A BEBÊ DA FAXINEIRA POBRE NÃO SE APROXIMAVA DE NINGUÉM… MAS SE AGARROU AO MILIONÁRIO…

Algumas pessoas acreditam que bebês não entendem nada, mas naquela noite uma criança provou o contrário. Enquanto o milionário Arthur Albuquerque gritava e discutia sobre dinheiro, ela tomou uma decisão que ninguém ali seria capaz de entender. E foi exatamente isso que mudou tudo.

Nossas histórias têm viajado longe. De onde você está assistindo hoje? Compartilhe com a gente nos comentários. Amanda olhou para o celular pela décima vez naquela noite. A mensagem do supervisor brilhava na tela. Preciso de você no turno da noite. Adicional noturno em dobro. Ela mordeu o lábio inferior, sabendo que aquele dinheiro era exatamente o que faltava para pagar o aluguel atrasado.

Mas havia um problema enorme. Bia. A bebê de um ano e meio dormia no sofá gasto da sala. Os cabelos em caixinhos espalhados no travesseiro velho. Amanda sentiu o peito apertar. Dona Marlene, a vizinha que sempre cuidava da pequena, tinha ligado mais cedo, dizendo que estava com febre alta. Não havia mais ninguém.

Não havia creche aberta às 9 da noite, não havia opção. “Meu Deus, o que eu faço?” Amanda sussurrou para si mesma, passando as mãos no rosto cansado. Ela pensou em recusar o turno, mas então lembrou do aviso de despejo pregado na porta três dias atrás. Lembrou da geladeira quase vazia.

Lembrou de como Bia chorava de fome quando o leite acabava antes do fim do mês. A decisão já estava tomada, mesmo que o medo apertasse seu estômago como uma mão fechada. Amanda pegou a mochila rosa da filha e começou a colocar fraldas, lenços umedecidos e o ursinho de pelúcia desbotado que Bia não largava para dormir. Suas mãos tremiam enquanto separava as coisas.

“Perdoa a mamãe, meu amor”, ela murmurou, observando o rostinho sereno da bebê. É só por hoje, eu prometo. Às 8:30 da noite, Amanda estava na entrada de serviço do imponente prédio da Albuquerque Holdings na Avenida Paulista. A chuva caía fraca, ensopando seu casaco. Bia estava enrolada em um cobertor dentro do canguru adaptado que Amanda carregava na frente do corpo, escondida sob o casaco largo que havia pegado o emprestado da vizinha.

O segurança da portaria de serviço, seu Osvaldo, mal olhou para ela. Boa noite, Amanda. Vai limpar o 20º andar hoje. Tá vazio. Reunião foi cancelada. Obrigada, seu Osvaldo. Ela respondeu aliviada. Prédio vazio significava menos risco de ser descoberta, mas seu Osvaldo estava errado.

Amanda entrou no elevador de serviço com Bia, ainda escondida, sentindo cada batida acelerada do próprio coração. O painel iluminado marcava os andares subindo. 10, 15, 18, 20. Quando as portas se abriram, ela praticamente correu para o banheiro de serviço, verificando se estava realmente sozinha. “Pronto, meu amor, agora a gente está segura.” Ela disse baixinho, tirando Bia do casaco.

A bebê abriu os olhinhos escuros, confusa com o ambiente estranho, mas não chorou. Bia era uma criança quieta, como se já soubesse que precisava ser assim para não dar trabalho. Amanda montou um cantinho improvisado no vestiário com cobertores, deixou água e biscoitos por perto e deu o ursinho para a filha segurar.

Bia bocejou, esfregando os olhinhos com as mãozinhas gordinhas. Mamãe vai trabalhar bem rapidinho, está bem? Você fica aqui quietinha, brincando. Se precisar de mim, é só chorar que eu venho correndo. Mas quando Amanda estava terminando de limpar o corredor principal, ouviu vozes masculinas vindo do elevador social.

Seu sangue gelou. Ela olhou para o relógio. 9:40 da noite. Quem estaria ali aquela hora? A reunião foi remarcada. Uma voz grave e fria ecoou pelo corredor. Todos na sala em 5 minutos. Temos um rombo de 2 milhões para resolver ainda hoje. Amanda reconheceu aquela voz dos comunicados internos da empresa.

Era Arthur Albuquerque o presidente, o homem que todos os funcionários temiam, o homem que nunca sorria, nunca cumprimentava ninguém e que despedia pessoas sem piscar. Ela precisava sair dali. Precisava pegar Bia e sumir antes que alguém a visse. Mas quando voltou correndo para o vestiário, encontrou a porta trancada por fora. Alguém da segurança deve ter passado e trancado sem saber que havia uma bebê lá dentro.

Não, não, não. Amanda puxou a maçaneta com desespero, mas a porta não se moveu. Do outro lado, ela conseguia ouvir Bia começando a choringar. A bebê estava acordando e ia perceber que estava sozinha. As vozes dos executivos se aproximavam.

Amanda estava encurralada entre a filha trancada e a reunião que aconteceria há poucos metros dali. Ela precisava de ajuda, mas quem a ajudaria? Quem não a denunciaria na mesma hora? Foi então que ela viu a porta da Copa se abrir e o rosto gentil de dona Cida aparecer, carregando uma bandeja com xícaras de café.

Amanda, o que houve, menina? Você está branca? E Amanda tomou a decisão mais arriscada da sua vida. Arthur Albuquerque entrou na sala de reuniões como uma tempestade silenciosa. Seu terno negro impecável contrastava com os rostos pálidos dos diretores que já o esperavam. “Boa noite”, ele disse, sem qualquer calor na voz.

Não era um cumprimento, era apenas um protocolo vazio. Ele colocou a pasta de couro sobre a mesa de Mógno e olhou para cada um dos presentes. Seis homens de meia idade, todos suando frio, mesmo com o ar condicionado ligado. Artur sabia o efeito que causava nas pessoas, não se importava.

“Alguém vai me explicar como dois milhões simplesmente desapareceram da conta da Holding?” Sua voz era baixa, mas cortante como vidro. O diretor financeiro Augusto limpou a garganta nervoso. Senr. Albuquerque, estamos investigando. Parece que houve uma série de transferências não autorizadas para uma conta fantasma. Suspeitamos que Eu não pedi suspeitas, pedi explicações. Artur o interrompeu. E cadê meu irmão? Roberto deveria estar aqui. Ele é o diretor de novos negócios.

Um silêncio pesado caiu sobre a sala. Os homens trocaram olhares desconfortáveis. Arthur sentiu a raiva crescer em seu peito. Ele já sabia a resposta antes mesmo de perguntar. Ele está envolvido nisso, não está, senhor? Nós não temos provas concretas ainda, mas as transferências começaram depois que seu irmão assumiu o departamento”, respondeu Augusto, a voz trêmula.

Arthur fechou os olhos por um momento, controlando a fúria que ameaçava explodir. Roberto, sempre Roberto, sempre o irmão irresponsável, sempre o problema que ele precisava resolver sempre a decepção que seus pais nunca quiseram enxergar. Chamem ele agora”, ordenou, sentando-se na cabeceira da mesa. Enquanto esperavam, Artur olhou pela janela para a avenida paulista lá embaixo, iluminada e chuvosa. Ele lembrou de quando tudo era diferente.

Quando ele chegava em casa, e uma vozinha gritava: “Papai!” Do outro lado da porta, quando havia risadas e abraços apertados e desenhos coloridos na geladeira. Mas fazia 5 anos que Clarinha não estava mais ali. 5 anos desde que a doença levou sua filha de apenas 4 anos.

5 anos desde que ele se transformou nesse homem vazio que olhava o reflexo na janela e mal se reconhecia. Senr. Albuquerque a voz de Augusto o trouxe de volta. Seu irmão está chegando. Roberto entrou na sala com aquele sorriso falso que sempre usava. O terno amarrotado e o cabelo desalinhado. Cheirava a whisky. Artur sentiu nojo. Irmãozão, que reunião surpresa é essa? Podia ter avisado.

Eu estava resolvendo uns negócios importantes. Roberto disse, jogando-se em uma cadeira de qualquer jeito. Sente direito, Arthur falou à voz gelada e me explica para onde foram R 2 milhões de reais da nossa empresa. O sorriso de Roberto vacilou por uma fração de segundo, mas ele se recuperou rápido. Do que você está falando? Eu não sei de nada disso.

