O cheiro de carne queimada misturado ao tijolo aquecido tomava conta da fazenda Santa Cruz nas madrugadas de Mariana. Não era o aroma do pão sendo assado, nem da cerâmica sendo cozida. Era o odor inconfundível de corpos humanos sendo carbonizados lentamente dentro dos fornos de tijolo que o Sr. Antônio Duarte da Silva havia transformado em instrumentos de tortura e execução.
Estamos em 1832. na região mineradora de Minas Gerais, onde a decadência do ouro havia forçado os antigos mineradores a se tornarem fazendeiros. Mas alguns senhores trouxeram consigo a brutalidade das minas e a transformaram em algo ainda mais terrível. Antônio Duarte da Silva era um desses homens. A fazenda Santa Cruz produzia tijolos e telhas para as construções de Mariana e região.
Tinha 12 fornos de queima distribuídos pela propriedade, cada um capaz de atingir temperaturas superiores a 900ºC. O que deveria ser apenas uma operação comercial, havia se transformado no cenário dos mais horríveis crimes contra a humanidade cometidos durante o período escravista brasileiro.

Antônio Duarte havia comprado a fazenda em 1828 após falir suas operações de mineração. Trouxe consigo 87 escravizados que trabalhavam nas minas e os colocou para produzir tijolos. Mas desde o primeiro dia estabeleceu um sistema de punição que ia além de qualquer crueldade conhecida na região. Qualquer desobediência, qualquer erro de produção, qualquer olhar considerado desrespeitoso era punido com o forno.
Não o forno aceso em temperatura total. Isso seria rápido demais. Antônio desenvolveu uma técnica específica. Acendia o forno em temperatura baixa e colocava o escravizado dentro, aumentando gradualmente o calor ao longo de horas. Quer saber como funcionava esse sistema diabólico e quem foram as vítimas dessa brutalidade? Continue assistindo, porque essa história vai revelar detalhes que os livros de história preferiram esquecer.
O primeiro registro documentado dessa prática aconteceu em março de 1829. Um escravizado chamado Benedito, de apenas 16 anos, quebrou acidentalmente uma forma de tijolos. Antônio ordenou que fosse colocado dentro do forno número três, ainda morno da queima anterior. “Vou ensinar todos vocês o que acontece com quem desperdiça meu material”, gritou Antônio para os outros escravizados reunidos à força para assistir. “Este menino vai aprender que aqui não se tolera incompetência.
Benedito foi amarrado e colocado dentro do forno. Antônio ordenou que acendesse fogo baixo apenas o suficiente para que o calor começasse a aumentar lentamente. Durante 4 horas, os gritos de Benedito ecoaram pela fazenda enquanto a temperatura subia gradualmente. Os outros escravizados foram forçados a continuar trabalhando enquanto ouviam os pedidos de misericórdia.
Quem ousava parar para rezar ou chorar recebia chicotadas. Antônio queria que todos entendessem que qualquer demonstração de compaixão seria punida. Quando finalmente retiraram Benedito do forno, ele ainda estava vivo, mas com queimaduras de terceiro grau em 70% do corpo. Morreu três dias depois, em agonia constante, sem que nenhum tratamento médico fosse providenciado.
Seu corpo foi jogado em uma cova rasa nos fundos da propriedade. Esse foi apenas o primeiro de pelo menos 23 casos documentados de escravizados que passaram pelos fornos de Antônio Duarte entre 1829 e 1832. Cada vítima tinha uma história, uma razão arbitrária pela qual foi sentenciada aquela morte lenta e torturante.
Maria Joaquina, uma mulher de 34 anos que trabalhava na Casagrande, foi acusada de ter temperado mal a comida do Senhor. Passou 6 horas no forno antes de morrer. Jos Mina, um africano de 42 anos, especialista em cerâmica, cometeu o crime de sugerir uma técnica diferente para melhorar a qualidade dos tijolos. Antônio interpretou isso como insubordinação e o sentenciou ao forno.
Francisco Congo, de apenas 14 anos, foi flagrado comendo um pedaço de pão que havia sobrado da mesa dos senhores. Passou toda uma noite dentro do forno em temperatura crescente. Pela manhã, quando o retiraram, sua pele havia se fundido com o tijolo refratário. Vocês conseguem imaginar o terror que esses escravizados viviam diariamente? sabendo que qualquer pequeno erro poderia resultar na pior morte possível.
Mas essa história está apenas começando. Continue assistindo para descobrir como esse inferno finalmente teve um fim. A fazenda Santa Cruz se tornou conhecida em toda a região de Mariana como um lugar amaldiçoado. Comerciantes que iam comprar tijolos relatavam ouvir gritos vindos dos fornos.
Padres que visitavam a propriedade saíam perturbados, mas nenhuma denúncia formal era feita às autoridades. Antônio Duarte tinha proteção política, era cunhado do juiz municipal e primo distante de um importante comerciante de escravos do Rio de Janeiro. Sua brutalidade era conhecida, mas sistematicamente ignorada pelas autoridades locais que se beneficiavam de seus negócios.
A estrutura da fazenda Santa Cruz era perfeitamente adequada para esconder os crimes. Os 12 fornos ficavam distribuídos em uma área afastada da estrada principal, cercados por uma plantação de eucaliptos que abafava os sons. A casa grande ficava estrategicamente posicionada para que Antônio pudesse observar toda a operação de uma varanda elevada.
