“Eu criei um monstro”: As práticas sexuais inomináveis da mãe que destruiu a sanidade do próprio filho em um ritual profano.

A névoa agarrava-se aos cumes dos Apalaches como uma mortalha, espessa e sufocante, no outono de 1886. Elijah Moss guiava seu cavalo exausto pela trilha estreita da montanha, sua respiração formando fantasmas brancos no ar gélido enquanto apertava sua velha Bíblia de couro contra o peito.

O jovem pregador itinerante cavalgava desde a aurora, carregando a palavra de Deus para as almas dispersas que esculpiam uma existência miserável naqueles picos impiedosos. Aos 24 anos, Elijah possuía o idealismo fervente da juventude e uma crença inabalável de que nenhum canto da terra era escuro demais para a luz divina penetrar.

Ele estava errado.

A cabana da família Hill materializou-se da bruma como algo conjurado de um delírio febril. Construída na encosta da montanha com troncos brutos enegrecidos pela fumaça e pelo tempo, parecia agachar-se contra a terra, tentando desaparecer. Fumaça saía da chaminé de pedra, e as pequenas janelas brilhavam com a luz âmbar das lamparinas a óleo. No entanto, havia algo profundamente hostil na estrutura. O próprio ar ao redor parecia pesado, grávido de segredos que os ventos da montanha não ousavam levar embora.

Martha Hill emergiu da cabana antes mesmo de Elijah desmontar. Era uma mulher de talvez 45 anos, alta e angulosa, com cabelos grisalhos puxados para trás em um coque severo que esticava a pele sobre as maçãs do rosto afiadas. Seu vestido era de lã preta, modesto. Mas havia algo em sua postura que exigia atenção imediata. Seus olhos azul-claros continham uma intensidade que fazia homens feitos desviarem o olhar.

— Pregador — disse ela, a voz cortando a clareira com uma autoridade estranha para aquele isolamento. — O Senhor o entregou à nossa humilde morada. Somos abençoados pela sua presença.

Atrás dela estava Floyd Hill, seu filho adulto. Elijah sentiu a respiração travar ao vê-lo. O rapaz tinha talvez 22 ou 23 anos, mas parecia simultaneamente muito mais velho e muito mais jovem. Ele era esquelético, as roupas penduradas no corpo como em um espantalho. Seus cabelos escuros e oleosos emolduravam um rosto marcado por olheiras profundas e uma expressão perpétua de terror mal contido. Ele observava Elijah com o alerta cansado de um cão espancado.

— Sra. Hill — respondeu Elijah, oferecendo um sorriso que esperava ser tranquilizador. — Agradeço sua hospitalidade.

Martha sorriu, um gesto fino e frio. — Claro, pregador. Entre. A noite cai e há muito o que discutir.

O interior da cabana era espartano, mas meticulosamente limpo. Textos religiosos e cruzes de madeira tosca adornavam as paredes, mas sua disposição parecia mais talismãs de proteção do que expressões de fé. O ar era denso com o cheiro de ervas e algo mais — algo medicinal e levemente adocicado que revirou o estômago de Elijah.

— Floyd — comandou Martha. — Traga água para o pregador. E cuidado para não derramar uma gota.

O rapaz obedeceu com a precisão mecânica de um medo antigo.

Enquanto se acomodavam para as orações noturnas, uma tempestade violenta começou a rugir lá fora. Foi durante um dos trovões que batidas frenéticas ecoaram na porta. Uma vizinha, encharcada e desesperada, implorava ajuda para sua filha febril. Martha, transformando-se instantaneamente de matriarca fria em curandeira solicita, partiu na noite uivante, deixando Elijah sozinho com Floyd.

A súbita ausência de Martha pareceu drenar todo o ar da cabana. Floyd caiu contra a lareira, tremendo.

— Ela voltará logo — sussurrou ele, a voz quase inaudível. — Ela sempre volta.

Elijah tentou confortá-lo, mas o que Floyd revelou a seguir desafiaria a sanidade do pregador. Em sussurros quebrados e frases desconexas, o rapaz começou a pintar um quadro de horror.

Ele falou sobre os “rituais sagrados” de sua mãe, conduzidos na escuridão do porão. Cerimônias que ela alegava serem necessárias para mantê-lo “puro”, para protegê-lo dos pecados do mundo exterior. Ele descreveu uma união profana que violava todas as leis de Deus e dos homens, práticas sexuais e psicológicas que distorceram sua compreensão de amor e devoção desde a infância.

— Ela diz que é a vontade de Deus — engasgou Floyd, lágrimas correndo pelo rosto encovado. — Ela diz que só ela pode manter minha alma limpa. Mas pregador… eu sonho com fogo. Eu sonho em queimar tudo, ela e eu junto, porque eu não sei mais onde o pecado termina e onde eu começo.

Antes que Elijah pudesse processar a monstruosidade daquela confissão incestuosa e manipuladora, a porta se abriu. Martha retornou, seus olhos azuis fixando-se imediatamente nos dois homens. O rosto de Floyd ficou vazio, a máscara de obediência retornando instantaneamente.

Elijah partiu naquela noite, mas a imagem dos olhos de Floyd — um grito silencioso por salvação — o assombraria para sempre.

Elijah não conseguiu deixar a região. Hospedou-se no vilarejo de Copper Creek e começou a fazer perguntas. O que descobriu gelou seu sangue.

