Ela Deu À Luz na Escuridão—E Depois Deixou o Bebê com um Estranho, Mas O Que Aconteceu a Seguir Vai Deixar Você Sem Palavras

Ela deu um passo na escuridão, sozinha. Ninguém a viu deixar o canto onde estava, nem mesmo o garoto que dormia profundamente embaixo do seu casaco, deitado no chão de azulejos quebrados e cobertores manchados. Ela se movia como um suspiro, lenta, despercebida, desaparecendo antes que alguém pudesse levantar a cabeça e perguntar onde ela estava. O soldado a esperava no fim do corredor, encostado na parede, o cigarro queimando como um olho vermelho. As botas arrastavam, os dedos batendo no ritmo de uma música que não existia.

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Ele não sorriu, apenas assentiu. Ela não falou, nem quando a porta de aço rangeu e a engoliu. O cheiro da sala era de ferrugem e desinfetante, com uma cama dobrável, uma bacia de água, e um saco de pão sobre a mesa, já embrulhado em pano, como se ele não quisesse que ela tocasse nele depois. Ela se posicionou ao lado da cama, não sentou, não chorou. Em vez disso, desabotoou seu casaco, o dobrou e colocou na cadeira. E naquele momento, ela não era mãe, não era pessoa. Era apenas fome com pele.

Ele não perguntou seu nome. Ela não ofereceu. Não demorou muito. Não houve violência, nem crueldade, apenas silêncio. Ele terminou primeiro, se afastou e ajustou o cinto. Ela se vestiu devagar, como alguém caminhando para trás pela vergonha. As pernas tremiam, mas ela não deixou que caísse. O soldado atirou o saco de pão sobre a cama sem olhá-la. Ela o pegou, segurou-o quase reverentemente, então virou-se e saiu pela porta. Nenhuma palavra foi trocada, nenhum olhar. Apenas um suspiro do soldado, como se ele soubesse que ela era mais jovem do que ele imaginava.

Ela voltou ao abrigo sem fazer barulho. Os outros se moveram enquanto dormiam, mas ninguém se levantou. O concreto engoliu seus passos. Seu filho estava exatamente onde ela o deixou, virado para a parede, com uma das mãos sob o queixo. Ela se sentou ao seu lado, cuidadosamente desembrulhou o pão, partiu-o em pedaços, alguns duros, outros frescos, uma fatia ainda quente. Colocou um pedaço em sua mão. Depois outro, e outro. Ele se mexeu, os olhos semiabertos, sorrindo.

De onde veio isso? – ele perguntou, a voz rouca.

Ela fez uma pausa e depois sorriu também.

Do céu – sussurrou.

Antes de você a julgar, antes de escrever seu nome em desgosto, pense. Antes daquele pedaço de pão, havia um menino que não comia há dois dias, e uma mãe que não comia há quatro. Um abrigo cheio de olhos que viam tudo, mas diziam nada. E um mundo que lhe ensinou: “Se você quiser que seu filho viva, talvez tenha que desaparecer dentro da sua própria pele.”

Ela escreveu certa vez: “Eu sei que você não vai me perdoar. Eu também não me perdoo. Então, pergunte a si mesmo: você teria feito diferente? Se seu filho abrisse os olhos e pedisse comida, você teria encontrado um jeito melhor? Ou teria feito exatamente o que ela fez?”

Ela apenas rezava para que ninguém soubesse.

Antes que a fome tivesse um rosto, ela era Eliah. Não a garota no canto, não a que tinha o filho doente. Só Eliah. Ela morava em uma cidade tranquila com casas de pedra e um jardim que nunca comportava direito. O solo era ruim, mas seu filho, Arllin, adorava cavar, especialmente atrás das peras tortas que nunca amadureciam completamente. Ele as chamava de estrelas, dizendo que se pareciam com as do conto de fadas, um pouco tortas para serem mágicas. Aaliyah ria quando ele dizia isso. Lembrava-se do som exato, brilhante, sem preocupações, de um tempo em que ela ainda ria sem desculpas.

Antes, o mundo tinha cor. As manhãs vinham com o cheiro de grama molhada e pão seco. O rádio funcionava. As pessoas ainda se acenavam nas ruas. Os mercados ainda abriam, com cestas de cebolas, potes de mel, cascas de ovos quentes. Ela vendia sabão, nada de mais, apenas cinza, gordura e lavanda do jardim antigo da mãe. Chamavam-na de “a garota limpa”, e ela não se importava. Suas mãos sempre cheiravam a ervas. Seu filho sempre cheirava a sono e terra. E, de alguma forma, isso era suficiente até as prateleiras ficarem vazias.

A princípio, ninguém entrou em pânico. Disseram que era temporário, um problema na rota de fornecimento, uma questão de fronteira. Então, vieram os cupons de ração. Depois, os pontos de controle militares. E então o silêncio. O rádio virou estática. O mercado fechou. O ar mudou. As pessoas pararam de sorrir. As crianças pararam de correr pelas ruas. E Eliah começou a contar. Pão, água, tempo. Ela racionou tudo, exceto o amor. Esse ela deu sem medida até que as noites ficaram mais longas e os ossos de Arllin começaram a aparecer. E então veio a decisão que ela nunca imaginou que teria que tomar: partir, carregar o que conseguisse, caminhar para o norte, encontrar abrigo.

Deixaram para trás o jardim, a árvore torta de peras, a xícara de chá quebrada na janela. Ela nem levou uma foto, acreditando que, de algum jeito, eles voltariam. Não estavam sozinhos. Vi outros na estrada. Mães com sacos, crianças com sapatos amarrados com corda, homens que já não falavam. Cada hora trazia alguém novo, alguém mais magro, alguém mais assustado. O mundo estava se despojando das pessoas como folhas, e os primeiros a cair eram os mais suaves. Ela carregou Arlin no sling no primeiro dia. No terceiro, seus braços cederam. Ele caminhava atrás dela, segurando a barra de seu casaco. Ela continuava contando histórias, qualquer coisa para distraí-lo do rugido de sua barriga.

Uma noite, chegou ao abrigo antes que as portas se fechassem. Um antigo terminal de trem. Portões de ferro soldados. Corredores de concreto cavados na colina. O guarda não perguntou seu nome, apenas olhou suas botas, o rosto de seu filho, suas mãos vazias. Ele a deixou entrar. Ela pensou que isso seria o pior que aconteceria.

Mas ainda não sabia que sobreviver tinha um preço. O abrigo não parecia um lugar feito para manter as pessoas seguras. Parecia mais um lugar feito para fazer elas esquecerem que existiam.

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