Apareceu para prender o meu vizinho, mas depois levou o cachorro.
Eu estava na minha varanda tomando um café morno quando a viatura chegou do outro lado da rua.
Estacionou bem em frente à casa da senhorita Lillian, você sabe, a da persiana quebrada e a placa de “NÃO JOGUE BERRIES”, que é mais velha que eu.
Pensei que fosse por causa da reclamação de barulho do fim de semana passado, ou talvez tivessem prendido o neto dela, Damien, por colocar aquele som alto com tanto grave à toda hora da madrugada.
Mas então saiu o agente: tranquilo, sereno, desses que não precisam levantar a voz para fazer as coisas.
O que eu não esperava era que ele passasse direto pela casa… e se ajoelhasse ao lado das lixeiras.
Eu estreitei os olhos. Foi quando percebi um pequeno movimento: um cachorrinho dourado, todo ossos e patinhas trêmulas, encolhido entre as lixeiras como se estivesse lá escondido há dias.
O oficial não hesitou. Levantou o pequeno ser como se fosse de cristal, apertando-o contra o peito. O cachorro se fundiu com ele.
Sem latidos. Sem resistência. Apenas aquele silêncio estranho e doloroso, como se finalmente tivesse parado de correr.