Os escravizados dormiam em duas cenzalas separadas, uma para homens e outra para mulheres e crianças. Ambas ficavam próximas aos fornos, garantindo que todos ouvissem os gritos das vítimas durante as noites de punição. Era uma estratégia deliberada de terror psicológico. Antônio mantinha um capataz chamado Joaquim Ferreira, um homem igualmente cruel que executava as ordens sem hesitação.
Joaquim havia sido ele próprio um escravizado que conquistou a posição de Capataz através de demonstrações de lealdade brutal aos interesses do Senhor. Era ele quem amarrava as vítimas, controlava a temperatura dos fornos e garantia que outros escravizados assistissem às execuções. Mas em 1831 algo começou a mudar. A chegada de um grupo de 15 novos escravizados comprados de uma fazenda falida trouxe elementos diferentes para aquele inferno.
Entre eles estava um homem chamado Januário, de aproximadamente 40 anos, que havia vivido anos em um quilombo antes de ser recapturado. Januário trazia consigo experiência de organização, resistência e, principalmente, a certeza de que era possível lutar contra a opressão. Durante meses, ele observou, aprendeu os padrões de comportamento de Antônio e Joaquim, identificou os pontos fracos do sistema de vigilância e, silenciosamente começou a plantar sementes de rebelião.
O ano de 1831 foi particularmente brutal na fazenda Santa Cruz. A produção de tijolos havia aumentado devido à construção de uma nova igreja em Mariana e Antônio Duarte exigia cotas impossíveis de seus escravizados. Quem não atingisse a meta diária de 400 tijolos moldados enfrentava punições progressivas.
Primeiro chicotadas, depois privação de comida e, finalmente, o forno. Em abril daquele ano, aconteceu um dos episódios mais perturbadores registrados nos testemunhos posteriores. Um escravizado chamado Thomás, especialista em preparar a argila, adoeceu com febre alta e não conseguiu trabalhar por três dias.
Antônio, convencido de que a doença era fingimento, ordenou que Tomás fosse colocado no forno para suar a preguiça. Tomás foi amarrado e colocado no forno número sete, enquanto ainda tremia de febre. A temperatura foi mantida baixa, apenas o suficiente para criar um calor insuportável, mas não letal imediatamente. Durante 8 horas, Tomás alternava entre gritos de dor e delírios febr Crioua, uma escravizada de 28 anos que trabalhava na Casagrande, testemunhou mais tarde.
Os gritos do Tomás eram tão horríveis que alguns de nós começamos a rezar alto para tentar abafar o som. O senhor veio pessoalmente e mandou-nos chicotear por estar fazendo barulho. Disse que queria que todos ouvissem bem o preço da preguiça. Quando finalmente retiraram Tomás do forno, ele estava inconsciente, mas ainda respirando.
Foi jogado na senzala sem qualquer cuidado médico. Morreu na madrugada seguinte. Sua última palavra foi água, mas ninguém ousou lhe dar de beber por medo de represalha. Você está conseguindo acompanhar essa história? perturbadora. Se sim, deixe seu like agora para que mais pessoas conheçam essa verdade histórica que tentaram esconder.
E continue assistindo, porque o que vem a seguir é ainda mais impactante. Antônio Duarte desenvolveu uma espécie de ritual macabro em torno das execuções nos fornos. Ele escolhia sempre o final da tarde, quando o sol estava se pondo para iniciar as sessões. Dizia que era o momento em que Deus já não olhava para a terra. Portanto, ele poderia fazer sua própria justiça.
O forno número cinco tornou-se conhecido entre os escravizados como a boca do inferno. Era o maior de todos capaz de comportar duas pessoas simultaneamente. Antônio reservava este forno para punições que ele considerava especialmente graves ou para fazer exemplos coletivos. Em junho de 1831, dois irmãos, Paulo e Marcelino tentaram fugir da fazenda durante a madrugada.
Foram recapturados por capitães do mato três dias depois, escondidos em uma grota a cerca de 30 km de distância. Quando foram trazidos de volta, Antônio decidiu fazer deles um exemplo que ninguém jamais esqueceria. Convocou todos os 87 escravizados da fazenda para o terreiro central. Era um domingo, dia em que normalmente teriam algumas horas de descanso.
Joaquim Ferreira arrastou Paulo e Marcelino, ainda acorrentados até o forno número cinco. “Vocês querem liberdade?”, gritou Antônio para a multidão de escravizados reunidos. “Vou dar liberdade para estes dois, a liberdade de escolher. Entram juntos no forno ou assistem o irmão entrar primeiro e depois é a vez do outro que escolham”.
O silêncio que se seguiu foi quebrado apenas pelos soluços das mulheres. Paulo, o mais velho dos irmãos, tinha apenas 22 anos. Marcelino tinha 19. Eles se entreolharam, comunicando-se sem palavras, e Paulo finalmente falou: “Eu entro primeiro. Deixa meu irmão em paz.” Antônio deu uma risada cruel. Que bonito amor fraternal entre propriedades. Mas não, não vai ser assim.
Vocês vão entrar juntos e todos aqui vão assistir o que acontece com quem tenta roubar minha propriedade, porque é isso que vocês são, minha propriedade. Os dois irmãos foram amarrados e colocados dentro do forno número cinco. O fogo foi aceso em temperatura gradual.
