mãe. Sofia ficou muito quieta, então suspirou como se soubesse que eventualmente essa pergunta seria feita. Só Beatriz é filha de sangue e eu, claro. Carolina é filha da irmã da minha mãe. A tia morreu no parto e ninguém mais da família quis a beber. Meus pais a adotaram quando ela tinha dois meses e Ana e Júlia.
Ana foi deixada na porta da igreja quando era bebê. O padre procurou por alguém para adotá-la. Meus pais já tinham três meninas, mas disseram que sempre tinha espaço para mais uma. Júlia é filha de uma conhecida da minha mãe que teve problemas graves de saúde logo depois do parto.
Ela pediu para meus pais cuidarem da bebê até ela se recuperar, mas ela nunca se recuperou. Partiu quando Júlia tinha se meses. Helena sentiu o coração apertar com cada história. Cinco meninas, cada uma com uma história de perda e abandono em algum nível. E Fernando e sua esposa tinham acolhido todas elas, criando uma família fora dos padrões tradicionais.
“Seu pai é um bom homem”, Helena disse suavemente. “Só este é o melhor”. Sofia concordou sua voz firme. “É por isso que dói tanto que minha mãe tenha ido embora. Ele não merecia isso. Nenhum de nós merecia.” “Não, não mereciam.” “Você promete não tratar elas diferente?”, Sofia perguntou de repente, seus olhos fixos nos de Helena.
Algumas pessoas, quando descobrem que nem todas somos filhas de sangue, começam a agir estranho, como se as adotadas fossem menos importantes. Jamais faria isso, Helena prometeu. Para mim, família é quem escolhe te amar, não quem compartilha sangue. E está claro que todas vocês são irmãs de verdade. Sofia pareceu satisfeita com a resposta.
Ela puxou uma cadeira e sentou-se, um gesto que indicava que queria conversar mais, algo raro para ela. Minha mãe começou a ficar diferente depois que Júlia chegou, Sofia contou sua voz baixa. Ela sempre tinha sido tão forte, tão segura de si, mas de repente estava chorando sem motivo, ficando dias sem sair da cama, gritando com a gente por coisas pequenas.
Papai tentou ajudar, levou ela para médicos na cidade, mas ninguém conseguia dizer o que estava errado. “Devia ser muito difícil para vocês,” Helena disse. “Era confuso, Sofia admitiu. Um dia ela estava bem brincando com a gente, no outro estava trancada no quarto e foi ficando cada vez pior. Até que um dia ela simplesmente fez as malas e disse que precisava ir embora, que não conseguia mais. Ela disse para onde ia.
Sofia balançou a cabeça negativamente. Só disse que precisava encontrar a si mesma novamente, que tinha se perdido em algum lugar do caminho. Papai implorou para ela ficar, disse que poderiam resolver juntos, mas ela já tinha decidido. E vocês a viram depois disso? Uma vez.
Ela voltou alguns meses depois para pegar algumas coisas que tinha deixado. Tentou falar comigo, me explicar, mas eu não quis ouvir. Estava com tanta raiva. Ela tinha nos deixado. Tinha deixado papai cuidar de cinco crianças sozinho. Como eu poderia perdoar isso? Helena não tinha resposta para aquilo. Não cabia a ela julgar nem a mãe que tinha ido embora, nem a filha que não conseguia perdoar.
apenas ouvia, oferecendo a presença silenciosa, que às vezes era mais valiosa que qualquer palavra. “As meninas pequenas mal lembram dela,” Sofia continuou. Júlia tinha acabado de fazer um ano quando ela foi embora. Ana tinha três. Elas não entendem direito, mas Beatriz e Carolina, elas também sofrem. Só não falam sobre isso como eu falo.
Cada um lida com a dor do seu jeito. Helena disse. Como você lidou? Sofia perguntou de repente quando seus pais partiram, como você lhe dou? Helena respirou fundo. Não costumava falar sobre aquilo, mas sentia que devia a Sofia pelo menos um pouco da verdade. Não lhe dei bem no começo.
Fiquei com raiva, depois triste, depois entorpecida. Levei anos para aceitar que eles não tinham escolhido me deixar, que a doença tinha escolhido por eles. E mesmo agora, depois de tanto tempo, ainda tem dias que dói. Mas aprendi que dor não mata. A gente sobrevive a ela um dia de cada vez. Sofia ficou em silêncio por um longo momento, processando aquilo.
“Obrigada”, ela disse finalmente, “por ser honesta. As outras mulheres que vieram trabalhar aqui tentavam fingir que tudo era perfeito, que podiam consertar tudo. Você não faz isso. Você é real. É a única forma que sei ser. Naquela noite, durante o jantar, Helena notou mudanças sutis na dinâmica familiar.
Sofia estava menos rígida, mais presente na conversa. As meninas mais novas pareciam mais relaxadas, como se finalmente tivessem permissão para apenas serem crianças. E Fernando, Fernando a olhava de uma forma diferente, com algo que ia além de gratidão por um trabalho bem feito.
Depois que as meninas foram para a cama, Fernando ajudou Helena a limpar a cozinha, algo que tinha começado a fazer nos últimos dias. Sofia me contou que você ficou sabendo sobre as meninas”, ele disse enquanto secava um prato. “Sobre como cada uma chegou aqui. Espero que não se importe”, eu perguntei a ela. “Não me importo. Ia contar para você eventualmente de qualquer forma.
Queria apenas ter certeza de que você ficaria antes de compartilhar histórias tão pessoais.” “E agora? Você tem certeza que vou ficar?”, Helena perguntou, virando-se para encará-lo. Fernando parou o que estava fazendo, o pano de prato ainda nas mãos.
Seus olhos encontraram os dela e havia uma intensidade ali que fez o coração de Helena acelerar. Espero que sim. As meninas estão se apegando a você. Sofia está começando a confiar em você e isso não acontece facilmente. E eu eu também estou me acostumando com sua presença aqui. Helena sentiu as bochechas esquentarem. Havia algo naquelas palavras na forma como ele a olhava, que ia além da relação empregadora empregada.
“Eu gosto de estar aqui”, ela admitiu, mais do que imaginei que fosse gostar. Mesmo com dona Margarida espalhando fofocas. Mesmo com isso. Fernando deu um passo na direção dela, depois pareceu se repensar, mantendo a distância respeitosa. Amanhã de manhã preciso ir até a cidade. Tem algumas ferramentas que preciso comprar. E o banco pediu para eu passar lá para assinar uns papéis.
Você se importa de ficar com as meninas sozinha? Claro que não. Para isso estou aqui. Sei que está, ele disse, “mas queria ter certeza. É a primeira vez que vou deixar Sofia e as outras completamente sozinhas com alguém que não seja família. Precisa saber que confio em você.” Aquelas palavras tocaram Helena profundamente.
Confiança era algo que tinha que ser conquistado, especialmente de um homem que tinha sido traído pela pessoa em quem mais confiava. Vou cuidar bem delas, prometo. Fernando assentiu, parecendo aliviado. Sei que vai. Boa noite, Helena. Boa noite. Depois que ele saiu, Helena ficou sozinha na cozinha, suas mãos ainda na água morna da pia. Algo estava mudando entre ela e Fernando, algo que ia além do respeito mútuo ou gratidão.
Era uma atração sutil, crescendo lentamente como uma planta bem cuidada. E isso a assustava, porque sabia que se permitir sentir algo por ele, poderia complicar tudo. Mas talvez, apenas talvez, complicações não fossem sempre coisas ruins. Na manhã seguinte, Helena acordou com Fernando já de pé, vestido com suas melhores roupas, uma calça de sarja limpa e uma camisa de botão que ela tinha passado no dia anterior.
“Vou sair agora”, ele disse, colocando o chapéu. “Devo voltar no meio da tarde.” Se precisar de alguma coisa, pode pedir ajuda ao seu Benedito, o vizinho que mora a 1 km daqui na direção leste. Ele é de confiança. Vamos ficar bem, Helena, assegurou. Não se preocupe. Depois que Fernando partiu com a carroça, Helena preparou o café da manhã para as meninas.
Sofia desceu primeiro, já vestida com o uniforme da escola, seus cabelos presos em uma trança que ela mesma tinha feito. “Papai já foi?”, ela perguntou. “Há uns 20 minutos disse que volta à tarde.” Sofia assentiu, sentando-se à mesa. Havia algo diferente nela hoje. Uma nervosidade que Helena não conseguia identificar. “Aconteceu alguma coisa?”, Helena perguntou.
Tenho uma apresentação na escola hoje, Sofia admitiu, sobre a história da região. Eu fiz um cartaz, mas papai não vai poder ver. Helena sentiu o coração apertar. Claramente era importante para Sofia, mas ela tentava fingir que não era. A que horas é a apresentação? 10 horas. Helena pensou rapidamente.
Podia levar as meninas mais novas, caminhar até a escola. Era longe, mas possível. “Vamos assistir”, ela disse decidida. “O quê? Eu e as meninas vamos assistir sua apresentação.” Sofia a olhou com surpresa, misturada com esperança. “Mas é longe e você tem as pequenas.” “Conseguimos. Júlia e Ana podem caminhar e se cansarem, posso carregar Júlia no colo.
Não vou deixar você fazer essa apresentação sem ninguém da família para assistir. Por um momento, a máscara de Sofia caiu completamente. Seus olhos se encheram de lágrimas e seu queixo tremeu. Você faria isso? Claro que faria. Sofia se levantou e, pela primeira vez desde que Helena tinha chegado, a abraçou.
Foi um abraço rápido, quase tímido, mas significou o mundo para Helena. Duas horas depois, Helena e as quatro meninas mais novas chegavam à escola, todas um pouco suadas da caminhada, mas em bom estado. A escola era um prédio simples de tijolos, com três salas de aula e um pátio de terra batida, onde as crianças brincavam no recreio. A professora de Sofia, dona Aparecida, uma senhora de cabelos grisalhos e óculos grossos, recebeu-as com surpresa. “Achei que ninguém viria”, ela disse.
Sofia mencionou que o pai estaria ocupado. Ele está, Helena, explicou. Mas eu trouxe as irmãs dela para assistir. Dona Aparecida sorriu um sorriso caloroso e genuíno. Que maravilha. Sofia trabalhou muito no projeto dela. Venham, podem sentar ali na frente.
A apresentação aconteceu no pátio, com cada criança mostrando seu cartaz e falando sobre um aspecto da história da região. Quando chegou a vez de Sofia, Helena viu a menina se endireitar, seus olhos procurando na pequena plateia até encontrá-las. O sorriso que surgiu em seu rosto foi tão puro, tão cheio de alegria genuína, que Helena soube que tinha tomado a decisão certa.
Sofia falou com segurança sobre as primeiras famílias que tinham se estabelecido em São Miguel do Campo, sobre como a comunidade tinha crescido ao redor da igreja e do mercado. Seu cartaz estava cheio de desenhos coloridos e informações bem organizadas. Quando terminou, todos aplaudiram, mas ninguém aplaudiu mais alto que suas irmãs. Ela foi ótima.
Ana sussurrou para Helena. Sofia é muito inteligente. É mesmo? Helena concordou, seu coração cheio de orgulho, como se fosse sua própria filha. Depois da apresentação no caminho de volta, Sofia caminhou ao lado de Helena, seu cartaz cuidadosamente enrolado embaixo do braço. Obrigada. Ela disse baixinho, por ter vindo.
