“Por favor… Não tire o pano!”, ela implorou. Mas o rancheiro tirou… e congelou com o que viu.

Algumas pessoas não morrem por causa de balas. Elas morrem de silêncio. Morrem ao passar reto pelo que deveriam ter enfrentado. Morrem ao fechar os olhos para gritos de socorro que não querem ouvir. Rex Mallerie conhecia esse tipo de morte. Por anos, aquele silêncio o assombrara inexoravelmente.

Aquela manhã não parecia diferente de qualquer outra. Uma cerca quebrada, uma milha de terra empoeirada. Mas então, através do campo, uma visão estranha surgiu. Uma carroça quebrada, abandonada. O eixo partido, uma roda inclinada, a outra ainda girando lentamente com o vento, rangendo como ossos quebradiços.

Rex puxou as rédeas de seu cavalo. Problemas na pradaria nem sempre davam aviso, mas aquele silêncio era antinatural demais. Ele desceu, suas botas afundando na grama seca e quebradiça. A lona que cobria a carroça agitou-se com o vento, revelando um pedaço rasgado de pano — a borda de um vestido de mulher.

Rex puxou a cobertura. O que ele viu apertou seu peito.

Uma mulher não mais velha que vinte e cinco anos. Sua pele queimada pelo sol. Seus lábios rachados e sangrando. Um pulso ainda amarrado com arame enferrujado, o outro roxo de hematomas. Ela não chorou nem pediu ajuda. Em vez disso, sua voz saiu arranhada, áspera e quebrada, como o último suspiro da própria vida.

— Me mate rápido.

Rex congelou. Porque naquele momento, ele entendeu. Quem quer que a tivesse deixado ali não queria simplesmente que ela morresse. Queria que ela sofresse, que morresse devagar, em agonia.


Rex não perguntou o nome dela. Não perguntou quem havia feito aquilo. Nem por que a haviam deixado para trás em uma carroça quebrada. Aqui, nesta terra, muitas perguntas não precisavam de respostas, pois às vezes a verdade era muito mais cruel do que qualquer coisa que se pudesse imaginar.

Ele simplesmente puxou a lona para trás e a ergueu cuidadosamente em seus braços. O corpo dela era leve, sem peso, como se ele estivesse carregando a própria morte. Seu cavalo bufou, inquieto com o cheiro de sangue seco, mas Rex apertou as rédeas e guiou ambos lentamente de volta ao rancho.

A casa de Rex dificilmente era um lar. Um telhado de zinco gemia a cada rajada de vento. A varanda estava coberta de poeira, as portas rangiam em dobradiças gastas, duas cadeiras apodrecidas sentavam-se do lado de fora, nunca tocadas por companhia. No entanto, aos olhos de alguém que acabara de rastejar de volta do inferno, como Lydia, aquele lugar era o solo mais seguro que ela conhecera em anos.

Rex estendeu um cobertor velho para ela perto do fogão. Ele não a colocou na cama. Ela não pediu. Ela se encolheu como um pássaro de asas quebradas, o olhar fixo na porta, como se ela pudesse se abrir abruptamente a qualquer momento.

A noite caiu. Rex acendeu o fogo. A luz tremeluzente dançava no rosto dela: magro, queimado de sol, olhos cheios de medo e exaustão. Ela não dormiu, apenas deitou de lado, a respiração curta e pesada.

Pela manhã, Rex colocou uma xícara de água e um pedaço de pão duro diante dela. Ela os encarou como se suspeitasse de uma armadilha, mas por fim ergueu a xícara, bebendo em pequenos goles trêmulos. O pão ela quebrou em migalhas, comendo parcimoniosamente.

Dia após dia, Rex continuou como antes. Consertando cercas, cuidando do gado, deixando água, deixando pão. Era como se a presença dela não tivesse quebrado o ritmo monótono de sua vida, mas sim deslizado silenciosamente para dentro dele, como uma nova sombra em uma casa velha.

Uma semana se passou assim. Eles não falavam muito um com o outro, apenas o som do vento assobiando pelas paredes de madeira e o ritmo surdo dos cascos batendo no chão duro. Lydia raramente deixava seu canto perto do fogão. Encolhia-se sob o cobertor como se tivesse medo de que, se se esticasse, algum fantasma a arrastaria de volta.

No sábado de manhã, com o sol ainda baixo, Rex estava cortando lenha atrás da casa. Cada golpe do machado soava constante, como um batimento cardíaco que nunca falhava. Ele não esperava que ninguém compartilhasse o trabalho, mas quando levantou a cabeça, a viu.

Lydia. Seu cabelo emaranhado amarrado frouxamente com uma tira de pano rasgado, seus ombros magros tremendo no frio da aurora. Ela ficou lá, observando. Então, sem uma palavra, curvou-se para erguer um tronco e colocá-lo no cepo. Suas mãos marcadas tremiam, mas seus olhos estavam firmes.

