Pai obriga filha a gerar herdeiro com escravo em 1788 | História proibida do Brasil Colonial

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👑 O LEGADO PROFANO E O PACTO DE SOBREVIVÊNCIA

Era 1780. O ar na Fazenda Vale do Ouro, no coração febril de Minas Gerais, era pesado, denso. Pelas frestas do quarto de Isabela, a única filha do Coronel Jacinto, entrava o cheiro forte de terra molhada e café secando, um aroma que para ela era o perfume de sua própria prisão.

Isabela tinha 19 anos, com a pele branca “como os lírios do jardim” de sua falecida mãe, mas os olhos cor de mel já estavam opacos, velados pelo medo. Um medo que tinha nome, rosto e poder absoluto: Coronel Jacinto, seu pai.

Do outro lado do cômodo, ele a observava, sentado em sua poltrona de jacarandá, “sólida como sua reputação.” O Coronel estava morrendo. Os médicos cochichavam sobre “pulmões que se desfaziam em sangue.” Ele sabia que seu tempo era curto, mas sua linhagem, seu nome, sua fortuna, “nada disso podia morrer com ele.”

E então, ele proferiu a sentença. A voz estava trêmula pela doença, mas afiada pela autoridade.

Você me dará um neto, Isabela. Um varão para carregar o nome dos Lacerda.

O coração dela tropeçou. Uma faísca de esperança brilhou e se apagou. Talvez um casamento arranjado, mas o olhar dele era puro gelo.

Não há tempo para casamentos e nenhum fidalgo inútil desta região merece meu ouro. O pai do meu herdeiro será um homem forte, um touro, e eu já o escolhi.

Ele fez uma pausa, saboreando o poder de suas próximas palavras.

Ambrósio.

O nome caiu como uma pedra no silêncio. O ar fugiu dos pulmões de Isabela. Ambrósio. O escravo que cuidava dos cavalos, o gigante de pele escura e “olhos que guardavam a dor de gerações.” Um homem que ela via todos os dias, mas nunca ousou encarar. A ideia era “tão monstruosa, tão profana,” que sua mente se recusou a aceitar.

Não, pai, pelo amor de Deus, não me peça isso!

Ele se levantou, apoiado na bengala de castão de prata. Cada passo em sua direção era um martelo cravando o destino dela.

Não é um pedido, é uma ordem. Você cumprirá seu dever ou juro por Deus que apodrecerá no convento mais esquecido destas Minas. E o filho, se nascer, será meu criado como o pai.” Ele a segurou pelo queixo, os dedos ossudos e frios. “Você entende o seu lugar? Isabela, sua vontade me pertence.


A Noite da Vergonha

 

Naquela mesma noite, a Mucama Jacira a preparou. O silêncio da negra era uma faca, pois não havia consolo, apenas o cumprimento de uma ordem terrível.

Levaram Isabela para um quarto nos fundos da casa. Frio, com cheiro de mofo. Apenas uma vela tremia, dançando com as sombras.

Quando Ambrósio entrou, o quarto pareceu encolher. Ele não a olhava, os olhos fixos no chão, as mãos enormes fechadas em punhos. Ela podia sentir o cheiro de capim e de medo, um medo que era o espelho do seu. Ali não havia desejo, apenas vergonha e a obediência cega ao homem que era dono de seus corpos.

O silêncio era tão denso que se podia ouvir o zumbido de um pernilongo, os grilos lá fora e o som do coração de Ambrósio “batendo tão forte que parecia vibrar no assoalho.”

Sinhá…” ele sussurrou. A voz rouca foi a primeira e única palavra.

Isabela fechou os olhos, rezando para que a escuridão a engolisse.


O Herdeiro Rejeitado

 

Os meses seguintes foram um borrão de náuseas e terror. A barriga de Isabela crescia, e com ela, os cochichos na senzala. O Coronel, por sua vez, parecia rejuvenescer, cuidando daquela barriga “como sua colheita mais valiosa.” O que importava era o herdeiro, “o pedaço de carne que levaria seu nome.”

Às vezes, os olhos de Isabela encontravam os de Ambrósio à distância — um relâmpago, um segundo de cumplicidade silenciosa. Naquele instante, não eram Sinhá e escravo, eram “duas almas presas na mesma teia.”

A noite do parto chegou com uma tempestade. Raios rasgavam o céu, trovões sacudiam a Casa Grande, e dentro do quarto, os gritos de Isabela se misturavam à fúria da natureza.

Quando o choro fino de um bebê finalmente venceu o barulho do temporal, o Coronel invadiu o quarto. A parteira, uma senhora negra de olhos sábios, entregou o embrulho a ele.

É um menino, Coronel. Um varão forte.

Com as mãos trêmulas, ele abriu os panos e congelou. O bebê era perfeito, saudável, mas sua pele tinha um inconfundível tom de cobre, os cabelos negros e crespos.

A fúria nos olhos do Coronel foi mais assustadora que a própria morte que o aguardava.

Este não é meu neto!” ele rosnou. “Isso é a prova da vergonha! Um bastardo de escravo!

Ele jogou o bebê de volta nos braços da parteira e se virou para a filha, exausta e aterrorizada.

Você me desonrou. Amanhã você parte para o convento e esta coisa será criada na senzala, com os de sua laia.

Ele bateu a porta. Naquele momento, algo dentro de Isabela se quebrou, mas não sua força, nem sua submissão. Ao olhar para o rostinho do filho, o pequeno ser nascido da violência, ela sentiu um amor “tão feroz que aniquilou todo o medo.”

Ela não iria a lugar nenhum, e seu filho não seria um escravo. Uma determinação de aço nasceu em seus olhos.


O Pacto na Penumbra

 

Nos dias seguintes, Isabela fingiu fraqueza, mas sua mente era “uma navalha.” Ela confidenciou seu plano a Jacira, a Mucama, que se tornou sua aliada.

Ambrósio foi chamado ao quarto sob um pretexto qualquer. Pela primeira vez, estavam sozinhos com o filho.

Vamos fugir,” disse ela sem rodeios, “com o filho.

Ambrósio a olhou. Fugir era a morte certa. Mas então ele olhou para o berço, para o rosto do menino, uma mistura impossível dos dois. E ele entendeu. Ficar era uma morte ainda mais lenta. Ele apenas assentiu.

Na penumbra, eles selaram um pacto, não de amor, mas de sobrevivência, um laço forjado no inferno, que agora era sua única salvação.

Na noite de Lua Nova, eles partiram. Jacira lhes deu comida e um mapa rudimentar. Ambrósio carregava o filho adormecido contra o peito. Isabela levava apenas a coragem que acabara de descobrir. Correram pela mata, o cheiro de folhas podres, o som de seus pés abafados. A liberdade tinha o som do medo.

A história deles não é sobre o destino, mas “sobre a coragem de dar o primeiro passo, sobre uma mulher que transformou sua maior vergonha em sua maior força e sobre um homem que ousou sonhar com a liberdade para seu filho.”

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