Rogério Correia irrita bolsonaristas com ‘toc, toc, toc, é a Polícia Federal’ e expõe um rastro explosivo de investigações

Em um discurso que incendiou Brasília e virou um dos vídeos políticos mais comentados da semana, o deputado Rogério Correia (PT-MG) provocou forte reação da base bolsonarista ao listar — com o repetitivo e provocativo “toc, toc, toc, é a Polícia Federal” — uma sequência de investigações envolvendo figuras centrais da direita brasileira. A fala, marcada por tom irônico, ritmo teatral e denúncias explosivas, não apenas ganhou destaque nas redes sociais, mas abriu um novo capítulo na guerra narrativa entre governo e oposição.
Segundo Correia, “o andar de cima”, como ele classifica empresários, políticos e influenciadores ligados à direita radical, estaria sendo finalmente alcançado por operações da Polícia Federal, após anos de blindagem e influência política. Ao longo de mais de dez minutos, o deputado citou casos, nomes e esquemas investigados, criando um panorama que chocou até mesmo parte da opinião pública já acostumada ao clima de tensão permanente da política nacional.
A primeira batida na porta: Curitiba volta ao centro do furacão
Correia iniciou seu discurso lembrando a operação realizada pela Polícia Federal na 13ª Vara Federal de Curitiba. Para ele, a ação representa uma reviravolta simbólica: a mesma Curitiba que protagonizou a Lava Jato agora se vê diante de acusações contra nomes centrais da própria operação, como Sergio Moro, Deltan Dallagnol e a ex-deputada Danielle Hart.
De acordo com o parlamentar, gravações e documentos investigam possíveis desvios de aproximadamente R$ 2,5 bilhões relacionados à gestão de fundos e acordos internacionais. A menção aos nomes, seguida pelo bordão “toc, toc, toc”, foi suficiente para provocar a primeira onda de indignação entre bolsonaristas presentes no plenário.
Correia insistiu que a extrema direita buscou, durante anos, projetar uma imagem moralista enquanto supostos esquemas financeiros se desenrolavam nos bastidores. “Agora”, disse ele, “a conta chegou”.
Carbono oculto, PCC, Faria Lima: um mosaico de suspeitas
Em seguida, o deputado ampliou o escopo das acusações. Mencionando investigações sobre negócios de créditos de carbono, lavagem de dinheiro, movimentações suspeitas ligadas ao PCC e operações financeiras envolvendo agentes da Faria Lima, Correia descreveu um quadro que ele afirma revelar “a verdadeira elite criminosa”.
Entre os mencionados estão Ciro Nogueira e Valdemar Costa Neto (Rueda), além de empresários de alto poder econômico. A repetição do “toc, toc, toc” marcou cada nova acusação, criando um ritmo que transformou o discurso em uma espécie de performance.
Aliados de Bolsonaro reagiram imediatamente, acusando Correia de “criminalizar adversários sem provas”, mas o parlamentar respondeu dizendo que todas as informações estavam amparadas em investigações oficiais da PF ou em apurações do Ministério Público.
A bomba da Refit: luxo, sonegação e jet skis

Correia também citou a operação que investiga um gigantesco esquema de sonegação fiscal bilionária envolvendo a Refit, uma refinaria no Rio de Janeiro. Segundo ele, o governador Cláudio Castro estaria entre os investigados, assim como empresários que, nas palavras do deputado, “ostentam Ferraris, Lamborghinis, vinhos caríssimos e relógios impossíveis”.
Para o deputado, a narrativa usada por setores da direita de que “os criminosos estão nas favelas” é uma estratégia para desviar atenção dos grandes crimes financeiros. “Os verdadeiros chefes”, disse ele, “estão nos gabinetes refrigerados e festas luxuosas”.
Pastores, bancos clandestinos e golpes no INSS
Em um dos trechos mais comentados, o deputado afirmou que investigações também miram pastores ligados à Igreja Lagoinha, em Belo Horizonte — incluindo líderes religiosos que teriam operado “bancos clandestinos” e aplicado golpes milionários no INSS.