Não minta para mim, Roberto. As transferências saíram da sua conta de acesso. Deve ser algum erro do sistema. Ou então alguém hackeou minha senha. Você sabe como é. Essas coisas acontecem. Roberto deu de ombros, sem qualquer remorço no rosto. Artur se levantou devagar, as mãos apoiadas na mesa. Todos na sala recuaram instintivamente.

Você acha que eu sou idiota? Você acha que eu não sei que você está mentindo? Cara, relaxa. É só dinheiro. A gente tem muito. Por que está fazendo esse escândalo todo? Roberto respondeu irritado. Porque não é o seu dinheiro. Porque você não trabalhou um único dia da sua vida por ele? Porque você é um Artur parou no meio da frase. Tinha ouvido algo. Um som baixinho, quase imperceptível. vinha da porta da Copa, parecia um bebê.

“Você ouviu isso?”, ele perguntou para Augusto. “Ouvi o qu, senhor?” Artur balançou a cabeça. Estava tão cansado que já começava a ouvir coisas. Voltou a atenção para o irmão. “Sabe o que mais me deixa com raiva, Roberto? Não é nem o dinheiro, é o fato de você nunca assumir responsabilidade por nada. Nunca.

Lembra daquela moça de uns meses atrás? A tal da golpista que você jurava que estava tentando te prender com uma gravidez falsa. Roberto revirou os olhos. A aquela Amanda alguma coisa. Era golpe, óbvio. Essas meninas pobres sempre tentam dar o golpe da barriga nos caras ricos. Eu não sou trouxa.

Você tem certeza disso? Porque ela entrou com pedido de pensão e você nem apareceu na audiência. Porque não tenho nada a ver com aquilo. Eu nem lembro direito dela. Foi uma vez só e ela estava tomando anticoncepcional. Me disse isso. Roberto se defendeu, mas havia algo de falso demais no seu tom. Arthur ia responder quando ouviu novamente. Agora tinha certeza.

Era mesmo um choro de bebê, abafado, mas inconfundível, vindo da Copa ao lado. E de repente a porta de serviço que conectava a Copa à sala de reuniões se abriu. 20 minutos antes, no corredor de serviço, Amanda segurava as mãos de dona Cida, como se fossem sua única salvação. Dona Cida, eu preciso muito da sua ajuda.

Eu sei que estou pedindo demais, mas eu não tenho mais ninguém. As palavras saíam atropeladas, desesperadas. A copeira de 60 anos olhou para Amanda com aqueles olhos bondosos que já tinham visto tanto da vida. Calma, minha filha. Respira e me conta direito o que está acontecendo. Amanda contou tudo.

Contou sobre o aluguel atrasado, sobre dona Marlene do escolha impossível que teve que fazer e então contou sobre Bia trancada no vestiário. Meu Deus do céu. Dona Cida levou a mão ao peito. Tem uma criança trancada ali? Eu sei que fiz errado. Eu sei, mas eu não tinha escolha e agora eu não consigo abrir a porta. E ela está começando a chorar.

E os chefes estão chegando e tá bom, tá bom. Vamos resolver isso. Dona Cida tirou um molho de chaves do bolso do avental. Eu tenho a chave mestra. Vem comigo. As duas correram até o vestiário. Quando dona Cida abriu a porta, Bia estava sentada no meio dos cobertores, o rostinho vermelho de tanto chorar em silêncio, as lágrimas escorrendo pelas bochechas gordinhas.

Mamãe! A bebê esticou os bracinhos. Amanda a pegou no colo tão rápido que quase tropeçou nos próprios pés, cobrindo o rosto da filha de beijos. Está tudo bem, meu amor? A mamãe está aqui. Desculpa, desculpa, desculpa. Bia soluçava baixinho, agarrada ao pescoço da mãe com força. Dona Cida observava a cena com os olhos marejados.

Ela mesma tinha sido mãe solo uma vez. Sabia exatamente o que era aquele desespero. Amanda, escuta. Eu vou te ajudar, mas você precisa confiar em mim. Dona Cida disse, colocando a mão no ombro da moça. Eu vou ficar com a sua menina enquanto você trabalha. Ela fica comigo na Copa, mas tem uma reunião acontecendo agora mesmo na sala ao lado.

Você vai ter que limpar o banheiro privativo da sala de reuniões, aquele que só os diretores usam. Eu limpo sem problema, mas a Bia, ela fica quietinha comigo. Eu arrumo uns potinhos de plástico para ela brincar. Criança adora fazer barulhinho com panela e a porta entre a copa e a sala de reuniões fica sempre encostada, não trancada.

Se ela chorar muito, você vai ouvir e vem buscar. Mas eu vou cuidar dela direitinho, pode confiar. Amanda olhou para a dona Cida, depois para Bia, que já estava mais calma. Ela não tinha outra opção. Precisava trabalhar ou perderia o emprego. E se perdesse o emprego, perdia tudo. Está bem. Mas dona Cida, muito obrigada. Eu não sei nem como agradecer.

Não precisa agradecer nada. A gente que é pobre tem que se ajudar, senão ninguém ajuda a gente. Dona Cida pegou Bia no colo com cuidado. A bebê olhou para ela com desconfiança no começo, mas a copeira tinha aquele jeito maternal que acalmava qualquer criança. Olha só que linda você é. Quer ver o que a titia tem aqui? Olha esses potinhos brilhantes.

Na copa, dona Cida montou uma espécie de área de recreação improvisada no chão, longe da porta principal, mas perto suficiente da porta de serviço para Amanda poder escutar qualquer coisa. Ela colocou potes de plástico, tampas, colheres de pau, tudo que fazia barulho, mas não era perigoso.

Bia, curiosa como toda criança daquela idade, logo se interessou pelos objetos novos. Ela batia uma tampa na outra, fascinada com o som que fazia. Isso mesmo, meu amor. Bem baixinho, tá? Faz o barulhinho bem baixinho. Dona Cida orientava, sentada em uma cadeira velha ao lado da menina. Amanda estava no banheiro privativo limpando o espelho com movimentos rápidos.

Ela conseguia ouvir as vozes abafadas dos homens na reunião através da parede. Uma voz se destacava das outras. Era grave, autoritária, assustadora. Devia ser o tal do Artur Albuquerque, que todo mundo tinha medo. Ela terminou o espelho e começou a limpar a pia. Suas mãos tremiam. Precisava ser rápida. Quanto menos tempo ali, melhor.

Mas na copa, o cansaço começava a vencer, dona Cida. Ela tinha acordado às 5 da manhã, tinha trabalhado o dia inteiro e agora fazia hora extra. Seus olhos pesavam, a cadeira era confortável. O som dos potinhos que Bia batia era repetitivo, quase hipnótico.

“Só vou fechar os olhos um minutinho”, ela murmurou para si mesma. Bia continuou brincando sozinha. quietinha, mas depois de um tempo, ela largou os potes e olhou ao redor. Cadê a mamãe? Ela começou a se mexer, engatinhando pela copa, procurando por Amanda. Foi quando viu a porta entreaberta. Não era a porta grande por onde dona Cida tinha entrado.

Era outra porta menor que deixava passar um fio de luz diferente. Bia inclinou a cabecinha curiosa. Às vezes a mamãe ficava do outro lado das portas. Às vezes bastava ir até lá para achar ela. A bebê engatinhou até a fresta. A porta estava apenas encostada, como dona Cida tinha dito. Com a mãozinha gordinha, Bia empurrou a porta levemente. Ela se abriu mais um pouco.

Do outro lado, Bia viu pernas de calça social, muitas pernas e uma mesa enorme, escura, que brilhava. Debaixo daquela mesa parecia um túnel interessante. Bia adorava túneis. Em casa, ela sempre engatinhava por baixo da mesinha de centro. Sem fazer barulho, porque Bia era uma menina que tinha aprendido a ser silenciosa, ela entrou na sala de reuniões pelo chão e começou a atravessar por baixo da imensa mesa de Mógno, invisível, aos olhos dos executivos, que discutiam números e planilhas acima dela.