Durante as primeiras duas horas, era possível ouvir os dois conversando entre si, rezando, pedindo perdão a Deus pelos pecados. Depois começaram os gritos. Januário, o exquilombola que havia chegado alguns meses antes, estava entre os escravizados forçados a assistir. Ele observava tudo com uma raiva fria e calculista. Mais tarde, ele contaria que foi naquele momento que decidiu que Antônio Duarte teria que pagar por seus crimes. Não importava o preço.
A execução dos irmãos durou quase 5 horas. Quando finalmente o fogo foi apagado e o forno aberto, os corpos estavam tão carbonizados que mal era possível distinguir onde terminava um e começava o outro. Eles haviam morrido abraçados. Vocês acham que a maldade humana tem limites? Essa história prova que não, mas também vai provar que a resistência não tem limites.
Continue comigo nessa jornada histórica que precisa ser conhecida. Após a execução dos irmãos, o clima na fazenda Santa Cruz mudou. O medo sempre estivera presente, mas agora havia algo mais, uma raiva silenciosa que começava a fermentar entre os escravizados. Antônio havia ultrapassado uma linha invisível, havia demonstrado uma crueldade tão extrema que até mesmo os mais submissos começaram a questionar se a sobrevivência valia o preço de tanta humilhação. Januário aproveitou esse momento.
Começou a ter conversas discretas com escravizados específicos que ele havia identificado como possíveis aliados. não falava abertamente sobre rebelião, mas plantava sementes de questionamento. Somos 87. Ele é um. O capataz são dois. Como dois homens controlam 87, sussurrava Januário durante o trabalho nos fornos.
Controlam porque nós deixamos, porque temos medo. Mas e se o medo mudasse de lado? Entre os que ouviam Januário com atenção estava Miguel Moçambique, um homem de 35 anos que havia perdido a esposa em um dos fornos seis meses antes. Ela havia sido acusada de quebrar uma louça na Casa Grande.
Miguel trabalhava em silêncio desde então, mas por dentro carregava um desejo de vingança que apenas esperava a oportunidade certa. Também havia Rita Benguela, uma mulher de 29 anos que cuidava das crianças na Senzala. Rita havia visto seu filho de 12 anos ser chicoteado até quase a morte por Joaquim Ferreira. O menino sobrevivera, mas ficara com sequelas permanentes.
Rita tinha força física impressionante, de anos moldando tijolos e uma determinação inabalável. E havia Damião [ __ ] nascido na própria fazenda, que conhecia cada canto da propriedade, cada rotina de Antônio e Joaquim, cada ponto fraco da vigilância. Damião tinha 26 anos e uma inteligência afiada que Antônio nunca reconhecera. Esses quatro, Januário, Miguel, Rita e Damião, se tornaram o núcleo de um plano que estava sendo gestado silenciosamente.
Eles sabiam que precisariam de mais aliados, mas também sabiam que cada pessoa a mais representava um risco maior de delação. Setembro de 1831 trouxe uma oportunidade inesperada. Antônio Duarte anunciou que viajaria para a Vila Rica, atual Ouro Preto, para negociar um grande contrato de fornecimento de tijolos para a construção de um novo prédio do governo provincial.
Ficaria ausente por 5 dias, deixando Joaquim Ferreira responsável pela fazenda. Januário viu nessa ausência a chance de ampliar sua rede de conspiradores sem o olhar vigilante de Antônio. Durante aqueles c dias conseguiu recrutar mais sete escravizados confiáveis, totalizando um grupo de 11 pessoas comprometidas com algum tipo de ação. Mas o que fazer exatamente? As opções eram limitadas.
Uma fuga em massa seria impossível de organizar sem ser descoberta. Uma rebelião aberta resultaria em massacre. Pois as fazendas vizinhas viriam em socorro de Joaquim. A solução precisava ser mais cirúrgica, mais calculada. Foi Miguel Moçambique quem sugeriu a ideia que se transformaria no plano definitivo.
“Ele gosta tanto dos fornos”, disse Miguel durante uma reunião secreta na madrugada. “Talvez seja a hora dele experimentar o próprio remédio, mas não podemos fazer isso enquanto ele estiver sozinho. Precisamos do capataz também, os dois juntos. A sugestão inicial parecia impossível. Como capturar simultaneamente o senhor e o capataz? Como garantir que nenhum dos dois escapasse ou pedisse socorro? Como executar tudo sem que os outros escravizados, que não faziam parte da conspiração interferissem por medo das consequências? Damião criou-lo com seu conhecimento profundo das rotinas da fazenda, começou a elaborar os detalhes
táticos. Toda quinta-feira à noite, o senhor e Joaquim fazem a contabilidade semanal no escritório da Casagre. Ficam sozinhos lá por pelo menos duas horas, bebendo cachaça e contando dinheiro. A Casa Grande fica vazia porque as escravizadas domésticas já terminaram o serviço. E tem mais, continuou o Damião.
O escritório tem apenas uma porta e uma janela. Se bloquearmos a porta por fora, eles ficam presos e ninguém vai ouvir gritos porque o escritório fica no fundo da casa, longe das cenzalas. Vocês estão acompanhando como esse plano está se formando? A história agora começa a tomar um rumo diferente. Deixe seu like e continue assistindo para descobrir como essa vingança foi executada nos mínimos detalhes.
