“Estou faminta por um homem”: A exigência selvagem da gigante Apache ao fazendeiro virgem que acendeu uma paixão proibida desafiando a própria morte.

O vento do deserto soprava impiedoso, carregando o calor do dia e a poeira que se agarrava a tudo como uma segunda pele. Elias Boon estava no velho estábulo, verificando as trancas, quando ouviu um ruído. Não era o vento. Era algo vivo.

Sua mão apertou-se instintivamente ao redor da coronha fria de seu rifle Winchester. Ele se moveu em silêncio, deslizando pelas sombras como um espectro em sua própria terra. Ao espiar para dentro da penumbra do celeiro, viu duas figuras. Eram altas, de ombros largos, agachadas sobre um saco de fubá rasgado.

Não eram ladrões comuns. Eram duas irmãs Apaches, Nia e Tala. Mesmo na penumbra, pareciam estátuas vivas de bronze, com músculos tensos sob a pele queimada pelo sol e cabelos negros e espessos caindo como cascatas sobre os ombros. Mas o que Elias viu quando a luz fraca atingiu seus corpos foi um mapa de sofrimento: cicatrizes, marcas vermelhas de cordas nos pulsos e sangue seco.

Elias ergueu o rifle. O som metálico do engatilhamento cortou o ar.

As duas congelaram. Nia, a mais velha, girou o corpo para proteger a irmã. Seus olhos escuros não demonstravam medo, apenas uma exaustão infinita e uma fome antiga.

— Por favor — a voz de Nia era rouca, como se não fosse usada há dias. — Apenas nos deixe ir.

Naquele instante, o tempo pareceu parar. Elias olhou para as marcas de corda em seus braços, para a magreza de seus rostos. Ele viu não inimigos, mas sobreviventes. Lentamente, o cano do Winchester baixou.

— Se precisam de algo, peguem — disse Elias, sua voz grave quebrando o silêncio. — E depois vão embora.

As irmãs trocaram um olhar rápido. Pegaram um punhado de fubá e algumas batatas murchas. Ninguém disse “obrigado”. Mas, enquanto se afastavam, Tala, a mais jovem, virou-se. Seu olhar encontrou o de Elias por um longo momento — uma mistura de gratidão e descrença, como se tentasse memorizar o rosto do homem branco que não atirou.

Elias permaneceu no estábulo, o coração batendo forte no silêncio abrasador, enquanto as silhuetas desapareciam na vastidão.


Desde o dia em que as duas mulheres partiram, o sono de Elias tornou-se inquieto. Às vezes, no uivo do vento, ele jurava ouvir batidas de cascos distantes ou um riso fraco, vago como uma memória. A solidão, que antes era sua única companheira, agora pesava toneladas.

Então, numa manhã, o deserto respondeu.

Na varanda de sua casa, ele encontrou dois peixes secos e um maço de folhas de tabaco, amarrados com uma tira de couro cru. Sem bilhete, sem pegadas. Apenas o leve cheiro de fumaça de artemísia. Elias entendeu: era o “obrigado” Apache. Ele sorriu, um gesto raro que fez seu rosto doer, e deixou um saco fresco de fubá no mesmo lugar.

Uma conexão invisível começou a se formar. Eles não se viam, mas sentiam a presença um do outro. Elias encontrava rastros descalços perto do poço; uma vez, ao voltar do campo, encontrou o estábulo varrido e a lenha empilhada. Gratidão, no deserto, era uma linguagem de ações, não de palavras.

Numa tarde, enquanto Elias consertava o telhado do celeiro sob um sol poente que tingia o mundo de sangue, elas apareceram.

Nia veio primeiro, seus ombros largos capturando a luz vermelha. Tala a seguia, mais suave, com os cabelos soltos ao vento. Aproximaram-se sem hesitação. Elias desceu a escada, largou o martelo e assentiu levemente. Naquela noite, acenderam uma fogueira no pátio. Elias trouxe carne salgada; Tala ofereceu especiarias do mato.

O estalar da madeira preenchia o silêncio. O fogo dançava na pele bronzeada delas, brilhando com o suor.

