A noite de lançamento da SBT News, o novo canal de jornalismo do Grupo Silvio Santos, transcendeu o simples anúncio empresarial. Transformou-se em um palco de declarações políticas de peso, homenagens emocionadas e, sobretudo, em uma poderosa reafirmação dos pilares da democracia e da liberdade de imprensa no Brasil. Com a presença das maiores figuras da República, os discursos do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do Vice-Presidente Geraldo Alckmin injetaram uma dose de drama e revelação nos bastidores da mídia nacional, deixando uma marca indelével sobre o que se espera do jornalismo no país.
O tom da cerimônia foi dado de forma imediata pelo Presidente Lula. Em um gesto que surpreendeu a plateia, ele abandonou a liturgia do discurso previamente escrito, optando por uma abordagem mais pessoal e visceral. Sua primeira e mais longa reverência foi dedicada à família de Silvio Santos, em particular à matriarca, Dona Íris Abravanel, estendendo a saudação a todos os membros. Lula não poupou superlativos ao descrever o fenômeno que é Silvio Santos, o comunicador que, por décadas, foi o ponto central do domingo na vida de milhões de brasileiros. “Não havia brasileiro que passasse o domingo assistindo aos programas do Silvio Santos,” afirmou. O Presidente resgatou memórias da sua juventude, lembrando como os programas do “Homem do Baú,” como o polêmico ‘Casamento na TV,’ dominavam as conversas nas fábricas nas segundas-feiras, evidenciando o poder de união e debate popular que o empresário da comunicação sempre exerceu. Este reconhecimento não é apenas uma cortesia política, mas uma admissão do impacto social de um ícone que moldou a cultura de massas brasileira de uma maneira ímpar, cruzando barreiras sociais e ideológicas.
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A partir desta homenagem de fundo cultural, Lula migrou, de forma abrupta e calculada, para o coração da arena política e econômica. O Presidente listou o dia como importante por três razões. A primeira delas, um aceno de otimismo econômico. Ele sublinhou que todos os prognósticos negativos lançados contra a economia brasileira no início de janeiro se mostraram infundados, com uma melhoria abrangente em todos os indicadores no mês de outubro. Esta declaração, feita em um ambiente de comunicação e diante de empresários e formadores de opinião, não é apenas um relatório; é uma tese de confiança no andamento da sua gestão e uma tentativa de reverter a narrativa pessimista que muitas vezes domina o noticiário.
A segunda e mais explosiva razão mencionada por Lula foi a celebração dupla de aniversários: os 95 anos de Silvio Santos e, notavelmente, a véspera dos 35 anos de idade do Ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). A conexão feita por Lula entre os dois eventos, um ícone da mídia e uma autoridade do Judiciário, era um prenúncio do que estava por vir. O Presidente transformou a congratulação a Moraes em uma defesa veemente da soberania nacional e da Justiça brasileira. Referindo-se a um reconhecimento internacional recente, Lula enquadrou o episódio como um “presente” de um líder estrangeiro, enfatizando o caráter de justiça em relação a um ministro que, segundo ele, estava apenas cumprindo a Constituição Brasileira. “A tua vitória, Alexandre, é a vitória da democracia brasileira,” declarou Lula, elevando a atuação do ministro no STF, muitas vezes alvo de intensa polarização, a um símbolo da resistência democrática.
O Presidente fez questão de narrar um diálogo que teve com o líder estrangeiro (que o transcript refere-se como Trump, não nomeado diretamente no discurso final aqui analisado, mas crucialmente o líder dos Estados Unidos, reforçando a escala global do tema), deixando claro que a questão não se tratava de amizade pessoal, mas sim de uma defesa institucional inegociável. “Aqui você não está tratando de amigo para amigo, você está tratando de instituição para nação. E a Suprema Corte para nós é uma coisa muito importante,” pontuou Lula. Ele expressou felicidade pelo reconhecimento e destacou a necessidade de que “falta mais pessoas” entenderem que um presidente de um país não pode punir, com suas leis, autoridades de outra nação que estão a exercer a democracia. O recado era direto: a Suprema Corte é o pilar da nação, e a sua autonomia e legitimidade são sacrossantas.
Mas foi o mergulho na história pessoal de Silvio Santos que conferiu ao discurso de Lula o seu momento mais humano e revelador. O Presidente compartilhou um episódio nunca antes detalhado com tal clareza: o rombo no Banco Pan-Americano. Lula relembrou o telefonema de Silvio Santos, na época em seu segundo mandato, solicitando uma reunião urgente em Brasília. O comunicador, em desespero, chegou à capital com um DVD na mão, certo de que seria preso devido ao prejuízo de dois bilhões de reais no banco, um valor chocantemente superior ao de casos anteriores, como o do Banco Santos. “Presidente, você precisa me ajudar. Sabe que deram um rombo no Banco Pan-Americano e eu vou ser preso,” teria dito Silvio Santos.