O plano começou a ganhar forma concreta. O grupo decidiu que a ação aconteceria na quinta-feira, 17 de novembro de 1831. Essa data foi escolhida porque seria noite de lua nova, garantindo escuridão máxima e porque Antônio havia acabado de receber um grande pagamento por um carregamento de tijolos, estando particularmente satisfeito e menos vigilante. Januário dividiu as responsabilidades.
Rita Benguela e mais duas mulheres ficariam responsáveis por manter as crianças e os escravizados não envolvidos dentro das cenzalas, usando a desculpa de que havia onças rondando a fazenda à noite. Isso era plausível, porque realmente havia relatos recentes de ataques de animais selvagens na região. Miguel Moçambique lideraria o grupo de captura, composto por seis homens fortes que dominariam Antônio e Joaquim no escritório.
Damião ficaria encarregado de preparar o forno número cinco, ironicamente o mesmo que havia sido usado para executar os irmãos Paulo e Marcelino. Nos dias que antecederam a data marcada, cada membro do grupo cumpriu suas tarefas preparatórias. Damião secretamente acumulou lenha extra próxima ao forno número cinco, justificando aos feitores que estava preparando o material para uma queima grande agendada para o final do mês.
Rita e as outras mulheres começaram a espalhar histórias sobre animais perigosos à noite, aumentando o medo natural e garantindo que ninguém questionaria o confinamento nas cenzalas. Miguel e seu grupo praticaram discretamente técnicas de imobilização usando cordas durante o trabalho, disfarçando como se estivessem apenas amarrando fardos de lenha.
Januário, como o estrategista do grupo, passou horas observando os movimentos de Antônio e Joaquim, confirmando padrões de comportamento, identificando possíveis imprevistos. Ele sabia que teriam apenas uma chance. Se falhassem, todos seriam torturados até a morte, provavelmente nos mesmos fornos que planejavam usar.
Na terça-feira anterior à data marcada, aconteceu algo que quase cancelou todo o plano. Uma escravizada chamada Joana foi acusada por Antônio de ter roubado um pedaço de tecido da casa grande. A punição seria, como de costume, o forno. Joana não fazia parte da conspiração e não sabia de nada, mas sua execução aconteceria na quinta-feira à tarde, exatamente no dia do plano.
Se o forno número cinco fosse usado para punir Joana, estaria ocupado e em evidência durante a noite, impossibilitando o seu uso posterior. Januário precisou agir rápido. Através de uma escravizada doméstica que fazia parte do grupo, ele conseguiu plantar evidências falsas, sugerindo que outra escravizada, não Joana, era a verdadeira culpada.
A confusão resultante fez Antônio adiar a punição para investigar melhor. Joana foi poupada temporariamente e o forno número cinco permaneceu disponível para o plano. Chegou então a quinta-feira, 17 de novembro de 1831. O dia transcorreu normalmente, com todos cumprindo suas tarefas habituais. Antônio estava de bom humor porque havia fechado um novo contrato lucrativo.
Joaquim Ferreira aplicou apenas três chicotadas naquele dia, um número baixo para seus padrões. Ao cair da noite, conforme planejado, Rita e as outras mulheres começaram a espalhar o alerta sobre onças, reunindo todos nas cenzalas. Miguel e seu grupo se posicionaram discretamente próximos à Casa Grande. Damião já havia acendido o forno número cinco, usando a justificativa de que estava testando sua eficiência para a grande queima do final do mês.
Às 8 horas da noite, Antônio e Joaquim entraram no escritório para a contabilidade semanal, como era seu costume. Carregavam uma garrafa de cachaça e um saco com as moedas da semana. Fecharam a porta, mas não a trancaram por dentro. Nunca haviam tido motivo para se preocupar com segurança dentro da própria casa. Januário, deu o sinal. Era hora de transformar o inferno em justiça.
10 minutos depois que Antônio e Joaquim entraram no escritório, Miguel Moçambique e seus cinco companheiros se aproximaram silenciosamente da Casa Grande. Usavam pés descalços para não fazer barulho nas tábuas do açoalho. Cada um carregava cordas e pedaços de madeira que serviriam tanto para imobilizar quanto para bloquear a porta.
Damião permaneceu junto ao forno número cinco, alimentando as chamas e garantindo que a temperatura subisse gradualmente. Ele havia calculado que precisariam de aproximadamente 2 horas para que o forno atingisse o calor ideal, não tão intenso que matasse imediatamente, mas suficiente para causar o sofrimento que Antônio tanto gostava de infligir.
Januário ficou posicionado em um ponto estratégico de onde podia observar tanto a casa grande quanto as cenzalas, pronto para intervir algo saísse do plano, ou se algum escravizado, não envolvido, tentasse sair e descobrisse o que estava acontecendo. Dentro do escritório, Antônio e Joaquim estavam em sua rotina habitual.
Contavam as moedas, discutiam os números da produção da semana, bebiam cachaça e riam de piadas cruéis sobre os escravizados. Aquele Tomás que morreu mês passado dizia Joaquim entre goles, morreu gritando como um porco. Nunca vi ninguém gritar tão alto, Antônio Riu. É porque aumentei o fogo rápido demais. Da próxima vez vou deixar mais devagar. Assim o espetáculo dura mais tempo. Esses negros precisam aprender que aqui mando eu e minha palavra é lei absoluta.
