
Alejandro Ortega caminhava lentamente pelo cemitério, sua mente tomada pela dor e pelas lembranças de um passado que ele jamais poderia esquecer. A mão tremia enquanto segurava o pequeno ramo de lírios brancos, as flores que sua filha, Isabel, tanto amava. Ela, que tinha apenas 8 anos, havia partido tragicamente em um acidente enquanto brincava no tobogã da escola. Uma tragédia que ele ainda não conseguia entender, que parecia não ter explicação. E ali estava ele, um homem milionário, dono de empresas, mas no fundo, diante da tumba de sua filha, ele não era mais do que um pai devastado.
O vento frio sussurrava entre as árvores, levantando folhas secas que dançavam ao redor. A luz dourada do pôr do sol iluminava as pedras antigas, e o silêncio era quebrado apenas pelo ritmo acelerado do seu coração. Ao se ajoelhar diante da lápide, Alejandro sussurrou, sua voz embargada: “Minha menina, você ainda está brincando em algum lugar, não é?” Seus olhos se fecharam, tentando reprimir as lágrimas que teimavam em cair.
Com a voz trêmula, ele murmurou: “Um tobogã, como alguém morre em um tobogã?” Repetia as palavras como se tentasse convencer a si mesmo de que tudo aquilo não passava de um erro, de uma tragédia que não fazia sentido. O vazio em sua casa, o quarto intocado de Isabel, as risadas que haviam se perdido nas paredes… Ele daria toda a sua fortuna, qualquer coisa, para sentir mais uma vez o abraço da filha.
Mas enquanto ele tentava se recompor, algo diferente aconteceu. Uma pequena figura apareceu entre as lápides, caminhando silenciosamente em direção a ele. Era uma menina. Seus pés estavam descalços e suas roupas estavam gastas e sujas de pó, mas seus olhos eram intensos, fixos em Alejandro, como se já o conhecesse. Ele franziu a testa, confuso.
“Você está perdida, menina?” Perguntou ele, tentando entender o que estava acontecendo.
A menina não respondeu imediatamente. Ela simplesmente olhou para ele, e com uma calma perturbadora, disse: “Você precisa de uma filha e eu preciso de um pai.”
Alejandro sentiu o ar escapar de seus pulmões, surpreso pelas palavras daquela criança. “Como você sabe meu nome?” Ele perguntou, tentando processar o que acabara de ouvir.
A menina inclinou a cabeça levemente. “Porque eu conheci Isabel. Ela era minha melhor amiga.”
As palavras da menina atingiram Alejandro como um soco no estômago. Como ela sabia o nome de sua filha? Ele sentiu as pernas fraquejarem e, por um momento, achou que fosse desmaiar.
“Você… você conheceu minha filha?” Perguntou ele, a incredulidade transbordando em sua voz.
A menina, que se apresentou como Dora, confirmou com a cabeça. “Ela me contou segredos e me pediu para vir aqui.” Ela falou com uma firmeza que parecia além de sua idade.
“Isso é alguma brincadeira?” Alejandro perguntou, sem saber se estava sendo provocado.
“Se for uma brincadeira, não tem graça.” Dora disse com seriedade, se aproximando ainda mais. O vento aumentou, fazendo com que o traje de Alejandro se agitasse, e as flores caíssem do vaso que ele segurava.
A sensação de que algo impossível estava prestes a acontecer tomou conta dele. O que aquela menina estava dizendo parecia demais para ser verdade.
Dora, com uma calma assustadora, olhou para a tumba e disse: “Ela ainda está aqui.”
Alejandro seguiu o olhar da menina, e a sensação de frio percorreu sua espinha. O céu estava se tornando cinza, o silêncio ao redor parecia denso, como se algo estivesse prestes a acontecer.
De repente, um brilho suave começou a surgir atrás da lápide, como uma chama distante. Alejandro piscou várias vezes, tentando entender o que estava vendo. Mas, não, aquilo não era um reflexo do sol. A luz se intensificou e a figura começou a se formar. Era Isabel. Por um momento, Alejandro não conseguiu respirar. Seus lábios tremeram, e ele deu um passo hesitante para frente.
“Isabel…” Sua voz saiu quase em um sussurro.