Dona Cida continuava dormindo na cadeira, exausta demais, para perceber que a criança tinha sumido. engatinhava devagar por baixo da mesa, seus joelhinhos roliços, fazendo o mínimo de barulho possível contra o carpete grosso. Para ela, aquilo era uma aventura, uma caverna enorme e escura, cheia de pernas estranhas que se moviam de vez em quando. Ela parou embaixo do centro da mesa e sentou.

A madeira era escura e tinha uns desenhos bonitos. Bia esticou a mãozinha para tocar. mas não alcançava. Então, continuou sua jornada. Acima dela, a reunião seguia tensa. Artur continuava interrogando Roberto sobre o dinheiro desaparecido, mas havia algo de errado no comportamento do irmão mais novo.

Roberto estava inquieto demais, suando demais, evitando o olhar de Artur. Eu já disse, não sei de nada. Roberto praticamente gritou, se levantando da cadeira bruscamente. A cadeira raspou no chão com um barulho alto. Bia, embaixo da mesa, se assustou com o som repentino. Ela parou de engatinhar e ficou quietinha, o coraçãozinho batendo rápido. Senta. Artur ordenou.

E havia algo tão frio naquela voz que até os outros diretores se encolheram. Roberto obedeceu, mas não conseguia ficar parado. Ele levantou de novo, começou a andar de um lado para o outro da sala, passando a mão no cabelo, checando o celular a cada 2 segundos. Você está agindo como se tivesse algo a esconder, Arthur observou, os olhos acompanhando cada movimento do irmão.

Eu não estou escondendo nada. Estou nervoso porque você está me acusando de roubo. Eu ainda não acusei você de nada, mas estou começando a considerar seriamente essa possibilidade. Enquanto isso, no banheiro privativo, Amanda terminou a limpeza e guardou os produtos no carrinho. Ela olhou para o relógio. Tinha demorado 15 minutos.

15 minutos era muito tempo longe de Bia. Ela precisava voltar para a Copa e verificar se estava tudo bem. Mas quando estava saindo do banheiro, ouviu a voz alta de Roberto gritando alguma coisa sobre injustiça. Amanda congelou. Não podia atravessar a sala de reuniões agora. Teria que esperar a discussão acalmar.

Ela encostou a orelha na porta, tentando calcular quanto tempo ainda levaria. Seu estômago estava embrulhado de ansiedade. Bia estava bem. Dona Cida estava conseguindo manter ela quietinha. E se a bebê tivesse começado a chorar alto? De volta à sala, Bia tinha chegado ao fim da mesa. Ela viu os pés de um homem parado bem na frente dela.

Eram pés com sapatos pretos brilhantes, parados ali, sem mexer muito. Diferente dos outros pés que andavam nervosos de um lado para o outro. Bia decidiu que aqueles pés parados pareciam seguros. Ela engatinhou mais um pouquinho e saiu de debaixo da mesa, aparecendo ao lado da cadeira onde estava sentado o diretor financeiro, Augusto.

Mas Augusto estava concentrado demais em suas planilhas, os olhos colados na tela do laptop. Ele não notou a criança aos seus pés. Ninguém notou. A discussão entre Artur e Roberto estava alta demais, ocupando toda a atenção da sala. Bia olhou ao redor daquele lugar enorme. Tantas pessoas adultas, tanto barulho de vozes. Ela não gostava disso.

Queria a mamãe, queria colo, queria sair dali. Ela começou a engatinhar mais rápido agora, contornando as cadeiras, indo em direção a Ela não sabia bem para onde. Só sabia que precisava achar um lugar seguro, um colo, alguém que não estivesse gritando.

“Você sempre faz isso!” A voz de Roberto explodiu pela sala, fazendo até os diretores pularem de susto. Sempre me culpa por tudo, sempre acha que eu sou o errado, sempre escolhe me humilhar na frente dos outros. Artur se levantou devagar, perigosamente calmo. Eu te culpo porque você sempre é o culpado, Roberto. Desde que a gente era criança. Desde sempre.

Ah, é? E você é o santinho, né? O perfeito Artur que nunca erra. que nunca falha, que nunca eu nunca roubei da própria família. Arthur praticamente rugiu e o silêncio que caiu sobre a sala foi absoluto. Foi nesse momento que Roberto, andando agitado pela sala, quase tropeçou em algo macio no chão.

Ele olhou para baixo e viu uma criança, uma bebê, de olhos escuros e cachinhos bagunçados, olhando para ele assustada. Que diabos? Roberto deu um passo para trás, surpreso. De onde saiu esse essa coisa? Bia, ouvindo o tom rude daquele homem alto e barulhento, sentiu medo. Ela conhecia homens assim, homens que falavam alto, que faziam gestos bruscos, que assustavam. Ela começou a recuar. Sai daqui.

Roberto fez um gesto com o pé, como se estivesse enxotando um animal indesejado. Vai, some daqui. A bebê começou a chorar, o lábio inferior tremendo. Ela virou e engatinhou o mais rápido que conseguia, fugindo daquele homem mal. Lágrimas escorriam pelo seu rosto assustado. Todos na sala finalmente perceberam que havia uma criança ali.

Os diretores se levantaram confusos. Arthur virou a cabeça para ver o que estava acontecendo. E foi exatamente nesse momento que a porta de serviço se abriu com força. Amanda entrou na sala de reuniões em pânico. Ela tinha ouvido o choro de Bia do outro lado da parede e não conseguiu esperar nem mais um segundo.

Não importava se ia ser demitida, não importava se todos aqueles homens poderosos estavam olhando para ela com surpresa e raiva. Sua filha estava chorando, mas o que ela viu a fez parar no meio da sala, os olhos arregalados de horror. Bia estava no chão, chorando desesperadamente, tentando se afastar de Roberto, que fazia gestos bruscos com as mãos, como se estivesse enchotando um cachorro.

“Vai embora! Quem deixou essa criança entrar aqui?”, Roberto reclamava claramente irritado. Algo dentro de Amanda se partiu. Ela tinha passado um ano e meio protegendo Bia de tudo e de todos. Tinha trabalhado até suas mãos sangrarem para dar comida para a filha. tinha aguentado humilhação, cansaço, solidão, e agora via o pai biológico da própria filha tratando ela como se fosse lixo.

“Não encosta nela”, Amanda gritou correndo e pegando Bia no colo antes que Roberto pudesse fazer qualquer outro movimento. A bebê se agarrou ao pescoço da mãe com tanta força que quase estrangulou. Ela chorava alto agora. Soluços molhados contra o ombro de Amanda. Calma, meu amor. A mamãe está aqui. Ninguém vai te machucar. Está tudo bem.

Roberto finalmente olhou direito para Amanda. Seus olhos se arregalaram com reconhecimento, depois se estreitaram com raiva. Você, ele disse a voz cheia de veneno. A golpista. Eu sabia que você ia aparecer de novo. Quanto você quer dessa vez? Mais dinheiro. Está tentando me chantagear agora? Amanda sentiu as lágrimas quentes queimar em seus olhos, mas não ia chorar na frente dele, não ia dar esse gostinho para ele.

“Eu não quero nada de você”, ela respondeu a voz tremendo, mas firme. “Nunca quis. Só queria que você assumisse sua filha. Essa criança não é minha.” Roberto cuspiu as palavras. Você armou isso tudinho. Engravidou de propósito para me prender. Mas eu não sou trouxa, querida. Conheço mulheres como você.

Você sabe muito bem que ela é sua. Você me prometeu que ia assumir quando eu contei da gravidez. Você disse que ia cuidar da gente e no dia seguinte sumiu e bloqueou meu número. Porque você estava mentindo. Eu não menti. E quando descobri que estava grávida, fui honesta com você. Mas você me chamou de mentirosa, de interesseira.

Diz que eu era mais uma pobre tentando dar golpe em homem rico. Os diretores na sala observavam a cena em silêncio chocado. Ninguém sabia para onde olhar. Artur estava imóvel na cabeceira da mesa, processando cada palavra que era dita. “Você sabe que estou falando a verdade, Roberto.” Amanda continuou. E agora as lágrimas escorriam livres pelo seu rosto.