Não precisa agradecer. É para isso que famílias servem, para apoiar uma a outra. Você considera a gente sua família? A pergunta veio de forma hesitante, como se tivesse medo da resposta. Helena parou de andar, fazendo as outras pararem também. olhou para cada uma daquelas cinco meninas, cada uma com sua história única de perda e sobrevivência, cada uma tendo encontrado um lugar naquela família recomposta.
Sim”, ela disse finalmente, “Honestamente. Considero.” Júlia imediatamente pegou a mão de Helena e Ana fez o mesmo do outro lado. Carolina e Beatriz caminharam mais perto e até Sofia parecia mais relaxada. Sua guarda finalmente começando a baixar de verdade. Quando chegaram em casa, era quase hora do almoço.
Helena preparou uma refeição simples, mas gostosa, e as meninas ajudaram a pôr à mesa, todas conversando animadamente sobre a apresentação. Foi um momento de alegria simples, do tipo que Helena não experimentava há anos. Fernando chegou no meio da tarde, como tinha prometido. Desceu da carroça carregando algumas sacolas e ferramentas novas, mas parou quando viu o cartaz de Sofia pendurado com orgulho na parede da sala. “O que é isso?”, ele perguntou.
Sofia correu até ele, animação brilhando em seus olhos. “É o meu projeto da escola, pai. Tive apresentação hoje e Helena levou todas as meninas para assistir. Ela caminhou os 5 quetros com elas, só para eu não apresentar sozinha. Fernando olhou de Sofia para Helena, algo indecifrável em sua expressão. Você fez isso? Helena assentiu.
Era importante para ela. Fernando colocou as sacolas no chão e caminhou até onde Helena estava. Por um momento, pareceu que ele ia dizer algo, mas apenas balançou a cabeça, um pequeno sorriso tocando seus lábios. Obrigado. Isso significa muito para Sofia e para mim. Naquela noite, depois que as meninas foram dormir, Fernando novamente ficou na cozinha enquanto Helena terminava de organizar as coisas para o dia seguinte. “Fui ao banco hoje”, ele disse de repente sua voz pesada. “As coisas não estão boas. A
colheita do ano passado foi fraca e os preços dos insumos subiram. Estou com dívidas que estão começando a apertar. Helena se virou para encará-lo. Preocupação visível em seu rosto. É sério? Ainda não é desesperador, mas pode ficar se eu não fizer algo. O gerente sugeriu que eu vendesse parte das terras, mas essa fazenda está na minha família há três gerações.
Não consigo imaginar vender pedaços dela. Deve haver outra solução. É o que espero. Fernando suspirou, passando a mão pelo rosto cansado. Mas não sei qual. Já trabalho o máximo que consigo. Não tem mais horas no dia. Helena pensou por um momento. Havia algo se formando em sua mente, uma ideia que talvez pudesse ajudar.
E se diversificássemos? Ela sugeriu. Não depender apenas da plantação principal. Tem aquela horta que estamos recuperando. Poderíamos plantar mais, vender legumes no mercado da cidade. Posso fazer conservas, geleias, coisas que as pessoas compram. Fernando a olhou com renovada atenção. Você sabe fazer essas coisas? Aprendi com minha mãe quando era criança e tenho visto receitas ao longo dos anos.
Posso tentar. Seria renda extra, ele disse, começando a considerar a ideia. Não muito, mas ajudaria. E você estaria disposta a fazer isso? Não é parte do seu trabalho original. Esta fazenda está se tornando minha casa também. Helena disse: “Quero vê-la prosperar tanto quanto você”. Fernando se levantou e caminhou até onde ela estava. Dessa vez não manteve a distância.
Ficou bem perto, seus olhos fixos nos dela. “Você é notável”, ele disse baixinho. “Chega aqui sem nada e em poucas semanas está mudando tudo, as meninas, a casa e agora tentando salvar a fazenda também.” Não estou fazendo nada extraordinário”, Helena protestou, seu coração acelerando com a proximidade dele, apenas fazendo o que precisa ser feito. Isso é exatamente o que torna você extraordinária.
Por um momento, Helena pensou que ele fosse beijá-la. A tensão no ar era palpável, a atração entre eles tão óbvia que seria impossível negá-la. Mas Fernando, sempre respeitoso, sempre cuidadoso, deu um passo para trás. Boa noite, Helena, e obrigado por tudo. Boa noite. Depois que ele saiu, Helena ficou parada na cozinha, seu coração ainda batendo rápido.
Estava se apaixonando por Fernando Almeida e isso estava ficando claro. Mas o que fazer com esse sentimento? Ele era seu empregador, um homem viúvo, tecnicamente separado, com cinco filhas. Ela era uma empregada sem família, sem raízes. Não era uma situação simples, mas talvez como ela estava aprendendo naquela casa cheia de histórias complicadas, amor nunca foi simples.
E talvez isso estivesse tudo bem. Os dias seguintes foram marcados por uma energia renovada. Helena e as meninas começaram a trabalhar seriamente na horta, expandindo-a, plantando mais variedades. Fernando construiu prateleiras em uma área sombreada do Alpendre para Helena fazer e armazenar suas conservas. A casa começou a cheirar constantemente a frutas cozinhando vinagre e especiarias.
Foi durante uma dessas sessões de fazer geleia que Helena teve sua primeira interação real com a comunidade, além de dona Margarida. Uma mulher mais jovem, talvez da idade de Helena, apareceu na fazenda trazendo uma carta. Sou Luciana. Ela se apresentou com um sorriso amigável. Moro na fazenda ao sul.
Dona Margarida me pediu para trazer isso. É a resposta do pedido de sementes que vocês fizeram. Helena convidou-a para entrar, oferecendo café e biscoitos, e Luciana aceitou, seus olhos curiosos observando tudo. “Então você é a famosa Helena”, ela disse com um sorriso que não tinha malícia. “Dona Margarida não para de falar de você.
” Imagino que não sejam coisas boas”, Helena disse com um pequeno sorriso irônico. “Ela é assim com todo mundo novo, Luciana garantiu. Mas posso ver que você está fazendo um bom trabalho. A casa está bonita, as meninas parecem felizes, é tudo que importa”. Foi o começo de uma amizade que Helena não sabia que precisava.
Luciana começou a visitá-la regularmente, trazendo notícias da comunidade, oferecendo ajuda com as conservas, ensinando truques que tinha aprendido. Era bom ter outra mulher para conversar, alguém que entendia os desafios únicos de viver e trabalhar em uma fazenda. “Posso te fazer uma pergunta pessoal?”, Luciana disse um dia enquanto ajudava Helena a embalar potes de geleia de morango. “Você e Fernando, há algo mais ali?” Helena sentiu suas bochechas esquentarem.
Somos apenas empregador e empregada. Helena, eu tenho olhos. Luciana riu. A forma como ele olha para você não é como alguém olha para uma empregada e a forma como você olha para ele também não. É complicado. Helena admitiu. Mesmo que haja algo e não estou dizendo que há, não seria apropriado.
Ele é meu chefe e tem cinco filhas para pensar. As filhas adoram você, Luciana apontou. Até Sofia, que nunca gostou de nenhuma das outras mulheres que vieram ajudar. E quanto a ser complicado? Bem, que relação não é. Meu marido e eu nos conhecemos quando eu trabalhava na fazenda dele como diarista. Todo mundo disse que não daria certo.
Estamos juntos há 8 anos agora. Helena ficou em silêncio, processando aquilo. Talvez não fosse tão impossível quanto pensava. Mas então, numa manhã de sábado, tudo mudou. Helena estava no quintal estendendo roupas quando ouviu o som de cascos de cavalo se aproximando. Virou-se esperando ver Fernando, mas era um homem diferente, mais baixo que Fernando, com cabelos loiros quase brancos e um rosto que mostrava sinais de uma vida difícil.
Ele desceu do cavalo com movimentos desajeitados, claramente não acostumado a montar. “Você é a empregada?”, ele perguntou sem preâmbulos. “Sou Helena. Posso ajudá-lo? Sou Rodrigo Almeida, irmão de Fernando. Onde ele está? Helena sentiu algo apertar em seu estômago. Fernando havia mencionado um irmão apenas uma vez e não tinha sido com carinho. Está no campo.
Devo buscá-lo? Não se incomode, eu espero aqui. Rodrigo se sentou em uma das cadeiras do Alpendre sem ser convidado, seus olhos percorrendo a propriedade, com um olhar avaliador que fez Helena se sentir desconfortável. Ela foi até o campo buscar Fernando, encontrando-o consertando mais uma cerca.
“Seu irmão está aqui”, ela disse e viu o rosto de Fernando se fechar imediatamente. “Rodrigo, o que ele quer?” Não disse apenas que vai esperar você na casa. Fernando jogou o martelo no chão com mais força do que necessário. Ele só aparece quando quer algo. Vamos ver que problema ele trouxe dessa vez.
Quando voltaram, Rodrigo estava examinando uma das conservas de Helena, virando o pote nas mãos. Ainda tentando ganhar dinheiro extra com essas coisinhas? Ele perguntou, mais em tom de deboche que interesse genuíno. O que você quer, Rodrigo? Fernando perguntou, indo direto ao ponto. Não pode um irmão visitar o outro? Pode, mas você nunca faz isso sem razão. Então, qual é? Rodrigo suspirou, colocando o pote de volta na mesa.
Preciso de dinheiro. R$ 50.000. Fernando soltou uma risada sem humor. 50.000? De onde você acha que vou tirar isso? Você tem a fazenda. Pode vender algumas cabeças de gado ou um pedaço de terra. Não vou fazer isso. Você já sabe minha resposta. Fernando. A voz de Rodrigo ficou mais desesperada. Tenho dívidas.
Dívidas sérias. Se não pagar, pessoas perigosas vão vir cobrar. Dívidas de jogo novamente? Fernando perguntou sua voz dura. Quantas vezes vamos repetir essa história, Rodrigo? Desta vez é diferente. Não é só jogo. Eu investi em um negócio que deu errado. Prometios a pessoas que não aceitam desculpas. Fernando passou a mão pelo rosto, visivelmente cansado. Não tenho 50.000.
Mal tenho o suficiente para pagar minhas próprias contas. A fazenda está passando por dificuldades. Querido ouvinte, se você está gostando da história, aproveite para deixar o like e, principalmente se inscrever no canal. Isso ajuda muito a gente que está começando agora continuando.
Rodrigo olhou ao redor da propriedade, seus olhos calculistas. Então venda, venda a fazenda, divide o dinheiro comigo, já que metade deveria ser minha por direito. Nossa herança já foi dividida quando papai partiu. Fernando disse, a raiva crescendo em sua voz. Você escolheu pegar sua parte em dinheiro e ir para a cidade. Eu escolhi ficar com a terra.
Não pode voltar agora e pedir o que já foi seu. Mas eu sou seu irmão”, Rodrigo insistiu, levantando-se. “Sangue do seu sangue! Não vai me deixar nas mãos de pessoas perigosas, vai? O que você espera que eu faça?” Fernando explodiu. “Tenho cinco filhas para criar. Essa fazenda é o sustento delas. Não posso arriscar tudo por causa das suas escolhas erradas.” Rodrigo se aproximou, seu rosto ficando vermelho.