A resposta do Presidente Lula não foi de interferência, mas de mobilização institucional para a legalidade. Ele acionou o então Presidente do Banco Central, Henrique Meireles, e o Ministro da Fazenda, Guido Mantega, para que, em conjunto com o Fundo Garantidor de Crédito, encontrassem uma solução. O desfecho é conhecido: Silvio Santos não foi preso, o problema do Pan-Americano foi resolvido, e o empresário chegou a dar a própria rede de televisão como garantia do acordo. No entanto, o ponto central do relato de Lula não foi o auxílio financeiro, mas a atitude do dono do SBT: “O Silvio Santos falava deste problema dele nos programas de domingo dele na televisão. Ele não tinha vergonha de dizer para o povo o que tinha acontecido com ele numa demonstração de que a verdade ela vai vencer, pode demorar, mas ela vai vencer.” Este testemunho de integridade e transparência, no auge de uma crise que poderia ter destruído seu império, foi o maior elogio de Lula à figura pública de Silvio Santos.
A partir desta anedota sobre a vitória da verdade, Lula traçou a sua visão para o jornalismo da nova SBT News. Com a autoridade de quem tem 80 anos, está em seu terceiro mandato presidencial e afirma nunca ter ligado para um jornalista ou dono de veículo para pedir censura ou a não publicação de matérias, ele estabeleceu a linha editorial: “Um jornalista não existe para julgar. Quem julga é um juiz. O jornalista existe para informar. E informar com base na verdade, doa a quem doer.”
Lula insistiu que a imprensa só cumpre o seu papel nobre se for “livre.” Se for “partidária” ou “ideologizada,” ela falha em informar o povo com isenção. O apelo do Presidente é para que o novo canal siga a risca o princípio sagrado: “Deixem o povo julgar, contem apenas a notícia, diga o fato real e deixe que o povo faça as suas interpretações.” O que é “duro e triste,” segundo Lula, é quando o jornalista não se limita ao fato, mas insere sua própria interpretação e julgamento, impedindo que o telespectador forme seu próprio juízo de valor. Se o SBT News cumprir a promessa de Silvio Santos, estaria fazendo “o melhor jornalismo que esse país vai ter.”
Na sequência, o Vice-Presidente Geraldo Alckmin trouxe uma perspectiva igualmente pessoal e emotiva, focada na capacidade humana e comunicativa de Silvio Santos. Depois de também parabenizar a família, Alckmin lembrou que seu primeiro contato pessoal com o comunicador ocorreu durante o programa ‘Cidade Contra Cidade,’ quando ele representou Pindamonhangaba e o time venceu quatro vezes, ganhando quatro ambulâncias.

O momento de maior impacto, porém, foi a narrativa de Alckmin sobre o sequestro de Silvio Santos, décadas depois, na mansão do empresário. Na época, Alckmin era Governador. Uma informação crucial chegou ao seu gabinete: “se você for, talvez o sequestrador se entregue.” Alckmin relembrou a hesitação e o conselho de um antigo professor de medicina, mas seguiu em frente. Ele descreveu a cena: a casa vazia, o sequestrador e Silvio Santos na copa-cozinha, a porta trancada e o comunicador usando um colete balístico. Ao ouvir a voz de Alckmin, Silvio Santos surpreendeu a todos com a sua reação, humanizando o criminoso em potencial: “Governador, esse rapaz é maravilhoso. Ele vai fazer faculdade, já combinei com ele, vai fazer faculdade.” Em apenas dois minutos, o sequestro estava resolvido. A demonstração de autocontrole, humanidade e a capacidade de comunicação de Silvio Santos, mesmo sob a mira de uma arma, foi a prova cabal da sua personalidade extraordinária, a qual Alckmin fez questão de enaltecer.
O Vice-Presidente concluiu seu discurso ligando todos os pontos do evento: o aniversário de Silvio Santos, o lançamento do canal de jornalismo e a presença de Lula e Moraes. “Não tem liberdade de expressão sem democracia. Hoje se fortalece a democracia com esse novo canal,” cravou Alckmin. O novo canal, voltado ao jornalismo de economia e política, leva informação e faz a sociedade brasileira ganhar. Para selar o compromisso com a imprensa, Alckmin citou o escritor Victor Hugo: “o diâmetro da imprensa é o diâmetro da civilização.”
Em suma, o lançamento da SBT News se estabeleceu não apenas como um evento de mídia, mas como um marco de diálogo entre o poder executivo, o poder judiciário e a imprensa brasileira. Os discursos de Lula e Alckmin foram lições de história, de política e de ética jornalística, usando a figura imortal de Silvio Santos como o fio condutor para reafirmar valores democráticos e um novo padrão de verdade e isenção na comunicação. O desafio para a SBT News está lançado: cumprir a promessa de um jornalismo que informa sem julgar, permitindo ao povo, o verdadeiro soberano, a tarefa de fazer os seus próprios juízos.