Você sabe, quando eu te mandei a foto dela depois que nasceu, você bloqueou. Quando eu te procurei para registrar ela com seu nome, você me ameaçou com advogados. Quando eu pedi para fazer o teste de DNA, você disse que eu era louca. Porque essa criança não é minha? Roberto gritou. Para de inventar mentiras. Você provavelmente nem sabe quem é o pai de verdade.

Aquelas palavras eram dolorosas demais. Bia chorava mais alto agora, sentindo atenção no corpo da mãe. Amanda já apertou mais contra o peito, tentando acalmar a bebê e a si mesma ao mesmo tempo. Eu nunca estive com mais ninguém, só com você. E você sabe disso, porque eu era Não me interessa o que você era. Roberto a cortou cruel.

Eu não vou assumir uma criança que não é minha, só porque você decidiu que eu seria um bom patrocinador. Senhor Albuquerque. Amanda se virou para Artur, ignorando Roberto completamente. Sua voz estava quebrada, mas ela ainda tentava manter alguma dignidade. Eu sinto muito por ter trazido minha filha para o trabalho.

Eu sei que foi errado, mas eu não tinha com quem deixar ela e eu precisava do dinheiro do turno da noite. Eu aceito ser demitida. Só, só por favor me deixe sair pela porta de serviço. Não quero que mais ninguém veja a gente assim. Arthur não respondeu. Ele estava olhando para a criança nos braços de Amanda, para os cachinhos, para o formato dos olhos, para a curva do nariz.

Havia algo ali, algo familiar que ele não conseguia definir exatamente. “Quantos anos ela tem?”, ele perguntou. Sua voz surpreendentemente suave. Um ano e meio, senhor, Amanda respondeu confusa com a pergunta. Artur fez um cálculo rápido mental. Há dois anos, Roberto tinha começado um projeto em uma das subsidiárias da empresa.

Tinha trabalhado lá por três meses, tinha conhecido funcionários novos, tinha saído com algumas delas, como sempre fazia. Como ela se chama? Beatriz. Mas eu chamo ela de Bia. E você, qual seu nome completo? Amanda Carolina da Silva, senhor. Artur pegou seu celular e digitou algo rapidamente. Segundos depois, olhava para a ficha cadastral de Amanda no sistema da empresa.

Data de admissão, 2 anos e 8 meses atrás. função auxiliar de limpeza, subordinada contratada por terceirizada, que presta serviços no prédio anexo onde Roberto fazia aquele projeto. “Roberto, ele chamou. E havia algo tão perigoso naquele tom que até Roberto se calou. Vem aqui agora. Por quê?” Eu disse: “Vem aqui”.

Roberto caminhou até o irmão, tentando manter a pose de superioridade, mas claramente nervoso. Olha para essa criança. Olha direito. Eu já olhei. Não é minha. Olhá para ela. Arthur repetiu. Cada palavra é uma ameaça. Roberto finalmente olhou. olhou de verdade e, pela primeira vez em toda aquela noite, sua máscara de arrogância vacilou, porque Bia tinha parado de chorar e estava olhando de volta para ele com aqueles olhos escuros, imensos e tristes. E havia algo ali, algo innegável.

Ela tinha o mesmo formato de rosto dele, o mesmo nariz, a mesma curva do lábio. Era como olhar para uma foto sua de quando era bebê. Roberto engoliu seco e deu um passo para trás. Então, Artur disse a voz mortal: “Ainda vai dizer que ela não é sua?” Bia tinha parado de chorar, mas seu rostinho ainda estava vermelho e molhado de lágrimas.

Ela olhava para todos aqueles homens adultos com desconfiança, agarrada ao pescoço de Amanda, como se sua vida dependesse disso, e talvez dependesse mesmo. A bebê estava exausta. Tinha sido uma noite longa, cheia de lugares estranhos, pessoas desconhecidas, barulhos altos. Ela só queria dormir, só queria colo.

Mas não qualquer colo, um colo seguro. Seus olhinhos percorreram a sala. O homem mau que tinha tentado enchotar ela estava ali de pé com o rosto vermelho de raiva. Bia virou a cabeça. Não queria olhar para ele. Tinha medo dele. Havia outros homens de terno sentados em volta da mesa. Todos olhavam para ela com espanto.

Muito barulho, muitas vozes, muita confusão. E então ela viu ele, um homem sentado na ponta da mesa. Ele não estava se mexendo muito, não estava gritando. Ele estava quieto, observando tudo com atenção. Seus olhos eram escuros, parecidos com os dela. E havia algo em seu rosto que não era raiva nem medo, era tristeza.

Uma tristeza profunda que até mesmo uma criança de um ano e meio podia sentir. Bia inclinou a cabecinha, estudando aquele homem. Ele parecia diferente, quieto, calmo, seguro. Por favor, senor Albuquerque. Amanda implorava agora, as lágrimas escorrendo livres. Eu vou embora. Eu nunca mais volto aqui. Só me deixa sair com minha filha.

Mas Arthur não estava ouvindo Amanda. Ele estava preso nos olhos daquela criança, olhos que o observavam com uma intensidade estranha para alguém tão pequeno. E por um segundo, só por um segundo impossível, ele viu Clarinha olhando de volta para ele. A mesma idade, o mesmo jeitinho de inclinar a cabeça quando estava curiosa, a mesma expressão séria que sua filha fazia quando estava processando o mundo ao redor.

Artur sentiu algo se mexer dentro do seu peito. Algo que estava congelado há 5 anos, algo que ele tinha certeza que tinha sido sepultado junto com sua filha. “Você pode ficar”, ele disse de repente. “O quê?” Amanda piscou confusa. “Você não vai ser demitida. Pode ficar. Mas eu trouxe a Bia para o trabalho. Eu quebrei as regras. Eu sei.

E em circunstâncias normais você estaria demitida. Mas essas não são circunstâncias normais. Roberto bufou alto. Você está brincando, Artur? Essa mulher é uma golpista. Ela planejou isso tudo. Provavelmente escondeu a criança aqui de propósito para fazer essa cena. Cala a boca.

Arthur disse sem nem olhar para o irmão, os olhos ainda fixos em Bia. A bebê estava cansada de tanta confusão. Ela queria descer do colo da mamãe, mas tinha medo do chão com todas aquelas pessoas estranhas. Então, fez a única coisa que criança pequena sabe fazer. seguiu seu instinto. Ela esticou os bracinhos em direção a Arthur. A sala inteira prendeu a respiração. Bia, não.

Amanda tentou segurar a filha, mas Bia já tinha decidido. Ela queria aquele homem quieto e triste. Não sabia porquê. Apenas queria. Arthur olhou para os bracinhos estendidos na sua direção e algo dentro dele quebrou. Sem pensar muito, ele se levantou da cadeira e caminhou até Amanda. “Posso?”, ele perguntou.

Sua voz mais suave do que qualquer pessoa naquela empresa jamais tinha ouvido. Amanda estava tão surpresa que apenas concordou, ainda sem entender o que estava acontecendo. Arthur pegou Bia nos braços com cuidado, como se estivesse segurando algo extremamente frágil e precioso. A bebê o olhou nos olhos por um longo momento, estudando aquele rosto novo.

Então, para o choque de todos, ela apoiou a cabecinha no ombro dele e fechou os olhinhos, mas não ficou simplesmente apoiada. Bia, buscando mais segurança, começou a escalar. Suas mãozinhas pequenas se agarraram no terno de Artur. Ela subiu mais um pouco e mais um pouco até estar sentada no ombro dele, suas perninhas gordas penduradas sobre o peito dele. E então aconteceu.

Bia enfiou a mãozinha nos cabelos escuros de Artur e puxou levemente, fazendo uma careta engraçada enquanto testava aquele cabelo diferente do dela. Artur fez uma expressão de surpresa com a puxada inesperada. Seus olhos se arregalaram, sua boca se abriu ligeiramente, uma careta de susto tão genuína que era quase cômica.

E Bia, vendo aquela cara engraçada, fez algo que ela raramente fazia com estranhos. Ela riu. Foi uma risada aguda, gostosa, cheia de alegria infantil, o tipo de risada que só criança pequena sabe dar. Ela puxou o cabelo de novo, provocando outra careta de Artur e riu mais alto ainda, se divertindo com a brincadeira que tinha inventado.

