Ela costumava beijá-lo através da janela do carro. Agora, ela caminha sozinha até o mercado.
Todas as quintas-feiras de manhã, eu me sentava na cafeteria com meu cappuccino morno e minha tentativa, sem muito entusiasmo, de escrever no meu diário.
Isso se tornara parte do meu ritual desde que me mudei para esta tranquila cidade à beira da costa de Oregon. Na verdade, não acontecia muita coisa lá, mas esse era o objetivo.
Depois de seis anos em Seattle, eu precisava de um lugar onde o barulho não me encontrasse. O mercado abria tarde, o ar cheirava a sal e pão, e as pessoas, na maioria, se mantinham afastadas. Era tudo o que eu queria.
Exceto que eu não conseguia parar de observá-los.
Todas as quintas-feiras, às nove, um Ford Crown Victoria prateado parava bem em frente. O motorista era um homem mais velho, sempre com um casaco de tweed, mesmo no verão, e o cabelo branco penteado para trás, como se tivesse que ir a algum lugar importante. Mas ele nunca descia. Em vez disso, esperava, com as mãos cruzadas sobre o volante e o olhar fixo na calçada.
E então, ela vinha.
Ela andava devagar, com uma bengala na mão, mas com uma dignidade serena que parecia intocada pelo tempo. Sempre com um suéter rosa, sempre com uma bolsa preta.
Seus lábios estavam levemente tingidos de rosa. Ela se aproximava da janela aberta do Ford, beijava suavemente a bochecha dele — ou às vezes nos lábios — e sussurrava algo que fazia ele esboçar aquele sorriso que só aparece em quem sabe algo que você não sabe. Depois, ela se endireitava, ajustava a bolsa e entrava mancando no mercado como se isso não tivesse alegrado o meu dia.
Eu não os conhecia. Nem seus nomes, nem sua história. Nunca os cumprimentei, nem mesmo olhei nos olhos deles.
Simplesmente me sentava do outro lado da rua, fingindo escrever enquanto esperava aquele beijo. Isso fazia com que tudo parecesse menos pesado. Como se o amor não expirasse.