Sempre foi assim. você, o filho perfeito, o que ficou, o que assumiu responsabilidades, enquanto eu era o problema, o que nunca dava certo. Mas agora preciso de ajuda e você me vira às costas. Já te ajudei antes, Fernando disse, sua voz ficando perigosamente baixa. Três vezes já paguei suas dívidas.
Três vezes você prometeu mudar. E aqui está você novamente. Esta é a última vez. Juro, me ajuda dessa vez e nunca mais vou pedir nada. Fernando ficou em silêncio por um longo momento. Helena, que tinha observado tudo do alpendre, viu o conflito em seu rosto. Era seu irmão, apesar de tudo. Sangue chamava sangue, mesmo quando não deveria.
“Tenho 5000 guardados”, Fernando disse finalmente. “É tudo que posso te dar sem colocar minhas filhas em risco. Pega ou deixa”. Rodrigo parecia prestes a argumentar, mas então olhou para o rosto determinado de Fernando e assentiu. 5000 é melhor que nada, mas não vai resolver tudo. Então resolva o resto você mesmo.
Arranjar um emprego honesto seria um bom começo. Rodrigo bufou, mas não argumentou. Fernando entrou na casa e voltou minutos depois com um envelope. Entregou para o irmão com mãos que tremiam levemente de raiva contida. Essa é realmente a última vez, Rodrigo. Se voltar aqui pedindo mais, a resposta será não. Não importa o quanto você implore. Rodrigo pegou o envelope, contou o dinheiro rapidamente e assentiu. Entendi a mensagem.
Vou embora agora. Ele montou no cavalo e partiu sem um agradecimento ou despedida apropriada. Fernando ficou parado no meio do quintal. Seus ombros tensos, as mãos fechadas em punhos. Helena se aproximou devagar. Você fez a coisa certa. Fiz. Fernando se virou para ela, dor evidente em seus olhos.
Acabei de dar dinheiro que mal posso dispensar para um homem que provavelmente vai desperdiçar tudo novamente. Mas você estabeleceu limites e ficou firme neles. Às vezes é tudo que podemos fazer com as pessoas que amamos, mesmo quando elas não fazem as melhores escolhas. Fernando pareceu considerar aquilo. Então, para surpresa de Helena, ele puxou-a para um abraço. Foi rápido, quase desesperado.
o abraço de alguém que precisava saber que não estava completamente sozinho. Helena retribuiu sem hesitar, seus braços envolvendo aquele homem forte que carregava tanto peso nos ombros. “Obrigado”, ele murmurou contra seus cabelos. “Por estar aqui, por entender.” Eles se separaram quando ouviram Sofia chamando do alpendre, mas algo tinha mudado entre eles naquele abraço.
A linha entre empregadora e empregado tinha sido definitivamente cruzada. Entrando em território novo e desconhecido. Naquela noite, as meninas perceberam que o pai estava chateado, mas não sabiam o porquê. Helena manteve a conversa leve durante o jantar, distraindo-as com histórias engraçadas e perguntando sobre seus dias.
Foi só depois, quando as meninas mais novas já estavam dormindo, que Sofia puxou Helena de lado. “Foi o tio Rodrigo, não foi?”, ela perguntou. Eu vi ele chegando de longe. Ele veio pedir dinheiro de novo. Helena ficou surpresa com a percepção da menina. Você sabe sobre isso? Eu ouvi meus pais conversando algumas vezes antes da mamãe ir embora. O tio Rodrigo sempre estava em problemas, sempre precisando que o papai resolvesse as coisas.
Mamãe dizia que ele estava estragando a família, que papai precisava aprender a dizer não. Seu pai disse não hoje, Helena garantiu. Ele estabeleceu limites claros. É melhor tarde do que nunca, eu acho. Sofia disse com uma sabedoria além de seus anos. Papai é bom demais, sempre tentando salvar todo mundo, mesmo quando não pode.
Acho que isso é genético nesta família, Helena disse com um sorriso pequeno. Você também cuida de todo mundo, mesmo quando deveria estar apenas sendo criança. Sofia deu de ombros, mas havia um pequeno sorriso em seus lábios. Aprendi com o melhor. Nas semanas seguintes, a visita de Rodrigo pareceu assombrar Fernando.
Ele trabalhava ainda mais duro, como se tentasse compensar os R$ 5000 que tinha dado. Helena tentava ajudar onde podia, mantendo a casa em ordem, cuidando para que ele comesse direito, garantindo que, pelo menos em casa, ele tivesse paz. As conservas começaram a vender bem. Luciana tinha ajudado a espalhar a palavra e logo várias pessoas da comunidade estavam encomendando. Não era muito dinheiro, mas ajudava.
Cada real economizado era R que não precisava sair das apertadas finanças da fazenda. Foi durante uma dessas semanas ocupadas que algo aconteceu no mercado da cidade que mudaria tudo. Helena tinha ido fazer as compras semanais, levando consigo as conservas para vender para alguns clientes regulares. Estava no balcão da loja pagando pelos mantimentos quando ouviu dona Margarida falando alto, algumas prateleiras adiante.
“Não estou dizendo que ela roubou”, a voz da mulher carregava aquele tom de fofoca maliciosa. Estou apenas dizendo que é suspeito. Uma mulher aparece do nada, sem passado, sem referências, e, de repente está morando na casa de um homem viúvo com cinco filhas. E agora eles estão vendendo coisas.
De onde ela acha que temos certeza que o Fernando não está sendo manipulado? Helena sentiu o sangue ferver, mas antes que pudesse dizer qualquer coisa, outra voz se manifestou. Com todo respeito, dona Margarida, a senhora está falando de algo que não sabe. Era Luciana saindo de trás de uma prateleira com uma expressão determinada. Helena trabalha duro naquela fazenda.
As conservas que ela faz são dela, feitas com produtos que ela mesma cultiva. Não há nada suspeito nisso. Luciana, você ainda é jovem. Dona Margarida disse com condescendência. Não entende como as coisas funcionam. Essa mulher claramente tem suas garras fincadas no Fernando. É apenas questão de tempo até ela convencê-lo a casar com ela e então ela terá direito sobre tudo. Foi a gota d’água para Helena.
Ela deixou as compras no balcão e caminhou até onde as duas mulheres estavam. “Com licença”, ela disse, sua voz calma, mas firme. “Não posso evitar de ouvir vocês falando sobre mim. Dona Margarida teve a decência de parecer levemente envergonhada, mas rapidamente recuperou sua postura.
Estava apenas expressando minhas preocupações legítimas sobre assuntos que não são da sua conta. Helena interrompeu. Minha relação com a família Almeida é profissional e respeitosa. Trabalho lá como empregada doméstica, nada mais. Se a senhora tem problemas com isso, sugiro que os discuta diretamente comigo ou com o Fernando, não espalhando mentiras pela comunidade. Mentiras? Dona Margarida se endireitou ofendida.
Eu nunca A senhora ensinuou que eu manipulo o Fernando, que tenho segundas intenções. Helena continuou sem deixá-la terminar. Isso é mentira. Insinuou que minhas conservas vêm de origem duvidosa. Outra mentira. E se continuar espalhando essas mentiras, vou procurar o pároco e pedir que ele interceda. Calúnia é pecado, dona Margarida. ou já esqueceu.
A loja ficou em silêncio. Vários outros clientes tinham parado para assistir ao confronto. Dona Margarida abriu e fechou a boca várias vezes, claramente não esperando ser confrontada tão diretamente. Eu eu estava apenas fofocando. Luciana completou, cruzando os braços, como sempre faz.
Dona Margarida pegou suas compras e saiu da loja rapidamente, suas bochechas vermelhas de vergonha e raiva. Depois que ela se foi, Helena deixou escapar um longo suspiro. “Não acredito que fiz isso”, ela disse, suas mãos começando a tremer com a adrenalina. “Eu acredito”, Luciana, disse com um sorriso orgulhoso. Estava esperando para alguém colocar ela no seu lugar há anos.
“Bem-vinda à comunidade, Helena. Você passou no teste. Que teste? O teste de defender o que é seu. Agora todos vão respeitar você, mesmo que não gostem muito. É assim que funciona aqui. Helena não sabia se ria ou chorava.
Tinha acabado de criar uma inimiga em uma das mulheres mais influentes da comunidade, mas também tinha deixado claro que não seria pisoteada. Quando voltou para a fazenda, Fernando estava trabalhando no celeiro. Ela contou o que tinha acontecido, esperando que ele ficasse bravo ou preocupado. Mas, para sua surpresa, ele riu. Foi uma risada genuína, profunda, do tipo que ela raramente ouvia dele.
“Gostaria de ter visto a cara dela”, ele disse ainda rindo. “Ninguém enfrenta Margarida assim. Você é corajosa ou estúpida?”, Helena disse, “Ela pode tornar minha vida difícil aqui.” Deixa ela tentar, Fernando disse, ficando sério. “Você tem razão de defender sua reputação e tem meu apoio total. Qualquer um que tenha problema com você vai ter problema comigo.
” Havia algo protetor na forma como ele disse aquilo, algo que aqueceu o coração de Helena. E pela forma como ele a olhava, estava claro que seus sentimentos por ela iam muito além de gratidão por um trabalho bem feito. Fernando, Helena começou, mas não sabia como continuar, como expressar o que estava sentindo quando nem ela mesma tinha certeza do que era.
“Eu sei”, ele disse suavemente. “Eu também sinto, mas agora não é o momento certo. Tenho que resolver as questões da fazenda primeiro. garantir que podemos oferecer estabilidade. Você merece mais que incerteza. Era frustrante, mas ela entendia. E de certa forma o fato de ele querer esperar, querer fazer as coisas direito, mostrava o tipo de homem que ele era. “Então esperamos”, ela disse.
“Mas, Fernando, eu já decidi. Este é meu lugar agora. Não importa o que dona Margarida ou qualquer outra pessoa diga, não vou embora.” Ele a puxou para outro abraço, este mais longo, mais significativo. “Você não tem ideia do que isso significa para mim”, ele murmurou. “Do que significa para as meninas.
Eles foram interrompidos por Júlia, gritando do quintal, chamando por Helena, porque Ana tinha caído e ralado o joelho. O momento se quebrou, mas a promessa ficou pairando no arre. As semanas se tornaram meses e o verão foi dando lugar ao outono. A fazenda começou a mostrar sinais de melhora com os esforços combinados de todos. As conservas de Helena tinham se tornado tão populares que ela mal conseguia acompanhar a demanda.
Fernando tinha fechado alguns contratos bons para vender sua produção. As contas ainda estavam apertadas, mas não mais desesperadas. As meninas floresciam com a estabilidade. Ana e Júlia estavam mais alegres, brincando como crianças deveriam brincar. Beatriz e Carolina melhoraram na escola, tendo alguém em casa que as ajudava com as lições e mostrava interesse em seu progresso.
E Sofia? Sofia tinha finalmente baixado a guarda, não completamente, mas o suficiente para mostrar a menina doce e inteligente que se escondia sobela armadura. Mas a paz nunca dura para sempre. Foi numa tarde de sábado, quando a família estava reunida para almoçar, que ouviram a porta da frente se abrir. Todos olharam surpresos, porque ninguém esperava visitas.
