Os passageiros da classe executiva gozam com a pobre idosa, momentos depois, as palavras do piloto fazem-nos arrepender-se
Matilda finalmente chegou ao seu lugar na classe executiva do avião, com as mãos ligeiramente trémulas de emoção e nervosismo.
Mas, mesmo quando estava prestes a acomodar-se, um homem ao seu lado franziu o sobrolho e quase gritou com a assistente de bordo.
— Não quero sentar-me ao lado dessa… mulher! — ladrou Gregory Donovan, olhando fixamente para a idosa que estava desajeitadamente de pé no corredor.
— “Senhor, este é o lugar atribuído a ela. Não o podemos mudar,” — respondeu calmamente a assistente de bordo, tentando acalmá-lo.
— Impossível! Estes lugares custam uma fortuna! Olhe para ela! Não pode pagar isto. Veja a roupa que traz! — exclamou Gregory, apontando de forma rude para a roupa simples de Matilda.
As faces de Matilda ardiam de vergonha. Aquela roupa era a sua melhor opção — cuidadosamente engomada e escolhida com atenção —, mas ali estava ela, sendo ridicularizada em frente a desconhecidos.
Outros passageiros começaram a virar-se para observar. Matilda baixou os olhos para os seus sapatos, desejando desaparecer. A discussão arrastou-se, atrasando o embarque. Mais assistentes de bordo juntaram-se, na esperança de acalmar Gregory.
Surpreendentemente, alguns passageiros até concordaram. Murmuravam entre si, convencidos de que a idosa não pertencia à classe executiva e que devia estar na económica.
Sentindo-se humilhada para além das palavras, Matilda finalmente falou, com a voz suave e resignada:
— Não faz mal, menina. Se houver um lugar livre na classe turística, eu sento-me lá. Gastei todas as minhas poupanças neste bilhete, mas não quero ser um incómodo — disse, pousando suavemente a mão no braço da assistente.
A assistente já tinha sido muito simpática com Matilda antes, ajudando-a a orientar-se no caótico Aeroporto Internacional de Seattle-Tacoma. Aos 85 anos, era a sua primeira vez a viajar e sentia-se completamente perdida. Felizmente, a companhia aérea tinha-lhe atribuído um acompanhante até à porta de embarque.
Apesar de mostrar a Gregory o seu cartão de embarque, ele continuava a recusar-se a acreditar que ela pertencia ali. A assistente virou-se para Matilda com um olhar feroz — não de raiva por ela, mas por ela.
— Não, senhora. Pagou por este lugar e merece sentar-se aqui, custe o que custar — insistiu com firmeza.
Depois virou-se para Gregory e ameaçou chamar a segurança se ele não cooperasse. Derrotado, Gregory suspirou e afastou-se, deixando Matilda sentar-se.
Enquanto o avião começava a rolar na pista, Matilda, assustada, remexeu na sua mala, derramando acidentalmente o conteúdo. Surpreendentemente, Gregory curvou-se para a ajudar a recolher tudo. Entre os objetos espalhados, um relicário com rubis chamou-lhe a atenção.
Pegou nele com cuidado, assobiando. — Uau… isto é incrível — murmurou.
— O que quer dizer? — perguntou Matilda com cautela, enquanto pegava no relicário.
— Sou joalheiro antigo — explicou. — Estes rubis são autênticos; esta peça tem um valor incalculável. É verdade? — devolveu-lho com delicadeza.
Matilda apertou o relicário nas mãos e olhou-o fixamente, com o olhar suavizado. — Na verdade, não fazia ideia. O meu pai deu-o à minha mãe antes de ir combater na Segunda Guerra Mundial. Prometeu voltar… mas nunca voltou — disse em voz baixa.
— Lamento muito — respondeu Gregory, com voz mais branda —. Chamo-me Gregory Donovan. Também quero pedir desculpa pelo meu comportamento anterior. Estou a lidar com alguns problemas pessoais, mas isso não justifica a forma como agi. Importa-se de me contar mais sobre o seu pai?
