
A chuva caía em cortinas naquela tarde de setembro, transformando o mundo além do para-brisa em um borrão de cinza e verde. Vanessa Harper pressionou a mão contra sua barriga inchada, sentindo sua filha chutar enquanto o sedã de luxo deslizava pela estrada deserta, com oito meses de gravidez, e cada solavanco na estrada a lembrava disso.
“Podemos parar em breve?” ela perguntou, tentando manter a voz agradável.
“Eu realmente preciso ir ao banheiro.”
Seu marido, Derek, não tirava os olhos da estrada. Seu queixo estava firme daquele jeito familiar que significava que ele estava irritado.
“Chegaremos ao resort em 2 horas. Não consegue esperar, Derek?
O bebê está bem em cima da minha bexiga. Estou segurando isso há 30 minutos.”
Ele suspirou, aquele tipo de suspiro pesado que vinha usando cada vez mais ultimamente.
“Tudo bem, deve aparecer um posto de gasolina logo.”
Vanessa conteve uma resposta.
Houve um tempo em que Derek teria sido atencioso com as necessidades dela, especialmente agora que ela carregava o filho deles. Mas esse tempo parecia pertencer a outro casamento, a outra vida.
O posto de gasolina surgiu através da chuva como uma miragem, um posto solitário com uma única bomba e uma placa de neon piscando. Derek entrou com o carro sob o toldo, e Vanessa lutou com o cinto de segurança, sua barriga grávida tornando a tarefa simples mais complicada.
Ela abriu a porta e saiu para o ar úmido, seu vestido branco já grudando no corpo devido à umidade. A chuva tamborilava no toldo de metal acima deles.
Enquanto ela começava a se dirigir para o pequeno prédio, esperando que houvesse um banheiro funcionando lá dentro, a voz de Derek a deteve.
“Vanessa, precisamos conversar.”
Ela se virou, confusa com o tom dele. Ele também havia saído do carro, parado ao lado da porta do motorista. Havia algo em sua expressão que ela não conseguia decifrar. Algo frio.
“Podemos conversar depois que eu usar o banheiro?” ela perguntou.
“Não, precisamos conversar agora.”
Ele pausou, e ela viu sua mão se apertar na porta do carro.
“Não consigo mais fazer isso.”
“Não consegue fazer o quê?”
Mas mesmo enquanto ela perguntava, um sentimento ruim se espalhava pelo seu estômago.
“Este casamento, a paternidade, você.”
Ele disse de forma seca, como se estivesse lendo itens de uma lista de supermercado.
“Achei que conseguiria, mas não consigo. Você mudou, Vanessa. Você não é a mulher com quem me casei.”
Vanessa o encarou, água pingando do cabelo, o vestido encharcado.
“Estou grávida, Derek. Claro que mudei. Estou gerando nossa filha.”
“É justamente isso,” disse Derek, e agora havia algo quase desesperado em sua voz.
“Eu não quero isso. Não quero a responsabilidade, o barulho, o caos. Quero minha vida de volta.”
“Sua vida?” a voz de Vanessa subiu apesar de si mesma.
“E nossa vida? E nossa filha?”
“Vou para o resort,” disse Derek, abrindo a porta do carro.
“Sozinha. Preciso de tempo para pensar.”
“Derek, você não pode simplesmente me deixar aqui. Estou com oito meses de gravidez.”
O pânico agora se instalava, frio e agudo.
“Você vai se virar. Você é capaz.”
Ele entrou no banco do motorista. Vanessa se lançou à frente, segurando a porta, mas Derek a fechou. Ela pôde vê-lo pela janela. Seu rosto firme e determinado, recusando-se a olhá-la.
O motor ligou.
“Derek, Derek, por favor.” Ela bateu na janela, a voz quebrada.
“Por favor, não faça isso.”
O carro começou a se mover, e Vanessa tropeçou para trás, os pés escorregando no pavimento molhado. Ela caiu de joelhos, as mãos se estendendo para se apoiar, assistindo incrédula enquanto o sedã de luxo se afastava do posto de gasolina e desaparecia na chuva.
Por um longo momento, Vanessa permaneceu ajoelhada na chuva, incapaz de processar o que acabara de acontecer. Seu marido a deixara em um posto de gasolina remoto, com oito meses de gravidez. Na chuva, o bebê chutava forte, como protestando, e o movimento trouxe Vanessa de volta à realidade. Ela precisava entrar. Precisava de ajuda.