E então uma figura apareceu na entrada da sala de jantar e o mundo de todos parou. Era uma mulher de cabelos loiros, magra demais, com olheiras profundas, mas seus olhos eram inegavelmente os mesmos olhos azuis de Sofia. A mãe das meninas tinha voltado. O prato que Sofia segurava caiu no chão, se estilhaçando em mil pedaços.
Beatriz começou a chorar silenciosamente. Carolina se encolheu na cadeira. Ana e Júlia se agarraram uma na outra, não entendendo completamente, mas sentindo atenção. Fernando se levantou tão rápido que sua cadeira virou. Clarice. Sua voz era apenas um sussurro chocado. A mulher deu um passo hesitante para dentro da sala. Oi, Fernando. Meninas, eu eu voltei.
Sofia foi a primeira a reagir. Ela se levantou, seu rosto pálido de choque, transformando-se lentamente em raiva. Voltou. Sua voz tremeu. Você vai embora por dois anos sem uma palavra, sem uma carta, sem ligar nenhuma vez, e simplesmente aparece dizendo que voltou. Sofia, eu sei que você está brava. Clarice começou, mas sua filha a interrompeu.
“Brava! Brava!”, Sofia gritou, lágrimas finalmente correndo por seu rosto. “Você nos abandonou.” Abandonou o papai quando ele mais precisava de você. Abandonou suas filhas e agora volta como se nada tivesse acontecido. “Sofia, por favor, me deixa explicar.” Clariss implorou, ela mesma, começando a chorar. Eu estava doente. Não da forma que vocês podiam ver, mas doente dentro.
Precisava me curar antes de poder voltar. Nós também precisávamos de você, Beatriz disse entre soluços. Mas você escolheu você mesma em vez da gente. Fernando finalmente encontrou sua voz, embora ela saísse rouca e cheia de dor. O que você está fazendo aqui, Clarice? Vim buscar minhas filhas, ela disse e todos congelaram.
O quê? Fernando mal conseguiu pronunciar a palavra. Estou melhor agora. Tenho um apartamento pequeno na cidade, um emprego. Posso cuidar delas? Quero cuidar delas. São minhas filhas. Você perdeu o direito de chamá-las de suas quando foi embora. Fernando disse, sua voz crescendo em volume e raiva. Eu criei essas meninas sozinho por dois anos. sozinho. Você não pode simplesmente aparecer e levá-las.
Posso sim. Sou a mãe delas. Tenho direitos. Direitos? Fernando soltou uma risada amarga. Você abandonou sua família. Partiu sem olhar para trás e agora fala de direitos. Foi nesse momento que Sofia entrou no meio da discussão. Sua voz clara e firme, apesar das lágrimas. Nós não queremos ir com você. Clarsa olhou choque e dor em seu rosto. Sofia, você não entende.
Eu estava doente. Tudo estava escuro. Não conseguia ser a mãe que vocês mereciam. Então fui buscar ajuda. Por dois anos? Carolina perguntou sua voz pequena. Você precisou de dois anos para ficar melhor. Foi difícil, Clarice tentou explicar, mas agora estou pronta para ser sua mãe novamente.
Mas você não é mais, Ana disse, surpreendendo a todos. Mesmo sendo pequena, ela tinha entendido algo fundamental. A Helena é quem cuida da gente agora. Todos os olhos se viraram para Helena, que tinha ficado congelada na sua cadeira durante toda a discussão. Clarice anotou pela primeira vez seus olhos se estreitando. “Quem é você?” “Sou Helena Carvalho.
” Helena respondeu, mantendo a voz firme, apesar do coração disparado. “Trabalho aqui como empregada doméstica e cuido das meninas.” “Ela é mais que isso,”, Sofia disse ferozmente. “Ela está aqui quando você não estava. Ela cuida da gente, cozinha para a gente, nos ajuda com a lição.
Ela veio na minha apresentação da escola quando papai não pôde. Ela, a voz de Sofia quebrou, lágrimas correndo livremente agora. Ela ficou, o silêncio que se seguiu foi pesado e doloroso. Clariss olhava de uma filha para outra, vendo claramente o que tinha perdido, o que uma estranha tinha ganho em seu lugar. “Vocês a chamam de mãe?”, Clarice perguntou sua voz quebrando. Não.
Beatriz respondeu honestamente. Mas ela é mais mãe para a gente do que você foi nos últimos dois anos. Aquilo pareceu quebrar algo em Clarice. Ela se virou para Fernando, ignorando Helena completamente. Precisamos conversar. A sós é sobre o futuro das meninas. Fernando hesitou, mas então assentiu. Ele olhou para Helena.
Pode levar as meninas para fora dar uma volta. Helena assentiu, reunindo rapidamente as cinco meninas. Elas não queriam ir, queriam ficar e lutar, mas ela as guientilmente para o quintal e depois para o campo, longe da casa. “Ela vai nos levar embora?”, Júlia perguntou o seu lábio inferior tremendo. “Não quero ir. Quero ficar aqui com você e papai.
Seu pai não vai deixar nada acontecer com vocês”, Helena disse, tentando manter a confiança na voz. Ele ama muito vocês, mas ela é nossa mãe. Carolina disse. Ela pode nos levar, não pode? Helena não tinha resposta para isso. Legalmente não sabia quais eram os direitos de Clarice.
Moralmente, a mulher tinha abandonado as filhas, mas o sistema não sempre funcionava de forma justa. Ficaram lá fora por quase uma hora, as meninas alternando entre silêncio pesado e perguntas ansiosas. Helena fez o melhor que pôde para acalmá-las. Mas seu próprio coração estava em tumulto. E se Clarice levasse as meninas? E se ela voltasse e destruísse tudo que tinham construído? E uma pergunta mais egoísta que ela tentava não admitir.
E se ela perdesse não apenas as meninas, mas também Fernando? Finalmente viram Clarice sair da casa e ir até uma carroça velha que estava estacionada na frente. Ela não olhou para trás ao partir. As meninas correram para casa, encontrando Fernando sentado à mesa da cozinha, seu rosto nas mãos. Papai. Sofia se aproximou hesitante.
O que aconteceu? Fernando levantou o rosto e Helena viu que ele tinha chorado, mas havia também determinação em seus olhos. Ela está me processando. Vai entrar com um pedido legal para ter a guarda de vocês. O grito coletivo de angústia das meninas foi de partir o coração. Sofia abraçou o pai, seguida pelas outras.
Elas se amontoaram ao redor dele, uma família desesperada tentando se manter unida contra uma ameaça externa. Helena ficou parada um pouco afastada, sem saber qual era seu lugar naquele momento. Mas então, Ana esticou a mão na direção dela. Helena, vem. Você é parte da família também. Helena se juntou ao abraço coletivo, suas próprias lágrimas finalmente caindo.
Esta família tinha se tornado dela também, de uma forma que ela nunca imaginou ser possível. E a ideia de perdê-los era mais dolorosa do que qualquer coisa que já tinha sentido. Naquela noite, depois que as meninas finalmente foram para a cama, exaustas de tanto chorar, Fernando e Helena ficaram sentados à mesa da cozinha. O advogado que ela tem é bom.
Fernando disse sua voz cansada. Disse que ela tem um caso, que uma mãe que busca ajuda e volta arrependida merece uma segunda chance. E você, você não tem voz nisso? Tenho. Mas no final pode acabar sendo decidido por um juiz. E juízes costumam favorecer as mães, mesmo quando não deveriam. Helena pegou a mão dele sobre a mesa, apertando-a. Vamos lutar.
Há provas de abandono. Há testemunhas de como você criou essas meninas sozinho. As próprias meninas podem testemunhar que querem ficar com você. Não quero colocar elas nessa posição Fernando disse, apertando a mão dela de volta. Não quero que tenham que escolher entre os pais em um tribunal. Mas elas já escolheram. Helena apontou.
Viram hoje? Elas já fizeram sua escolha. Fernando ficou em silêncio processando aquilo. Então olhou para Helena com uma intensidade que fez o coração dela pular. E você? Você também vai ficar. Mesmo que isso signifique entrar no meio de uma batalha feia de guarda, mesmo que possa ficar complicado e doloroso. Helena não hesitou nem por um segundo. Não vou a lugar nenhum.
Estas meninas são minhas também agora. Não em papel, não legalmente, mas no coração. E vou lutar por elas tanto quanto você. Fernando se levantou e puxou Helena para um abraço apertado. Eles ficaram assim por um longo tempo, dois adultos cansados, se apoiando um no outro, sabendo que a batalha estava apenas começando. Os dias seguintes foram tensos.
Um envelope chegou com a notificação formal do processo. Helena acompanhou Fernando até a cidade para encontrar um advogado. Gastaram dinheiro que mal tinham para contratar alguém, mas não havia escolha. O advogado, Dr. Tavares, era um homem mais velho, com cabelos grisalhos e uma expressão séria que inspirava confiança. “Precisamos construir um caso forte”, ele explicou.
mostrar que vocês proporcionam um ambiente estável e amoroso para as crianças, que elas estão felizes, saudáveis, bem cuidadas e que a partida dela causou dano real e duradouro. Isso não vai machucá-las ainda mais? Fernando perguntou. Ter que reviver tudo isso? Pode, mas é necessário. Dr. Tavares disse gentilmente. A verdade precisa ser contada, por mais dolorosa que seja. Durante asan seguintes, Dr.
Tavares trabalhou no caso, coletando depoimentos de vizinhos, conversando com as professoras das meninas, documentando tudo. Dona Margarida, surpreendentemente, deu um depoimento favorável a Fernando, admitindo que ele tinha feito um trabalho admirável criando as meninas sozinho. Até mesmo ela, com todas as suas fofocas e desconfianças sobre Helena, não podia negar que as crianças estavam melhor agora do que tinham estado em anos.
Luciana também testemunhou falando sobre como tinha visto a transformação na casa, como as meninas estavam florescendo com a estabilidade e o cuidado que recebiam. Mas foi Sofia que insistiu em escrever sua própria carta para o juiz. Ela tinha quase 11 anos agora, velha o suficiente para suas palavras terem peso.
Ela escreveu sobre como tinha sido cuidar das irmãs mais novas quando ainda era criança ela mesma, sobre as noites que passou acordada, porque seu pai estava exausto demais para ouvir Júlia chorando, sobre como tinha aprendido a cozinhar aos 8 anos, porque alguém precisava fazer isso, sobre como Helena tinha chegado e lentamente permitido que ela voltasse a ser criança.
“Não estou dizendo que não amo minha mãe”, ela escreveu. “Mas amor não é suficiente”. Ela nos deixou quando mais precisávamos dela. Meu pai ficou mesmo quando estava difícil demais. Helena ficou mesmo sem nenhuma obrigação de fazer isso. Então eu escolho ficar com quem ficou comigo. A carta fez Fernando chorar quando ele a leu, fez Helena chorar e fez Dr.
Tavares dizer que aquilo poderia fazer toda a diferença no caso. Enquanto isso, a vida tinha que continuar. As meninas ainda iam para a escola. A fazenda ainda precisava de cuidados. Helena ainda fazia suas conservas, embora agora com menos entusiasmo, sua mente constantemente preocupada com o futuro incerto.