— Você não tem medo de nós? — Nia perguntou, sua voz baixa e firme, olhando-o através das chamas.

Elias balançou a cabeça, olhando para as brasas. — Tenho mais medo de ficar sozinho.

As palavras fizeram Nia sorrir. Um sorriso curto, mas genuíno. Naquele momento, a barreira entre mundos diferentes caiu. Eram apenas três almas procurando um lugar para respirar.


A rotina se instalou como a poeira no chão. Elas vinham, trabalhavam lado a lado com ele, e partiam. Mas o rancho, antes um mausoléu de memórias de seu falecido pai, começou a ganhar vida.

Certo dia, ao meio-dia, quando o sol branqueava o mundo, pararam para descansar. O suor encharcava as roupas de Elias. Nia, com os cabelos negros caindo sobre os ombros nus, perguntou: — Há quanto tempo vive sozinho?

Elias limpou a testa. — Desde que meu pai morreu.

— Nenhuma mulher? — Tala provocou, com um brilho nos olhos.

Elias deu um sorriso tímido. — Não.

Nia deu um passo à frente. O cheiro de pele aquecida pelo sol, suor e fumaça envolveu Elias. O olhar dela era intenso, despido de qualquer fingimento social.

— Faz muito tempo que não toco em ninguém — disse ela, devagar. — E você?

A pergunta o atingiu como um soco físico. Elias engoliu em seco. — Nunca toquei.

Tala soltou uma risada rouca, livre. — Um homem intocado pelo mundo.

Nia deu mais um passo, eliminando a distância. — Então hoje você vive.

O beijo foi súbito, selvagem, com gosto de terra e fogo. Elias correspondeu, e anos de solidão represada explodiram. Eles se moveram para o porão, onde a única luz entrava pelas frestas das tábuas. Nia o pressionou contra a parede, enquanto Tala observava da porta, a respiração acelerada, antes de se juntar a eles. Na escuridão, três corpos se entrelaçaram, não apenas por desejo, mas por uma fome desesperada de se sentirem reais, de saberem que ainda estavam vivos num mundo morto.

Quando a respiração finalmente se acalmou, Nia sussurrou, os olhos suaves pela primeira vez: — Você não é como os outros. Você não tem medo de amar aquilo que deveria temer.

Mas o vento lá fora mudou. Carregava areia e o cheiro de perigo.


A noite estava escura como tinta quando o som chegou. Primeiro espalhado, depois como um trovão rítmico. Cascos. Muitos deles.

Elias saltou da cama improvisada, agarrou o Winchester e correu para a janela. Vinte guerreiros Apaches aproximavam-se, uma linha de tochas rasgando a escuridão. O canto deles era lúgubre, fazendo o céu parecer inclinar-se.

Nia já estava na varanda, uma faca longa na mão. Tala estava ao seu lado, os olhos frios.

— Eles vieram por nós — disse Nia.

— E eu? — perguntou Elias.

— Você é apenas a desculpa que eles precisam para matar.

O líder do bando, um homem pintado com uma caveira vermelha no rosto, cravou uma tocha no chão do pátio. — Nia! Tala! Voltem agora ou queimaremos este lugar até o chão!

Elias não hesitou. Saiu da varanda, caminhou até o terreno aberto e colocou-se entre as mulheres e os vinte guerreiros. Ele parecia pequeno diante da fúria deles, mas estava sólido como uma rocha.

— Elas escolheram ficar — a voz de Elias não tremeu. — E eu escolho morrer com elas, se for preciso.

O líder riu, mostrando os dentes. — Um homem pequeno ousa desafiar o sangue da nossa tribo?

— Não — Elias respondeu calmamente. — Desafio aqueles que esqueceram o que significa liberdade.

Nia avançou, ficando ombro a ombro com ele. — Não pertencemos a ninguém! — gritou ela. — Escolhemos a liberdade. E escolhemos este homem.