Rex não a impediu. Simplesmente deu meio passo para trás. Ela balançou o machado, desajeitada mas firme, e a madeira rachou em duas. Eles cortaram lenha juntos em silêncio. Duas pessoas há muito esvaziadas de palavras, encontrando outro tipo de linguagem.

Naquela noite, pela primeira vez, ela falou. Sua voz tão pequena que parecia temer ouvi-la ela mesma. — Você nunca me tocou.

Rex levantou a cabeça, seus olhos cinza-prateados repousando no rosto dela. Ele não deu resposta, apenas olhou. Ela assentiu levemente, como se aquele silêncio fosse toda a resposta de que precisava. E, pela primeira vez desde que entrara naquela casa, Lydia terminou o pão e esvaziou a xícara de água. Depois, os cantos de seus lábios se ergueram em um leve sorriso. Não muito, mas real.


A paz nunca durava muito nesta terra. Era apenas uma sombra frágil antes que o vento mudasse novamente.

Certa manhã cedo, Rex tirou seu cavalo do estábulo e viu rastros frescos pressionados na terra. Sulcos profundos, ainda úmidos, corriam ao longo da linha da cerca sul. Não eram dele, nem de ninguém da cidade. Estranhos haviam passado por ali.

Rex ajoelhou-se, tocando o solo ainda macio sob seus dedos. O vento da manhã ardia em seus olhos com poeira. Mas em seu coração, ele já sabia. A tempestade do passado estava voltando para buscá-lo.

Lá dentro, Lydia sentava-se perto do fogo. Ela esfregava o pulso onde velhas cicatrizes cortavam fundo. Pela primeira vez, Rex olhou de perto. Esculpido em sua pele com algo afiado estavam três letras tortas: SUT.

Nem todos conheciam aquela marca, mas Rex já a vira antes. Anos atrás, do lado de fora de um saloon em Tombstone, um homem bêbado mostrara a mesma cicatriz no pulso, rindo orgulhosamente sobre feitos que nenhum homem decente deveria jamais mencionar. Naquele dia, Rex virara as costas. Ele permanecera em silêncio. E agora aquele silêncio voltara para assombrá-lo na forma desta mulher quebrada.

A noite caiu. Lydia sentou-se perto do fogo, os olhos fixos na porta. — Não consigo dormir — sussurrou ela. — Algo parece errado.

Rex não deu resposta. Simplesmente sacou seu revólver, limpando-o lentamente, cada movimento preciso e familiar. Quando ele deslizou o cano de volta para o coldre de couro, a mão trêmula de Lydia estendeu-se, repousando levemente sobre a dele, apenas por um momento, mas o suficiente.

Rex entendeu. Ela sabia quem esperava lá fora. E sabia que, desta vez, ele não viraria as costas.


Naquela noite, Rex não esperou o ataque. Ele selou seu cavalo e cavalgou para a escuridão, seguindo a trilha de cascos em direção ao cânion. O cânion estava envolto em trevas, espesso como um cobertor pesado. Ele amarrou o cavalo sob um pinheiro baixo e seguiu a pé em direção ao brilho fraco de uma fogueira.

Entre penhascos irregulares, havia um barraco de madeira torto. Risadas grosseiras transbordavam de lá, misturadas com o tilintar de garrafas. Rex ficou imóvel nas sombras, ouvindo. Aquela voz — ele a ouvira anos atrás em Tombstone. A bravata bêbada de homens que tratavam o mal como um jogo.

Ele esperou até que o uísque começasse a arrastar as pálpebras deles para baixo. Então, chutou a porta.

Rex entrou, golpeando o peito do homem mais próximo com a coronha do revólver antes que ele percebesse o que o atingira. Outro alcançou o cinto, mas antes que a faca saísse do couro, um tiro rugiu. A bala estilhaçou a lâmpada de óleo pendurada na viga. Luz explodiu em fogo e fumaça.

Um terceiro homem congelou, largou a faca no chão e ergueu ambas as mãos. Sem pedido de misericórdia, apenas silêncio.

No canto, encolhia-se outra figura. Uma jovem, cabelo emaranhado de sujeira, vestido em farrapos. Rex tirou seu casaco, envolvendo-o nos ombros dela. Antes de sair, ele parou, a voz fria e grave: — Ela nunca foi de vocês. Ela nunca será de vocês. E se eu ouvir falar disso de novo, não haverá um segundo aviso.

Ninguém respondeu. Apenas o crepitar do fogo na mesa, lançando luz pálida em rostos cinzentos.

Rex guiou a garota para fora e a levou direto para Tombstone. O xerife estava atrás de sua mesa, prestes a resmungar alguma reclamação, até que Rex jogou um vestido manchado de sangue e uma faca quebrada com a marca “SUT” sobre a mesa. O rosto do xerife perdeu a cor. Desta vez, a lei não podia desviar o olhar.