Artur estava completamente congelado, mas não de raiva ou desconforto. Ele estava congelado porque aquela risada, ele conhecia aquela risada. Era igual a de Clarinha, exatamente igual. A mesma nota aguda, a mesma alegria pura, o mesmo jeitinho de jogar a cabecinha para trás quando achava algo engraçado. Lágrimas começaram a se formar nos cantos dos seus olhos. Lágrimas que ele não derramava há 5 anos.

Lágrimas que ele tinha jurado nunca mais derramar, porque chorar doía demais e não mudava nada. Senor Albuquerque, Amanda deu um passo à frente, preocupada. O senhor está bem? Arthur não conseguiu responder, apenas segurou Bia com mais firmeza, uma mão em suas costas para garantir que ela não caísse enquanto a bebê continuava rindo e puxando seus cabelos, completamente alheia ao caos emocional que estava causando.

E foi nesse momento, com uma criança rindo no seu ombro e uma faxineira assustada na sua frente, que Arthur entendeu uma verdade simples e devastadora. Ele tinha passado 5 anos apenas existindo, não vivendo. 5 anos se recusando a sentir qualquer coisa, porque sentir dói. E agora, de repente, uma criança desconhecida tinha feito ele sentir tudo de uma vez.

Bia começou a ficar mais pesada nos braços de Artur, o cansaço finalmente vencendo a animação. Ela bocejou grande, mostrando os dentinhos pequenos, e apoiou a cabeça no ombro dele de novo, dessa vez para dormir de verdade. Arthur tentou ajeitá-la melhor em seus braços, mudando a posição para que ela ficasse mais confortável.

Foi quando, ao mover a mão para apoiar a cabeça dela, ele afastou sem querer os caixinhos da nuca da bebê e viu uma pequena mancha de nascença em formato de V, exatamente na base do pescoço, onde a cabeça encontra a coluna. O mundo inteiro parou. Artur conhecia aquela marca, conhecia muito bem. Ele tinha uma igualzinha, no exato mesmo lugar. Seu pai tinha, seu avô tinha tido.

Era uma marca de família passada de pai para filho há três gerações. Uma característica genética rara que só os albuquerque carregavam. E Roberto também tinha. Com mãos trêmulas, Arthur virou Bia delicadamente, expondo melhor a nuca dela para ter certeza. Sim, ali estava, inconfundível, innegável, a marca em forma de V, do mesmo tamanho, no mesmo lugar exato que a dele.

Artur, o que foi? Roberto perguntou, percebendo a mudança no rosto do irmão. Artur não respondeu, apenas olhou para Roberto com uma intensidade que fez o irmão mais novo dar um passo para trás. “Vem aqui, Artur ordenou pela segunda vez naquela noite. Por que você está?” Eu disse: “Vem aqui”. Roberto caminhou lentamente até o irmão, o medo finalmente começando a substituir a arrogância. Ele nunca tinha visto Artur com aquela expressão.

Era como olhar para um vulcão prestes a entrar em erupção. “Olha”, Artur virou Bia levemente, mostrando a nuca dela para Roberto. “Você está vendo isso?” Roberto olhou e ficou completamente pálido. “Não”, ele sussurrou. Sim. Artur respondeu a voz mortal. A marca dos Albuquerque. A mesma que você tem, a mesma que eu tenho, a mesma que nosso pai tinha. Isso. Isso não prova nada.

Roberto gaguejou. Mas não havia convicção nenhuma em sua voz agora. Pode ser coincidência. Muita gente tem manchas de nascença. Nesse formato, nesse lugar exato. Roberto, você pode ser muitas coisas. Irresponsável. mentiroso, egoísta, mas você não é burro. Você sabe muito bem o que isso significa.

Amanda estava ouvindo a conversa sem entender completamente, mas sentindo que algo importante estava sendo revelado, ela deu um passo à frente. Do que vocês estão falando? Que marca é essa? Arthur gentilmente virou Bia para que Amanda pudesse ver a nuca da própria filha. “Você já tinha reparado nisso?”, ele perguntou. Sim, claro. É uma manchinha de nascença que ela tem desde que nasceu.

O pediatra diz que é normal, que muitas crianças têm, mas não nesse formato específico e não nesse lugar exato. Artur explicou, sua voz firme. Essa marca é uma característica genética da família Albuquerque. É extremamente rara. Apenas os homens da família carregam. Meu bisavô tinha, meu avô tinha, meu pai tinha, eu tenho, Roberto tem.

E agora ele olhou para Bia dormindo em seus braços. Ela tem. Amanda sentiu as pernas ficarem fracas. Ela segurou na cadeira mais próxima para não cair. Então, então isso significa significa que ela é biologicamente uma Albuquerque. Significa que Roberto mentiu sobretudo. Arthur se virou para o irmão e a raiva em seus olhos era tão intensa que os diretores ainda presentes na sala instintivamente se afastaram.

Você sabia? Não era uma pergunta, era uma acusação. Você sabia que essa criança era sua e mesmo assim abandonou ela. Deixou ela e a mãe dela passarem necessidade, chamou Amanda de golpista, recusou fazer o teste de DNA. Tudo porque você é um covarde que nunca assumiu responsabilidade por nada na vida. Eu eu não tinha certeza. Roberto tentou se defender, mas sua voz saía fraca.

Mentira! Artur rugiu fazendo Bia se mexer levemente no sono. Ele abaixou a voz imediatamente, não querendo acordar a criança, mas a raiva continuava lá, queimando em cada palavra. Você sabia? Por isso fugiu. Por isso bloqueou Amanda, por isso se recusou a fazer o teste, porque você sabia que se fizesse teria que assumir. E assumir responsabilidade não é algo que você sabe fazer. Roberto estava encurralado e sabia disso.

Não havia mais como fugir, não havia mais mentiras que funcionassem. A evidência estava ali, dormindo nos braços de Artur, marcada com o sangue da família. E sabe o que é pior? Artur continuou. Sua voz baixa, mas carregada de desprezo. Você não abandonou apenas uma criança qualquer. Você abandonou uma Albuquerque, sua própria filha.

Você a deixou crescer na pobreza enquanto você desperdiçava o dinheiro da família em festas e carros. Você a deixou passar fome enquanto você comia em restaurantes de luxo. Você deixou ela usar roupas de brechó enquanto você comprava ternos italianos. Cada palavra era como um soco e Roberto sentia todas elas. Amanda.

Roberto tentou, dando um passo em direção a ela. Eu eu sinto muito. Eu estava confuso. Eu tinha medo. Eu não. Ela o cortou. A voz firme pela primeira vez naquela noite. Não tenta se desculpar agora. Você teve um ano e meio para fazer isso. Um ano e meio em que eu te procurei, te mandei mensagens, te implorei para pelo menos conhecer sua filha e você me chamou de mentirosa.

Me humilhou, me ameaçou. Eu vou compensar. Eu juro, eu vou. Você não vai fazer nada. Arthur interrompeu. Porque você acabou de perder qualquer direito sobre essa criança. Você não pode decidir isso. Ela é minha filha. Agora ela é sua filha. Arthur deu um riso sem humor.

Há 5 minutos você estava chamando ela de coisa e tentando enchotar ela com o pé. E você acha que tem direito de ser pai? Artur virou-se para Augusto, que estava testemunhando tudo paralisado. Augusto, chama o jurídico agora, senhor. Já são quase 11 da noite. Eu não me importo que horas são. Liga para o Rafael em casa se preciso. Eu quero alguém do jurídico aqui em 30 minutos.

E chama segurança também. Sim, senhor. Augusto saiu correndo para fazer as ligações. Roberto estava ficando cada vez mais pálido. Artur, você não pode fazer isso. Eu posso e vou. 20 minutos depois, a sala de reuniões tinha se transformado em um tribunal improvisado.

Rafael, o chefe do departamento jurídico, tinha chegado em tempo recorde, ainda de moletom, porque tinha vindo direto de casa. Dois seguranças estavam parados na porta e Artur estava sentado na cabeceira da mesa, ainda segurando Bia, que dormia profundamente em seus braços, completamente alheia a tudo o que acontecia. Amanda estava sentada em uma cadeira ao lado de Artur, em estado de choque.