Foram essas as últimas palavras que Antônio Duarte pronunciou como homem livre. A porta do escritório se abriu violentamente e antes que qualquer um dos dois pudesse reagir, seis homens fortes os imobilizaram. Miguel Moçambique segurou pessoalmente Antônio, pressionando seu rosto contra a mesa de madeira, onde estavam as moedas espalhadas. “Lembra de mim, senhor?”, sibilou Miguel ao ouvido de Antônio.
“Sou o marido da mulher que o senhor assou viva porque ela quebrou um prato. Hoje é dia de acertar essa conta. Você consegue imaginar o terror que Antônio sentiu naquele momento? O mesmo terror que ele havia causado em dezenas de pessoas? Continue assistindo, porque essa virada histórica está apenas começando. Joaquim Ferreira tentou gritar, mas uma mão forte cobriu sua boca enquanto cordas eram enroladas em seus braços e pernas.
O capataz, acostumado a amarrar outros, agora experimentava a sensação de ser amarrado. Seus olhos arregalados de pavor eram um reflexo perfeito do medo que ele havia causado em tantos. Antônio, inicialmente chocado, logo tentou recuperar sua autoridade. Vocês enlouqueceram. Sabem o que vai acontecer com todos vocês? Vão ser enforcados na praça pública. Vão ser esquartejados vivos.
Soltem-me imediatamente. Miguel respondeu com um soco preciso no estômago de Antônio, tirando-lhe o ar dos pulmões. O senhor vai ficar quieto agora. Pela primeira vez na vida, vai ouvir ao invés de dar ordens e vai aprender o que é medo de verdade. Os seis homens arrastaram Antônio e Joaquim para fora do escritório.

Usaram as próprias camisas deles como mordaças, garantindo que não pudessem gritar por socorro. As mãos foram amarradas nas costas, os pés amarrados juntos e ambos foram carregados como sacos de batata pelo terreiro escuro. A cena foi testemunhada apenas pela lua nova. e pelas estrelas. Os outros escravizados, conforme planejado, permaneciam trancados nas cenzalas.
Alguns ouviram sons estranhos, mas o medo das supostas onças os manteve dentro, exatamente como Rita havia planejado. Quando Antônio e Joaquim foram trazidos para próximo do forno número cinco, puderam ver Damião alimentando as chamas com mais lenha. O brilho alaranjado do fogo iluminava os rostos dos 11 conspiradores que agora o cercavam. Não eram mais escravizados submissos, eram juízes, juecutores.
Januário se aproximou de Antônio, agora totalmente imobilizado no chão. Agachou-se ao seu lado e falou com uma calma que era mais aterrorizante que qualquer grito. Senr. Antônio Duarte da Silva, o senhor gosta tanto desses fornos. que decidimos que merece experimentá-los por dentro. Mas não se preocupe, vamos fazer exatamente como o senhor ensinou.
devagar para que dure bastante. Os olhos de Antônio se arregalaram em terror absoluto. Ele tentou gritar através da mordaça, tentou se debater, mas estava completamente impotente. Pela primeira vez em sua vida, estava experimentando a total falta de controle, a completa vulnerabilidade que havia imposto a tantos outros.
Joaquim Ferreira, ao lado dele, havia perdido o controle da bexiga de tanto medo. O capataz, que tanto orgulho tinha de sua crueldade, agora chorava como uma criança, tremendo incontrolavelmente. Miguel Moçambique se posicionou diante de ambos. Minha esposa se chamava Teresa. Ela tinha 28 anos quando o senhor a matou. Seu crime foi quebrar um prato enquanto lavava a louça.
Um prato? E o Senhor a colocou no forno por 6 horas. Damião se aproximou. Minha irmã se chamava Benedita. Ela tinha 15 anos. O capataz aqui. Ele apontou para Joaquim. A chicoteou até a morte porque ela chorou quando separaram ela da mãe. Chorou e morreu por isso. Um por um, cada membro do grupo se apresentou, contou sua história, revelou a dor pessoal que carregava.
Não era apenas vingança cega, era justiça nomeada, era cada crime sendo reconhecido antes da sentença ser executada. Rita Benguela foi a última a falar. Vocês dois são demônios vestidos de gente, mas hoje os demônios vão conhecer seu próprio inferno. Januário deu a ordem. Coloquem o capataz primeiro. O Senhor vai assistir, assim como nos fez assistir tantas vezes. Depois será sua vez.
Joaquim Ferreira foi arrastado até a abertura do forno número cinco. O calor que emanava de lá dentro era intenso, mas ainda não estava na temperatura máxima. Damião havia calculado perfeitamente, quente o suficiente para causar sofrimento imediato, mas não tanto que causasse morte rápida. O capatai se debatia desesperadamente, mas seis homens fortes o seguravam.
Removeram a mordaça de sua boca apenas quando o empurraram para dentro do forno, querendo ouvir os mesmos gritos que ele havia forçado tantos outros a ouvir. Joaquim implorou: “Por favor, tenho família, tenho filhos, eu só seguia ordens”. Suas súplicas ecoavam pelo terreiro vazio. Miguel respondeu friamente: “Teresa também tinha família.
