“PL é o Partido da Papuda Lotada”: Erika Hilton Dá “Lapada” Épica, Cita Generais e Desmantela a Hipocrisia Bolsonarista no Congresso

No calor da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, em um embate que rapidamente transcendeu a pauta ordinária para se tornar um dos momentos mais emblemáticos da atual legislatura, a Deputada Federal Erika Hilton (PSOL-SP) transformou uma tentativa de vitimização política em um libelo inesquecível sobre o Estado Democrático de Direito, a seletividade da justiça e o futuro plural do Brasil. Diante de uma acalorada defesa da pauta bolsonarista – que recorreu a argumentos como a alegada “perseguição política” e o uso instrumentalizado dos direitos humanos – Hilton ascendeu à tribuna e entregou o que foi aclamado como uma “lapada épica,” um discurso que fez o Congresso, e a própria democracia, respirar aliviado.

O palco para este confronto foi montado com a fala da Deputada Chris Tonietto, uma voz proeminente da ala conservadora, que buscou defender o que ela e seu grupo veem como “indefensável” – os reveses jurídicos e políticos enfrentados pelo ex-presidente Jair Bolsonaro e seus aliados. A deputada iniciou seu raciocínio questionando a hierarquização de princípios e valores no Congresso, lamentando que o “dia do nascituro,” por exemplo, seja “secundarizado” e “escanteado” em relação a outras pautas. Contudo, rapidamente a discussão migrou para o campo da polarização judicial.

Ficheiro:Deputada Chris Tonietto Contra o Aborto e em Defesa da Vida.jpg –  Wikipédia, a enciclopédia livre

A Narrativa da Injustiça Seletiva

O cerne da provocação da ala bolsonarista residiu na alegação de que o país vive um momento de “diversas injustiças, de arbitrariedades, abusos, atropelos,” com pessoas “aplaudindo os abusos, inclusive abusos de poder.” A defesa fervorosa do ex-presidente, a quem chamou de “maior líder político,” foi o ponto central. Em um raciocínio que tentava misturar o drama pessoal com o debate público, a deputada sugeriu que Bolsonaro estaria “injustamente preso” – uma referência às restrições e investigações que o impedem, por exemplo, de “estar comendo acarajé na Bahia.” A narrativa se solidificou com a menção aos “presos políticos,” a “senhorinhas com bíblia nas mãos,” e a um general de quase 80 anos, cujos direitos humanos estariam sendo supostamente violados.

O discurso tentou, ainda, criticar a Comissão de Direitos Humanos por, supostamente, invisibilizar a luta desses grupos e se voltar “contra uma mãe,” citando o episódio da deputada Júlia Zanatta (PL-SC) que exerceu a maternidade com sua bebê de colo em plenário, um ato que, segundo a oradora anterior, seria um exemplo de como a política não entende a necessidade da mulher de “compatibilizar a sua vocação à maternidade.”

Essa foi a munição discursiva lançada. A resposta, entretanto, foi um golpe de mestre na retórica da vitimização.

O Contraponto de Hilton: A Alegria da Democracia

Erika Hilton não apenas refutou os argumentos, mas os desmantelou, peça por peça, recontextualizando a situação sob a ótica da Lei e da Justiça. Em vez de lamentar a situação do grupo político, a deputada expressou “a alegria do Brasil e da democracia” diante da “resposta contundente e séria dada pelo judiciário brasileiro a criminosos, bandidos.”

O ataque mais incisivo veio ao desfazer a romantização da situação do ex-presidente. Questionando a ideia de que Bolsonaro poderia estar livre, ela afirmou com veemência que isso “poderia mesmo se não tivesse atentado contra a democracia,” se não tivesse planejado ações que, segundo investigações, envolviam figuras chave da República. A deputada trouxe à luz os detalhes, como a violação da tornozeleira eletrônica, e o festival de desculpas dadas à justiça – desde a “topada numa porta” até a alegação de “curiosidade” para estudar eletrônicas, e a surreal justificativa de que “ouvia vozes.”