O silêncio que se seguiu foi pesado. Os guerreiros se entreolharam, divididos entre a lei da tribo e a honra da coragem. O líder, por fim, baixou a tocha. — Então vivam — ele cuspiu as palavras. — E paguem o preço da liberdade.

Eles partiram, as tochas desaparecendo na noite como espíritos.

No pátio, Tala segurou a mão de Elias. Nia apertou a outra. — Estamos vivos — sussurrou Tala. — Não — corrigiu Nia, olhando para Elias. — Começamos a viver hoje à noite.


As semanas seguintes foram de renascimento. Onde as tochas queimaram a terra, grama nova cresceu. O rancho de Elias Boon tornou-se um lar. Nia reconstruiu cercas, Tala domou cavalos selvagens. Eles plantaram milho, cavaram um novo poço e, à noite, cantavam canções em línguas misturadas.

Era uma paz frágil, mas real. Elias aprendeu a montar como um Apache. As irmãs aprenderam a confiar e a rir.

Mas o deserto guarda rancores.

O outono chegou e, com ele, um aviso. Tala, voltando da floresta, disse que estava sendo seguida. Naquela tarde, seis cavaleiros apareceram no horizonte. Não eram brancos, eram Apaches renegados. O líder tinha uma cicatriz longa no rosto.

Ele parou no portão. — O chefe perdoou vocês — disse ele em inglês quebrado. — Mas o filho dele não. Ele jurou pegar as cabeças de vocês três.

O ar ficou pesado. — E vocês? — Elias perguntou, o dedo no gatilho.

— Nós só trazemos palavras — disse o mensageiro. — Eles virão quando a Lua de Sangue nascer.

Eles partiram, deixando um rastro de medo.

— Ele não vai parar — disse Tala, tremendo. — Eu sei — disse Nia. — Mas também não vamos correr.

Naquela noite, a lua nasceu vermelha, banhando o rancho em uma luz sinistra. A “Lua de Sangue”. Elias dispôs as armas sobre a mesa. Nia e Tala sentaram-se com ele. Não havia para onde fugir. A liberdade não estava na fuga, mas na permanência.

— Você se arrepende? — Nia perguntou a Elias. — De nos deixar ficar?

— Não — ele respondeu, olhando nos olhos dela. — Porque desde que vocês entraram na minha vida, descobri que tenho um coração a perder. Ninguém levará as mulheres que eu amo.

A noite se arrastou. O vento uivava, tentando abrir as portas. Cada sombra parecia um inimigo. Eles esperaram, ombro a ombro, prontos para a batalha final.

Mas a alvorada chegou.

O sol nasceu, dissipando a luz vermelha da lua e revelando… nada. O horizonte estava vazio. Apenas o vento e a artemísia.

Eles saíram para a varanda, piscando sob a luz dourada da manhã. Tala trouxe café. Ninguém falou por um longo tempo. Elias percebeu a verdade: às vezes, o inimigo não vem porque o medo no seu coração já morreu. A determinação deles naquela noite, a disposição de morrer uns pelos outros, havia quebrado a maldição.

— Vejam — disse Nia, apontando para os campos onde a cevada balançava ao vento. — Esta terra sabe perdoar.

Elias segurou a mão dela. — Não. São as pessoas que ensinam a terra a perdoar.

Tala sorriu, um sorriso de paz absoluta. — É o suficiente — disse ela. — Neste mundo, o que mais alguém poderia pedir?

O vento subiu, refrescando a terra que um dia fora queimada pelo fogo. Três almas — um fazendeiro solitário e duas guerreiras exiladas — sentaram-se juntas na varanda, bebendo café enquanto o sol aquecia seus rostos. Não deviam nada a ninguém. Eram uma família forjada no fogo, unida não pelo sangue, mas pela escolha.

Lá fora, no vasto deserto vermelho, onde as leis da sobrevivência são cruéis, a bondade havia florescido como uma flor selvagem entre as rochas. Elias não puxou o gatilho quando podia, e naquele momento, um mundo novo nasceu. Um mundo onde a liberdade não é concedida, mas descoberta através da coragem de amar.

E assim, sob o céu infinito do oeste, eles viveram. Livres.

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