Ela não entendia completamente o que estava acontecendo, mas sabia que era algo grande, algo que ia mudar tudo. Roberto estava do outro lado da mesa, ainda de pé, com os braços cruzados e uma expressão defensiva no rosto. Rafael, Arthur começou. Sua voz de volta ao tom frio e profissional.

Eu preciso que você me explique as opções legais que temos em relação a uma situação de paternidade não reconhecida. Rafael abriu sua pasta e tirou um bloco de notas, começando a escrever enquanto falava. Bem, senhor Albuquerque, em casos onde há suspeita de paternidade e o suposto pai se recusa a reconhecer a criança, a mãe pode entrar com uma ação de investigação de paternidade.

O juiz pode ordenar um teste de DNA compulsório. Se a paternidade for comprovada, o pai é obrigado a Já temos a prova da paternidade. Arthur o interrompeu. A marca de nascença é evidência biológica suficiente. É uma característica genética documentada da família Albuquerque há três gerações.

Nosso médico de família tem registros disso. Interessante. Rafael anotou rapidamente. Isso facilitaria muito o processo. Mas ainda assim o ideal seria fazer o teste de DNA para ter uma prova incontestável em tribunal. Faça o que for necessário. Eu quero que Amanda entre com a ação amanhã mesmo e eu quero que o melhor advogado de família que esta empresa pode pagar esteja representando ela. Espera.

Amanda finalmente encontrou sua voz. Senr. Albuquerque, eu não tenho dinheiro para pagar advogado. Você não vai pagar nada. A Albuquerque Holdings vai cobrir todos os custos legais. Considere como uma compensação pelo comportamento abominável do meu irmão. Isso é ridículo. Roberto explodiu. Você não pode usar o dinheiro da empresa para bancar a vingança pessoal dela contra mim.

Artur o olhou com tanto desprezo que Roberto quase recuou. Vingança? Você acha que isso é vingança, Roberto? Isso é justiça, algo que você claramente não entende. E quanto ao dinheiro da empresa, eu sou o presidente e acionista majoritário. Eu posso usar os recursos como eu julgar necessário. Papai não ia gostar disso. Papai não está mais aqui.

E sabe o que ele realmente não ia gostar? de saber que a neta dele, uma criança com sangue Albuquerque, está sendo criada na pobreza, porque o filho dele é um covarde. Aquilo atingiu Roberto como um murro no estômago, porque era verdade. O pai deles tinha sido obsessivo com a ideia de família, de legado, de honra. Se estivesse vivo e descobrisse que tinha uma neta que ele nunca conheceu porque Roberto a havia negado. Rafael Artur continuou.

Além da ação de reconhecimento de paternidade, eu quero que você prepare também uma ação de destituição do poder familiar. A sala inteira ficou em silêncio. Senhor Rafael hesitou. Destituição do poder familiar é uma medida extrema. Normalmente só é aplicada em casos de abuso, negligência grave ou abandono material.

E o que você chama de negar a existência da própria filha? De recusar-se a pagar pensão, de deixar uma criança passar necessidade tendo plenas condições de ajudar? Se isso não é abandono material, eu não sei o que é. Rafael concordou lentamente. O senhor tem um ponto. Vou preparar os documentos. Você não pode me tirar minha filha. Roberto gritou, perdendo completamente a compostura.

Ah, agora ela é sua filha. Artur se levantou, ainda segurando Bia cuidadosamente. Agora que você está prestes a perder ela, agora você se importa. Onde estava esse amor paternal quando Amanda te procurou grávida? Onde estava quando ela te mandou foto da Bia recém-nascida? Onde estava quando ela te implorou apenas para você conhecer sua filha? Roberto não tinha resposta.

Eu vou te dizer onde você estava. Artur continuou implacável. Você estava gastando dinheiro em baladas. Você estava saindo com outras mulheres. Você estava roubando da empresa para financiar seu estilo de vida patético. Enquanto sua filha usava fraldas compradas com o dinheiro que Amanda ganhava limpando banheiros. Cada palavra era calculada para ferir e estava funcionando.

Roberto estava pálido, suando, sem saber para onde olhar. E sabe o que é mais irônico? Artur deu um riso amargo. Eu passei os últimos 5 anos desejando mais do que tudo ter minha filha de volta, rezando todas as noites para acordar e descobrir que tudo tinha sido um pesadelo.

E você, que tem uma filha viva e saudável, simplesmente a jogou fora como se ela não valesse nada. A voz de Arthur quebrou levemente na última frase, mas ele se recompôs rápido. Artur, Roberto tentou de novo e pela primeira vez havia verdadeiro desespero em sua voz. Eu cometi erros. Eu sei disso, mas você não pode me tirar, minha filha. Eu posso mudar. Eu posso ser melhor? Não.

Artur disse simplesmente, você teve um ano e meio para mudar, para ser melhor e escolheu não fazer nada. Agora é tarde demais. Ele se virou para os seguranças na porta. Escoltem o Senr. Roberto para fora do prédio. Ele não trabalha mais aqui. E confisquem o crachá e as chaves dele.

Você não pode me demitir, Roberto gritou, finalmente entrando em pânico de verdade. Posso e acabei de fazer. Você roubou da empresa, abandonou uma filha e acabou de perder minha confiança completamente. Você está demitido por justa causa. Limpe sua mesa amanhã sob supervisão da segurança. Os seguranças se aproximaram de Roberto.

Ele olhou para Amanda uma última vez, procurando algum sinal de clemência, de compaixão, mas ela apenas o olhava com olhos cansados e decepcionados. Amanda, eu vai embora, Roberto”, ela disse. E não havia raiva em sua voz, apenas cansaço. “Só vai embora”.

Roberto foi escoltado para fora, ainda protestando, ainda tentando negociar, mas ninguém estava ouvindo mais. A porta se fechou atrás dele e um silêncio pesado caiu sobre a sala. Artur voltou a sentar, Bia ainda dormindo tranquilamente em seus braços. Ela tinha dormido durante toda aquela discussão, protegida do caos pelos braços firmes que asseguravam.

Amanda começou a chorar silenciosamente primeiro, depois em soluços profundos que ela tentava abafar com as mãos. Era como se tudo que ela tinha segurado durante um ano e meio finalmente explodisse de uma vez. Arthur esperou pacientemente até ela se acalmar. Quando ela finalmente olhou para ele, os olhos vermelhos e inchados, ele falou com uma gentileza surpreendente. Você não precisa trabalhar como faxineira mais.

Vou arranjar uma posição melhor para você na empresa, com um salário digno e um plano de carreira, se você quiser. Senr. Albuquerque, eu eu não sei o que dizer, mas há uma condição. Amanda sentiu o estômago apertar. Claro que havia uma condição. Nada era de graça neste mundo. Qual? E foi então que Artur disse algo que mudaria suas vidas para sempre. Você e Bia vão morar na minha mansão.

As palavras caíram na sala como uma bomba. Amanda piscou várias vezes, achando que tinha ouvido errado. Desculpa. O quê? Você e sua filha vão se mudar para minha casa hoje à noite. Senr. Albuquerque. Isso é. Eu não posso aceitar isso. É demais. Eu não estou pedindo sua opinião.

Estou informando minha decisão Artur disse, e havia uma firmeza em sua voz que não deixava espaço para argumentos. Roberto é impulsivo e vingativo. Agora que ele sabe que Bia é dele, não sei o que ele pode fazer. Ele pode tentar pegar a criança de você, pode tentar te intimidar, pode fazer algo pior.

Eu não vou arriscar, mas eu não posso simplesmente ir morar na casa de um estranho. Amanda protestou, a voz subindo levemente de ansiedade. Eu não sou um estranho. Sou o tio da sua filha e ela é uma albuquerque. Quer você goste disso ou não. Nenhuma Albuquerque vai viver em risco de despejo ou passar fome enquanto eu tiver recursos para evitar isso.

Amanda olhou para Bia dormindo nos braços de Artur. A bebê parecia tão pequena, tão frágil, tão preciosa. E pela primeira vez em um ano e meio, Amanda não estava sozinha. Havia alguém ali, alguém poderoso e rico, oferecendo proteção, oferecendo segurança. Mas havia algo de errado nisso tudo.