Erika Hilton pede pede que PGE investigue Eduardo Bolsonaro por ameaças  eleitorais – CartaCapital

Hilton utilizou esses fatos não apenas como um contra-argumento, mas como uma parábola sobre o perigo de se permitir que líderes de tal estatura desrespeitem o regime democrático. “Como que o maior líder do país… pode estar nesse estado de dizer que ouve vozes de uma tornozeleira eletrônica, que está escutando vozes de um objeto que está ali para nos proteger dos crimes que ele cometeram?” A perplexidade da deputada sublinhou a incongruência entre a autoproclamação de “líder” e a conduta investigada.

O PL, o Partido da “Papuda Lotada”

O discurso alcançou seu ápice quando a deputada se dirigiu ao partido de seus oponentes, o Partido Liberal (PL). De forma incisiva e memorável, ela o rebatizou como o “PL, que é o partido da Papuda lotada,” citando uma lista de nomes importantes da base bolsonarista que têm enfrentado problemas com a justiça, de Ramage a Anderson Torres e Eduardo Bolsonaro.

A retórica de Hilton expôs a hipocrisia de figuras que se apresentam como “os senhores de bem das igrejas, pais de família,” enquanto seus partidos estão “em frangalhos, porque só tem bandido no partido, porque está sendo todo mundo preso, um atrás do outro, envolvido com crime, envolvido com facção, envolvido com corrupção, envolvido com tentativa de golpe.” A deputada confrontou a seletividade moral do grupo político: o discurso de “bandido bom é bandido morto” é subitamente trocado pelo “princípio da dignidade humana” apenas quando se trata de defender “os seus comparsas,” “seus aliados.”

O Uso Oportunista da Maternidade e da Fé

Um dos pontos mais fortes de sua fala foi a refutação categórica do caso da deputada Júlia Zanatta. Hilton denunciou o que chamou de “deputada oportunista, se aproveitando de um bebê recém-nascido para tentar criar um escudo contra uma ação covarde, antidemocrática, arbitrária e de baixo nível.” A afirmação de que a criança foi “usada como escudo” para obstruir os trabalhos da Câmara ressaltou a diferença abissal entre o uso político e encenado da maternidade e a luta diária de milhões de mães brasileiras sem creche e sem dignidade para trabalhar.

Da mesma forma, a deputada transforçou o uso da fé, tão comum na retórica conservadora, em uma crítica à hipocrisia religiosa. Ela questionou a validade de carregar “o nome de Cristo, de Deus na boca e nas mãos” enquanto o coração está repleto de “o ódio, a maldade, a perversidade, a o egoísmo.” Criada em um lar evangélico, Hilton falou com a autoridade de quem conhece o ambiente, denunciando a facilidade dos “hipócritas, fariseus” em “dizer da boca para fora,” sem seguir “uma vírgula, uma palavra do que estão nas escrituras sagradas” na prática política.

Justiça para Todos, Não Apenas para os Golpistas

O encerramento do discurso de Erika Hilton foi uma celebração da resiliência democrática brasileira. Ela afirmou que o Brasil e o povo estão “feliz” e “sorrindo” não pela prisão de quem quer que seja, mas porque estão aplaudindo “a democracia, aplaudindo a justiça, aplaudindo a soberania do nosso país.”

O recado final aos “fascistas” e “amantes da ditadura” é claro: “nós não teremos espaços.” O Brasil, apesar de jovem, se mostra firme, e quem atentar “contra a constituição, que se atentar contra a dignidade do estado democrático de direito, vai ter o mesmo fim desses que estão cumprindo penas.”

Em sua conclusão, Erika Hilton definiu o que deveria ser o verdadeiro foco da Comissão de Direitos Humanos, reivindicando que a pauta proteja “todos, sem exceção, na sua dignidade,” e se volte, sobretudo, “pros pras minorias, pros minoritários, pros invisíveis,” e não “pros golpistas, pros fascistas, pros canalhas e pros criminosos.”

A ovacionada fala da deputada não foi apenas um momento de retórica; foi um exercício de cidadania ativa e uma defesa veemente dos pilares do Estado brasileiro. Ela desvendou a manipulação de conceitos fundamentais como “direitos humanos” e “maternidade” para fins políticos, reafirmando o compromisso do Congresso com um Brasil plural, diverso e, acima de tudo, que acredita no império da Lei. O aplauso de pé que se seguiu não foi apenas para Erika Hilton, mas para a própria democracia que, naquele dia, provou ser mais forte do que a lama do golpismo.

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