Foi durante uma dessas tardes de trabalho mecânico que Clarice apareceu novamente, desta vez sem aviso. Quando Fernando estava nos campos e as meninas estavam na escola, Helena a viu se aproximar da casa e saiu para o alpendre, posicionando-se de forma a bloquear a entrada. Posso ajudá-la?”, perguntou, mantendo a voz neutra.
Clarice parou alguns passos abaixo, olhando para Helena com uma mistura de ressentimento e curiosidade. “Você deve se sentir muito satisfeita consigo mesma”, ela disse. “Entrou na vida da minha família e tomou meu lugar.” “Não tomei o lugar de ninguém”, Helena respondeu calmamente. “Apenas preenchi o vazio que você deixou.” Clarice deu um passo para cima, sua voz ficando mais alta.
Você não entende o que passei. Estava tão deprimida que mal conseguia sair da cama. Olhar para minhas filhas me fazia sentir culpa porque sabia que não estava sendo uma boa mãe para elas. Precisava ir embora para me curar. Entendo que estava sofrendo Helena disse sem deixar sua posição. Mas suas filhas também sofreram e elas precisavam de você, doente ou não.
Elas precisavam que você pelo menos tentasse, que ficasse e lutasse por elas. Eu não podia, Clarice disse, lágrimas agora caindo. Eu simplesmente não podia. Então respeite que elas aprenderam a viver sem você. Helena disse suavemente, mas firmemente. Você não pode simplesmente voltar e esperar que tudo volte a ser como era. As pessoas seguem em frente.
A vida continua mesmo sem você. Elas são minhas filhas, Clarissa insistiu. Biologicamente sim. Mas ser mãe é mais que biologia. É estar presente nos dias difíceis, nos dias bons, nos dias comuns. É cozinhar o café da manhã quando você está exausta. é ajudar com lição de casa quando você mal consegue manter os olhos abertos.
É confortar pesadelos e secar lágrimas e aplaudir pequenas vitórias. Você não fez nada disso nos últimos dois anos. Então não venha aqui falar sobre direitos maternos. Clarice olhou para Helena com ódio e admiração misturados. Então sua expressão mudou para algo mais calculista.
Você está dormindo com ele? É isso? quer a fazenda, quer se tornar a nova esposa dele. Helena sentiu a raiva subir, mas manteve a calma. Minha relação com Fernando e com esta família não é da sua conta, mas já que perguntou: “Não, não estou dormindo com ele e não vim aqui por interesse em propriedade ou casamento. Vim porque precisava de trabalho e ele precisava de ajuda. Tudo mais cresceu naturalmente a partir daí.” Naturalmente, Clarice riu amargamente.
Você se apaixonou por um homem casado com cinco filhas. Muito conveniente. Tecnicamente você o abandonou. O casamento acabou no momento em que você saiu pela porta sem olhar para trás. Helena apontou. E sim, me importo com ele, me importo com as meninas, me importo com esta família e vou lutar ao lado deles para que vocês não destruam a vida que construíram aqui.
Clarice deu mais um passo, ficando cara a cara com Helena. O juiz vai ver através de você, vai ver que você é apenas uma oportunista que se aproveitou de um homem vulnerável e vai me dar a guarda das minhas filhas. Então que seja, Helena, disse, recusando-se a recuar. Se for isso que o juiz decidir, vamos respeitar. Mas até lá você não vai entrar nesta casa. Não vai perturbar essas meninas mais do que já fez.
Se tem algo a dizer, fale através do seu advogado. Clarice abriu a boca para responder, mas então ouviram o som de cavalos. Fernando estava voltando do campo, tendo visto a carroça de Clarice estacionada na frente da casa. Ele desceu do cavalo rapidamente e caminhou até elas.
Clarice, o que você está fazendo aqui? Ele perguntou sua voz tensa. Vim ver a mulher que roubou minha família, Clarice disse, mas sua bravata estava diminuindo na presença de Fernando. Ninguém roubou nada. Você abandonou. Há uma diferença enorme, Fernando disse. E já fomos instruídos pelos advogados a não termos contato direto. Então, preciso pedir que você vá embora. sempre você a defendendo. Clarice disse amargamente.
Mal esperei eu ir embora para trazer outra para meu lugar, foi? Ela chegou um ano e meio depois que você partiu, Fernando corrigiu. E não estava aqui para substituir você. Estava aqui para fazer um trabalho. Se se tornou mais que isso, foi porque permitimos que isso acontecesse naturalmente, através de respeito mútuo e cuidado real pelas meninas. O juiz vai saber disso. Clarice ameaçou.
Vai saber que você já substituiu a mãe delas. Não me importo com o que o juiz sabe ou não sabe, Fernando disse, sua paciência claramente esgotada. A verdade é a verdade. Helena tem sido uma bênção para esta família. As meninas a amam. Eu eu também me importo com ela. Não vou pedir desculpas por isso.
Era a primeira vez que Fernando admitia em voz alta na frente de Clarice o que sentia por Helena. Helena sentiu seu coração apertar, tanto de alegria quanto de preocupação. Isso poderia complicar as coisas legalmente? Clarice olhou entre os dois e algo em seu rosto se quebrou. As lágrimas que tinham estado ameaçando finalmente caíram completamente. “Você nunca me olhou assim”, ela sussurrou para Fernando. “Nunca me defendeu assim.
Você nunca precisou de defesa”, Fernando respondeu sua voz suavizando um pouco. Você sempre foi forte, sempre soube o que queria. Até o dia em que aparentemente decidiu que o que queria não era mais ser parte desta família. Eu não escolhi ficar doente”, Clarissa implorou. “Não escolhi me sentir daquela forma.” “Mas escolheu ir embora em vez de ficar e lutar.
” Fernando disse. Escolheu não procurar ajuda aqui comigo, com pessoas que poderiam terte apoiado. Escolheu desaparecer sem uma palavra. “Porque tinha vergonha.” Clarice admitiu pela primeira vez. “Vergonha de não conseguir ser a mãe perfeita. Vergonha de olhar para minhas filhas e sentir vazio em vez de amor. Vergonha de ser um fracasso.
Houve um longo silêncio. Helena sentiu uma pontada de compaixão pela mulher, entendendo agora um pouco mais da luta interna que ela tinha enfrentado. Mas compaixão não mudava o fato de que as meninas tinham sido feridas, que tinham tido que crescer rápido demais, que tinham perdido anos preciosos de infância.
Entendo que estava lutando, Fernando disse finalmente, e parte de mim sente pena do que você passou, mas a parte maior de mim, a parte que é pai, não pode perdoar o que você fez com nossas filhas. O abandono marca Clarice, e não importa quão boas sejam suas razões, o dano foi feito. Mas posso consertar, Clarissa insistiu.
Posso ser melhor agora? Talvez possa, Fernando disse, mas não aqui, não desta forma. Se você realmente se importa com as meninas, vai deixá-las em paz. Vai deixá-las ficarem onde estão felizes e seguras. E talvez, com o tempo, quando estiverem prontas, elas venham até você. Mas tem que ser escolha delas, não ordem de um juiz. Clarice sacudiu a cabeça, recuando.
Não posso fazer isso. Não posso apenas desistir delas. Então vejo você no tribunal”, Fernando disse, sua voz finalmente ficando fria. “Mas saiba que vai estar lutando contra não apenas mim, mas contra as próprias meninas, contra o que elas querem. E um dia elas vão te culpar por isso.
Clarice não respondeu, apenas voltou para sua carroça e partiu, deixando uma nuvem de poeira atrás dela. Depois que ela se foi, Fernando se virou para Helena, puxando-a para um abraço. “Obrigado por defendê-la quando eu não estava aqui”, ele disse. “Sei que não foi fácil.” “Nada disso é fácil”, Helena, admitiu, encostando a cabeça em seu peito. “Mas vale a pena. Vocês valem a pena.
Eles ficaram assim por um longo momento, dois adultos segurando um ao outro em meio à tempestade, tentando encontrar força para continuar lutando. As semanas até a audiência foram as mais difíceis. As meninas sabiam o que estava acontecendo, é claro. Não havia como esconder delas. Sofia tinha pesadelos constantes. Beatriz começou a ter problemas na escola. Carolina ficou mais quieta, guardando tudo para si.
Ana começou a chupar o dedo novamente, um hábito que tinha superado há anos. E Júlia, Júlia se recusava a deixar Helena fora de sua vista, seguindo-a por toda a casa, com medo de que ela também fosse embora. Não vou sair. Helena garantia todas as noites quando colocava a menina para dormir. Prometo que vou ficar.
Mamãe também prometeu. Júlia sussurrava. E ela foi embora. Não havia resposta boa para aquilo. Tudo que Helena podia fazer era continuar demonstrando sua presença, continuar estando lá, continuar provando através de ações que suas palavras eram verdadeiras. Durante esse tempo, algo inesperado aconteceu.
A comunidade, que tinha estado tão dividida sobre Helena no começo, se uniu em apoio à família. Dona Margarida organizou uma vaquinha para ajudar com os custos legais. Luciana e outras mulheres começaram a trazer comida, permitindo que Helena tivesse mais tempo para cuidar das meninas emocionalmente afetadas. O padre Antônio visitou a família, oferecendo orações e apoio moral.
Foi reconfortante ver como quando importava a comunidade pequena se unia. Finalmente chegou o dia da audiência. Era uma manhã clara de outono, o ar fresco carregando a promessa de mudanças. Fernando vestiu seu melhor terno, o mesmo que tinha usado no casamento anos atrás. Helena vestiu um vestido simples, mas digno, que Luciana tinha emprestado.
As meninas ficaram com Luciana, embora Sofia tivesse implorado para ir. “Não quero que você veja isso, Fernando” disse para a filha. “Não quero que você tenha que estar lá quando discutirmos coisas difíceis sobre sua mãe e sobre nossa família.” Mas eu posso ajudar, Sofia insistiu. Posso contar ao juiz o que realmente aconteceu. Você já ajudou. Com sua carta foi mais do que suficiente.
Sofia abraçou o pai com força e então, para a surpresa de Helena, também a abraçou. “Traga papai de volta”, ela sussurrou. “traga ele de volta para nós. O tribunal era um prédio antigo no centro da cidade, com corredores que ecoavam e uma atmosfera que pesava sobre todos que entravam”.
Helena e Fernando encontraram Dr. Tavares do lado de fora da sala de audiências. Ele parecia confiante, mas Helena viu a preocupação em seus olhos. Sejam honestos, sejam vocês mesmos”, ele instruiu. “O juiz vai querer ver que vocês estão agindo no melhor interesse das crianças, não por vingança ou mágoa.
” Quando entraram na sala, Clarice já estava lá com seu advogado, um homem jovem de terno caro, que parecia muito confiante. Clarice olhou diretamente para Fernando, seus olhos implorando por compreensão, mas ele desviou o olhar, sentando-se ao lado de Dr. Tavares. Helena sentou-se atrás deles na área do público, não sendo parte oficial do processo, mas querendo estar lá para dar apoio.
Várias outras pessoas da comunidade também tinham vindo. Luciana, dona Margarida, o padre Antônio, até mesmo seu Benedito, o vizinho. O juiz entrou, um homem de meia idade, com cabelos grisalhos e uma expressão séria, mas justa. Todos se levantaram e então sentaram novamente quando ele indicou. A audiência começou com o advogado de Clarice, apresentando o caso dela.