Ela não conhecia aquele homem, não sabia quais eram suas reais intenções. E se ele quisesse ficar com Bia? E se ele achasse que Amanda não era boa o suficiente para criar uma Albuquerque? Eu sei o que você está pensando. Arthur disse como se pudesse ler sua mente. Você está pensando que eu vou tentar tirar sua filha de você? Que eu vou usar meu dinheiro e meu poder para conseguir a guarda dela? Amanda não negou. Era exatamente isso que estava pensando.

Eu não vou fazer isso. Ele continuou olhando nos olhos dela com uma honestidade crua. Bia precisa da mãe dela. Toda criança precisa. Eu aprendi isso da pior forma possível quando perdi minha Clarinha. Ela tinha 4 anos quando foi diagnosticada com leucemia. Lutou por 8 meses e no fim não foi comigo que ela queria ficar. Era com a mãe dela.

Sempre foi a mãe. A voz dele quebrou levemente na última frase. Amanda viu a dor atravessar o rosto dele como uma sombra. Eu sinto muito pela sua perda”, ela disse sinceramente. Artur acenou com a cabeça, aceitando a condolência, mas claramente não querendo falar mais sobre isso.

O ponto é: eu sei a importância de uma mãe e eu vejo o quanto você ama essa criança, o quanto você lutou por ela. Você não perdeu seu emprego quando poderia ter deixado ela sozinha em casa. Você arriscou tudo para ficar perto dela. Isso é amor verdadeiro. Então não, eu não vou tentar tirar ela de você, mas eu vou proteger vocês duas, quer você queira ou não.

E se eu recusar? Então eu vou contratar seguranças para vigiar seu prédio 24 horas. Vou pagar seu aluguel antecipadamente por um ano. Vou transferir dinheiro para sua conta todo mês para garantir que Bia tenha tudo que precisa. E vou continuar fazendo isso até você aceitar minha ajuda de forma digna ou até Roberto desistir. O que acontecer primeiro.

Amanda percebeu que não havia como ganhar aquela discussão. Arthur Albuquerque era um homem acostumado a dar ordens e ser obedecido. E por mais assustador que isso fosse, havia uma sinceridade em suas palavras que ela não podia ignorar. “Por quanto tempo?”, ela perguntou resignada.

Até resolvermos a situação legal com Roberto, até você estar financeiramente estável o suficiente para se sustentar sozinha, ou até você decidir que quer sua própria casa, o que vier primeiro. E o que eu vou fazer na sua casa? Limpar, cozinhar. Você vai ser mãe da sua filha, é só isso. O resto a gente resolve. Amanda olhou novamente para Bia.

A bebê tinha uma mãozinha agarrada no terno de Artur, mesmo dormindo, como se já soubesse que ele era seguro, como se já confiasse nele. Está bem, ela concordou finalmente, mas com uma condição minha. Arthur olhou para ela surpreso. Não estava acostumado com pessoas negociando com ele. Qual? Se eu perceber que isso não está funcionando? Se eu sentir que Bia não está feliz lá, ou se eu não me sentir confortável, eu vou embora e você não vai tentar me impedir. Arthur pensou por um momento, depois concordou.

Justo, mas te garanto que vou fazer tudo para que você e Bia se sintam em casa. Rafael limpou a garganta, lembrando que ainda estava ali. Senor Albuquerque, se me permite, eu sugeriria documentar esse arranjo. Fazer um contrato que deixe claro que Amanda mantém total guarda da criança e está residindo temporariamente em sua propriedade por questões de segurança. Isso evitaria qualquer interpretação errada da situação.

Boa ideia. Prepare o documento e manda para mim amanhã para a revisão. Sim, senhor. Artur olhou para o relógio. Já passava da meia-noite. Vamos. Você precisa pegar suas coisas. Eu moro no Capão Redondo. É longe Amanda disse, já imaginando o constrangimento de Artur vendo o barraco onde ela morava.

Não importa, meu motorista nos leva. Uma hora depois, eles estavam na frente da pequena casa onde Amanda morava. Era uma viela estreita, sem asfalto, com postes de luz piscando irregularmente. Artur saiu do carro, ainda segurando Bia dormindo, e olhou ao redor, sem qualquer julgamento aparente.

Mas Amanda sabia que ele estava vendo, vendo o quanto ela era pobre, o quanto ela tinha lutado, o quanto aquele mundo era diferente do dele. “Eu vou buscar nossas coisas rápido”, ela disse, as bochechas queimando de vergonha. Mas quando entrou em casa e começou a juntar as roupas velhas e os brinquedos quebrados de Bia, ela ouviu a voz de Artur atrás dela. Deixa isso. Vou comprar tudo novo para vocês amanhã.

Não precisa, essas roupas ainda servem. E Amanda, ele a interrompeu gentilmente. Por favor, deixa eu fazer isso. Deixa eu dar paraa minha sobrinha o que ela deveria ter tido desde o começo. E foi a forma como ele disse, “Minha sobrinha, que finalmente quebrou a última resistência de Amanda.” Ele não estava fazendo isso por pena, não estava fazendo por obrigação.

Havia algo real ali, algo que ela não esperava encontrar naquele homem frio e temido. Eles saíram da pequena casa levando apenas o ursinho de pelúcia de Bia e algumas fotos. O resto ficaria para trás junto com um ano e meio de luta e dificuldade. No caminho para a mansão, Bia acordou brevemente.

Ela olhou ao redor, confusa, e seus olhos encontraram Amanda. Mamãe! Sua vozinha era sonolenta e manhosa. Estou aqui, meu amor. Mas então Bia viu Artur e, em vez de ficar assustada ou chorar, como fazia com a maioria dos estranhos, ela simplesmente apoiou a cabeça no ombro dele de novo e voltou a dormir. Amanda viu o olhar que passou pelo rosto de Artur naquele momento.

Era dor e alegria misturadas, era saudade e esperança ao mesmo tempo. era o olhar de um homem que tinha perdido tudo e de repente descobria que talvez ainda houvesse algo para viver. E ela entendeu então que, por mais insano que aquele arranjo fosse, talvez Arthur precisasse dela e de Bia, tanto quanto elas precisavam dele. Talvez todos eles estivessem salvando uns aos outros.

Os primeiros dias na mansão foram estranhos. Amanda não sabia como se comportar naquele lugar enorme, cheio de móveis caros e funcionários educados. Ela tinha medo de tocar em qualquer coisa, medo de quebrar, medo de não pertencer. Mas Baia não tinha esses medos. Para ela, aquela era simplesmente uma casa nova para explorar.

E explorar ela fez, engatinhando por todos os cantos, deixando seus brinquedos espalhados pelos cômodos impecáveis, enchendo aquela casa silenciosa com suas risadas e chorinhos. Arthur assistia tudo de longe no começo. Observava Amanda preparar as mamadeiras na cozinha enorme. Observava Bia brincando na sala. Observa, mas não participava, como se tivesse medo de se aproximar demais e aquilo tudo desaparecer como um sonho. Foi Bia quem quebrou essa barreira.

No terceiro dia, ela simplesmente decidiu que Arthur era parte de sua vida agora. E quando Bia decidia algo, não havia volta. Era tarde da noite. Arthur estava no seu escritório resolvendo papéis atrasados quando ouviu passinhos no corredor. Ele olhou para cima bem a tempo de ver Bia entrando pela porta aberta, arrastando seu ursinho de pelúcia.

Bia, cadê sua mãe? A bebê não respondeu, apenas continuou caminhando até chegar perto da poltrona de couro, onde Artur estava sentado. Ela olhou para ele, depois para a poltrona, calculando então, com a determinação que só criança pequena tem, ela começou a escalar. Agarrou o braço da poltrona com as mãozinhas, puxou, apoiou o joelho, puxou mais. Espera, você vai cair.

Arthur largou os papéis e segurou Bia pela cintura, ajudando ela a subir. Bia se acomodou no colo dele, como se aquele fosse o lugar mais natural do mundo. Apoiou a cabecinha no peito dele, abraçou o ursinho e fechou os olhos. Arthur ficou completamente imóvel, quase sem respirar, com medo de que qualquer movimento quebrasse aquele momento. Uma criança estava dormindo no seu colo.

Uma criança que confiava nele o suficiente para adormecer em seus braços. Depois de 5 anos de solidão e dor, havia vida em seu colo novamente. Bia Amanda, apareceu na porta do escritório, claramente preocupada. Desculpa, Senr. Albuquerque. Eu só fui ao banheiro por dois minutos e quando voltei, ela tinha sumido.