Ela era minha família. Benedito tinha mãe, Paulo e Marcelino tinham um ao outro. Todos tinham famílias e vocês destruíram todas elas. A porta do forno foi parcialmente fechada, deixando apenas uma fresta aberta. Damião adicionou mais lenha, aumentando gradualmente o calor interno.
Durante a primeira hora, os gritos de Joaquim foram ensurdecedores. Ele berrava pedidos de perdão, implorava por água, chamava por santos e por Deus. Antônio, forçado a assistir tudo aquilo, estava em estado de choque total. Lágrimas escorriam por seu rosto enquanto via seu capataz passar pela mesma tortura que ele havia ordenado tantas vezes.
Essa parte da história é difícil de narrar, mas é importante que vocês saibam a verdade completa. Se estão conseguindo acompanhar até aqui, deixem seu like e compartilhem para que essa memória não seja esquecida. e fiquem até o final para entender o impacto histórico dessa noite. Após quase duas horas, os gritos de Joaquim finalmente cessaram. Damião abriu a porta do forno e verificou.
O capataz estava morto, seu corpo carbonizado irreconhecível. A primeira parte da justiça havia sido executada. Agora era a vez de Antônio Duarte da Silva, o senhor que havia transformado fornos de tijolo em câmaras de tortura. Agora seria julgado pelo mesmo método que criara.
Mas antes que o colocassem no forno, Januário teve uma ideia final. “Esperem”, disse ele. “Vamos dar ao Senhor uma escolha, já que ele sempre gostou tanto de dar escolhas aos outros.” “Senor Antônio, o senhor pode entrar no forno sozinho e morrer como Joaquim morreu, ou podemos amarrá-lo aqui fora e deixá-lo assistir enquanto queimamos toda a sua casa grande, todos seus documentos.
todo o seu dinheiro. Depois disso, soltaremos o Senhor livre para viver como um mendigo, sem nada. O que prefere? Antônio, mesmo em seu terror, entendeu que aquela não era uma escolha real, era uma crueldade adicional, uma última humilhação. Com a voz quebrada, ele sussurrou: “Façam o que quiserem.” Já estou morto mesmo. Januário acenou com a cabeça. Está certo, senhor.
O senhor está morto. Morreu no momento em que colocou o primeiro ser humano dentro de um forno. Só demorou trs anos para o corpo alcançar a alma. Antônio foi arrastado até o forno número cinco, ainda quente da execução anterior. Ao contrário de Joaquim, ele não implorou nem gritou. estava em estado de choque.
Sua mente aparentemente incapaz de processar a realidade do que estava acontecendo. Quando o empurraram para dentro e fecharam parcialmente a porta, Antônio finalmente reagiu. Seus gritos não eram de dor física, eram de compreensão tardia de todos os horrores que havia cometido.
Era como se apenas naquele momento, enfrentando sua própria morte da maneira mais cruel, ele finalmente entendesse o sofrimento que havia causado. Miguel Moçambique ficou parado diante do forno durante todo o tempo. Não sentia prazer nem satisfação, apenas uma sensação de dever cumprido. Isso é por Teresa disse baixinho. por Benedito e por Paulo e por Marcelino, e por todos os outros cujos nomes eu nem sei.
Três horas depois, quando o sol começava a nascer no horizonte, Antônio Duarte da Silva estava morto. O forno número cinco foi apagado e os 11 conspiradores se reuniram para decidir o que fazer em seguida. Januário falou primeiro: “Agora temos que decidir. Podemos fugir todos, tentar chegar aos quilombos? Ou podemos ficar e enfrentar as consequências, contar a verdade sobre o que aconteceu aqui.
Rita argumentou pela fuga. Se ficarmos, vão nos matar a todos. Não importa o que esse homem fez. Aos olhos da lei, somos apenas propriedades que destruíram seu dono. Damião discordou. Se fugirmos, a história que vão contar é que matamos dois homens inocentes. Ninguém vai saber da verdade sobre os fornos, sobre as torturas. Precisamos que alguém fique para testemunhar.
Após horas de discussão, chegaram a uma decisão. Oito deles fugiriam imediatamente, tentando alcançar quilombos conhecidos na região. Três ficariam: Januário, Miguel e Rita, para contar a verdade às autoridades quando chegassem. Os oito que fugiram se dispersaram em diferentes direções antes que o sol nascesse completamente. Levaram algum dinheiro que encontraram no escritório, ferramentas e provisões.
Suas histórias subsequentes se perderam na história. Alguns podem ter alcançado os quilombos, outros podem ter sido recapturados. Januário, Miguel e Rita libertaram todos os outros escravizados das cenzalas assim que amanheceu. A confusão inicial foi enorme quando descobriram o que havia acontecido durante a noite.
Alguns entraram em pânico, outros em celebração, outros simplesmente não sabiam como reagir. Às 9 horas da manhã, um comerciante que vinha comprar tijolos chegou à fazenda e encontrou a cena. Os corpos carbonizados nos fornos, a casa grande, intacta, mas vazia, dezenas de escravizados vagando livremente pelo terreiro e três pessoas, Januário, Miguel e Rita, sentados calmamente próximos ao forno número cinco esperando.