A menina estava envolta por uma luz dourada, seu vestido branco, que antes estava manchado com a sujeira da tragédia, agora estava limpo, brilhante. Seus olhos, aqueles olhos que Alejandro nunca mais esqueceria, estavam radiantes, como se refletissem a infância perdida.
“Confie nela, papai,” disse Isabel, com a voz suave, mas cheia de autoridade. “Ela sabe o que me aconteceu.” Ela apontou para Dora, que permanecia quieta, com um olhar sério, mas cheio de compaixão.
“Isabel… o que está acontecendo?” Alejandro perguntou, com lágrimas nos olhos. Ele não conseguia entender. A dor no peito era insuportável, e a visão de sua filha, mesmo que por um momento, era mais do que ele podia suportar.
“Agora é a hora de você saber”, Isabel completou, antes que sua imagem começasse a desaparecer lentamente. Alejandro estendeu as mãos, tentando alcançá-la, mas a figura de Isabel se dissolveu no ar, deixando apenas a sensação de uma presença silenciosa.
“Não, não vá,” ele gritou, desesperado, mas era tarde demais. Dora se aproximou dele, com os olhos cheios de lágrimas.
“Você ouviu, papai. Ela estava aqui.” A voz de Dora estava cheia de emoção.
“Ela esteve aqui, Deus… minha filha, ela esteve aqui.” Alejandro repetiu, seu coração pesado, como se as palavras pudessem trazer Isabel de volta.
Dora, com a voz quebrada, explicou: “Ela queria que você acreditasse em mim, porque o que tenho para contar é o que ninguém quis ouvir.”
Alejandro estava em choque. O que mais aquela menina sabia? O que havia acontecido naquele dia fatídico em que Isabel perdeu a vida? Dora olhou para ele com seriedade.
“Ela não caiu, senhor Ortega”, Dora disse, sua voz calma, mas cheia de uma verdade amarga. “Ela não caiu.”
As palavras de Dora o fizeram estremecer. “Como assim? Como você pode saber disso?” Ele perguntou, com a voz falhando.
“Eu estava lá”, Dora respondeu com firmeza. “Eu vi tudo.”
Alejandro sentiu o mundo girar ao seu redor, e suas mãos começaram a tremer. “O que você está dizendo? O que aconteceu com Isabel?”
Dora olhou para ele com seus olhos tristes. “Ela foi empurrada. Empurrada por um menino da escola. Martin, o nome dele. Isabel tentou fugir, mas ele a empurrou do alto do tobogã. Ela caiu e bateu com a cabeça no chão.” As palavras saíram de sua boca como um golpe, e Alejandro mal conseguia respirar.
“O que você está dizendo é impossível. Isso não pode ser verdade…” Alejandro murmurou, sua mente tentando processar o que acabara de ouvir.
“Eu tentei contar, mas ninguém me acreditou. Todos disseram que eu estava inventando. Mas eu vi.” Dora continuou, as lágrimas caindo silenciosamente.
Alejandro sentiu o peso da culpa e da raiva invadirem seu peito. O que ele havia feito com a verdade? Como ele havia falhado em proteger sua filha?
“Dora…” ele disse, a voz quebrada. “O que posso fazer agora? Como posso corrigir isso?”
Dora o olhou com uma expressão firme. “Não é sobre corrigir, é sobre lutar pela verdade. E eu sei que você vai fazer isso, papai.”
Ele respirou fundo, sentindo uma força nova tomando conta de seu corpo. Pela primeira vez desde que Isabel morreu, ele sentiu um propósito renovado. Ele não iria mais se esconder. Ele iria lutar por sua filha, pela verdade, e por Dora.
“Vamos fazer justiça, Dora. Agora ninguém vai mais esconder a verdade.” Ele disse com determinação. O ciclo de dor e silêncio que havia dominado sua vida agora começava a se desfazer.
A verdade de Isabel, a coragem de Dora, e a promessa de justiça eram as chamas que queimavam em seu coração. E, ao final, ele sabia que, embora o caminho fosse árduo, ele finalmente estava pronto para enfrentar a escuridão e trazer a luz da verdade de volta ao mundo.
E assim, Alejandro Ortega não era mais apenas um homem perdido no luto. Ele era um pai em busca da verdade, acompanhado pela força de uma filha que, mesmo depois de partir, ainda lutava por justiça.