Correia citou o caso de um pastor investigado por desviar recursos previdenciários, reforçando que não se tratava de acusação contra todos os religiosos, mas “daqueles que usam a fé como fachada”.
A denúncia gerou revolta imediata entre parlamentares da bancada evangélica, que gritaram contra Correia. Ele respondeu dizendo que “quem não deve, não teme”.
A CPMI do INSS e o fim dos descontos ilegais
O deputado lembrou ainda que a CPMI do INSS revelou um esquema operado durante o governo Bolsonaro que permitia descontos indevidos em aposentadorias e benefícios sociais. Segundo ele, foi somente na gestão Lula que os descontos foram proibidos e os valores, devolvidos.
A acusação reforçou o tema central do discurso: a ideia de que várias estruturas de poder e influência teriam sido capturadas pela extrema direita, operando em benefício de grupos específicos.
Zema e o consignado dos mais pobres
Outro alvo foi Romeu Zema, governador de Minas Gerais. Correia afirmou que, um mês antes da eleição de 2022, o governo estadual obteve autorização para oferecer crédito consignado a beneficiários do BPC e do Auxílio Brasil — justamente a população mais vulnerável.
Para o deputado, isso permitiu que uma financeira ligada ao grupo Zema lucrasse com juros sobre os mais pobres. “E isso”, disse ele, “é mais um toc, toc, toc”.
Bolsonaro, tornozeleira e a tentativa de fuga
No momento mais polêmico, Rogério Correia citou o ex-presidente Jair Bolsonaro, afirmando que ele teria tentado retirar com maçarico a tornozeleira eletrônica — dispositivo que o deputado chamou de “tornozeleira da democracia”.
Correia ironizou a imagem do ex-presidente “preso, reclamando do quarto e achando que estava em hotel”, provocando gritos da oposição. Ele respondeu reafirmando que Bolsonaro tentou fugir do país e merece cumprir as medidas impostas pela Justiça.
O general Heleno e o passado que volta
Correia também atacou o general Augusto Heleno, ex-ministro do GSI, lembrando episódios da ditadura militar e afirmando que figuras outrora poderosas agora se dizem “doentes” para evitar punições. Segundo ele, a democracia exige justiça, não impunidade.
A referência ao próprio passado — quando foi preso por resistência à ditadura durante sua militância estudantil — deu um tom pessoal à fala.
Deputados foragidos, perda de mandato e novo embate com a Câmara
O deputado então citou a situação de Carla Zambelli, Eduardo Bolsonaro e Alexandre Ramagem, lembrando que parte deles teve os direitos políticos suspensos e, portanto, segundo o artigo 55 da Constituição, deveria perder o mandato automaticamente.
Correia acusou a Mesa da Câmara de omissão por “proteger a extrema direita”, criando um cenário institucional sensível.
A virada econômica: o contraste entre crises políticas e resultados do governo
No final do discurso, Rogério Correia mudou o foco: falou sobre economia, argumentando que o avanço das investigações ocorre em paralelo a um momento de bons indicadores econômicos.
Entre os pontos citados:
a inflação mais baixa em décadas,
controle dos preços dos alimentos,
aumento real do salário mínimo,
crescimento da renda média,
desemprego em níveis historicamente baixos,
expectativas recordes para o comércio no Natal.
Segundo ele, esse cenário explica o “desespero” da extrema direita, que estaria perdendo tanto o espaço moral quanto o econômico.
“A blindagem acabou”: o recado final
Correia encerrou repetindo seu bordão:
“Todo dia tem operação. Todo dia tem investigação. Todo dia a Polícia Federal bate em alguma porta. Toc, toc, toc. E quase sempre, quando abre… é alguém da extrema direita.”
Para aliados de Lula, o discurso expôs, de forma contundente, um processo de reorganização do combate ao crime financeiro e político no país. Para bolsonaristas, foi “teatro”, “perseguição” e “narrativa”.
Mas, independentemente da leitura política, uma coisa é certa: o vídeo viralizou, incendiou o debate e reforçou a percepção de que o embate entre governo e bolsonarismo está longe de esfriar — e que cada novo “toc, toc, toc” promete estremecer Brasília novamente.