Ele falou eloquentemente sobre doença mental, sobre a coragem que tinha tomado para Clarice buscar ajuda, sobre como ela estava agora em um lugar melhor e pronta para retomar seu papel como mãe. “Minha cliente ama suas filhas,” o advogado disse.
“E um momento de crise não deveria ser motivo para perder permanentemente o direito de criar suas próprias crianças.” Então, Dr. Tavares apresentou o caso de Fernando. Ele mostrou evidências de como as meninas tinham prosperado nos últimos dois anos sob. Apresentou depoimentos de professores, vizinhos, membros da comunidade. Mostrou fotos das meninas agora comparadas com fotos de dois anos atrás.
A diferença visível em seus rostos, de crianças tensas e tristes para crianças relaxadas e felizes. “O que meu cliente pede”, Dr. Tavares concluiu, “É que o status quo seja mantido. As crianças estão estáveis, felizes, prosperando. Mudá-las agora seria traumático e desnecessário.” Então, começaram os depoimentos. Clarice foi chamada primeiro.
Ela falou sobre sua luta com depressão pós-parto, que nunca tinha sido tratada adequadamente, sobre como cada gravidez tinha tornado mais difícil, até que após Júlia ela tinha chegado em um ponto de ruptura. Olhava para minhas filhas e não sentia nada, ela admitiu, lágrimas correndo por seu rosto. E isso me assustava tanto que eu mal conseguia funcionar. Achava que elas estariam melhor sem uma mãe que não conseguia amá-las do jeito que mereciam. Foi doloroso de ouvir.
Helena viu Fernando apertar as mãos em punhos, lutando para não demonstrar emoção. Mas agora o advogado de Clarice perguntou como se sente agora. Agora recebo tratamento adequado, tomo medicação que ajuda, faço terapia duas vezes por semana e sinto que posso finalmente ser a mãe que elas sempre mereceram. Então foi a vez de Fernando.
Ele falou sobre os dois anos após a partida de Clarice, sobre como tinha sido difícil, mas gratificante, sobre ver suas filhas gradualmente se curando, voltando a confiar, voltando a sorrir. “Não estou dizendo que foi fácil”, ele disse. Houve noites que eu não sabia se conseguiria continuar, mas olhava para minhas filhas e sabia que tinha que continuar por elas, porque alguém tinha que ficar.
O advogado de Clarice tentou atacar, sugerindo que Fernando tinha movido muito rápido ao trazer outra mulher para casa. Helena veio trabalhar aqui um ano e meio após minha esposa partir. Fernando respondeu calmamente. E ela tem sido uma influência positiva maravilhosa nas vidas de minhas filhas. Elas a amam, confiam nela.
E ela demonstrou mais compromisso com esta família em alguns meses do que do que foi demonstrado em anos. Foi um golpe direto em Clarice que se encolheu visualmente. Então, Dr. Tavares fez algo surpreendente. Ele pediu para ler a carta de Sofia em voz alta. O juiz assentiu, permitindo. A sala ficou em completo silêncio, enquanto o Dr. Tavares lia as palavras cuidadosamente escritas pela menina de 10 anos.
Cada frase era honesta, dolorosa e verdadeira. Quando chegou à parte onde Sofia descrevia ter que cozinhar para as irmãs aos 8 anos, porque não havia mais ninguém, Helena viu o juiz fazer uma anotação. Quando leu sobre como Sofia tinha finalmente podido voltar a ser criança depois que Helena chegou, viu Clarice cobrir o rosto com as mãos.
A carta terminava com palavras que ecoaram pela sala. Minha mãe nos deixou quando éramos pequenas demais para entender, mas agora entendemos que nossa escolha é ficar com quem nunca nos deixou. O silêncio após a leitura foi absoluto. Até o advogado de Clarice parecia abalado. O juiz limpou a garganta. Gostaria de fazer algumas perguntas diretamente, ele disse, olhando para Fernando.
Senor Almeida, qual é sua opinião sobre permitir que a senora Almeida tenha visitas regulares com as crianças? Fernando hesitou, escolhendo suas palavras cuidadosamente. Não me oponho a visitas, desde que sejam no melhor interesse das meninas, mas tem que ser no tempo delas quando estiverem prontas. Não pode ser forçado apenas porque um tribunal mandou.
E se eu ordenasse visitação supervisionada, começando com algumas horas por mês, gradualmente aumentando conforme as crianças se ajustam? Fernando considerou aquilo não era o que ele queria, mas também não era perder as meninas completamente. Poderia funcionar se for feito devagar e com sensibilidade. O juiz assentiu fazendo mais anotações. Então olhou para Clarice.
Senora Almeida, entendo que esteve doente, mas também vejo que suas filhas sofreram significativamente com sua ausência. Se eu permitisse visitas, você estaria disposta a fazer isso devagar. permitindo que elas estabelecessem o ritmo. Clarice limpou as lágrimas do rosto. Sim, Vossa Excelência. Só quero estar na vida delas novamente. Não importa como. O juiz fez mais anotações, depois olhou para ambos os advogados.
Vou analisar tudo que foi apresentado aqui. Minha decisão levará em conta não apenas os direitos parentais, mas principalmente o bem-estar das crianças envolvidas. Vou emitir minha decisão em duas semanas. Até lá, o arranjo atual permanece como está. A audiência foi encerrada.
Helena viu Fernando deixar escapar um longo suspiro de alívio. Duas semanas não era uma resposta, mas também não era uma perda imediata, era esperança. Do outro lado da sala, Clarice se levantou lentamente. Por um momento, parecia que ela ia se aproximar de Fernando, mas então apenas virou e saiu seu advogado a seguindo.
Do lado de fora do tribunal, o grupo de apoio o cercou. Dona Margarida abraçou Fernando, algo que surpreendeu a todos. “Você foi muito bem lá dentro”, ela disse. “Muito digno. Suas filhas teriam orgulho.” Padre Antônio ofereceu orações de esperança. Luciana abraçou Helena com força. “Vai dar tudo certo”, ela sussurrou. Tenho fé nisso.
No caminho de volta para casa, Fernando estava quieto, processando tudo que tinha acontecido. Helena sentou-se ao lado dele na carroça, suas mãos se tocando levemente. “O que você está pensando?”, ela perguntou. “Que parte de mim sente pena dela?” Ele admitiu. Realmente sente, mas a parte maior, a parte que é pai, ainda está com raiva, com raiva de que ela pôs as meninas nessa situação, de que elas tiveram que ouvir essas coisas no tribunal, mesmo não estando lá.
Sofia é forte, Helena disse. Todas elas são. Vão superar isso. Tas por sua causa Fernando disse, finalmente olhando para ela. Você as ajudou a ficarem fortes. Deu a elas algo que eu sozinho não conseguia dar. Dei o que pude, mas a força delas vem de você, Fernando. Você nunca desistiu. Mesmo nos dias mais difíceis, você ficou. Nós dois ficamos, ele corrigeu.
E vou ser grato por isso pelo resto da vida. Quando chegaram em casa, as cinco meninas correram para o quintal, Sofia liderando o caminho. Todas falavam ao mesmo tempo, perguntando o que tinha acontecido, se tinha acabado, se teriam que ir embora. Fernando as acalmou. explicando tudo em termos que elas pudessem entender.
“O juiz vai decidir em duas semanas”, ele disse. “Mas ele pareceu justo. Pareceu que realmente se importa com o que é melhor para vocês. E o que é melhor para nós é ficar aqui.” Sofia disse com firmeza. “comela, as outras meninas concordaram vigorosamente e Helena sentiu lágrimas picando seus olhos. Essas crianças tinham sofrido tanto e ainda assim tinham tanto amor para dar.
Aquela noite, Helena fez o jantar favorito de todos, tentando trazer alguma normalidade de volta. As meninas estavam mais animadas que tinham estado em semanas, como se a audiência tivesse sido um abesso doloroso que finalmente tinha sido drenado. Ainda machucava, mas agora podia começar a curar. Depois que as meninas foram dormir, Fernando pediu a Helena para caminhar com ele até a horta.
A lua estava cheia, banhando tudo em luz prateada. Os legumes que eles tinham plantado juntos estavam crescendo bem, promessa de colheitas futuras. Tem algo que preciso te dizer, Fernando começou e Helena sentiu seu coração acelerar. algo que deveria ter dito há muito tempo. Ele se virou para encará-la, pegando suas mãos nas dele.
Quando te encontrei naquela estrada, pensei que estava apenas oferecendo um trabalho, mas você entrou na minha vida e mudou tudo. Mudou esta casa, mudou minhas filhas, me mudou. E eu eu me apaixonei por você, Helena, completamente. Helena sentiu as lágrimas começarem a cair. Fernando, deixa eu terminar. Ele pediu. Sei que a situação é complicada.
Sei que tecnicamente ainda sou casado, mesmo que Clarice tenha nos abandonado. Sei que você veio aqui como empregada e que isso cria uma dinâmica de poder estranha, mas não consigo negar mais o que sinto. Te amo. E se você me aceitar depois que tudo isso se resolver, gostaria de fazer isso oficial. Gostaria de casar com você de verdade e construir uma vida juntos.
Helena mal podia acreditar no que estava ouvindo. Era tudo que ela queria, mas tinha medo de admitir até para si mesma. “Eu também te amo”, ela disse, sua voz tremendo. “Amo você e amo suas filhas. Esta família se tornou minha família. Este lugar se tornou meu lar”.
Fernando a puxou para um beijo suave e cheio de promessa. Quando se separaram, ambos estavam sorrindo, mesmo com lágrimas nos rostos. “Vamos esperar o juiz decidir”, Fernando disse. “Vamos resolver essa situação com Clarice de uma forma ou de outra. E então, se você ainda me quiser, vamos fazer isso direito, com cerimônia e tudo.
Vou te querer, Helena prometeu hoje, amanhã, sempre. As duas semanas seguintes passaram em uma névoa de ansiedade misturada com esperança. A vida na fazenda continuava, as tarefas diárias fornecendo uma estrutura necessária, mas todos sentiam o peso da decisão pendente, a incerteza do futuro. Foi numa tarde de quinta-feira que a carta chegou.
Fernando a abriu com mãos tremendo, Helena e as cinco meninas reunidas ao seu redor. Ele leu em silêncio primeiro, seu rosto impossível de decifrar. Então olhou para cima, lágrimas em seus olhos. “Ficamos”, ele disse, sua voz quebrando. “Ficamos com as meninas.” O grito coletivo de alegria foi ensurdecedor. As meninas pularam, abraçaram umas as outras, abraçaram Fernando, abraçaram Helena, Júlia chorava de felicidade, Ana ria. Beatriz e Carolina dançavam pela sala e Sofia.
Sofia simplesmente se agarrou ao pai, seu corpo sacudindo com soluços de puro alívio. Fernando leu a decisão em voz alta. O juiz tinha sido claro, considerando as circunstâncias do abandono, o tempo decorrido, os desejos expressos das próprias crianças e o ambiente estável e amoroso proporcionado pelo pai, a guarda permaneceria com Fernando.
