Todos Temeram o Homem das Montanhas na Gaiola—Até a Viúva Oferecer Seu Anel de Casamento Para Liberta-lo, Desafiando Tudo o Que Era Esperado!

Selma não tinha intenção de parar em Fallow Ridge. Ela estava apenas de passagem, conduzindo a mesma carroça que comprara com a pensão de seu falecido marido e o pouco de prata que restara, depois que os irmãos dele haviam levado tudo o que puderam. Mas quando a roda quebrou na frente do saloon, e os moradores da cidade ofereceram risadas em vez de ajuda, ela viu a gaiola. Estava no centro da praça, como uma exibição. Barras de ferro enferrujadas na base, palha espalhada no chão, e dentro, um homem estava encurvado contra a parede, com a cabeça baixa. Ele não falava, não se movia. Estava descalço, a camisa rasgada, os pulsos amarrados com algemas improvisadas. Alguém havia pregado um cartaz ao lado da gaiola, dizendo que custava 10 dólares tocar no “animal”. Um garoto jogou uma pedra na gaiola. Ela bateu nas barras e ricocheteou. O homem não se mexeu.

Selma desceu lentamente de sua carroça. Suas mãos estavam feridas de tanto segurar as rédeas por dias, mas ela se dirigiu até a aglomeração como se tivesse sido chamada. O burburinho da cidade se intensificou quando ela se aproximou, e o xerife estava encostado em um poste, entalhando algo com sua faca.

“Ele fez o quê?”, perguntou Selma, em voz baixa. O xerife mal olhou para ela.

“Não há nada que possamos provar, mas ele não fala. Saiu das colinas com a bolsa de selim de outro homem, e estava sangrando como porco ferido. Não conseguiu se explicar, então deixaram que a cidade fizesse o que quisesse com ele.”

“Ele é perigoso?”, perguntou Selma.

“Para quem?”, respondeu o xerife com um sorriso irônico. “Para uma mulher como você?”

Foi nesse momento que o homem na gaiola levantou a cabeça. Não totalmente, apenas o suficiente para que Selma visse seus olhos. Não selvagens, não suplicantes, apenas observando, como alguém que já passou da esperança, mas ainda não estava quebrado. Ela deu um passo à frente até que suas botas tocaram o limite da gaiola. A cidade se calou por um momento.

“Ele tem nome?”, perguntou ela.

“Não sabemos. Diz que não tem nome”, respondeu o xerife.

O homem continuou olhando para ela. Selma não desviou o olhar. Seus dedos se mexeram ao seu lado. Pensou no anel. Ele ainda estava em sua bolsa, a única coisa que ela não havia penhorado. Seu anel de casamento. Um ouro fino, suavizado pelo desgaste dos anos. Um relicário de um homem que nunca voltou da guerra. Ela dizia a si mesma que não o trocaria por nada. Até aquele momento.

Ela se aproximou do xerife, segurando o anel. “Isso compraria o que ele é?”, perguntou ela.

O homem atrás das barras não piscou, mas naquele momento, Selma soube. Ela não estava comprando um homem. Estava libertando algo, em ambos.

O xerife pegou o anel com um sorriso e o levantou ao sol, como se estivesse avaliando um cavalo, não um homem. “Não vale 10 dólares”, disse ele, “mas vai render uma boa história.”

A multidão riu, sem saber se deveria vaiar ou aplaudir. Selma não se moveu. Ela observava enquanto o xerife destrancava a gaiola com uma chave enferrujada e a deixou se abrir com um rangido que fez os cães latirem à distância. O homem dentro não se mexeu.

“Agora ele é seu”, disse o xerife. “Espero que você tenha corda e arrependimentos.”

Selma deu um passo à frente, parando justo na beira da gaiola. “Você pode vir ou ficar”, disse ela. “De qualquer forma, você não pertence a ninguém mais.” Mesmo assim, o homem não se levantou de imediato. Então, lentamente, ele se ergueu, as mãos apoiadas nos joelhos, as pernas rígidas, como se não se movessem há semanas. Ele se levantou, mais alto do que Selma esperava. A luz do sol agora iluminava seu rosto por completo. Cabelos escuros e emaranhados, barba espessa, olhos sombrios e impossíveis de ler. Não era jovem, nem velho, nem um monstro, apenas desgastado. Ele saiu sem dizer uma palavra. A multidão se afastou enquanto ele passava, Selma ao seu lado, sua coluna reta, embora seu coração batesse forte no peito, como cascos.

Ela subiu na carroça. Ele subiu atrás. Ninguém os impediu. Ninguém falou.