Matilda respirou fundo. — Era piloto de combate. Eu tinha apenas quatro anos quando ele partiu, mas lembro-me vivamente desse dia. A minha mãe ficou devastada por ele nunca ter regressado.
Ela nunca recuperou completamente e passámos por muitas dificuldades. Mesmo quando o dinheiro faltava, nunca pensou em vender o relicário. Deu-mo quando eu tinha dez anos e pediu-me para o guardar.
Apesar das minhas próprias dificuldades, nunca fui capaz de me desfazer dele; o seu verdadeiro valor não está nas pedras, mas no que guarda no seu interior.
Abriu o relicário e revelou duas pequenas fotografias. Uma mostrava um casal jovem e sorridente, em tons sépia; a outra, um bebé.
— Estes são os meus pais — disse com os olhos brilhantes —. Veja como estavam felizes.
Gregory acenou com a cabeça, e o seu olhar desviou-se para a foto do bebé. — É o seu neto? — perguntou, confuso.
Matilda abanou a cabeça. — Não… é o meu filho. Na verdade, ele é a razão pela qual estou neste voo — disse com um tom melancólico.
— Vai visitá-lo?
— Não… não estou exatamente a visitá-lo — explicou em voz baixa. — Fiquei grávida aos trinta anos. O meu namorado desapareceu e fiquei sozinha. A minha mãe já tinha falecido com demência e eu não tinha ninguém que me ajudasse. Tentei ficar com o meu bebé, mas sabia que não lhe podia dar a vida que merecia. Por isso, dei-o para adoção.
Gregory ouviu, atónito. — Voltou a encontrá-lo?
— Tentei — suspirou. — Encontrei-o através daqueles testes de ADN. Pedi a um rapaz do bairro para me ajudar a escrever-lhe. Chama-se Daniel. Respondeu-me uma vez, dizendo que estava bem e que não precisava de mim na sua vida. Continuei a escrever-lhe, a pedir-lhe perdão… mas nunca mais me respondeu.
Gregory franziu o sobrolho, confuso. — Então… por que está aqui?
Os lábios de Matilda curvaram-se num sorriso terno e agridoce. — O Daniel… é o piloto deste voo. Hoje é o seu aniversário, 22 de janeiro de 1973. Não me resta muito tempo neste mundo e queria estar perto dele no seu dia especial. Esta é a única forma que encontrei.
Gregory sentiu uma lágrima escorrer pela sua face e limpou-a rapidamente. Entretanto, alguns assistentes de bordo e passageiros próximos tinham ouvido tudo, com rostos comovidos pela compaixão.
— Enfim — continuou Matilda, fechando o relicário e guardando-o num local seguro —, este é um dos seus voos mais longos. Assim, hoje posso passar pelo menos cinco horas perto do meu filho.
Para ela, essas horas passaram num instante. Quando a voz do piloto chegou pelo intercomunicador, anunciando a chegada iminente ao aeroporto JFK, Matilda preparou-se para se despedir. Mas, em vez de terminar o anúncio, a voz continuou.
— E mais uma coisa — disse Daniel com carinho pelo altifalante —. Quero que todos deem as boas-vindas à minha mãe biológica. Hoje ela voa comigo pela primeira vez. Olá, mãe. Por favor, espera por mim depois de aterrar.
Os olhos de Matilda encheram-se de lágrimas. Gregory virou-se para ela, oferecendo-lhe um sorriso gentil e de desculpa, agradecendo-lhe em silêncio por ter partilhado a sua história.
Assim que o avião aterrou, Daniel quebrou o protocolo e correu da cabine. Dirigiu-se diretamente a Matilda e abraçou-a com força. Os passageiros e a tripulação rebentaram em aplausos, e muitos enxugaram as lágrimas.
Ninguém mais ouviu, mas Daniel sussurrou-lhe ao ouvido, agradecendo por ter tomado aquela difícil decisão há tantos anos. Admitiu que, após responder ao seu primeiro e-mail, percebeu que não estava zangado; simplesmente não sabia como responder. Pediu desculpa por tê-la ignorado.
Matilda apenas o abraçou com mais força, sussurrando que compreendia e que não havia nada para perdoar.