O comerciante cavalgou imediatamente até Mariana para alertar as autoridades. Ao meio-dia, o juiz municipal, ironicamente o cunhado de Antônio, chegou com uma milícia de 20 homens armados. Januário, Miguel e Rita não tentaram fugir nem resistir quando a milícia chegou. Permaneceram sentados com as mãos à vista, sem armas.
Quando o juiz exigiu explicações, foi Januário quem falou, com uma calma impressionante para alguém que sabia estar assinando sua própria sentença de morte. Senhor juiz, vou contar tudo exatamente como aconteceu, mas antes o senhor precisa ver algo. Januário levou o juiz e a milícia pelos terrenos da fazenda, mostrando as covas rasas, onde pelo menos 23 corpos de escravizados haviam sido enterrados.
Mostrou os fornos, explicou o sistema de tortura, detalhou cada caso que conhecia. O juiz Manuel Rodrigues Pereira, cunhado de Antônio, ficou visivelmente perturbado. Ele sabia que seu cunhado era cruel, mas desconhecia a extensão das atrocidades. Durante as semanas anteriores, havia ignorado rumores sobre os fornos, classificando-os como exageros.
Rita trouxe três escravizadas que haviam sido forçadas a trabalhar na casa grande. Ana Crioua, Joana e Francisca. Todas testemunharam sobre as torturas que presenciaram, os gritos que ouviram, os corpos que viram sendo retirados dos fornos.
Miguel apresentou uma lista que havia secretamente mantido durante meses, nomes, idades e crimes de cada vítima dos fornos. Era um documento acusatório devastador. O juiz se viu em uma posição impossível. Por um lado, três escravizados haviam confessadamente assassinado seu cunhado e o capataz da fazenda, crimes pelos quais a pena era morte certa.
Por outro lado, as evidências de torturas sistemáticas e assassinatos eram innegáveis e perturbadoras. Vocês conseguem imaginar o dilema moral e legal desse momento? A história agora entra em sua fase final, onde descobriremos como a justiça lidou com essa situação sem precedentes. Continuem até o final. O juiz ordenou que Januário, Miguel e Rita fossem presos e levados para a cadeia de Mariana.
Os outros escravizados da fazenda foram temporariamente confiscados como propriedade do Estado, até que os herdeiros de Antônio Duarte fossem localizados e a questão da herança resolvida. Nos dias seguintes, a história da noite do inferno em Mariana se espalhou por toda a província de Minas Gerais e além. Jornais de Vila Rica, do Rio de Janeiro e até de São Paulo publicaram relatos sensacionalistas do caso. As opiniões públicas se dividiram drasticamente.
Setores escravistas conservadores exigiam execução imediata dos três assassinos como exemplo para outros escravizados. publicaram artigos descrevendo Januário Miguel e Rita como monstros sanguinários que haviam traído a confiança de um senhor benevolente, mas havia outro lado da opinião pública emergindo.
Intelectuais abolicionistas, religiosos progressistas e até alguns fazendeiros mais moderados começaram a questionar como chamar de assassinato quando as vítimas eram elas mesmas torturadores confessos. Onde estava a justiça nos 23 escravizados mortos nos fornos? O padre Antônio Marques, vigário de Mariana, causou polêmica ao publicar um sermão intitulado A justiça de Deus e a Justiça dos Homens.
Nele argumentava que Antônio Duarte havia se colocado acima da lei divina e humana e que sua morte pelos próprios instrumentos de tortura era uma forma de justiça poética, mesmo que ilegal. O julgamento de Januário Miguel e Rita ocorreu em março de 1832, 4 meses após os eventos. Foi um dos julgamentos mais acompanhados da história da província.
A sala do tribunal ficou lotada, com pessoas de pé tentando ouvir os procedimentos. O promotor público argumentou de forma direta: “Independente das crueldades cometidas por Antônio Duarte, três escravizados haviam assassinado deliberadamente seu senhor e o capataz. A lei era clara. A pena deveria ser morte por enforcamento, precedida de tortura como exemplo público.
A defesa, surpreendentemente veio de um jovem advogado chamado Bernardo Teixeira Guimarães, que argumentou algo revolucionário para a época, a legítima defesa coletiva. Ele propôs que os réus estavam defendendo suas próprias vidas e as vidas de todos os outros escravizados da fazenda contra um perigo real e iminente.
Senhores jurados, discursou Bernardo, não estamos julgando um simples caso de assassinato. Estamos julgando se seres humanos reduzidos à escravidão têm ou não o direito de defender suas próprias vidas contra torturas que nem mesmo aos animais infligiríamos. Estamos decidindo se a propriedade sobre outro ser humano inclui o direito de torturá-lo lentamente até a morte. O argumento era radical demais para a época.
O júri, composto inteiramente de proprietários de escravos, deliberou por apenas duas horas antes de retornar com o veredito. Culpados de assassinato. A sentença deveria ser morte por enforcamento. No entanto, o juiz Manuel Rodrigues Pereira fez algo inesperado. usando uma prerrogativa legal obscura, comutou a sentença de morte para a prisão perpétua, com trabalhos forçados, citando as circunstâncias atenuantes extremas do caso. Era uma solução de compromisso que não satisfazia ninguém.
Os escravistas haviam como fraqueza perigosa, os abolicionistas haviam como injustiça continuada, mas mantinha Januário, Miguel e Rita vivos. E isso era algo. A história não termina com o julgamento. Januário, Miguel e Rita foram enviados para uma prisão de trabalhos forçados em uma fazenda estatal.