Mas Rex sabia que aquilo não tinha acabado. E ele estava certo.

A aurora não foi como as outras. O sol ainda não havia nascido, mas o vento da pradaria trazia uma poeira estranha. Rex saiu para a varanda. Pontos escuros moviam-se no horizonte. A gangue Sutter. Eles tinham vindo.

O som de cascos rolou mais perto, o chão tremendo. Lá dentro, Lydia agarrava um cobertor velho contra o peito. O medo em seu rosto não precisava de explicação.

Rex apoiou seu Winchester no parapeito da varanda. — Entregue-a, Mallerie! — rosnou o homem na frente, o rosto coberto por uma bandana. — Não deixe seu campo encharcar de sangue.

Rex não se moveu. Ele recuou meio passo, apenas o suficiente para bater a bota contra o assoalho de madeira. Atrás dele, no estábulo abandonado, uma chama oculta saltou. Ele estava pronto.

Quando a gangue esporeou seus cavalos para frente, Rex puxou o gatilho. O primeiro tiro não foi mirado em um homem, mas no barril de óleo pendurado na viga do estábulo. Fogo irrompeu, fumaça espessa derramando-se pelo pátio. Cavalos guincharam de terror, empinando e jogando seus cavaleiros no chão.

O pátio virou um campo de batalha de sombras. Rex movia-se como uma delas, cada tiro preciso, forçando a gangue a recuar. No caos, ele viu o tenente — um bruto com o rosto marcado de varíola e as letras SUT no pulso. Com um movimento rápido, Rex laçou o homem e o derrubou, amarrando-o à viga de madeira com a própria corda que o bandido carregava.

O resto viu seu segundo em comando uivando, e recuaram. Eles sabiam que a luta não era mais deles para vencer.

Chamas rugiam no pátio do rancho, fumaça negra subindo contra o brilho vermelho da aurora. Lydia correu para fora da casa, os olhos brilhando. Rex deu um leve aceno, depois voltou-se para apertar as cordas no homem capturado. O fora da lei gaguejou e implorou, mas Rex não deu resposta. Alguns homens só param quando toda a sua gangue é arrastada para a luz.


O fogo e a fumaça desapareceram, deixando o cheiro amargo de cinzas agarrado à velha varanda. O tenente Sutter foi arrastado acorrentado, forçado a dar os nomes de cada homem na gangue. Desta vez, o xerife não ousou desviar o olhar.

Rex Mallerie voltou ao rancho no final da tarde. O céu queimava em ouro, a poeira ainda suspensa no ar. Na varanda, Lydia estava de pé, segurando seu cobertor, os olhos fixos nele. Sem lágrimas, sem perguntas. Apenas um olhar como se, pela primeira vez em sua vida, ela acreditasse que nem todos os homens eram cruéis.

Rex subiu na varanda, tirando o chapéu. Seus olhos se encontraram. Nenhuma palavra passou.

Os dias lentamente voltaram ao ritmo. Lydia começou a cuidar de um pequeno pedaço de jardim nos fundos, plantando algumas sementes que carregava desde a infância. Ela escovava as crinas dos cavalos, não mais tremendo quando suas mãos tocavam as rédeas.

Certa tarde, Rex a ouviu cantarolando uma velha melodia folclórica enquanto varria a varanda, a voz fraca, mas firme. Ele não disse nada, apenas ficou à distância e ouviu.

Na mesa do café da manhã, agora havia sempre duas xícaras. Uma para ele, uma para ela. Aquele pequeno detalhe sozinho dava à casa vazia um sopro de vida.

Eles não dividiam a cama. Lydia ficava no pequeno quarto do outro lado do corredor. No entanto, nas noites em que se sentavam juntos na varanda, compartilhando um bule de café sob um céu cheio de estrelas, a companhia silenciosa parecia mais próxima do que quaisquer palavras de afeto poderiam ser.

Certa noite, enquanto o pôr do sol carmesim derretia atrás das montanhas, Lydia perguntou suavemente: — Por que você voltou por mim?

Rex ficou em silêncio por um longo momento. Então sua voz, baixa e grave, respondeu: — Porque alguém tinha que fazer isso.

Ela assentiu. Nada mais. Mas o leve sorriso que tocou seus lábios dizia tudo.

Rex nunca perguntou a Lydia quanto tempo ela ficaria. Ela não fez promessas sobre o amanhã. Mas a cada manhã ela saía pela porta, e a cada noite ela voltava. O amor, acontece, nem sempre vem como fogo. Às vezes chega suavemente, como chuva em um telhado de madeira velho. Uma chance de perdoar, uma chance de começar de novo.

E o silêncio que outrora assombrara Rex Mallerie agora era preenchido com o som de duas vidas, finalmente em paz.

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