No entanto, Clarice teria direito à visitas supervisionadas, começando com duas horas por mês, aumentando gradualmente se as visitas fossem positivas e as crianças demonstrassem disposição. “Isso significa que temos que ver ela?”, Carolina perguntou, sua voz pequena. “Apenas se quiserem, Fernando garantiu. O juiz deixou claro que a escolha é de vocês. Ninguém vai forçar vocês a nada.
Eu acho. Sofia começou hesitantemente. Eu acho que talvez um dia eu queira. Não agora, mas um dia, só para entender, para tentar perdoar. Não há pressa. Fernando disse, abraçando-a. Quando e se estiverem prontas, vamos lidar com isso juntos. Aquela noite foi de celebração. Helena fez um bolo especial que tinha guardado ingredientes para fazer.
Eles comeram no alpendre, observando o pô do sol pintar o céu de laranja e rosa. As meninas contaram piadas, riram, foram apenas crianças, sem o peso da incerteza sobre seus ombros. Mais tarde, muito mais tarde, depois que todos tinham ido dormir, Fernando e Helena ficaram sentados na cozinha, dividindo uma xícara de café.
Então, Fernando disse, um sorriso brincando em seus lábios. sobre aquela proposta que te fiz na horta. Helena sorriu, seu coração tão cheio que parecia que poderia explodir. Ainda está de pé. Mais do que nunca. Quero fazer isso direito, Helena.
Quero que você seja minha esposa, não apenas aos olhos de Deus e da comunidade, mas legalmente. Quero que as meninas tenham uma mãe novamente, uma de verdade, que escolheu estar aqui. Não preciso de papéis para ser mãe delas. Helena disse: “Já sou no coração.” Eu sei, mas quero dar isso a você de qualquer forma. Quando o divórcio de Clarice for finalizado, e será agora que ela perdeu a guarda, quero casar com você.
Um casamento de verdade com toda a comunidade presente. Sim, Helena disse simplesmente, sim, para tudo. Os meses seguintes foram de transformação. Clarice, para seu crédito, aceitou a decisão com mais graça do que esperavam. Ela pediu a primeira visita para acontecer três meses depois, dando as meninas tempo para processar tudo.
Quando finalmente aconteceu, foi no mercado da cidade, em um lugar público e seguro, com Fernando presente, mas mantendo distância. Sofia foi a única que aceitou ir naquela primeira vez. A visita durou exatamente duas horas e quando voltou, estava quieta, mas não perturbada. Foi estranho? Ela admitiu para Helena depois.
Ela parece diferente, mais calma, mais triste também. Pediu desculpas de verdade. Não sei se posso perdoar ainda, mas foi bom ouvir. Perdão leva tempo, Helena disse. Não há pressa. Ela perguntou sobre você, Sofia continuou. Queria saber como você era. Acho que está com ciúmes. Provavelmente está, Helena, admitiu. E não posso culpá-la. Ela perdeu algo precioso, mas não posso mudar isso.
Vocês são minhas meninas agora. Também somos Sofia concordou, abraçando Helena. E você é nossa mãe de coração. O divórcio foi finalizado seis meses após a decisão da guarda. Foi um processo doloroso, mas necessário, fechando oficialmente um capítulo que já tinha acabado há muito tempo.
Fernando assinou os papéis com mãos firmes, não com alegria, mas com resolução. Era o fim de uma era e o começo de outra. Duas semanas depois, numa manhã de primavera, quando as flores que Helena tinha plantado estavam em plena floração, Fernando a pediu em casamento oficialmente.
Ele se ajoelhou no meio da horta, no mesmo lugar onde tinham se beijado pela primeira vez, e ofereceu um anel simples, mas bonito, que tinha pertencido à sua avó. Helena Carvalho, você me daria a honra de se tornar minha esposa, de se tornar oficialmente mãe das minhas filhas, de construir uma vida comigo nesta fazenda, nesta família que construímos juntos?” “Sim”, Helena disse entre lágrimas felizes. “Mil vezes sim.
” As meninas que tinham estado escondidas atrás da cerca assistindo correram para abraçá-los. Era uma família estranha e remendada, mas verdadeira. E agora seria oficial. O casamento foi marcado para três meses depois, dando tempo para planejar adequadamente. A comunidade inteira se envolveu nos preparativos.
Dona Margarida, que tinha se tornado uma aliada inesperada, organizou um grupo de mulheres para decorar a igreja. Luciana ajudou Helena a escolher um vestido simples, mas lindo. As meninas foram escolhidas como damas de honra, cada uma com um vestido que Helena tinha costurado pessoalmente. “Nunca pensei que faria isso”, Helena disse a Luciana enquanto experimentava o vestido alguns dias antes do casamento.
“Casar, ter uma família? Achei que seria sempre sozinha.” “Mas não é”, Luciana, disse com um sorriso. “Você encontrou seu lugar. Seu lar, sua família. Encontrei. Helena, concordou, olhando para seu reflexo no espelho. A mulher que olhava de volta era tão diferente daquela que tinha estado sentada exausta naquela estrada há quase do anos.
Aquela mulher tinha estado perdida, sem esperança. Esta mulher sabia exatamente quem era e onde pertencia. O dia do casamento amanheceu claro e bonito, o céu azul sem uma única nuvem. A igreja estava cheia de gente da comunidade, todos vindo para testemunhar a união. Até alguns que tinham sido céticos sobre Helena no começo estavam lá, convencidos por suas ações ao longo dos meses.
Sofia ajudou Helena a se arrumar, seus dedos ábeis prendendo o vé simples. “Está linda”, a menina disse, lágrimas em seus olhos. “Mamãe Helena! Era a primeira vez que Sofia a chamava assim e Helena teve que lutar para não desmanchar a maquiagem leve que Luciana tinha aplicado. “Obrigada por me aceitar”, Helena disse, abraçando a menina, “Por dar uma chance a mim.
” “Obrigada por ficar”, Sofia respondeu. “Por não desistir de nós, mesmo quando foi difícil”. As outras meninas entraram então todas lindas em seus vestidos. Júlia pulava animada, mal conseguindo conter a excitação. Ana segurava o pequeno buquê de flores do campo que tinha colhido.
Beatriz e Carolina estavam radiantes, felizes por finalmente terem uma mãe novamente. A caminhada até a igreja foi curta, mas significativa. A cada passo, Helena sentia o peso de sua jornada, dos anos sozinha, do trabalho duro, da desconfiança e do julgamento, mas também sentia a leveza da aceitação, do amor encontrado, da família construída.
Quando as portas da igreja se abriram e ela viu Fernando esperando no altar, seu coração praticamente parou. Ele estava lindo no terno que tinha mandado fazer, especialmente para a ocasião, seu rosto radiante de felicidade. Ao lado dele estavam seu Benedito como padrinho e o padre Antônio pronto para oficiar. Helena caminhou pelo corredor com as cinco meninas ao seu redor, uma família entrando junta em uma nova fase.
Não era a noiva tradicional sendo entregue pelo pai. Era uma mulher escolhendo seu futuro, acompanhada pelas crianças que já amava como suas. Quando chegou ao altar, Fernando pegou sua mão, apertando-a suavemente. “Você está deslumbrante”, ele sussurrou. “Você também”, ela sussurrou de volta. A cerimônia foi simples, mas emocionante.
O padre Antônio falou sobre o amor que supera obstáculos, sobre famílias que se formam através de escolha e não apenas sangue, sobre a coragem de recomeçar. Quando chegou a hora dos votos, Fernando foi primeiro. Helena, você entrou na minha vida quando eu estava perdido. Trouxe luz para esta casa, amor para minhas filhas, esperança para meu coração. Prometo te amar.
te respeitar, te apoiar todos os dias da minha vida. Prometo construir um lar contigo, criar uma família contigo, envelhecer contigo. Você é meu presente quando eu mais precisava de um. Helena mal conseguia ver através das lágrimas quando chegou sua vez. Fernando, quando me encontrou naquela estrada, eu estava sem esperança, sem direção, sem lar.
Você me ofereceu não apenas trabalho, mas a chance de pertencer. E suas filhas me ensinaram a amar novamente, a confiar novamente. Prometo ser a melhor esposa e mãe que posso ser. Prometo ficar nos dias bons e nos difíceis. Prometo que esta família, nossa família, sempre será minha prioridade. Vocês são meu lar.
Quando o padre os declarou marido e mulher e Fernando a beijou, a igreja explodiu em aplausos e lágrimas felizes. As meninas os abraçaram, todas falando ao mesmo tempo, rindo e chorando. A festa foi realizada na própria fazenda, no quintal onde Helena tinha passado tanto tempo trabalhando.
Mesas foram montadas sob as árvores, decoradas com as flores da horta. A comida foi trazida pela comunidade inteira, cada família contribuindo com seus pratos. especiais. Havia música, dança, risadas. Dona Margarida se aproximou de Helena em determinado momento, seus olhos brilhando. “Estava errada sobre você”, ela admitiu.
“Pensei que era apenas mais uma oportunista, mas você provou que tem caráter, tem amor de verdade por esta família e por isso tenho que pedir desculpas.” “Não precisa,”, Helena disse, tocando o braço da mulher mais velha. Entendo sua preocupação. Você só queria proteger Fernando e as meninas. Mesmo assim, fui dura demais, mas está perdoada agora, aos olhos de todos. Bem-vinda à nossa comunidade, Helena Almeida.
O sobrenome ressoou de forma estranha, mas maravilhosa, Helena Almeida. Não mais sozinha, não mais sem família. Ela pertencia. À medida que a tarde se transformava em noite. Lanternas foram acesas. jogando uma luz suave sobre a celebração. Fernando pegou a mão de Helena e a levou para dançar, mesmo sem música adequada.
Eles se moveram lentamente, simplesmente segurando um ao outro. “Feliz?”, ele perguntou. “Mais do que jamais pensei ser possível”, ela respondeu honestamente. “Então somos dois. Eles dançaram até as estrelas aparecerem, cercados por família e amigos, por amor e aceitação. E quando finalmente a festa terminou e os convidados foram embora, quando as meninas finalmente foram dormir exaustas, mas felizes, Fernando e Helena ficaram no alpendre, olhando para a propriedade. “Lembra quando você estava naquela estrada?”, Fernando perguntou. Parece uma vida atrás. Era
uma vida atrás? Helena disse: “Eu era uma pessoa diferente, perdida, sozinha, sem esperança. E agora, agora sei exatamente quem sou. Sou sua esposa, sou mãe das nossas meninas, sou parte desta família, desta comunidade, deste lugar. Encontrei meu lar.” Fernando a puxou para um abraço, descansando o queixo no topo de sua cabeça.
Você salvou mais que a si mesma quando aceitou minha proposta naquele dia. Salvou a nós também, a mim e as meninas. Nos deu uma chance de ser uma família de novo. Nós nos salvamos mutuamente. Helena corrigiu. É isso que famílias fazem. Os meses se transformaram em anos e a vida na fazenda floresceu. As dívidas foram pagas lentamente, mas firmemente.
As conservas de Helena se tornaram famosas na região, vendendo em várias cidades. A fazenda se diversificou, plantando novas culturas, criando novos animais. Fernando trabalhou duro, mas não mais sozinho. Tinha Helena ao seu lado, verdadeira parceira em tudo. As meninas cresceram, cada uma desenvolvendo suas próprias personalidades e sonhos.