Lá continuaram suas vidas em condições apenas marginalmente melhores que a escravidão, mas ao menos sem o terror constante dos fornos. Em 1850, 18 anos depois dos eventos, uma anistia geral concedida pelo imperador Dom Pedro libertou os três. Januário tinha então quase 60 anos, Miguel 53 e Rita 47. Eles receberam documentos de alforria e pequenas quantias em dinheiro.
Januário se estabeleceu em uma pequena propriedade rural próxima a Ouro Preto, onde viveu até 1861. ensinando técnicas agrícolas para ex-escravizados. Miguel nunca se recuperou totalmente da prisão e morreu em 1853. Rita viveu até 1872, trabalhando como parteira e curandeira, sempre contando a história da noite do inferno para quem quisesse ouvir.
A fazenda Santa Cruz foi abandonada após a morte de Antônio Duarte. Seus herdeiros, envergonhados pelo escândalo, venderam a propriedade por uma fração do valor. O novo proprietário demoliu todos os 12 fornos, dizendo que a terra estava amaldiçoada pelo sangue de inocentes.
Hoje, onde ficava a fazenda Santa Cruz, existe um pequeno museu municipal de Mariana. Uma placa discreta menciona que no local funcionou no século XIX uma fazenda de produção de tijolos onde ocorreram eventos trágicos relacionados à escravidão. É uma descrição sanitizada de um dos episódios mais brutais da história da escravidão brasileira.
O legado da noite do inferno em Mariana vai além dos indivíduos envolvidos. O caso foi citado em debates parlamentares sobre a escravidão durante toda a década de 1830. Contribuiu, mesmo que marginalmente, para o crescente movimento abolicionista que culminaria na lei Áurea 56 anos depois.
Mais importante ainda, a história serve como um lembrete brutal de até onde pode chegar a desumanização quando um sistema trata seres humanos como propriedade. Antônio Duarte não nasceu monstro. Ele foi criado por um sistema que permitia, encorajava e até protegia suas atrocidades. A pergunta que essa história nos deixa é desconfortável.
Quantos outros Antônios Duares existiram na história da escravidão brasileira? Quantas histórias semelhantes nunca foram contadas porque não houve uma noite do inferno para forçar a verdade a emergir. Os historiadores estimam que apenas uma fração minúscula das atrocidades cometidas durante os três séculos de escravidão no Brasil foi documentada. Para cada Antônio Duarte, cujos crimes vieram à luz, provavelmente existiram dezenas cujas histórias se perderam no tempo. O Brasil ainda está aprendendo a lidar com esse passado.
Durante muito tempo, a narrativa oficial tentou suavizar a brutalidade da escravidão, pintando-a como um sistema menos cruel do que em outros países. Histórias como a da noite do inferno destróem essa narrativa confortável. Se esta história impactou vocês tanto quanto me impactou ao pesquisá-la, compartilhem este vídeo. É fundamental que essas memórias não sejam esquecidas.

Inscrevam-se no canal e ativem as notificações para mais histórias reais sobre a resistência negra na história do Brasil. A noite do inferno em Mariana nos ensina que a resistência à opressão sempre existiu, mesmo nos contextos mais desesperadores. Januário, Miguel, Rita e os outros oito que fugiram não eram vilões, eram seres humanos desesperados que chegaram ao limite do suportável e decidiram que preferiam morrer lutando do que viver sendo torturados. A verdadeira vilania estava no sistema que permitia que Antônio Duarte
comprasse, torturasse e matasse seres humanos sem consequências legais. Estava na sociedade que olhava para o outro lado, enquanto gritos emergiam dos fornos. Estava nas leis que classificavam pessoas como propriedade. 200 anos depois, o Brasil ainda carrega as cicatrizes desse sistema.
a desigualdade racial, a violência policial desproporcional contra negros, as barreiras sistemáticas ao progresso econômico e social. Tudo isso são ecos daqueles fornos de Mariana e de milhares de outras atrocidades similares. Conhecer essa história não é sobre cultivar culpa ou vergonha, é sobre entender que as injustiças do presente têm raízes profundas no passado e que apenas reconhecendo e estudando esse passado, podemos esperar construir um futuro mais justo.
Januário, Miguel e Rita merecem ser lembrados não como assassinos, mas como sobreviventes que fizeram escolhas impossíveis em circunstâncias impossíveis. Antônio Duarte merece ser lembrado não apenas como um monstro individual, mas como um produto de um sistema monstruoso. E os 23 que morreram nos fornos, Benedito, Tomás, Maria Joaquina, José Mina, Francisco Congo, Paulo, Marcelino, Teresa e todos os outros, cujos nomes talvez nunca saibamos, merecem que suas histórias sejam contadas para que nunca mais permitamos que tais horrores aconteçam. A história da noite do
inferno em Mariana termina aqui, mas seu legado continua. Cada vez que nos recusamos a aceitar injustiça, cada vez que damos voz aos silenciados, cada vez que lembramos dos esquecidos, estamos honrando a memória de todos que sofreram e resistiram. Obrigado por assistirem até o final.
Compartilhem, comentem, façam essa história chegar a mais pessoas, porque um povo que não conhece sua história está condenado a repeti-la. E essa é uma história que nunca jamais pode se repetir.