As rodas rangiam à medida que se afastavam. Selma não olhou para trás. O caminho a leste de Ridge serpenteava por pinheiros esparsos e campos empoeirados. Ela mantinha os olhos à frente, as mãos firmes nas rédeas. O homem não perguntou para onde estavam indo. Não pediu comida ou água. Não perguntou nada. Quando o sol se pôs baixo, ela parou em um vale onde um riacho cortava as pedras, permitindo que o cavalo bebessem. O homem saltou para o chão antes que ela pudesse falar, desamarrou a carga sem precisar de instruções e começou a juntar lenha. Quando ela desvinculou o cavalo e preparou os cobertores, ele já tinha uma fogueira acesa, pequena, compacta, eficiente. Selma o observou agachado ao lado do fogo, quieto como as árvores ao redor deles.

“Você tem um nome?”, ela perguntou. Ele olhou para ela, depois balançou a cabeça. “Você pode falar?”, ela perguntou. Ele assentiu. “Mas você não fala.” Ele deu de ombros, e Selma suspirou, sentando-se em uma pedra próxima.

“Não estou procurando por um marido ou um trabalhador ou uma história para me lamentar.”

Ele olhou para ela, com a sobrancelha levantada. Ela manteve o olhar firme, mas cansada.

“Eu te comprei porque você não merecia aquela gaiola, não porque eu precise de algo de você.”

Ele não respondeu, mas alcançou a luz do fogo, rasgou um pedaço de seu próprio pão e lhe ofereceu metade. Sem palavras, apenas o gesto. E, de algum modo, esse foi o gesto mais alto que qualquer um deles tinha feito naquele dia.

Eles viajaram por três dias sem incidentes, acampando perto de rios e sob árvores baixas onde corvos circulavam, mas nunca chamavam. Selma manteve a carroça nas trilhas antigas de comerciantes, as mesmas que seu marido havia marcado em mapas com lápis e orações. O homem, ainda sem nome, nunca se afastava muito do acampamento. Ele dormia perto do fogo, mas nunca muito perto, cozinhava sem ser dito, recolhia lenha antes que ela notasse que o monte estava diminuindo.

Cada manhã, sem pedir, ele se certificava de que as rodas estavam firmes. Era um ritmo tácito, como uma dança sem música. Selma não pedia mais. Mas, uma noite, enquanto o crepúsculo tingia o céu de lilás roxo, ela o observou entalhar algo em um pedaço de cedro seco com uma faca enferrujada. Ele estava sentado de pernas cruzadas perto do fogo, os antebraços nus, envoltos em lenço do seu kit de costura. Ela não tinha oferecido isso. Ele pegou o que precisava. Esse fato a confortava de maneira estranha.

“O que você está fazendo?”, ela perguntou suavemente. Ele não respondeu de imediato, então virou o entalhe em direção a ela. Um simples lobo, pernas longas, focinho afiado, cauda arqueada.

“Você?”, ela perguntou. Ele balançou a cabeça, depois apontou para ela. Ela riu, não cruel.

“Você acha que eu sou um lobo?”, disse ela. Ele acenou com a cabeça uma vez, com certeza.

“Você sabe, lobos são mortos aqui, certo? A maioria das pessoas os chama de ladrões.”

Ele tocou novamente a figura e apontou para o céu. Selma seguiu seu gesto. Estrelas frias e prateadas, e uma meia-lua subindo.

“Você acha que eu vim de lá?”, ela perguntou.

Ele deu de ombros, mas seus olhos disseram que sim. Uma criatura teimosa demais para morrer, silenciosa demais para implorar. Ela olhou para o entalhe por um longo momento, então pegou sua bolsa e retirou a embalagem vazia do anel, a que costumava guardar seu anel de casamento. Ela amarrou-a com um pedaço de corda e a colocou na borda do fogo.

“Me parece que agora estamos ambos sem dono”, murmurou ela.

Ele observou a embalagem que se desfez, sem interromper. Quando ela olhou para ele novamente, ele não estava mais olhando para o fogo. Ele estava olhando para ela, não com fome, não com pena, com algo mais estável, como se a terra tivesse olhos.

“Você já pertenceu a alguém?”, ela perguntou.

Ele pressionou uma mão contra o peito, depois lentamente balançou a cabeça.

Ela assentiu.

“Talvez isso seja melhor assim.”

A noite passava em silêncio, o fogo estalava suavemente. A figura do lobo ficou entre eles agora, não queimada, inacabada. E, naquele momento, o silêncio não estava vazio. Estava sagrado.

Algo passou entre eles, algo que não precisava ser dito, apenas guardado.

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