Sofia se tornou uma jovem mulher incrível, inteligente e compassiva, eventualmente indo para a universidade na cidade grande, mas voltando todo o fim de semana. Ela mantinha contato ocasional com Clarice, um relacionamento ainda frágil, mais existente. Beatriz descobriu o amor pela arte, passando horas desenhando os campos e animais da fazenda.
Carolina desenvolveu um talento natural para lidar com os animais, ajudando o pai com o gado. Ana se tornou uma leitora voraz, sempre com um livro na mão. E Júlia, a mais nova, cresceu sem memórias da época sem Helena, considerando a sua mãe em todos os sentidos da palavra. Três anos após o casamento, Helena descobriu que estava grávida.
Foi uma surpresa, já que ela tinha assumido que não poderia ter filhos após tantos anos. Mas lá estava ela, aos 33 anos, esperando o seu primeiro filho biológico. As meninas ficaram estasiadas com a notícia. Sofia, agora com 14 anos, imediatamente começou a fazer planos para ajudar com o bebê. “Vai ser metade irmão ou irmã”, ela disse. “Mas não importa, vai ser nosso, parte da família”.
O bebê nasceu numa manhã de inverno, um menino saudável que eles nomearam Miguel em homenagem ao santo padroeiro da cidade. As cinco meninas o adoraram imediatamente, cada uma querendo ajudar, querendo segurá-lo, querendo ser parte da vida dele. Helena olhava para sua família expandida com maravilhamento.
Seis filhos agora, uma fazenda próspera, um marido que a amava profundamente, uma comunidade que a aceitava completamente. Era mais do que ela jamais ousou sonhar. Às vezes ainda não acredito que tudo isso é real, ela confessou a Fernando numa noite, enquanto Miguel dormia tranquilamente em seu berço e as meninas estavam em seus quartos. É real, Fernando, garantiu, beijando sua testa.
tão real quanto aquele dia na estrada, tão real quanto a escolha que fizemos de construir isso juntos. Certo dia, cerca de 5 anos após o casamento, Clarice pediu para visitar a fazenda. Era uma mudança significativa das visitas controladas na cidade. Sofia, agora com 16 anos, foi quem levantou a sugestão.
“Acho que ela merece ver onde moramos”, Sofia disse. Ver como estamos bem. Talvez ajude ela a seguir em frente de verdade. Fernando olhou para Helena, deixando a decisão para ela. Helena pensou por um longo momento antes de a sentir. Está bem, mas só se todas concordarem. Todas as meninas concordaram curiosas sobre como seria ter sua mãe biológica em seu espaço.
Quando Clarice chegou numa tarde de sábado, a transformação na propriedade era innegável. A casa estava bem cuidada, pintada em cores alegres. A horta estava exuberante. O celeiro tinha sido reformado. Tudo falava de uma família trabalhadora e feliz. Clarice desceu de sua carroça, seus olhos percorrendo tudo com uma mistura de admiração e melancolia.
“Está lindo aqui”, ela disse suavemente. Helena saiu para recebê-la, estendendo a mão em um gesto de paz. Bem-vinda, as meninas estão ansiosas para te mostrar tudo. Foi estranho e desconfortável no começo. Clarice claramente não sabia como se portar, como interagir com as filhas que a recebiam educadamente, mas sem a intimidade que uma mãe esperaria.
Mas à medida que a tarde progredia, a tensão diminuía. As meninas mostraram seus quartos, seus projetos, suas conquistas. Sofia falou sobre seus planos de se tornar professora. Beatriz mostrou seus desenhos. Carolina apresentou os bezerros que tinha ajudado a nascer.
Ana leu em voz alta um poema que tinha escrito e Júlia, ainda pequena, mas corajosa, perguntou diretamente: “Você ainda é triste como era antes?” Clarice ajoelhou-se para ficar na altura da menina. Às vezes ainda fico triste, mas aprendi a lidar com isso. E ver vocês todas tão felizes e saudáveis me faz menos triste. Você sente falta de nós? Júlia continuou com a honestidade brutal das crianças.
Todos os dias, Clarice disse, lágrimas brilhando em seus olhos. Mas também fico feliz que vocês tenham tido a Helena e o papai para cuidar de vocês quando eu não conseguia fazer isso. Foi a primeira vez que Clarice reconheceu abertamente o papel de Helena e significou muito.
Quando chegou a hora do chá, elas se sentaram todas juntas no alpendre, uma reunião estranha, mas pacífica. Obrigada, Clarice disse para Helena em determinado momento, quando estavam um pouco afastadas das outras, por amar minhas filhas, por dar a elas o que eu não consegui. Não substituí você, Helena disse gentilmente. Apenas fiquei quando você não pudde.
Elas ainda têm espaço no coração para você. Se quiser esse espaço. Quero Clarice disse, não como mãe principal. Esse lugar é seu agora, mas como parte da vida delas. como alguém que se importa, mesmo tendo falhado terrivelmente. Foi um momento de cura, pequeno, mas significativo. Quando Clarice partiu naquela tarde, havia lágrimas, mas também sorrisos.
A ferida não estava completamente curada, talvez nunca estivesse, mas tinha começado a cicatrizar de verdade. Os anos continuaram passando, trazendo mudanças e crescimento. Sofia se formou no ensino médio com honras. Conseguiu uma bolsa para a universidade. No dia de sua formatura, ela fez um discurso que trouxe lágrimas aos olhos de todos. Família não é apenas sobre sangue, ela disse, sua voz clara e forte, é sobre quem fica quando os tempos ficam difíceis, quem te levanta quando você cai, quem acredita em você mesmo quando você não acredita em si mesmo. Eu tive a sorte de ter um pai que nunca desistiu e
uma mãe de coração que escolheu nos amar quando não tinha obrigação de fazer isso e por isso serei eternamente grata. Helena chorou abertamente, assim como Fernando. Era validação de tudo que tinham construído, de todas as escolhas difíceis, de todos os momentos de dúvida. Tinham feito certo por essas crianças.
Uma por uma, as meninas cresceram e começaram a seguir seus próprios caminhos, mas sempre voltavam para casa, para a fazenda, que era seu refúgio, para a família, que era sua âncora. E quando cada uma começou a ter seus próprios filhos, Helena se tornou avó, um papel que abraçou com todo seu coração.
Numa tarde tranquila, muitos anos após aquele dia na estrada, Helena e Fernando estavam sentados no alpendre, observando seus netos brincarem no quintal. Tinham ambos cabelos grisalhos agora, rugas que contavam histórias de anos vividos. Mas seus olhos ainda brilhavam com amor quando olhavam um para o outro. Algum arrependimento?”, Fernando perguntou, segurando a mão dela.
“Nenhum”, Helena respondeu sem hesitar. Nenhum único. Cada momento difícil valeu a pena para chegar aqui. Eu também, Fernando disse, embora às vezes me pergunte o que teria acontecido se não tivesse parado naquela estrada naquele dia. Mas você parou, Helena disse. E eu aceitei. E construímos isso juntos, uma vida, uma família, um lar.
Mais que isso, Fernando corrigiu. Construímos um legado. Olha para eles. Ele apontou para os netos brincando para suas filhas, agora adultas, conversando animadamente, para a fazenda que continuava próspera através de gerações. Era realmente um legado construído sobre amor, trabalho duro e a recusa de desistir.
“Você sabe o que eu penso?”, Helena disse depois de um momento. Penso que tudo acontece por uma razão. Eu precisava estar naquela estrada naquele dia. Você precisava passar por ali. Nossas vidas precisavam se entrelaçar dessa forma, porque juntos conseguimos criar algo que nenhum de nós poderia ter criado sozinho. Você sempre foi a poeta da família.
Fernando disse com um sorriso. Mas está certa. Fomos feitos para nos encontrar, para construir isso juntos. Sofia se aproximou com seu filho de três anos no colo. Mamãe, João quer que você conte aquela história sobre como você e papai se conheceram. Helena sorriu pegando o neto no colo. Ah, essa é a história. Está bem.
Era uma vez numa estrada empoeirada do interior uma mulher cansada, sentada sozinha. Ela tinha perdido tudo e não sabia para onde ir. Mas então apareceu um homem gentil em uma carroça com cinco meninas lindas e ele disse as palavras mágicas: “Você precisa de um teto e eu preciso de uma mãe para minhas filhas. Venha comigo.” E ela foi.
João disse animadamente, já conhecendo a história, mas adorando ouvi-la novamente. Sim, ela foi. E sabe o que descobriu? descobriu que às vezes quando perdemos tudo é porque precisamos fazer espaço para algo melhor. Para uma família verdadeira, para um amor verdadeiro, para um lar verdadeiro. Fernando observava Helena contar a história cercada por filhos e netos, e seu coração estava tão cheio que parecia que poderia transbordar. Esta mulher que ele tinha encontrado por acaso naquela estrada tinha se tornado tudo.
Sua parceira, sua confidente, sua melhor amiga, o amor de sua vida, mãe de suas filhas, avó de seus netos, coração de sua casa. Quando o sol começou a se pôr, pintando o céu com as mesmas cores daquele primeiro dia, a família se reuniu para jantar. A mesa grande que Fernando tinha construído anos atrás agora estava cercada por várias gerações.
Havia barulho, risadas, histórias sendo contadas, amor sendo compartilhado. Helena olhou ao redor da mesa e sentiu uma gratidão profunda por cada momento difícil que a tinha trazido até ali, por cada escolha que tinha feito, por cada dia que tinha decidido ficar quando poderia ter ido embora, porque tudo, absolutamente tudo, tinha valido a pena.
Aquela noite, quando finalmente ficaram sozinhos novamente, Fernando puxou Helena para um abraço. “Obrigado”, ele disse simplesmente: “Por quê?” “Por dizer sim naquela estrada, por ficar quando ficou difícil? por amar minhas filhas como suas, por me amar, apesar de todos os meus defeitos, por construir esta vida comigo, por tudo.
Obrigada a você, Helena, respondeu, por me encontrar quando eu estava perdida, por me dar uma família quando eu não tinha ninguém, por me mostrar que lar não é um lugar, é onde o amor está. E meu amor, meu coração, meu lar, sempre foi e sempre será aqui com você e com nossas meninas. Eles ficaram assim por um longo tempo.
Dois sobreviventes que tinham encontrado um no outro. Duas almas que tinham construído juntas algo lindo a partir das cinzas de suas vidas anteriores. A fazenda continuaria por gerações, passando de filho para filho, cada um adicionando suas próprias histórias à fundação que Fernando e Helena tinham estabelecido. E sempre, quando a família se reunisse, a história seria contada.
A história de como tudo começou numa estrada empoeirada, com uma proposta inesperada e uma decisão corajosa. A história de como o amor pode nascer da necessidade, como famílias podem se formar através de escolha e como às vezes perder tudo é o primeiro passo para encontrar tudo que você realmente precisa. Fim da história. Agora conte para nós o que achou dessa história.
Você acredita que Helena tomou a decisão certa ao aceitar a proposta daquele dia na estrada? Deixe sua opinião nos comentários com palavras sinceras. Se está gostando do nosso conteúdo, não esqueça de deixar seu like e, principalmente se inscrever no canal para não perder outras histórias emocionantes que preparamos para você. Sua companhia significa muito para nós.