Está tudo bem? Artur sussurrou, não querendo acordar a bebê. Ela veio para cá. Amanda foi buscar Bia, mas Artur a parou com um gesto. Deixa ela ficar, por favor. Havia algo tão vulnerável naquele pedido que Amanda não teve coragem de recusar. Ela apenas concordou e saiu fechando a porta gentilmente.

Artur olhou para a criança adormecida em seu colo, para os cachinhos escuros espalhados no seu peito, para as bochechas gordinhas, para as mãozinhas pequenas, que seguravam o ursinho com força, mesmo dormindo. E pela primeira vez em 5 anos, Arthur Albuquerque chorou. Chorou pela filha que tinha perdido, chorou pelos anos vazios que tinha vivido, chorou pelo irmão que o tinha decepcionado tão profundamente e chorou de gratidão por essa criança que tinha aparecido do nada e tinha feito ele sentir que ainda havia alguma bondade no mundo. Os dias se transformaram em semanas.

A casa, que antes era silenciosa e fria, começou a ter vida. Bia espalhava brinquedos por todos os cantos. Amanda cozinhava receitas simples na cozinha gigantesca, enchendo a casa com cheiros caseiros. E Artur lentamente começou a sorrir de novo. Ele chegava do trabalho e Bia corria para recebê-lo, os bracinhos estendidos gritando titio numa versão bebê de tio que derretia seu coração.

Ele tinha jantares em família pela primeira vez em anos. Ele ouvia risadas nos corredores. Ele tinha motivos para voltar para casa, mas Roberto não desistiu facilmente. Ele apareceu na mansão três vezes, tentando ver Bia. Três vezes foi barrado pela segurança. Ele contratou advogados. Entrou com ação de guarda. Tentou usar sua influência restante para fazer Artur parecer inapropriado, mas não funcionou.

O teste de DNA comprovou a paternidade de Roberto, mas também comprovou o abandono. Amanda ganhou guarda total. Roberto foi condenado a pagar pensão retroativa e depois de meses de batalha legal, ele simplesmente desistiu e desapareceu, voltando para sua vida de festas e irresponsabilidades. Arthur estava aliviado.

Bia estava segura. Amanda estava feliz. Tudo estava finalmente se encaixando, mas havia algo que Artur não tinha contado para Amanda, algo que crescia em seu peito dia após dia. Não era apenas amor por Bia, era amor por ela, pela forma como ela cuidava da filha com tanto carinho, pela força que ela tinha demonstrado em um ano e meio sozinha, pela bondade em seus olhos, pela risada que agora enchia a casa.

Ele tinha se apaixonado pela faxineira que tinha invadido sua reunião com uma bebê escondida e não sabia o que fazer com isso. Foi em uma noite de inverno, seis meses depois daquela primeira noite caótica, que Arthur finalmente reuniu coragem. Eles estavam na sala. Bia dormia no sofá entre eles depois de passar a tarde brincando no jardim. A lareira estava acesa. Havia uma paz naquela cena que Artur nunca imaginou que teria novamente.

Amanda, ele começou, a voz hesitante de um jeito que ela nunca tinha ouvido antes. Posso te perguntar uma coisa? Claro. Você é feliz aqui? Amanda olhou ao redor para a casa confortável, para a filha dormindo tranquila, para o homem que tinha se tornado muito mais que um protetor, que tinha se tornado amigo, que tinha se tornado família.

Sim, ela respondeu honestamente. Eu sou muito feliz aqui. Arthur respirou fundo, preparando-se para o maior risco da sua vida. Então, você consideraria ficar para sempre? Amanda olhou para ele confusa. Como assim? Casa comigo. O silêncio que caiu foi absoluto. Amanda piscou várias vezes, achando que tinha ouvido errado. O quê? Eu sei que sou a louco.

Eu sei que você tem todo o direito de dizer não, mas estes últimos seis meses foram os melhores da minha vida desde que Clarinha se foi. Você e Bia trouxeram luz para esta casa, trouxeram vida e eu eu me apaixonei por você, pela forma como você é com Bia, pela sua força, pela sua bondade, pela sua risada, por tudo. Amanda estava sem palavras.

Seu coração batia tão rápido que ela achava que ia explodir. Artur, eu eu não sei o que dizer. Não precisa dizer nada agora. Só pensa. Eu não estou pedindo por obrigação. Não estou pedindo por Bia. Estou pedindo porque eu te amo de verdade e eu quero construir uma família de verdade com você, se você me deixar.

Amanda olhou para Bia dormindo. Depois olhou para Artur, para aquele homem que tinha salvado ela e sua filha quando ela mais precisava, que tinha se transformado de um estranho frio em um homem gentil e amoroso, que brincava com Bia no chão, que chegava cedo do trabalho só para não perder a hora do jantar, que lia historinhas para a sobrinha antes de dormir, que olhava para a Amanda como se ela fosse a coisa mais preciosa do mundo.

“Sim”, ela sussurrou. Sim, sim, eu caso com você. Arthur a puxou para um abraço tão apertado que Amanda mal conseguia respirar. Ele estava rindo e chorando ao mesmo tempo, tão feliz que não cabia em si. Bia acordou com o barulho, olhou para os dois abraçados e simplesmente sorriu. Então se juntou ao abraço, seus bracinhos pequenos tentando alcançar os dois ao mesmo tempo.

E ali, naquela sala iluminada, uma família nasceu. Não pelos laços de sangue, não pela convenção, mas pelo amor verdadeiro que tinha crescido em meio ao caos e à dificuldade. Amanda tinha começado aquela jornada como uma fachineira desesperada, escondendo sua filha no trabalho, e terminou como a esposa do CEO mais temido de São Paulo e mãe de uma Albuquerque, que seria amada e protegida por toda a vida.

Bia tinha começado como uma bebê rejeitada e negada pelo próprio pai e terminou com uma família completa que a adorava incondicionalmente. E Arthur tinha começado como um homem vazio, preso em seu luto e solidão, e terminou aprendendo que o amor pode vir dos lugares mais inesperados, nas horas mais impossíveis, com as pessoas mais improváveis. Eles se casaram três meses depois, em uma cerimônia pequena e íntima.

Bia foi a da minha, usando um vestido branco e espalhando pétalas por todo lado com entusiasmo. Dona Cida estava lá chorando de alegria, de ver a menina que ela tinha ajudado naquela noite caótica, agora tão feliz. E até alguns dos diretores que tinham testemunhado aquela reunião fatídica estavam presentes, sorrindo ao ver como uma situação tão estranha tinha se transformado em algo tão bonito. Roberto não foi convidado e ninguém sentiu sua falta.

Anos depois, quando Bia já era uma criança de 5 anos cheia de energia e perguntas, ela perguntou para a mãe como Amanda e Artur tinham se conhecido. Amanda olhou para o marido, que sorriu de volta para ela, com aquele sorriso que agora era constante em seu rosto. E ela respondeu: “É uma história engraçada, minha filha.

Tudo começou em uma noite chuvosa, quando a mamãe fez a escolha mais arriscada e mais certa da sua vida. E Bia, curiosa como sempre, pediu para ouvir a história toda. Então, Amanda contou, contou sobre a noite em que ela levou uma bebê escondida para o trabalho, sobre a reunião de emergência, sobre o homem frio que se transformou em um pai amoroso, sobre como as coisas mais improváveis às vezes são as mais certas.

E Bia ouviu tudo com os olhos arregalados, sem saber que ela era a heroína daquela história, que foi seu riso que derreteu o gelo, que foi sua presença que salvou três pessoas ao mesmo tempo. Porque no final não foi Artur quem salvou Amanda e Bia. E não foi Amanda quem salvou Artur, foi todos eles, salvando uns aos outros um dia de cada vez, até que a salvação se transformou em amor.

E o amor se transformou em uma família que nada nem ninguém poderia destruir. E se você perguntar para qualquer um deles qual foi o melhor dia de suas vidas, todos dirão a mesma coisa. aquela noite chuvosa na Avenida Paulista, quando uma bebê curiosa engatinhou por baixo de uma mesa de mogno e mudou tudo para sempre.

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