O nome de Martha Hill era sussurrado com medo. Old Henrik, o ferreiro norueguês, foi o primeiro a ser honesto. Ele contou como Martha chegara anos atrás e como seu marido, Samuel Hill, morrera misteriosamente congelado em seu próprio celeiro trancado por fora.

O padrão que emergiu era de manipulação sistemática. Martha era uma curandeira, sim, mas suas “curas” vinham com um preço. Crianças salvas por ela retornavam mudadas, distantes. Famílias inteiras tornavam-se devedoras dela, presas em uma teia de favores e medo. O xerife Cornelius Wade, um bêbado covarde, recusava-se a investigar, preferindo a ignorância à confrontação com o mal.

Foi Elara Johansson, esposa de Henrik e cunhada do falecido Samuel Hill, quem se tornou a única aliada de Elijah. — Aquela mulher é o diabo — disse Elara. — Ela destruiu essa família peça por peça.

Juntos, Elijah e Elara começaram a investigar. Na floresta ao redor da cabana dos Hill, encontraram árvores marcadas com símbolos que misturavam iconografia cristã com algo pagão e sinistro. E encontraram o porão oculto.

Acessível por uma entrada camuflada atrás da cabana, a câmara subterrânea cheirava a sangue seco e ervas podres. Grilhões estavam chumbados na rocha viva. Havia potes com órgãos preservados. Era um matadouro litúrgico, um lugar onde a inocência era desmembrada em nome de uma fé distorcida.

Mas a descoberta mais condenatória veio nas terras do primeiro marido de Martha, Jeremiah Croft. Em uma cova rasa, encontraram ossos que mostravam sinais claros de envenenamento por arsênico.

Elijah acreditou que a verdade libertaria a cidade. Ele estava enganado.

Quando a descoberta dos ossos veio a público, Martha não fugiu. Ela manipulou. Em uma performance magistral na igreja local, ela chorou e alegou que os ossos eram de um vagabundo que seu falecido marido tentara ajudar. Ela pintou Elijah como um forasteiro perigoso, um profanador de túmulos enviado para destruir os modos tradicionais da montanha.

A cidade, confrontada com a escolha entre uma verdade horrível e uma mentira confortável, escolheu a mentira. Elijah tornou-se um pária. O xerife encerrou o caso. A comunidade preferiu proteger o monstro a admitir sua própria cumplicidade.

Isolado na floresta, vivendo em um abrigo improvisado, Elijah sentiu sua fé quebrar. Como Deus permitia tal triunfo do mal? Foi Elara quem o salvou do desespero. — Você não pode vencer a cidade — disse ela. — Mas talvez possa salvar Floyd. A vitória não é expor o mal ao mundo, é tirar uma única alma da escuridão.

Naquela noite, um brilho laranja pulsou no céu sobre a montanha.

Elijah e Elara correram em direção à cabana. Um canto rítmico ecoava, mas cessou abruptamente quando o rugido das chamas tomou conta. A cabana de Martha Hill estava queimando.

Quando chegaram, o telhado já havia desabado. O calor era insuportável.

Na manhã seguinte, entre as cinzas fumegantes, a verdade foi finalmente revelada, nua e inegável. Encontraram os restos carbonizados de Martha Hill, identificada pelo medalhão de prata que nunca tirava.

Mas, abaixo do assoalho, no porão secreto que agora estava exposto ao céu cinzento, encontraram algo pior. Outro esqueleto. Desta vez, de um jovem rapaz. Henrik reconheceu as fivelas da jaqueta que ainda resistiam. Era Thomas Wittman, um garoto desaparecido há três anos.

Martha não estava apenas abusando de seu filho. Ela era uma predadora serial, atraindo jovens homens para sua teia, usando-os e descartando-os naquele buraco infernal. Floyd não era apenas uma vítima; ele era a única testemunha sobrevivente de um massacre contínuo.

Floyd foi encontrado três dias depois, vagando pela floresta, em estado de choque dissociativo. Suas mãos estavam queimadas, sugerindo que ele mesmo iniciara o incêndio — a “purificação” com a qual sonhara.

Não houve julgamento. Não houve justiça formal. A comunidade, envergonhada e horrorizada com a prova física do mal que haviam tolerado, recuou para o silêncio novamente. Mas desta vez, era um silêncio de culpa.

Elara e Henrik acolheram Floyd. Contra todas as expectativas médicas, o rapaz começou a curar-se, não através de hospitais ou prisões, mas através da bondade simples e paciente de um lar sem rituais, sem dor.

Elijah Moss partiu das montanhas um homem mudado. Seus cabelos estavam prematuramente grisalhos, seus olhos assombrados. Ele chegara buscando converter pecadores e partira compreendendo que o verdadeiro pecado não era a maldade de um único indivíduo, mas a complacência de muitos.

A última imagem que ele viu ao deixar Copper Creek foi Floyd Hill sentado na varanda de Elara, talhando um pedaço de madeira. O rapaz parou e olhou para o pregador. Não houve sorriso, apenas um aceno lento. Floyd estava quebrado, sim, mas pela primeira vez em sua vida, estava livre.

Elijah guiou seu cavalo para o vale, sabendo que algumas histórias não têm finais felizes, apenas finais necessários. O monstro estava morto, mas as cicatrizes na terra e na alma dos homens permaneceriam para sempre, como a névoa que nunca realmente deixa os Apalaches.

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